Passar uma semana
em São Paulo vivendo conforme o sabor dos momentos não era nenhuma novidade
para mim. Apesar da marcação cerrada de Aline que estava neurótica por ter
colocado no lugar dela a Débora – uma executiva loira tipicamente paulistana –
para me assessorar naquela semana de reuniões as coisas corriam bem
extra-escritório.
Os jantarzinhos e conversas agradáveis com a jocosa
juíza pareciam progredir para uma bela amizade sem os subterfúgios habituais da
minha carreira de cafa. Milena demonstrava a cada dia (noite) ser uma mulher
mais focada em si mesmo e na sua carreira, segura e muito parecida comigo em
diversas experiências. Uma mulher segura, viajada, com uma carreira
profissional sólida e para melhorar ainda mais com algo em comum quanto a
ascendência árabe e também interiorana. No jantar em companhia da mãe dela
descobrimos que não apenas éramos filhos de “turcos” bem como nascidos e
criados na mesma região do interior de São Paulo. Esse fato serviu para
alimentar ainda mais o progresso da nossa relação naquela semana...
Aproveitando a boa companhia dessas duas madames
sírias resolvi convidá-las para os eventos que a empresa estaria oferecendo no
decorrer daquela semana. A começar por um jantar com a equipe num restaurante
requintado na noite de quinta-feira e para noite posterior haveria um coquetel
de inauguração da nossa rede de hotelaria e turismo. Ambas ficaram muito
envaidecidas com o convite e aceitaram de imediato sem pensar duas vezes. Com
isto minha agenda até sexta seria na boa companhia de Milena que logo deixaria
a cena devido ir viajar para Espanha aproveitar suas férias. Talvez
mantivéssemos o contato depois dessa viagem dela nas semanas subseqüentes, mas
isso pouco parecia importar para ambos... Nossa semana juntos recheada de boas
risadas e troca de carícias parecia ser um bom presságio dada a natureza livre de
ambos. Não havia nada de definido em nossos planos nesse sentido, as coisas
iriam simplesmente fluir ao sabor dos momentos...
Enquanto isso Aline parecia rebobinar a fita de
nosso passado conturbado nos últimos tempos. Se ela ao menos soubesse levar as coisas
com mais naturalidade sem forçar a barra desde o início certamente teria obtido
seu intento ocupando a vaga que tinha aberto para Ágatha, que por sua vez por
ser volúvel e frágil demais na suas atitudes e personalidade tinha feito tudo
ir por água a abaixo nas semanas anteriores. Mesmo assim entre um encontro e
outro e um deslize e outro seja com Aline ou Ágatha as coisas pareciam estar no
mesmo lugar... Nenhuma das duas me movia a fazer planos novos em ralação a
nenhuma delas, nem mesmo inspiravam confiança e um algo a mais que pudesse me
tocar e convencer de algo nesse sentido.
Preferiria garimpar novas aventuras e mulheres mais
atraentes emocionalmente. Até mesmo Milena parecia ser uma excelente opção
nesse vai e vem de donzelas desavisadas e mulheres do passado e presente. Ela
tinha esse dom das mulheres de personalidade forte e ao mesmo tempo um jeito
elegante de seduzir e deixar-se ser seduzida. Não recorria às mesmas
estratégias das mulheres inseguras e desesperadas que parecem querer arrumar um
marido a todo custo e fazer com que toda relação tenha como objetivo o altar.
Milena em comparação às outras dos últimos tempos era novidade no mercado.
Tinha sua vida e sabia muito bem o que queria dela ao ponto de não deixar
ninguém, nem mesmo um homem interferir nos seus planos. Para mim isso era um
ponto a favor enquanto para muitos outros homens seria um problema a ser
solucionado em alguns casos. Tudo isso favorecia a uma boa e velha relação
sólida entre duas pessoas que são livres e deixam os outros serem livres. Era
basicamente nisso que apostava vindo do teor de nossas longas conversas noite
após noite naquela semana. O gran-finale daquela semana seria o jantar e
coquetel aproveitando dessa vez da companhia da bela juíza num evento
“extra-particular”. Esse seria a oportunidade perfeita para um teste de fogo
visando sentir ainda mais firmeza no estilo da juíza que parecia até então ser
a nova deusa do Olimpo.
