quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Encontros e reencontros

Passar uma semana em São Paulo vivendo conforme o sabor dos momentos não era nenhuma novidade para mim. Apesar da marcação cerrada de Aline que estava neurótica por ter colocado no lugar dela a Débora – uma executiva loira tipicamente paulistana – para me assessorar naquela semana de reuniões as coisas corriam bem extra-escritório.


Os jantarzinhos e conversas agradáveis com a jocosa juíza pareciam progredir para uma bela amizade sem os subterfúgios habituais da minha carreira de cafa. Milena demonstrava a cada dia (noite) ser uma mulher mais focada em si mesmo e na sua carreira, segura e muito parecida comigo em diversas experiências. Uma mulher segura, viajada, com uma carreira profissional sólida e para melhorar ainda mais com algo em comum quanto a ascendência árabe e também interiorana. No jantar em companhia da mãe dela descobrimos que não apenas éramos filhos de “turcos” bem como nascidos e criados na mesma região do interior de São Paulo. Esse fato serviu para alimentar ainda mais o progresso da nossa relação naquela semana...


Aproveitando a boa companhia dessas duas madames sírias resolvi convidá-las para os eventos que a empresa estaria oferecendo no decorrer daquela semana. A começar por um jantar com a equipe num restaurante requintado na noite de quinta-feira e para noite posterior haveria um coquetel de inauguração da nossa rede de hotelaria e turismo. Ambas ficaram muito envaidecidas com o convite e aceitaram de imediato sem pensar duas vezes. Com isto minha agenda até sexta seria na boa companhia de Milena que logo deixaria a cena devido ir viajar para Espanha aproveitar suas férias. Talvez mantivéssemos o contato depois dessa viagem dela nas semanas subseqüentes, mas isso pouco parecia importar para ambos... Nossa semana juntos recheada de boas risadas e troca de carícias parecia ser um bom presságio dada a natureza livre de ambos. Não havia nada de definido em nossos planos nesse sentido, as coisas iriam simplesmente fluir ao sabor dos momentos...


Enquanto isso Aline parecia rebobinar a fita de nosso passado conturbado nos últimos tempos. Se ela ao menos soubesse levar as coisas com mais naturalidade sem forçar a barra desde o início certamente teria obtido seu intento ocupando a vaga que tinha aberto para Ágatha, que por sua vez por ser volúvel e frágil demais na suas atitudes e personalidade tinha feito tudo ir por água a abaixo nas semanas anteriores. Mesmo assim entre um encontro e outro e um deslize e outro seja com Aline ou Ágatha as coisas pareciam estar no mesmo lugar... Nenhuma das duas me movia a fazer planos novos em ralação a nenhuma delas, nem mesmo inspiravam confiança e um algo a mais que pudesse me tocar e convencer de algo nesse sentido.


Preferiria garimpar novas aventuras e mulheres mais atraentes emocionalmente. Até mesmo Milena parecia ser uma excelente opção nesse vai e vem de donzelas desavisadas e mulheres do passado e presente. Ela tinha esse dom das mulheres de personalidade forte e ao mesmo tempo um jeito elegante de seduzir e deixar-se ser seduzida. Não recorria às mesmas estratégias das mulheres inseguras e desesperadas que parecem querer arrumar um marido a todo custo e fazer com que toda relação tenha como objetivo o altar. Milena em comparação às outras dos últimos tempos era novidade no mercado. Tinha sua vida e sabia muito bem o que queria dela ao ponto de não deixar ninguém, nem mesmo um homem interferir nos seus planos. Para mim isso era um ponto a favor enquanto para muitos outros homens seria um problema a ser solucionado em alguns casos. Tudo isso favorecia a uma boa e velha relação sólida entre duas pessoas que são livres e deixam os outros serem livres. Era basicamente nisso que apostava vindo do teor de nossas longas conversas noite após noite naquela semana. O gran-finale daquela semana seria o jantar e coquetel aproveitando dessa vez da companhia da bela juíza num evento “extra-particular”. Esse seria a oportunidade perfeita para um teste de fogo visando sentir ainda mais firmeza no estilo da juíza que parecia até então ser a nova deusa do Olimpo.


