terça-feira, 30 de setembro de 2014

Caprichos do destino

Cerca de mais ou menos um mês depois tudo parecia ter sido alvo duma reviravolta do destino...


O namoro com Ágatha afundou logo no início devido a omissão dela em não revelar que estava tendo um relacionamento com um sujeito qualquer. Fez questão de esconder e quando decidiu, preferiu o sujeito, depois disso arrependeu-se e passou agir como uma Madalena arrependida e pedir uma nova chance a qual me neguei em dar apesar de termos uma vez ou outra nos encontrado inusitadamente numa noite ou outra passando a noite juntos. Para mim o fato poderia me deixar fulo da vida, mas diante duma falha dessas que não era da minha parte preferi não me martirizar com o fato e manter tudo em banho maria. Ir para cama com ela uma vez ou outra a deixava rendida aos meus argumentos, mas permanecer com ela num relacionamento sério com uma pessoa tão insegura e volúvel não me agradava.


Logo surgiu a Danielle também, minha secretária em Curitiba, uma mulher doce e meiga, um tanto recatada nos modos tal como a Ágatha, mas para uma jovem viúva já com dois filhos e ávida por um romance intenso esperar o que? Entretanto,não era minha praia naquele momento ficar me aproveitando duma bela viúva fogosa por muito tempo. Estava mais preocupado com outras coisas: filhos, negócios, enfim com muitos outros assuntos que passavam bem longe de manter um relacionamento sério com qualquer mulher. A opção parecia ser a “velha vida” de manter-me numa vidinha de bon vivant mulherengo. Sim essa era minha melhor escolha. Um rabo de saia ali outro acolá, nada mais de expectativas grandiosas sobre nenhuma mulher, pois de fato pareciam todas iguais em suas inseguranças e projetos de vida. O que mudava era o perfume, o tom da cor do cabelo e maciez da pele e o sabor do beijo e o modus operandi na cama. Viver experimentando cada uma dessas nuances sem a menor restrição para desiludi-las num rodízio continuo parecia ser o mais aprazível e menos problemático.


Assim que Carol pisou no Brasil passei duas semanas com ela passeando por alguns lugares. O jeito leve e tranqüilo da portuguesinha era tudo que precisava. Apesar dela ser meio distante e manter certa frieza para algo mais picante as coisas transcorreram deliciosamente naqueles dias. Me esquivei de alguns assuntos chatos do escritório e assuntos domésticos e tirei uma folga daquela vibe maçante duma rotina que ainda não estava bem definida em Curitiba. Quando Carol se mandou voltei para casa estabelecer a nova rotina. Marie já tinha ajeitado a casa aos seus conceitos e sempre trazia suas amigas da acadêmica de dança para jantar em casa. Fazia questão de preparar um belo jantar amistoso para elas e aos poucos fiquei íntimo da professora de dança de Marie e uma de suas amigas. Samanta e Mariana era duas garotas mais velhas que Marie que tinham elegido ela como a mascote da sua turma. Samanta uma loira alta, de pernas fabulosas e um quadril avantajado e uma boca grande com sorriso largo foi logo caindo no meu gosto. A sua presença em casa vez ou outra dava frescor aos dias chatos de trabalho trancado dentro do home office e fazia esquecer um pouco dos aborrecimentos causados por  Bia que estava se mudando para Curitiba visando ficar mais perto do Ivan.  Já a Mariana era uma garota ainda molecona como se diz por aqui, parecia tão adolescente e até mais imatura que Marie apesar de cinco anos mais velha. Fiquei amigo dela e às vezes admirava aqueles olhos claros e vastos cabelos negros que deixavam ela com ar de ninfeta aprendiz.

Num final de semana algo inusitado aconteceu: Bia já estava instalada em Curitiba, Regina a mãe de Marie resolveu visitá-la, e Ágatha e eu estávamos nos reaproximando com mais intensidade devido Ingrid ter ficado doente e hospitalizada naqueles dias, mas a cereja do bolo foi a vinda de Valeria defender o Quim na sua idéia imbecil de largar tudo no EUA para retornar ao Brasil se tornar jogador de futebol. De todas elas a que mais me surpreendeu naquela ocasião foi Regina. Ela parecia ter reconquistado o jeito alegre e impulsivo de muitos anos atrás e creio que isso se devia ao fato dela ter se separado daquele gringo depois de algum tempo casada.