Entretanto o jantar
foi horrível - devido a comida - mas o coquetel foi formidável devido as
companhias. Consegui colocar a conversa em dia com as esposas de alguns amigos.
Não julguem isso como algo libidinoso,
pois adoro papear com elas e alegrar mulheres casadas e por fim até conheci uma
estagiária da empresa que apesar do nome (Bianca) parecia ser a princípio uma
opção para treinar e colocar no lugar da Aline...a qual estava linda, parece
que a presença da juíza mexeu com os brios dela e ela fez questão de
"marcar terreno" de outra forma ontem. Adoro essas festas e joguinhos
paralelos e me sinto confortável numa posição onde o fogo cruzado de ciúmes me
serve apenas como munição para conseguir conquistar ainda mais rapidamente a
próxima garota que surge nessas ocasiões.
Enquanto Milena e
Aline pareciam se estranhar de forma velada devido a notória conduta um tanto
abusada de Aline, eu preferia flertar de forma maneirada com nova estagiária de
cabelos sedosos que tinha sido contratada por minha irmã para auxiliá-la no seu
departamento. Bianca era uma menina com tantas outras que facilmente se
deslumbra com coisas requintadas e tinha os mesmos traços de personalidade de
Aline quando a conheci: uma moça alegre, comunicativa e espontânea com leveza
superficial aparentemente pronta para desabrochar e se tornar uma mulher
envolvente e vitoriosa na carreira. Era cópia fiel de Aline nesses quesitos e
um tanto menos recatada em outros. Sabia expor seu belo bumbum e pernas
desfilando dum lado para outro do salão chamando atenção da classe masculina
ora presente.
Deixemos ela de lado
por enquanto e nos foquemos na rinha psicológica de Aline contra Milena que
parecia consumir suas energias naquela noite fabulosa de lançamento da agência
de turismo. Aline não sabia esconder sua aversão por ver outra mulher ao meu
lado. Quando topei com ela no decorrer da festa, ela fez questão de deixar
claro que estava me vigiando como se fosse algo de posse dela. Mesmo o suposto
noivo dela estando presente Aline raramente lhe dava fiel atenção. Tratei-a com
certa ironia e fiz questão de jogar na cara que o pobre coitado parecia um
tanto abandonado e se ela não tomasse modos certamente sairia daquela festa sem
acompanhante. A provocação surtiu efeito e ela saiu furiosa lambendo as feridas
e deixou de incomodar com seus olhares intempestivos na direção de Milena. Passou
a posar de soberba acima do bem e do mal com desdém feito de ultima hora.
Nisso também tive que
deixar os flerte com a estagiária um pouco de lado e me focar em tornar a noite
de Milena algo que pudesse tirar proveito posteriormente. Não sabia exatamente
como seria, mas achava que mantendo ela como uma mulher a ser cortejada de
forma quase tradicional as coisas iriam caminhas. No fundo era uma tese
correta, mas por outro lado estava de saco cheio de bancar o bom moço e tentar
conquistar ela da maneira menos rápida. Se ela não desse logo um feedback já
tinha cartas na manga para sair fora daquele pseudo namorico de vizinhos de
prédio. Alegar que tinha mil afazeres em outros cantos e cidades era o mais
razoável, mas na verdade era um tanto faz.
Passei o resto da
noite paparicando a vizinha juíza e sabendo que no dia seguinte ela iria viajar
deixei tudo por isso mesmo e fechei a conta da noite com uma massagem nos pés
dela e um beijo de boa noite como daquelas típicas cenas de filmes dos anos cinqüenta. No
dia seguinte uma breve despedida e uma promessa de nos vermos posteriormente para
ela contar como fora sua viagem e nada mais. Naquela mesmo dia, à tarde fui
para Sorocaba no velório dum amigo que falecera num acidente. Lá chegando
reencontrei diversos amigos dos tempos de adolescência, em especial a cunhada
do defunto com quem tinha ficado naquela época em diversas festinhas
corriqueiras. Fiquei pensando no que aquelas mulheres da família possuíam de
maldição, pois tanto Mônica quanto sua irmã agora estavam na mesma situação; a
de viúvas.
