quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Deixa a vida me levar...

No retorno para o Brasil, eu e Anne tivemos oportunidade de consultar um vidente no aeroporto que estava para embarcar no mesmo vôo. O sujeito parecia mais o típico charlatão proxeneta de previsões falidas, não trajava túnica nem turbante, mas sua cabeça leonina lembrava muito Walter Mercado e o sotaque também. No entanto o cara acertou que a Anne possivelmente iria ter um futuro próximo negro no casamento. Quanto a mim as previsões foram mais ou menos, não haveria nem tanta desgraça nem muita felicidade, a coisa tava na média. O que ele não previu foi que teria um ménage à trois naquele final de semana quando fui para Sorocaba para votar nas eleições. Não previu também a semana sexualmente ativa com diversas parceiras e nem mesmo o chilique histérico da Agatha nem o reaparecimento duma priminha em segundo grau um tanto exuberante e provocante, e nem mesmo que iria conhecer um doce de mulher num café da manhã. Não previu que alguns negócios esperados não dariam certo e outros inesperados seriam fechados. Enfim, parecia mais um instituto de pesquisa eleitoral do que vidente.  


Chegando em São Paulo fui direto ao bom velho apartamento quase totalmente sem mobília e sem nada para ser feito por lá. Um quarto montado, uma geladeira e microondas e uma escrivaninha era a fotografia da decoração atual. Mantinha o AP vazio, sem intenção de locá-lo devido sempre estar em Sampa para tratar de um assunto ou outro. Logo que cheguei fiz questão de ficar na banheira por longos minutos numa vibração deixa a vida me lavar. Pensava nas previsões do vidente e sentia saudade dos filhos e imaginava como seria o retorno para Curitiba onde tinha que alinhavar na próxima semana os negócios e inaugurar de vez o novo escritório pra valer. Fiquei lá ensaboado ao sabor duma garrafa de pisco trazido do Peru e dum Delectado 4, ao som dum LP do Pink Floyd tocado na vitrola do quarto num volume. Vez ou outra tocava o celular e quando era alguém que merecia atenção. Duas ligações atendidas no viva voz: Uma da Marie que queria saber se tinha comprado algum souvenir para ela. Depois foi a vez da Eve a minha secretária ser atendida querendo saber de detalhes da viagem e informando que tinha deixado algumas coisas pendentes. Convidei ela para um jantar para assinar a papelada e depois acabei passando as três noites seguintes com ela. Passamos a primeira noite numa típica fantasia secretária chefinho, a qual não irei pormenorizar em detalhes, mas aquela loira sensual e com um corpão era um vulcão em erupção constante e eu um bombeiro sem medo de me queimar. Na segunda e terceira noite entramos na fase do sexo tântrico, pegamos um exemplar com as dicas básicas do negócio e passamos horas e horas naquela brincadeira até o vulcão Eve explodir várias vezes naquela noite.

Essa foi a rotina das noites, durante o dia fui uma vez apenas ao escritório, justamente logo após a primeira noite com Evelin. Para evitar dar na cara, mantive a discrição e evitei a proximidade com ela durante o dia como bem manda o manual dos chefes com amantes secretárias. Passei aquele dia tentando comprar uma fábrica de café, e tudo deu errado, o sujeito com quem negociava além de não ir com a minha cara de longa data, por ser um ex-affair da Valéria depois que me separei dela, era também um coroa avarento que queria vender na prática uma fábrica de ouro em pó, mas não de pó de café.  No dia seguinte não fui sequer trabalhar, logo depois que Eve se mandou, liguei para a nova Bianca e marquei um almoço com ela e passamos a tarde passeando em shoppings comprando roupas, livros, algumas quinquilharias eletrônicas, depois fui cortar o cabelo e ao dentista evitando assim o contato noturno com ela. Na sexta repeti o mesmo esquema, aleguei que iria viajar naquela noite, mas só parti na verdade na manhã seguinte na companhia de Eve que também é natural de Sorocaba e vota lá também.

Chegando no interior o sol batia forte e não estava com a menor vontade de almoçar, estava meio casando ainda das viagens e com a cabeça a mil indo em diversas direções. Fui até a velha casa onde morei na adolescência. Aquela casa tinha sido desocupada pelos inquilinos, estava naquele dia sendo terminada a pintura, passei a tarde ali entre um cochilo e outro num rede consegui tornar aquele lugar vazio num recanto de paz ao som dos pardais e quero-queros. Ao final da tarde consegui organizar um fast-barbacue que tinha mais bebeida do que carne no final das contas para aquela mesma noite. Recebi alguns velhos amigos por ali numa espécie de revival da adolescência quando nos reuníamos para curtir um som, beber, jogar baralho e sinuca e também ficar com alguma garota qualquer sem compromisso. Liguei convidando Juliana e Mônica, as quais tinha reencontrado no primeiro turno em situações diferentes semanas antes. Apostava que apenas uma delas viria, e que seria a Dra Ju, mas para minha surpresa ambas vieram e assim tive que ciceronear ambas deixando a grelha de lado.


O mais interessante é que as duas ao invés de ficarem com ciúme uma da outra ou achar que uma estava sendo mais cortejada que a outra, nada disso aconteceu. Ambas ficaram sempre próximas de mim e conversando numa boa entre uma cerveja e outra e uma caipirinha a mais ambas ficaram altas. Eu estava extasiado com uma Shoshanna Dreyfus de Bastardos Inglórios dum lado e do outro uma Maggie de True Detective o que mais eu poderia querer? Sim que ambas fossem comigo pra cama é claro. E foi isso que os deuses do Olimpo me concederam naquela noite véspera de eleição. Depois de deixar as duas soltinhas com a bebida e notar que a conversa delas era ultra mente aberta comecei a fazer a cabeça de Juliana para inspirar essa idéia na nova amiga, visto que Mônica também tinha um histórico de ser santinha do pau oco e amiga duma série de garotas nos tempos de colégio que eram chegadas numa experiência bissexual. Conhecia bem o passado rock and roll de Juliana que era nossa amiga nos idos tempos dos Berg Bros, já tinha notícia que ela tinha feito um ménage à trois femme com duas garotas naquela fase e Mônica era do tipo certinha que esconde o jogo e viúva pronta para novas aventuras. A combinação era perfeita e o destino como sempre me ajudava a ver a oportunidade e forçar tudo a acontecer sem medo de que a tentativa colocasse tudo por água a abaixo.