Entretanto o jantar foi horrível - devido a comida - mas o coquetel foi formidável devido as companhias. Consegui colocar a conversa em dia com as esposas de alguns amigos.  Não julguem isso como algo libidinoso, pois adoro papear com elas e alegrar mulheres casadas e por fim até conheci uma estagiária da empresa que apesar do nome (Bianca) parecia ser a princípio uma opção para treinar e colocar no lugar da Aline...a qual estava linda, parece que a presença da juíza mexeu com os brios dela e ela fez questão de "marcar terreno" de outra forma ontem. Adoro essas festas e joguinhos paralelos e me sinto confortável numa posição onde o fogo cruzado de ciúmes me serve apenas como munição para conseguir conquistar ainda mais rapidamente a próxima garota que surge nessas ocasiões.

Enquanto Milena e Aline pareciam se estranhar de forma velada devido a notória conduta um tanto abusada de Aline, eu preferia flertar de forma maneirada com nova estagiária de cabelos sedosos que tinha sido contratada por minha irmã para auxiliá-la no seu departamento. Bianca era uma menina com tantas outras que facilmente se deslumbra com coisas requintadas e tinha os mesmos traços de personalidade de Aline quando a conheci: uma moça alegre, comunicativa e espontânea com leveza superficial aparentemente pronta para desabrochar e se tornar uma mulher envolvente e vitoriosa na carreira. Era cópia fiel de Aline nesses quesitos e um tanto menos recatada em outros. Sabia expor seu belo bumbum e pernas desfilando dum lado para outro do salão chamando atenção da classe masculina ora presente.

Deixemos ela de lado por enquanto e nos foquemos na rinha psicológica de Aline contra Milena que parecia consumir suas energias naquela noite fabulosa de lançamento da agência de turismo. Aline não sabia esconder sua aversão por ver outra mulher ao meu lado. Quando topei com ela no decorrer da festa, ela fez questão de deixar claro que estava me vigiando como se fosse algo de posse dela. Mesmo o suposto noivo dela estando presente Aline raramente lhe dava fiel atenção. Tratei-a com certa ironia e fiz questão de jogar na cara que o pobre coitado parecia um tanto abandonado e se ela não tomasse modos certamente sairia daquela festa sem acompanhante. A provocação surtiu efeito e ela saiu furiosa lambendo as feridas e deixou de incomodar com seus olhares intempestivos na direção de Milena. Passou a posar de soberba acima do bem e do mal com desdém feito de ultima hora.

Nisso também tive que deixar os flerte com a estagiária um pouco de lado e me focar em tornar a noite de Milena algo que pudesse tirar proveito posteriormente. Não sabia exatamente como seria, mas achava que mantendo ela como uma mulher a ser cortejada de forma quase tradicional as coisas iriam caminhas. No fundo era uma tese correta, mas por outro lado estava de saco cheio de bancar o bom moço e tentar conquistar ela da maneira menos rápida. Se ela não desse logo um feedback já tinha cartas na manga para sair fora daquele pseudo namorico de vizinhos de prédio. Alegar que tinha mil afazeres em outros cantos e cidades era o mais razoável, mas na verdade era um tanto faz.

Passei o resto da noite paparicando a vizinha juíza e sabendo que no dia seguinte ela iria viajar deixei tudo por isso mesmo e fechei a conta da noite com uma massagem nos pés dela e um beijo de boa noite como daquelas  típicas cenas de filmes dos anos cinqüenta. No dia seguinte uma breve despedida e uma promessa de nos vermos posteriormente para ela contar como fora sua viagem e nada mais. Naquela mesmo dia, à tarde fui para Sorocaba no velório dum amigo que falecera num acidente. Lá chegando reencontrei diversos amigos dos tempos de adolescência, em especial a cunhada do defunto com quem tinha ficado naquela época em diversas festinhas corriqueiras. Fiquei pensando no que aquelas mulheres da família possuíam de maldição, pois tanto Mônica quanto sua irmã agora estavam na mesma situação; a de viúvas.