Numa manhã de sábado ela já estava de pé preparando sua vitamina, eu acordei bem cedo também para colocar uma papelada em ordem naquele escritório caseiro. Ela sorridente como se morasse naquela casa decorada pela filha há anos me deu bom dia, me fez tomar com ela sua vitamina e me convenceu a fazer alongamentos juntos com ela e uma corridinha matinal. Não tinha porque recusar. Passamos quase duas horas juntos fazendo exercícios e conversando assuntos variados. Não falamos nada referente ao divórcio dela nem sobre o nosso passado. Depois disso cada um seguiu seu destino até a hora do almoço quando ela veio bater à porta do meu escritório dizer que havia preparando um prato do qual eu tinha certa preferência e que ela ainda sabia fazer. Em suma ela me convidou para provar o tempero dela naquele almoço e tinha organizado e preparado tudo com aparente boas intenções.



Terminado o almoço voltei para minha rotina impiedosa e maçante no escritório e só fui interrompido mais uma vez pela própria Regina ao final da tarde. Ela desta vez queria conversar algo, queria “pedir minha permissão” para passar um tempo em Curitiba junto da filha. Aquilo me chamou atenção, tendo em vista que ela sempre foi mandona e impulsiva, nunca pedindo ou solicitando consentimentos para nada e nunca explicando-se por nada. Parecia que ela queria selar a paz comigo e com a filha dado os atritos dos últimos tempos devido a sua intolerância e mania de gerir o futuro da filha. Achei aquilo bacana da parte dela por ter partido dela e como estaria fora na semana seguinte devido reuniões em São Paulo disse à ela para ficar o tempo que quisesse. Depois disso eis que surge Bia logo em seguida. Ela fez milhares de questionamentos como se fosse ainda minha esposa, parecia irritada e enciumada com a presença massiva tanto de Ágatha quanto de Regina sempre entrando e saindo de casa quando bem entendessem e tendo contato direito com Ivan. Não dei pano para manga e perguntei apenas como ela estava emocionalmente e se os ares de Curitiba e proximidade do Ivan estavam deixando ela animada. Ela fez uma série de novas reclamações e preferi encerrar a conversa alegando ter um compromisso logo em seguida. Isso a deixou um pouco mais chata, mas enfim me livrei dela. Pior seria no dia seguinte com a presença de Valéria vindo defender com unhas e dentes a idéia do filho voltar ao Brasil.

Naquele domingo tia Charlô cochichava no meu ouvido durante o almoço dominical: “Isso aqui está parecendo uma convenção das suas ex-namoradas com ex-esposas. Tome cuidado para não ter brigas”. Apesar do tom jocoso de titia o fato era inusitado mesmo, ali estavam as quatro mulheres com tinha filhos todas sentadas na mesma mesa e aparentemente medindo uma a outra de fio a pavio tentando manter certa discrição e troca de gentilezas. De repente, aquilo tudo pareceu se tornar uma cena de filme de Fellini: Bia teve a ousadia de me tornar assunto perguntando para Valéria como eu era quando estava casado com ela. Valéria por sua vez tentou se esquivar da pergunta dando uma resposta que não se lembrava, mas daí Regina tomou a palavra e resolveu detalhar meus hábitos quando morávamos juntos. Somente Ágatha parecia fora da conversa devido estar mais preocupada com estado de saúde da filha. Mesmo assim ouvia atentamente cada frase da conversa entre ambas e quando Bia viu que seu tiro saiu pela culatra resolveu ela mesma mudar de assunto tornando o assunto “ex-marido” algo apenas apreciável em particular. Naqueles cinco ou dez minutos de conversa eu fiquei fazendo piadas de cada frase e respostas delas, parece que essa estratégia foi a minha salvação, pois poderia revelar à mesa, na frente de todos, detalhes da conduta delas em nossa a vida a dois que certamente as deixariam furiosas de imediato.