Deixei a churrascada e chave da casa com um amigo e saí com as duas para a casa da Juliana que tinha adorado a idéia e convencido Mônica a ir para lá para uma tomar saideira mais privativa. Chegando lá Juliana não perdeu tempo, me mandou preparar uns drinks na copa e lascou um beijo em beijo em Mônica que se assustou de início, porém logo cedeu a tentação e ambas foram ficando nuas depois dum amasso que não rola em novela e ali mesmo no carpete da sala a coisa toda começou a ferver. Enquanto apreciava ambas fazendo amor com um copo de whisky na mão ainda sem participar do evento luxurioso, Eve insistia no celular o qual fazia questão de deixar tocar... No meio da coisa toda elas vieram pra cima de mim que estava sentado no sofá apreciando tudo de camarote até então controlado e aguardado a minha oportunidade... Elas me encheram de beijos praticamente rasgaram minha roupa e tudo parecia um sonho e quando vi ambas estava em cima de mim Juliana me chupava Monica me beijava logo logo penetrava em Mônica que cavalgava em cima de mim enquanto Juliana acariciava os seios dele e lhe beijava o pescoço. Depois que Mônica teve o orgasmo e parou Juliana não quis parar, ficou de quatro e pediu para tudo continuar, comi aquela bucetinha molhada e quente enquanto Mônica se tornava nossa espectadora. Entre um gemido e outro eu não sabia se estava no céu ou vivendo os meus  sonhos eróticos materializados duma forma excepcional. Passamos a noite toda entre beijos, carícias e sexo a três, quando pegamos no sono era quase amanhecer e Mônica deu no pé sem se despedir ou nos despertar. Ela ligou horas depois tanto para mim quanto para Juliana pedindo o óbvio: Manter segredo de tudo sobre aquela noite. Amanheci ao lado de Juliana que estava feliz e com um sorriso lindo no rosto. Ela tomou uma ducha, fez o café e saímos votar juntos. Ninguém na zona eleitoral desconfiaria que a noite anterior tinha sido a melhor eleição da minha vida. Dilma ou Aécio vencendo o que contava era a noite de véspera do segundo turno.

Depois de votar tive que conter a fúria de Eve que tinha me ligado a noite toda. Inventei que tinha ido para o rancho do velho e que lá não tinha sinal e que tinha enchido a cara. Ela acreditou na minha suposta boa fé e tudo ficou bem. Naquela mesma tarde voltamos para Sampa e selamos a paz entre patrão e secretária. Na manhã de segunda, acompanhei o primeiro dia de pregão pós reeleição in loco. Passei a manhã toda num escritório de corretora e tomando informações com analistas de mercado. Repeti o esquema das tardes com Bianca e noites com Evelin e parti na manhã seguinte para o Paraná matar a saudade da família.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A maldição de Arequipa

Depois da viagem ao Peru estava convencido de duas coisas sobre aquelas terras: Que casais com relacionamento desgastado não sobrevivem uma viagem para lá e que lá era um ótimo lugar para se encontrar oportunidades de negócios.

Me recordo que a última viagem que fiz com meus pais quando eles eram casados foi exatamente passar uma quinzena em Arequipa e outra quinzena no Mato Grosso do Sul. Depois da chegada do Peru minha mãe foi para casa da minha tia que residia por lá disposta a ser a primeira mulher daquela família conservadora a pedir o divorcio. Meu irmão mais velho, ao saber disso, arrumou uma boa briga com meu pai e ambos saíram no tapa. Ao meu ver, foi isso que fez minha mãe tomar a decisão definitiva de separação, pois depois de ter passado duas semanas no Peru ouvindo que a outra era quem deveria estar ali com ele devido ela entender de negócios ao contrário da minha mãe que era uma simples professora e dona de casa que nada compreendia daquilo. Ver um pai defendendo a amante e estapeando o  próprio filho fez a família em frangalhos e minha mãe que até então estava indecisa e sem certezas do que fazer para o futuro tomou uma decisão exemplar em voltar para casa, fazer as malas dele e colocá-lo para fora de casa.

A viagem ao Peru naquela época se devia aos mesmos motivos dessa atual viagem. Eram negócios. Meu pai tinha se tornando sócio duma mineradora cujo dono era um amigo peruano da maçonaria e depois disso abriu uma filial no Brasil formando assim uma empresa com grande potencial de crescimento. Entretanto ela foi bem nos anos seguintes e depois começou a perder espaço paulatinamente. Com o divórcio, cinqüenta por cento da parte do meu pai naquela empresa foi parar nas mãos da minha mãe, a qual realmente não tinha a mínima idéia de como controlar aquilo e manteve meu pai na gestão recebendo apenas dividendos irrisórios devido a contabilidade fraudulenta dele. Acontece que o velho libanês com a queda dos negócios e sua gestão fraudulenta não esperava que um dia eu me tornasse um advogado com certo ímpeto de fazer justiça até mesmo em face do próprio pai. Depois de comprovar que a contabilidade do coroa tinha se valido dum caixa dois violento para desfalcar sócios na gestão da empresa e após ganhar na justiça depois de anos de demanda a parte acionária dele na empresa como indenização era hora de colocar aquela mineradora nos trilhos.