Apesar dos anos ela
tinha mudado muito pouco. Mônica ainda mantinha praticamente o mesmo perfil com
cabelos negros cacheados e olhos verdes penetrantes num rostinho branco que
parecia porcelana chinesa. Passei algum tempo conversando com ela naquela noitada
de velório e ela parecia tão tímida quanto antes, além disso, ela parecia surpresa
com a minha presença ali visto que fazia anos que não sabia nada do meu
paradeiro e nem eu nada dela. Atualizamos nossas conversas e na manhã seguinte
nos reencontramos no enterro onde trocamos alguns olhares e telefones de
contato para mantermos nossos papos sobre o passado ou algo além disso. Ela
parecia uma pessoa solitária e meio melancólica, que parecia levar a vida em
função da filha adolescente que já estava quase na mesma fase de Marie e
Ingrid.
Como o domingo era dia
de eleições passei restante do dia no rancho do coroa que estava recebendo meu
irmão e suas enteadas do segundo casamento numa espécie de churrasco. Foi nesse
churrasco a ocasião onde mais um reencontro foi possibilitado. No primeiro
momento não reconheci a figura loira e magra de Juliana, e nem mesmo me dei
conta que ela estava presente, ainda estava meio comovido com velório e
enterro, pensando nos dias seguintes de negócios e reuniões sem dar muita bola
para as coisas. De repente um garoto muito simpático e curioso puxa papo comigo
enquanto estava sentado na murada da varanda afinando um violão e eis que surge
a mãe do garoto, Juliana que tinha se formado médica e deixado de ser arrogante
e prepotente, pois na época que a conheci era a patricinha mais xarope quanto
bonita da sua turma.
Conversamos durante
alguns momentos e logo fiz amizade com o moleque que ficou de certa forma meu
amigo devido gostar das mesmas músicas que ele e sua mãe rockeira também tinham
predileção. Isso facilitou manter o contato com ambos posteriormente e de certa
forma reencontrar mais uma amiguinha do passado me fez ficar nostálgico naquela
noite. No dia seguinte rumamos para Ilha Bela, meu pai e irmão me acompanharam
nessa viagem para dar palpites sobre a construção que pretendia fazer por lá.
Passamos três dias entre negócios e passeios em pontos turísticos do lugar.
Depois disso eu e meu irmão seguimos para Curitiba voltando a nossa rotina
habitual.
Foram nesses dias,
depois de viagens, encontros e reencontros que passei a me encontrar com Ágatha
como nos velhos tempos: às escondidas. Apenas em duas ocasiões, mas que foram
suficientes para em ambas passarmos a noite juntos numa espécie de tentativa de
reatar sem compromisso. A primeira ocasião se deu depois dum jantar em casa
onde ela tinha chegado com as meninas duma visita a uma professora que tinha
acabado de ter um bebê. Dentre um papo e outro recordamos de quando Marie e Ing
eram duas coisinhas pequenas e sapecas; e depois a sós relembramos como nós
éramos quando elas tinham essa idade. Entre uma taça de vinho e uma recordação
e outra o tempo frio ajudou a criar o clima para um beijo e outro beijo até que
fomos nos refugiar no antigo loft que agora tinha se tornado escritório e
academia e uma espécie de casa de hóspedes. Na manhã seguinte houve um pequeno
desentendimento devido ter feito uma piada que ela não reagiu bem, mas no decorrer
dos dias seguintes logo voltamos novamente para aquele esconderijo quando ela
veio me visitar numa noitinha quando encerrava o expediente no home-office.
Ela parecia um tanto enciumada
devido ter me visto conversando numa boa com uma sobrinha de Décio que tinha
sido contratada como babá de Ivan em diversas ocasiões. Fiz me de desentendido
para não dar margem a mais chateações de ciúmes baratos e logo parecíamos dois
namorados que fogem das vistas dos pais para não serem pegos em flagrante. Aquilo
tudo dava um toque mais leve na nossa reaproximação e parecia que se mantivéssemos
a calma e diálogo as coisas poderiam dar certo. Era deixar o tempo fluir e
esperar o que poderia acontecer.
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