Após esse momento uma tanto estranho e eivado de certo pedantismo feminino fui terminar meus afazeres no escritório naquela tarde. Depois preparei minhas malas e segui fielmente os planos propostos na minha agenda de naquela noite tomar um drink com Mariana antes de partir em viagem. Visto que Samanta estava ausente naquele final de semana resolvi descobrir algo mais sobre Mariana e desvendar seu jeito de menina maluquinha. Ela parecia à vontade no começo sem maiores preocupações, mas bastou lançar um olhar mais certeiro depois de ajeitar o cabelo dela atrás de seus belos ombros delineados por aulas de dança e ela ficou na defensiva um tanto encabulada. Terminamos a noite sem maiores avanços, nem mesmo no beijo de despedida que é a velha oportunidade de colocar as peças mais ágeis no tabuleiro da sedução resultaram numa boa jogada. Ficamos apenas com nossos peões se movendo no tabuleiro sem haver um xeque mate. Da minha parte não havia porque me preocupar em fazer um movimento rápido e levar o jogo logo ao seu final. Pelo visto, tinha deixado a bela menina maluquinha com uma postura fora da sua zona de conforto e domínio da situação. Ela parecia um pouco intrigada, pois eu não era nenhum daqueles garotos que são ávidos por cantadas baratas lançadas ao vento e tentativas de conquistar uma garota difícil fazendo tudo que a garota pede segundo seus caprichos. Mariana parecia estar habituada a isso e desentocá-la para um campo aberto me parecia um joguinho mais interessante. Quem sabe retornando para Curitiba ela demonstrasse interesse em algo além duma simples noite de conversa e drinks.

Na manhã seguinte já estava em Sampa. Acordei um tanto cansado, mas não conseguia dormir nem mais minuto naquele apartamento que não era mais o mesmo. Levantei-me e fui dar carga na bateria do carro que estava há semanas sem uso. Nesse momento eis que surge Milena a bela juíza que mora no mesmo prédio. Lá estava ela trajada com uma roupa de ginástica e cabelos dourados presos deixando a mostra seu rosto. Pela primeira vez na vida ela foi além dum bom dia ou boa noite e fez uma brincadeira dizendo que agora entendia o porquê daquela bateria estar sempre ali perto daquele carro empoeirado. Como eu estava mais ou menos nos mesmos trajes que ela e bancando o mecânico perguntei se ela não precisava duma vistoria no carro dela me valendo do mesmo tom jocoso usado por ela. Para minha surpresa ela disse que o carro dela estava com um probleminha mesmo e resolvi ser gentil e ver o que se tratava naquele mesmo momento. Ela abriu o capô carro e reclamou dum barulhinho estranho o qual eu não fazia a menor idéia do que se tratava, mas resolvi arriscar mexendo em alguma coisa.


Parecia que a minha sorte com a juíza estava mudando, pois fiquei com a mão suja de graxa e óleo e ela gentilmente perguntou se não gostaria de fazer companhia para ela num café e aproveitar para lavar minhas mãos no apartamento dela. Eu me senti como aquele garoto dos tempos de oficina ou já um pouco mais vivido quando trabalhava naquela padaria em Portugal sendo convidado para uma aventura desconhecida na casa duma mulher também desconhecida. Sem pensar duas vezes aceitei o convite da formosa juíza e subimos para o seu apartamento e ela não parava de tagarelar, parecia movida por algum desses remédios que deixam mulheres depressivas eufóricas, daquilo eu tinha certo conhecimento por causa da Bia, mas com Milena a juíza que nas vezes anteriores era tão sisuda e fechada incapaz de dar um bom dia com um sorriso gentil tudo era novidade para mim. Tomamos um suco natural preparado por ela e ficamos cerca de meia hora conversando, para retribuir o café sugeri um jantar naquela mesma noite, mesmo sem esperar que o convite fosse aceito lancei mão dessa troca de gentilezas.