Confesso que foi a tarefa mais complexa que passei até hoje na carreira. Não tínhamos equipamentos de ponta, o caixa estava defasado, o passivo e ativo eram uma piada, mas havia a possibilidade vender equipamentos e máquinas e transferir licenças de exploração de calcário e projetos de prospecção para uma outra mineradora local e fechar as portas da filial brasileira que tinha sido sucateada pelo velho libanês. Feito isso o negócio era investir o montante adquirido nessa série de negociações na matriz peruana e robustecê-la financeiramente. Passei dois anos fazendo a primeira fase do negócio - com auxílio direto da Aline nessa época - e mais dois anos finalizando a transferência de valores para o lado peruano da empresa alavancando dinheiro da primeira etapa no mercado de ações.  Com isso consegui aumentar o valor da empresa no Peru e investimento em cerca de vinte por cento e aproveitando a onda de crescimento do setor no país logo atraímos sócios americanos. Essa atual viagem era para fecharmos uma fusão e ampliação da empresa por conseqüência dos bons resultados dessa engenharia financeira e onde da crescimento do setor no país que acompanhava o resto da economia ao contrário do Brasil.


Os herdeiros do amigo do meu pai, que tinham ficado com a outra parte da empresa depois do falecimento do Dr.Oscar Rondon Herrera, eram dois caras mais ou menos da minha idade e de trato fácil. Embora não tivessem nenhuma experiência formal em engenharia ou administração de empresas eles conheciam o ramo na prática tanto quanto eu devido contado direito com o negócio através dos anos. Em resumo éramos todos de formação advocatícia basicamente, e com a influência de um deles devido ser político local em início de carreira e outro ter uma rede local de contatos vasta devido sua banca advocatícia ser uma das melhores da cidade tudo isso corroborava para um futuro promissor nessa aliança de negócios. Passei praticamente a viagem toda fechado no hotel ou na casa deles tomando pisco, só saí desses locais para duas reuniões cruciais e jantares, além dum final de semana no golf club local relaxar ao lado de Charles e Bianca. Fora isso depois da pisada no tomate do Mané, recebia Anne toda noite no quarto para um papo com ela como se fosse seu psicoterapeuta num divã improvisado passando lencinhos de papel para ela a cada dez minutos.



Ela estava decepcionada e desiludida com o casamento que iria completar dez anos no próximo ano. Estava sem rumo e abalada aparentando não querer reconhecer que o casamento havia de fato falido devido o marido ter perdido totalmente a compostura. Por ser filha dum desembargador em muitas horas relatava que poderia ter se engajado na carreira de Estado e sido ajudada pelo pai, mas havia preferido ser mais independente e apostar suas fichas na sua família com Mané. Quando o filho deles nasceu dois anos depois de casados, essa foi a primeira ocasião que ele a traiu com uma secretária e ela descobriu e por fim depois de meses afastados o perdoou. Nos últimos meses novamente descobriu ligações de outra fulana no celular dele e fotos no notebook em viagens dele com uma outra garota. Ela fez vista grossa, calou-se e segurou as pontas até flagrar ele dando em cima de Bianca na porta do elevador nessa última semana. Anne estava evitando de todas as formas não reconhecer que o casamento dela tinha ido pelo ralo. O argumento supostamente mais forte que ela tinha era que Mané é um bom pai e que o filho adora ele e seria um trauma para o garoto a separação. Da minha parte, eu tentava não influenciar a forma de pensar dela, mas achava que aquela bondade toda dela de colocar a felicidade alheia acima do sofrimento dela como mulher era algo demasiadamente ingrato com ela mesma. Ela sempre fora uma garota certinha e correta, era praticamente uma santa, nunca vi deslizes dela. Ela era daquele tipo de garota na dela e tímida ao extremo, que raramente participava de festinhas de faculdade e vivia estudando e empenhando-se em seguir os passos do pai desembargador até conhecer Mané.

Devido nosso contato habitual na faculdade ela tinha se tornando minha melhor amiga logo quando cheguei lá e tinha problemas com Valéria e vivia num corre corre entre escola e trabalho. Anne se tornou uma espécie de irmãzinha, sempre ajudávamos um ao outro nos estudos, era habitual ela me dar carona quando eu não tinha carro na época e sempre vivia sendo aconselhado por ela para não me meter em encrencas devido meu jeitão um tanto impetuoso de ser. Ela era aquele tipo de garota que vale mais manter a amizade do que estragar tudo tentando algo além disso.  Certa vez ela ficou bêbeda numa festa e tive que salvar ela das garras dos gaviões que rodam garotas desavisadas com más intenções, além disso, toda vez que ela batia o carro por ser uma péssima motorista e muito medrosa no trânsito sempre me ligava para levar o carro dela na oficina ou algo parecido. Depois da faculdade ela foi trabalhar comigo na minha consultoria jurídico-empresarial, e lá conheceu seu futuro marido.  Ambos foram padrinhos do meu noivado com Camila e depois com Elena e por fim por ironia do destino do meu casamento com Bia. Também fui padrinho do casório deles e tudo isso indicava para uma relação de respeito entre nós. No entanto, não era apenas em cima da estagiária que Mané já tinha dado em cima. Ele tinha o péssimo hábito de dar em cima até mesmo das mulheres dos amigos. Já tinha dado em cima de Bia, e agora da outra Bia, tinha dado uma cantada na Ágatha semanas atrás quando esteve em Curitiba, da espanholinha Elena e para finalizar a lista de ataques dele tinha dado em cima de toda e qualquer secretária dele e ainda da esposa do Marcos.  Nenhuma secretária parava muito tempo no departamento dele devido a isso certamente. Não havia uma reclamação formal, mas muitas se demitiam ou pediam para voltar para o setor de origem. Esse assédio moral dele era constante e irremediável pelo visto.


Por mais que eu seja também um cafajeste de marca maior, e tenha feito de algumas de minhas secretárias amantes eu não tinha problemas de rejeição da parte delas como Mané tinha. Grande parte delas ao invés de se tornarem minhas inimigas se tornavam pícaras sonhadoras com um casamento com o chefe ou, no mais das vezes, fiéis escudeiras de carteirinha da minha pessoa sob qualquer hipótese. Minha mãe taxava isso como espécie de sabedoria que eu tinha com as mulheres. Ela dizia que eu era uma espécie de Picasso mais refinado que tinha tantas mulheres e depois de deixá-las, fosse qual fosse a razão, elas ainda se mantinham fiéis a mim numa espécie gratidão ou paixão mal resolvida. Segundo a teoria dela eu nunca me aproximava duma mulher com más intenções e não agia de forma direta e aberta, sempre agia pelas bordas e ocultando minhas reais intenções até o ponto de serem elas a tomarem uma iniciativa e com isso eu invertia as possibilidades de sentimentos de culpa e perda para a conta delas e saia sempre da relação com a consciência tranqüila.  Ao meu ver a teoria se justifica com a prática realmente, pois jamais fui motivado a deixar ou trair uma mulher a não ser que a coisa estivesse num ponto recheado de impossibilidade de manutenção em curto prazo da relação. Ou algo assim... Exemplo mais claro disso era ter ido parar na cama de Aline depois que Bia tinha surtado de vez quando eu já estava decidido a pedir a separação.