Apesar dos anos ela tinha mudado muito pouco. Mônica ainda mantinha praticamente o mesmo perfil com cabelos negros cacheados e olhos verdes penetrantes num rostinho branco que parecia porcelana chinesa. Passei algum tempo conversando com ela naquela noitada de velório e ela parecia tão tímida quanto antes, além disso, ela parecia surpresa com a minha presença ali visto que fazia anos que não sabia nada do meu paradeiro e nem eu nada dela. Atualizamos nossas conversas e na manhã seguinte nos reencontramos no enterro onde trocamos alguns olhares e telefones de contato para mantermos nossos papos sobre o passado ou algo além disso. Ela parecia uma pessoa solitária e meio melancólica, que parecia levar a vida em função da filha adolescente que já estava quase na mesma fase de Marie e Ingrid.

Como o domingo era dia de eleições passei restante do dia no rancho do coroa que estava recebendo meu irmão e suas enteadas do segundo casamento numa espécie de churrasco. Foi nesse churrasco a ocasião onde mais um reencontro foi possibilitado. No primeiro momento não reconheci a figura loira e magra de Juliana, e nem mesmo me dei conta que ela estava presente, ainda estava meio comovido com velório e enterro, pensando nos dias seguintes de negócios e reuniões sem dar muita bola para as coisas. De repente um garoto muito simpático e curioso puxa papo comigo enquanto estava sentado na murada da varanda afinando um violão e eis que surge a mãe do garoto, Juliana que tinha se formado médica e deixado de ser arrogante e prepotente, pois na época que a conheci era a patricinha mais xarope quanto bonita da sua turma.

Conversamos durante alguns momentos e logo fiz amizade com o moleque que ficou de certa forma meu amigo devido gostar das mesmas músicas que ele e sua mãe rockeira também tinham predileção. Isso facilitou manter o contato com ambos posteriormente e de certa forma reencontrar mais uma amiguinha do passado me fez ficar nostálgico naquela noite. No dia seguinte rumamos para Ilha Bela, meu pai e irmão me acompanharam nessa viagem para dar palpites sobre a construção que pretendia fazer por lá. Passamos três dias entre negócios e passeios em pontos turísticos do lugar. Depois disso eu e meu irmão seguimos para Curitiba voltando a nossa rotina habitual.


Foram nesses dias, depois de viagens, encontros e reencontros que passei a me encontrar com Ágatha como nos velhos tempos: às escondidas. Apenas em duas ocasiões, mas que foram suficientes para em ambas passarmos a noite juntos numa espécie de tentativa de reatar sem compromisso. A primeira ocasião se deu depois dum jantar em casa onde ela tinha chegado com as meninas duma visita a uma professora que tinha acabado de ter um bebê. Dentre um papo e outro recordamos de quando Marie e Ing eram duas coisinhas pequenas e sapecas; e depois a sós relembramos como nós éramos quando elas tinham essa idade. Entre uma taça de vinho e uma recordação e outra o tempo frio ajudou a criar o clima para um beijo e outro beijo até que fomos nos refugiar no antigo loft que agora tinha se tornado escritório e academia e uma espécie de casa de hóspedes. Na manhã seguinte houve um pequeno desentendimento devido ter feito uma piada que ela não reagiu bem, mas no decorrer dos dias seguintes logo voltamos novamente para aquele esconderijo quando ela veio me visitar numa noitinha quando encerrava o expediente no home-office.


Ela parecia um tanto enciumada devido ter me visto conversando numa boa com uma sobrinha de Décio que tinha sido contratada como babá de Ivan em diversas ocasiões. Fiz me de desentendido para não dar margem a mais chateações de ciúmes baratos e logo parecíamos dois namorados que fogem das vistas dos pais para não serem pegos em flagrante. Aquilo tudo dava um toque mais leve na nossa reaproximação e parecia que se mantivéssemos a calma e diálogo as coisas poderiam dar certo. Era deixar o tempo fluir e esperar o que poderia acontecer.    



      

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