Para minha surpresa ela topou também de imediato dizendo que aquele era o primeiro dia de férias dela e que queria uma vida mansa nas próximas semanas. Aquilo soou como sinfonia nos meus ouvidos e deixei tudo combinado para um jantarzinho caseiro na casa dela naquela noite. Eu me encarregaria de trazer os ingredientes e preparar para ela um menu digno de madame que cuida da forma. Milena animada com a perspectiva daquela noite me recebeu mais uma vez no seu apartamento naquela noite. Estava trajada com um belo vestido de flores e levemente perfumada como se fosse ficar em casa ou sair para um passeio casual. Milena não estava com jóias e sapatos de salto, parecia apostar numa noite mais descontraída e relaxante do que propriamente numa noite cheia de encantos. Abri uma garrafa de champanhe escolhido a dedo e começamos a conversar e tomar taças e mais taças de champanhe enquanto preparava nosso prato.

Conversa agradável, uma boa bebida e comida saborosa o que mais poderia esperar era que Milena cedesse por vontade própria a tudo aquilo e tomasse iniciativa de algo a mais. Seria algo impensado para um primeiro encontro moldado pelos acasos do destino. Afinal nos encontramos de manhã inesperadamente e a noite já parecíamos velhos conhecidos. Ela me contava das viagens dela e eu das minhas, ela falava da carreira e eu da minha, coisas desse tipo fizeram logo a sobremesa ser servida e as horas passarem mansamente numa velocidade quase imperceptível. Após o jantar nos sentamos num sofá lado a lado e ela parecia totalmente confiante no seu convidado a ponto de tirar seus chinelinho chic e ficar no sofá sobre suas pernas brancas deixando aqueles pés bem cuidados chamando minha atenção. Ela colocou sua mão no rosto para apoiar-se e o leve perfume dela fazia minha respiração se deliciar. Elogiei os belos pés da magistrada e ela ousada me questionou se não poderia fazer uma massagem naquele lindo par de pezinhos caprichados pela sua mama italiana que no dia seguinte iria visitá-la. Da massagem nos pés para um beijo caliente com sabor de champanhe foi um pulo. Infelizmente no ápice no beijo quando já sentia o calor correr pelo corpo dela e seus seios se apertarem contra meu tórax ela resolveu fazer cessar o momento de clímax daquela noite. Com o rosto vermelho e um pouco tímida me olhou e fez um elogio a minha forma um tanto despretensiosa de levar as coisas.


Milena ajeitou seus cabelos loiros num rabo de cavalo e deixou o pescoço amostra ainda mais,  resolvi partir para um segundo momento de beijos a começar pelo pescoço. Ela até permitiu isso por alguns instantes, mas logo como uma boa juíza fez valer suas ordens e disse que já era tarde. Por fim acabamos de combinando um novo jantar caseiro para noite seguinte, no qual ela gostaria de me apresentar sua mamãe. Como seria grosseria rejeitar o convite e julgando ser isso um voto de confiança a mais na minha pessoa resolvi aceitar e provar do tempero da juíza naquela noite. Parecia que o destino tinha dado mais uma das suas reviravoltas. No dia seguinte passei o dia todo relembrando daquilo como um garoto abobalhado entre uma reunião sonolenta e outra. Queria que noite chegasse logo e que aquele jantar fosse apenas mais uma mera formalidade para uma nova sessão de beijos e carícias no sofá ou quiçá em algum lugar mais agradável ainda. Teria que esperar as horas passarem reunião após reunião entediado no escritório a base dum bule de café e falatório de secretárias e provocações sem sentido de Aline a toda hora via celular. Desde a noite anterior ela estava bombardeando-me com ligações e mensagens, as quais nem atendi e nem respondi.


O que me interessava naquele dia era aproveitar o presente e nada mais. Estava disposto a me aventurar sem fazer planos e me deliciar com cada momento seja com esta ou aquela mulher, e tudo indicava que os deuses da sedução aprovavam as minhas intenções...                      

  


         

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