Passei a crer que o Peru tinha uma espécie de maldição para casais com relacionamento desgastado, pois desde a primeira vez que estive lá por ironia do destino caprichoso sempre era lá que havia o estopim das separações. Foi com assim com o casamento dos meus pais, com o meu casamento com Bia, pois fui para lá na companhia de Aline dois anos atrás e depois me separei e agora era a vez de Anne e Mané caírem na mesma maldição de Arequipa.   
    

Ao menos dessa vez aprendi a fazer ceviche...

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Eu não vivo eu sonho


É estranho como a arte tenta imitar a vida e a vida imita a arte. No fundo tudo isso se trata duma repetição de padrões e coincidências e acasos.  Sempre vi em muitas mulheres casadas ou que se desejam casar potenciais Madames Bovarys ou Ana Kareninas.  Mulheres com possibilidades a serem infiéis quando estão entediadas ou magoadas.

Há um fato interessante nisso, pois me parece que mulheres vivem sonhando com uma continua história perfeita de amor, cheia de brilho nos olhos e romantismo cafona, enquanto os homens vivem atrelados com seus trabalhos e crêem já terem cumprido o seu papel tornando suas sensíveis namoradas e noivas que amam em esposas. O casamento é uma realidade e não um sonho, e por isso os maridos quando têm oportunidade de trair apesar de tudo estar bem em seus lares cedem a essas oportunidades, pois se julgam detentores dum sagrado direito de aproveitar a vida e omitir-se do fato posteriormente.

Os homens falham inúmeras vezes nisso por acharem que o casamento é uma relação de obediência e subordinação a sua forma de enxergar a realidade. As mulheres, esposas mais recatadas e bem servidas, daquelas que passam seus dias cuidando da casa ou numa carreira paralela a dos maridos parecem se sentirem uma certa desproporção entre seus sonhos e possibilidades. Entretanto, o que torna uma mulher casada capaz de trair seu marido não é apenas essa insatisfação crônica consigo mesma, mas com a do seu par que deixou de ser tão costumeiramente sensível, agradável e romântico como era na fase do cortejo. Assim quando ela descobre estar sendo traída, muitas vezes prefere pagar na mesma moeda e depois manter isso sem total segredo até o túmulo ou revelar a infidelidade como uma forma de punir outro infiel.

Naquela viagem ao Peru, meus sócios e diretores levaram junto suas esposas, eu não levei ninguém, apenas convidei a novata estagiária Bianca para fazer parte da comitiva. Novata no sentido de jovem, pois já fazia um ano ou mais que estava transitando na empresa como assistente da minha irmã sem que eu sequer a tivesse conhecido. Convidei o outro aprendiz de marinheiro Charles para aquela viagem para testar a capacidade de ambos em alguns quesitos. A outra descompromissada da viagem era Débora, a qual substituía Aline em suas funções e mostrava-se ser mais focada no serviço do que em outras coisas. Ao menos para mim seria uma viagem tranqüila e focada estritamente nos afazeres de negócios acertando detalhes finais duma longa negociação, enquanto isso, nas horas livres, os casais teriam oportunidade de fazer alguma espécie de turismo rotineiro nos locais que estaríamos. Não foi bem assim. Sábado enquanto todos saíram conhecer pontos turísticos de Arequipa, eu me mandei para o golf clube local e passei a tarde toda praticando arremates. Solitário com tacos de golf, carrinho e uma garrafa de gin e charutos. Passei horas pensando em negócios, cenários para o próximo ano e nas possibilidades de que Ágatha ainda pudesse ser uma escolha definitiva para apostar minhas fichas num relacionamento mais estável.

Quando voltei para o hotel ao final da tarde estava cansado e com dor de cabeça, tomei um banho e passei o resto da noite recluso tentando me livrar daquela dor de cabeça causada por sol e bebida na cabeça naquela tarde. De manhã acordei antes da maioria, e desci para o desjejum e lá estava Anne a esposa do meu diretor comercial tomando uma grande xícara de café sozinha no salão do refeitório. Ela parecia um pouco aflita e com uma cara de choro. Como tínhamos uma certa intimidade devido nos conhecermos de longa data e ela ter sido funcionária da empresa algum tempo, lugar onde também conheceu seu marido, ficamos conversando sobre coisas banais, mas aquela cara de choro e sensação de aflição dela permanecia. Saímos dali e fomos dar um volta no jardim e resolvi questionar se ela estava bem. Ela inventou uma desculpa qualquer de início e evitou tocar no assunto, mas logo confidenciou que tinha visto seu marido flertando com a estagiária e se aproximando dela numa tentativa indecorosa de sedução. Foi um flagra sem uma cena naquele momento. Anne silenciou e discutiu com o marido na noite anterior a sós e ele como sempre negou os fatos e intenções e a taxou de estar vendo coisas.

Não era a primeira vez que aquilo ocorria. Manuel era um cara boa pinta e conquistador dos mais pertinazes. Tinha estudado comigo em Portugal e o convidei ele para vir trabalhar comigo, ele aceitou e conheceu Anne na empresa e logo se apaixonaram. O talento dele para a conquistar mulheres era o mesmo como negociador e rapidamente ele se estabeleceu se tornando peça chave no departamento comercial da empresa. Já Anne era uma garota naquela época recatada e tímida, ela trabalhava em outro setor, e parecia ser a típica mocinha de filmes que quer encontrar um príncipe encantado, mas acaba nas mãos dum canalha sofrendo desilusões no casamento.  Durante aquele passeio no jardim do hotel ela repetia: Ele está fazendo tudo novamente! – Anne parecia inconsolada e eu não tinha o que dizer ou fazer para ajudá-la. Coloquei a mão no ombro dela num abraço fraterno e caminhamos com ela recostando a cabeça no meu peito chorando sem dizer mais nada. Senti pena dela naquela hora. Afinal era uma mulher, diria que é uma santa devido a delicadeza e jeito nobre de ser, mas que estava quebrando a cara e apostando ainda num marido incorrigível. Isso me fez pensar mais ainda de que eu era um sujeito da mesma espécie do Manuel, capaz de fazer as mesmas coisas e gerar as mesmas mágoas e ressentimentos para a esposa.

No retorno para o interior do hotel encontramos Charles e Bianca tomando café da manhã juntos. Anne subiu para seu quarto. Ela ainda permanecia estarrecida e nitidamente evitando ter contato com a figura da garota que tinha sido alvo do seu  indecoroso marido. Eu fiquei por ali conversando com ambos e os convidei para irem comigo no golf clube. Depois do café deles logo partimos para um dia de golf e muita conversa sobre carreira e negócios. Passei horas tentando descobrir o que fazia de Bianca algo tão atrativo para todos os homens, inclusive eu, desde aquele coquetel numa semana anterior. Ela tinha a capacidade de virar a cabeça de qualquer um certamente, mas parecia agir inocentemente sem considerar ou desejar causar isso. Insinuei que ela deveria mudar de setor e ir justamente para setor chefiado por Manuel, e ela pareceu não gostar da ideia preferindo alegar que gostaria de se manter como assistente da minha irmã devido estar habituada ao serviço e aprendendo muito com ela em outro setor.

Parecia que ela não havia gostado nem um pouco da abordagem de Manuel e fez questão de deixar isso evidente num momento em que Charles se afastou de nós no campo. Era uma saia justa que não era da minha conta inicialmente, era preferível nem ter tomado conhecimento daquilo de ambos os lados envolvidos na tentativa do Manuel em aproximar-se dela. Agora era tarde demais, e com isso passei a ser uma espécie de diplomata em assuntos dos quais eu tinha amplo conhecimento das táticas e conseqüências. Dei alguns conselhos para ela como lidar com aquilo e ela aceitou cada um de bom grado. Em meio a isso tudo não resisti em também dar em cima dela, mas duma forma mais suave e amena, fazendo ela considerar de certo modo que ela tinha um dom de atrair os homens e que poderia tirar proveito disso. 

Quando retornarmos o resto da comitiva estava toda no bar fazendo um brinde para Marcos e sua esposa que tinha acabado de anunciar que estava grávida do segundo filho. Resolvemos realizar um jantar comemorativo e durante aquele típico jantar de confraternização pude notar que o clima entre Anne e Manuel estava fechado e com uma tendência a ser resolvido apenas no retorno ao Brasil. Após o jantar fui falar com ela novamente para saber como ela tinha passado o dia com aquilo na cabeça. Anne se sentia magoada e desejando uma única coisa: Partir dali e voltar o quanto antes para casa.

Após essa breve conversa fiquei com o resto do pessoal jogando cartas, e ensinando Bianca alguns macetes do poker até o sono chegar. Manuel estava ausente nesse momento e possivelmente estava tentando reparar a sua terrível mancada com esposa. Antes de subir para dormir resolvi tomar uma saideira e Bianca me acompanhou no balcão mesmo sem tomar nada. Parecia que aquela tarde no golf club e na mesa de poker tinha surtido efeitos na garota que estava cofiando nas minhas supostas boas intenções com ela em sentido profissional e pessoal. Ao notar que todos haviam desaparecido a convidei para um passeio na praça em frente ao hotel para tomar um ar puro antes de dormir. Ela olhou seu relógio disse estar com sono, não foi necessário insistir uma segunda vez ela calou-se um instante, respirou e sorriu abertamente dizendo que seria ótimo tomar ar puro antes de dormir.


Logo que atravessamos a rua e chegamos no interior da praça não tive dúvidas de abordar ela à moda Brás Cubas, um leve toque no braço, um olhar profundo nos olhos e um beijo que a deixou mole em minha mão que tocava aquela pele macia do rosto dela e outra a segurava pela cintura. O constrangimento dela após o beijo a fez ficar olhando para o chão e evitando me encarar, toquei seu queixo e repeti o olhar e beijo e ela logo cedeu novamente. Nessas horas não se precisa de palavras, conversas ou perguntas, se necessita de ações para tornar o momento agradável e inesquecível. O grande erro ao meu ver nessas horas é pedir explicações e diminuir com isso as possibilidades de se deixar levar pela emoção do momento. Saímos abraçados da praça e voltamos para o hotel, deixei Bianca na porta do seu quarto e lhe dei um singelo beijo no rosto de boa noite. Ela sorriu ainda encabulada e disse um boa noite com um sorriso.


Ao ter feito isso julgo ter solucionado o problema do casal de amigos de certa forma, pois seria impossível nos próximos dias Manuel ou Anne irem tomar alguma satisfação com Bianca visto que ela estava, digamos “na dela”. Os dias seguintes seriam de reuniões e poucos passeios, a não ser um jantar na residência dum sócio local que queria nos apresentar á sua família e anunciar o novo empreendimento aos familiares. Parecia que tudo estava propício a ser mais ameno nos próximos dias. Se isso iria de fato ser assim ou não cabia aos caprichos do destino dizer...      

Naquela noite assim que caí na cama peguei no sono. Não tive tempo de pensar nos acontecimentos e fazer uma revisão mental do que havia se passado naquele final de semana inusitado. Estava cansado demais da rotina de viagens e ansioso por concluir aquela agenda de negócios no Peru e voltar para casa. Isso se devia ao alto índice de reclamação da minha ausência em Curitiba nas últimas semanas deixando Ivan aos cuidados de outros e Bia reclusa numa clinica depois dum novo surto. São situações e acontecimentos que teria que solucionar da forma mais sensata possível, mas fugia de tomar alguma decisão concreta sobre isso por não saber exatamente como proceder com essas reviravoltas dos fatos. Preferi me manter mergulhado nos afazeres profissionais da forma mais intensa possível, trancafiado no escritório, resolvendo assuntos pendentes em diversos lugares e evitando entrar numa espiral de cumprimentos das expectativas alheias.


As coisas com as meninas pareciam ótimas, as notícias sobre elas eram animadoras, e nem mesmo a estadia da mãe de Marie alguns dias em Curitiba tinha feito ela mudar de ideia e planos, mesmo havendo propostas boas para voltar ao Rio de Janeiro com a mãe no próximo ano. Isso fez Regina considerar a possibilidade de se aproximar da filha e deixar o Rio para morar em Curitiba para ficar mais perto dos familiares que residiam na maioria no sul. Havia uma possibilidade de Marie e Ingrid no próximo ano já fazerem as malas e se mandarem para um curso preparatório no exterior, mas isso eu não estava acelerando o passo. Queria elas mais algum tempo amadurecendo próximas de mim para ter certeza de que não iriam jogar tudo para o alto posteriormente como o Quim tentou fazer nas últimas semanas.

O garoto num arroubo tinha decidido voltar ao Brasil para tentar uma carreira de jogador de futebol. Os avós maternos e sua mãe, como sempre arrogantes e prepotentes deram força para essa ideia dele, porém depois de falar muito com ele e tentar convencê-lo que aquilo era tolice sem sucesso, foi a namoradinha americana dele que agiu ao meu favor fazendo ele ficar por lá. Aquilo foi um presente do acaso e faria questão de agradecer pessoalmente aquela garota assim que possível.


Enquanto isso lá estava eu, em mais uma viagem e em mais um affair passageiro com uma mulher desavisada sobre minha tendência de conquistador barato ou algo parecido com isso. Na maior parte do tempo passava ainda considerando se Ágatha  era ou não um boa opção para pendurar as chuteiras numa vidinha mais sossegada. A ideia de vidinha de casado não me animava nem um pouco, e muito menos aquela espécie caso escondido que estávamos mantendo nas últimas semanas.  Não estava satisfeito com os desfechos dos meus últimos relacionamentos por mais superficiais e imaturos de fossem por uma série de impasses e atitudes do mulheril. O pior baque foi no caso Aline que tinha ficado grávida e perdido o filho e mesmo assim continuava com um comportamento de querer ser minha dona.


Ultimamente estava preferindo mulheres mais jovens devido a baixa tendência de serem apegadas a certos padrões de atitudes que com o passar do tempo todas por fatores como idade e relógio biológico fazem todas ficaram neuróticas e forçando relacionamentos com imediatismo. Não é uma regra, mas é uma tendência, pois até Luíza logo que a deixei ela reatou com o antigo namorado e noivou de imediato mesmo sendo dez anos mais jovem de Ágatha por exemplo, a qual revelou certa manhã ter o sonho de ter mais um filho.  Isso tudo me faz crer que a lei do eterno retorno parece de fato uma realidade e que não existem mulheres do passado, a não ser aquelas que realmente ficaram em algum lugar do passado sem mais se fazerem presentes como no caso a Luíza e Camila por acontecimentos diversos. Quanto as outras como Bia, Ágatha e até a mãe de Marie e tantas outras que aparecem e somem e reaparecem não há de fato o merecimento de serem mulheres do passado, ou melhor, o que há no passado são acontecimentos que ligaram e desligaram nossas vidas sem isso impor de forma categórica a inserção de cada uma delas num passado proscrito.


Quando uma nova figurinha surge no álbum é inevitável comparar com outras mulheres e sua forma de ser e agir. É como se comparasse o craque do atual time com um craque do passado que se transferiu para outra equipe e que ainda joga. A lei do eterno retorno parece viável até nisso, pois características tais como recato, ciúmes, insegurança vez ou outra reaparecem seja em qualquer mulher for a bola da vez como item de série feminino. Algumas conseguem maior impacto tanto positivo quanto negativo sobre mim a medida que escondem ou revelam esses traços ou quando tomam atitudes sem sentido seja na direção do rompimento ou manutenção desses relacionamentos. Pensar sobre isso é destrinchar como homens e mulheres são incapazes de estarem na maioria dos casos senhores de si mesmos e porque diabos é tão complexo acertar a medida de certas coisas nesse departamento das emoções divididas a dois.      


Não é do meu feitio bancar o psicanalista e colocar cada mulher que passou em minha vida num divã e analisar cada traço ou comportamento delas ou até mesmo o quanto elas mudaram se tornando umas mais maduras e outras extremamente perdidas com suas decisões e ainda imaturas. Essa ferramenta é um mero recurso ou uma tentativa de explicar porque cada uma delas permanece determinado tempo e depois fica para trás e num passe de mágica do destino ressurge dando ensejo a uma reprise do enredo de antes com novas nuances. Dessa situação descrita Aline e Ágatha se encaixam com perfeição. Uma foi amante dum marido aniquilado pela depressão da esposa e a outra um caso passageiro com conseqüências enormes para uma história de vida por ter sido engravidada. Tudo isso se mistura no caldeirão de fatos e acasos e altera o rumo e sentido da história, isso sem considerar ainda as intervenções de terceiros em muitos casos.


Expectativas femininas de serem esposas em belas casas e viverem um incessante conto de fadas parece ser o pano de fundo mais adequado para explicar isso, até o ponto que são magoadas ou traídas e quebram essa redoma de cristal na qual se sentem protegidas das avarezas do mundo. Considerar essas coisas com frieza e requintes de sobriedade racional não é característica feminina. Elas preferem muitas vezes se passar por vítimas do destino e se recolherem em algum canto sem dar novas chances a si mesmas. É uma tônica que também se repete geração após geração e parece que a evolução disso não passa por ideologias feministas nem avanços ligados a isso, é uma tendência natural a não reconhecer o fracasso nas questões sentimentais e culpar-se por algo que já não tem mais volta. Nisso resta claro uma coisa: Pessoas que não culpam a si mesmas são mais felizes. Elas são capazes de sonhar novamente e viver sonhos e é nisso que acredito para seguir em frente haja o que houver...


   

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Encontros e reencontros

Passar uma semana em São Paulo vivendo conforme o sabor dos momentos não era nenhuma novidade para mim. Apesar da marcação cerrada de Aline que estava neurótica por ter colocado no lugar dela a Débora – uma executiva loira tipicamente paulistana – para me assessorar naquela semana de reuniões as coisas corriam bem extra-escritório.


Os jantarzinhos e conversas agradáveis com a jocosa juíza pareciam progredir para uma bela amizade sem os subterfúgios habituais da minha carreira de cafa. Milena demonstrava a cada dia (noite) ser uma mulher mais focada em si mesmo e na sua carreira, segura e muito parecida comigo em diversas experiências. Uma mulher segura, viajada, com uma carreira profissional sólida e para melhorar ainda mais com algo em comum quanto a ascendência árabe e também interiorana. No jantar em companhia da mãe dela descobrimos que não apenas éramos filhos de “turcos” bem como nascidos e criados na mesma região do interior de São Paulo. Esse fato serviu para alimentar ainda mais o progresso da nossa relação naquela semana...


Aproveitando a boa companhia dessas duas madames sírias resolvi convidá-las para os eventos que a empresa estaria oferecendo no decorrer daquela semana. A começar por um jantar com a equipe num restaurante requintado na noite de quinta-feira e para noite posterior haveria um coquetel de inauguração da nossa rede de hotelaria e turismo. Ambas ficaram muito envaidecidas com o convite e aceitaram de imediato sem pensar duas vezes. Com isto minha agenda até sexta seria na boa companhia de Milena que logo deixaria a cena devido ir viajar para Espanha aproveitar suas férias. Talvez mantivéssemos o contato depois dessa viagem dela nas semanas subseqüentes, mas isso pouco parecia importar para ambos... Nossa semana juntos recheada de boas risadas e troca de carícias parecia ser um bom presságio dada a natureza livre de ambos. Não havia nada de definido em nossos planos nesse sentido, as coisas iriam simplesmente fluir ao sabor dos momentos...


Enquanto isso Aline parecia rebobinar a fita de nosso passado conturbado nos últimos tempos. Se ela ao menos soubesse levar as coisas com mais naturalidade sem forçar a barra desde o início certamente teria obtido seu intento ocupando a vaga que tinha aberto para Ágatha, que por sua vez por ser volúvel e frágil demais na suas atitudes e personalidade tinha feito tudo ir por água a abaixo nas semanas anteriores. Mesmo assim entre um encontro e outro e um deslize e outro seja com Aline ou Ágatha as coisas pareciam estar no mesmo lugar... Nenhuma das duas me movia a fazer planos novos em ralação a nenhuma delas, nem mesmo inspiravam confiança e um algo a mais que pudesse me tocar e convencer de algo nesse sentido.


Preferiria garimpar novas aventuras e mulheres mais atraentes emocionalmente. Até mesmo Milena parecia ser uma excelente opção nesse vai e vem de donzelas desavisadas e mulheres do passado e presente. Ela tinha esse dom das mulheres de personalidade forte e ao mesmo tempo um jeito elegante de seduzir e deixar-se ser seduzida. Não recorria às mesmas estratégias das mulheres inseguras e desesperadas que parecem querer arrumar um marido a todo custo e fazer com que toda relação tenha como objetivo o altar. Milena em comparação às outras dos últimos tempos era novidade no mercado. Tinha sua vida e sabia muito bem o que queria dela ao ponto de não deixar ninguém, nem mesmo um homem interferir nos seus planos. Para mim isso era um ponto a favor enquanto para muitos outros homens seria um problema a ser solucionado em alguns casos. Tudo isso favorecia a uma boa e velha relação sólida entre duas pessoas que são livres e deixam os outros serem livres. Era basicamente nisso que apostava vindo do teor de nossas longas conversas noite após noite naquela semana. O gran-finale daquela semana seria o jantar e coquetel aproveitando dessa vez da companhia da bela juíza num evento “extra-particular”. Esse seria a oportunidade perfeita para um teste de fogo visando sentir ainda mais firmeza no estilo da juíza que parecia até então ser a nova deusa do Olimpo.


Entretanto o jantar foi horrível - devido a comida - mas o coquetel foi formidável devido as companhias. Consegui colocar a conversa em dia com as esposas de alguns amigos.  Não julguem isso como algo libidinoso, pois adoro papear com elas e alegrar mulheres casadas e por fim até conheci uma estagiária da empresa que apesar do nome (Bianca) parecia ser a princípio uma opção para treinar e colocar no lugar da Aline...a qual estava linda, parece que a presença da juíza mexeu com os brios dela e ela fez questão de "marcar terreno" de outra forma ontem. Adoro essas festas e joguinhos paralelos e me sinto confortável numa posição onde o fogo cruzado de ciúmes me serve apenas como munição para conseguir conquistar ainda mais rapidamente a próxima garota que surge nessas ocasiões.

Enquanto Milena e Aline pareciam se estranhar de forma velada devido a notória conduta um tanto abusada de Aline, eu preferia flertar de forma maneirada com nova estagiária de cabelos sedosos que tinha sido contratada por minha irmã para auxiliá-la no seu departamento. Bianca era uma menina com tantas outras que facilmente se deslumbra com coisas requintadas e tinha os mesmos traços de personalidade de Aline quando a conheci: uma moça alegre, comunicativa e espontânea com leveza superficial aparentemente pronta para desabrochar e se tornar uma mulher envolvente e vitoriosa na carreira. Era cópia fiel de Aline nesses quesitos e um tanto menos recatada em outros. Sabia expor seu belo bumbum e pernas desfilando dum lado para outro do salão chamando atenção da classe masculina ora presente.

Deixemos ela de lado por enquanto e nos foquemos na rinha psicológica de Aline contra Milena que parecia consumir suas energias naquela noite fabulosa de lançamento da agência de turismo. Aline não sabia esconder sua aversão por ver outra mulher ao meu lado. Quando topei com ela no decorrer da festa, ela fez questão de deixar claro que estava me vigiando como se fosse algo de posse dela. Mesmo o suposto noivo dela estando presente Aline raramente lhe dava fiel atenção. Tratei-a com certa ironia e fiz questão de jogar na cara que o pobre coitado parecia um tanto abandonado e se ela não tomasse modos certamente sairia daquela festa sem acompanhante. A provocação surtiu efeito e ela saiu furiosa lambendo as feridas e deixou de incomodar com seus olhares intempestivos na direção de Milena. Passou a posar de soberba acima do bem e do mal com desdém feito de ultima hora.

Nisso também tive que deixar os flerte com a estagiária um pouco de lado e me focar em tornar a noite de Milena algo que pudesse tirar proveito posteriormente. Não sabia exatamente como seria, mas achava que mantendo ela como uma mulher a ser cortejada de forma quase tradicional as coisas iriam caminhas. No fundo era uma tese correta, mas por outro lado estava de saco cheio de bancar o bom moço e tentar conquistar ela da maneira menos rápida. Se ela não desse logo um feedback já tinha cartas na manga para sair fora daquele pseudo namorico de vizinhos de prédio. Alegar que tinha mil afazeres em outros cantos e cidades era o mais razoável, mas na verdade era um tanto faz.

Passei o resto da noite paparicando a vizinha juíza e sabendo que no dia seguinte ela iria viajar deixei tudo por isso mesmo e fechei a conta da noite com uma massagem nos pés dela e um beijo de boa noite como daquelas  típicas cenas de filmes dos anos cinqüenta. No dia seguinte uma breve despedida e uma promessa de nos vermos posteriormente para ela contar como fora sua viagem e nada mais. Naquela mesmo dia, à tarde fui para Sorocaba no velório dum amigo que falecera num acidente. Lá chegando reencontrei diversos amigos dos tempos de adolescência, em especial a cunhada do defunto com quem tinha ficado naquela época em diversas festinhas corriqueiras. Fiquei pensando no que aquelas mulheres da família possuíam de maldição, pois tanto Mônica quanto sua irmã agora estavam na mesma situação; a de viúvas.

Apesar dos anos ela tinha mudado muito pouco. Mônica ainda mantinha praticamente o mesmo perfil com cabelos negros cacheados e olhos verdes penetrantes num rostinho branco que parecia porcelana chinesa. Passei algum tempo conversando com ela naquela noitada de velório e ela parecia tão tímida quanto antes, além disso, ela parecia surpresa com a minha presença ali visto que fazia anos que não sabia nada do meu paradeiro e nem eu nada dela. Atualizamos nossas conversas e na manhã seguinte nos reencontramos no enterro onde trocamos alguns olhares e telefones de contato para mantermos nossos papos sobre o passado ou algo além disso. Ela parecia uma pessoa solitária e meio melancólica, que parecia levar a vida em função da filha adolescente que já estava quase na mesma fase de Marie e Ingrid.

Como o domingo era dia de eleições passei restante do dia no rancho do coroa que estava recebendo meu irmão e suas enteadas do segundo casamento numa espécie de churrasco. Foi nesse churrasco a ocasião onde mais um reencontro foi possibilitado. No primeiro momento não reconheci a figura loira e magra de Juliana, e nem mesmo me dei conta que ela estava presente, ainda estava meio comovido com velório e enterro, pensando nos dias seguintes de negócios e reuniões sem dar muita bola para as coisas. De repente um garoto muito simpático e curioso puxa papo comigo enquanto estava sentado na murada da varanda afinando um violão e eis que surge a mãe do garoto, Juliana que tinha se formado médica e deixado de ser arrogante e prepotente, pois na época que a conheci era a patricinha mais xarope quanto bonita da sua turma.

Conversamos durante alguns momentos e logo fiz amizade com o moleque que ficou de certa forma meu amigo devido gostar das mesmas músicas que ele e sua mãe rockeira também tinham predileção. Isso facilitou manter o contato com ambos posteriormente e de certa forma reencontrar mais uma amiguinha do passado me fez ficar nostálgico naquela noite. No dia seguinte rumamos para Ilha Bela, meu pai e irmão me acompanharam nessa viagem para dar palpites sobre a construção que pretendia fazer por lá. Passamos três dias entre negócios e passeios em pontos turísticos do lugar. Depois disso eu e meu irmão seguimos para Curitiba voltando a nossa rotina habitual.


Foram nesses dias, depois de viagens, encontros e reencontros que passei a me encontrar com Ágatha como nos velhos tempos: às escondidas. Apenas em duas ocasiões, mas que foram suficientes para em ambas passarmos a noite juntos numa espécie de tentativa de reatar sem compromisso. A primeira ocasião se deu depois dum jantar em casa onde ela tinha chegado com as meninas duma visita a uma professora que tinha acabado de ter um bebê. Dentre um papo e outro recordamos de quando Marie e Ing eram duas coisinhas pequenas e sapecas; e depois a sós relembramos como nós éramos quando elas tinham essa idade. Entre uma taça de vinho e uma recordação e outra o tempo frio ajudou a criar o clima para um beijo e outro beijo até que fomos nos refugiar no antigo loft que agora tinha se tornado escritório e academia e uma espécie de casa de hóspedes. Na manhã seguinte houve um pequeno desentendimento devido ter feito uma piada que ela não reagiu bem, mas no decorrer dos dias seguintes logo voltamos novamente para aquele esconderijo quando ela veio me visitar numa noitinha quando encerrava o expediente no home-office.


Ela parecia um tanto enciumada devido ter me visto conversando numa boa com uma sobrinha de Décio que tinha sido contratada como babá de Ivan em diversas ocasiões. Fiz me de desentendido para não dar margem a mais chateações de ciúmes baratos e logo parecíamos dois namorados que fogem das vistas dos pais para não serem pegos em flagrante. Aquilo tudo dava um toque mais leve na nossa reaproximação e parecia que se mantivéssemos a calma e diálogo as coisas poderiam dar certo. Era deixar o tempo fluir e esperar o que poderia acontecer.