terça-feira, 11 de novembro de 2014

Carpe diem enquanto é tempo...

Muitas vezes as pessoas me taxam de arrogante ou excêntrico devido o jeito que levo a vida. Não dou muita bola para opinião alheia nem mesmo para quem julga que me ofendendo com maldizeres diz algo a respeito da minha pessoa.  Uma frase de Cícero me chamou a atenção num livro quando era garoto: “Minha consciência tem para mim, mais valor do que a opinião do mundo inteiro”. Acho que tinha uns 14 anos quando li isso e aquela frase ecoou dentro de mim e dali por diante sempre passei a ter ainda mais uma postura de independência em relação a todos que me cercavam. Os modos, idéias e atitudes das pessoas que me cercavam seja fosse em casa, na escola, ou até mesmo na rua não me representava. Era um rebelde sem causa, mas sem movimentos toscos e pueris próprios da idade, era um anarquista do bem querendo “provar que não precisava provar nada para ninguém” como dizia a canção que sempre ouvia naquela época.

Nessa idade a minha melhor atitude foi arrumar um jeito de ganhar a própria grana como um relés office boy despretensioso que quer aproveitar os seus momentos sem dar satisfação para ninguém. Eu era mais um daqueles garotos que faz cobranças e serviços bancários de bike ou de busão e ao final da tarde volta para casa toma um lanche e se manda para o colégio estudar e relaxar com a zoeira na sala de aula.  Meus colegas de trabalho e escola naquela época mudaram deixei de lado as peripécias costumeiras com os irmãos Berg, ou melhor dizendo, mantinha as más companhias apenas aos finais de semana nos ensaios da nossa banda da qual eu de baixista fui transformando em vocalista e tocador de gaita por ter um inglês na ponta da língua devido fazer cursinho desde pequeno. Aos poucos comecei transformei uma banda que originalmente era de metal chamada Corrosão Cerebral numa banda com múltiplas influências numa espécie de blues psicodélico com dicas do meu irmão e primos blueseiros. Consegui me livrar do carinha que roubou meu posto de baixista e coloquei um garoto que tocava baixo em outra banda no seu lugar e assumi a guitarra quando o então guitarrista foi morar no Japão com sua mãe. De corrosivos passamos a ser uma espécie de The Who ou Pink Floyd no visual, cortamos os cabelos, mudados o look de camisetas de bandas de rock pesado por camisetas sem estampa alguma e calças jeans sem nenhum rasgo e o nome da banda se tornou Aloprado Alonso & Berg Brothers. De repente o conceito mudou e os ensaios que eram mais voltados para a galera fumar maconha beber e pegar menininhas tietes se tornaram ensaios sérios e com intenção de fazer covers mais fiéis ao repertório escolhidos. Talvez isso se deva ao fato de eu como mais um dos irmãos Berg ingressamos no conservatório e aprendermos a ter certo formalismo e disciplina musical.


Logo o conceito entre fazer algo mais sério e mais afastado do metal em face de algo mais experimental fez com que os irmãos Berg quebrassem o pau e com isso tivemos que mudar mais uma vez o nome do quarteto que virou um trio: Aloprado Alonso, Berg e Wolf que era o apelido do novo baixista. Na falta do mano Berg que era nosso baterista tive que me arriscar nas baquetas. De saco cheio de fazer vocal e tocar bateria inovamos e colocamos uma garota que era nossa amiga como vocalista em algumas músicas e um cara mais velho no vocal que era professor de inglês no Fisk. Arrumamos um baterista que era do ministério de música duma igreja pentecostal, mas apesar disso era chegado em rock e logo ele trocou os louvores e hinos somente pelo rock and roll.  No começo a banda como trio durou algumas semanas apenas e teve resultados satisfatórios, porém eu não era o melhor baqueteiro do mundo e errava muito e me atrapalhava de mais. Com os novos integrantes fui para a guitarra base e o Berg para solo, o Wolf mantinha a cozinha e Lis e Alberto eram o vocal. Quando Lis, que também tocava teclado assumiu a banda como seus melhores amigos, ela deixou de ser a nossa fotografa e garota das relações públicas que marcava shows e até cobrava cachês para se tornar parte vital da banda no palco. Lis era filha duma gerente de banco divorciada e roqueira, isto na prática significava que a mulher que tinha seus quarenta e poucos anos era chegada em rock e também tinha um certo apego pelo Berg e com os outros garotos e permitia que ensaiássemos no quintal da casa delas. Logo a intimidade de Berg com a mãe de Lis fez com que a coroa nos comprasse novos instrumentos e com isso passamos a ficar mais profissionais nos apresentando em alguns lugares da região. Nosso maior feito foi abrir um show do Ira. Aquilo sim foi um dia memorável como tantos outros shows e apresentações onde o que valia era a adrenalina do momento!     

Acho que foi ao transformar aquela banda de maconheiros numa banda mais estilizada e com uma identidade menos imitadora de metaleiros e com repertório mais variado que passei a descobrir a minha capacidade de empreendedor e liderança. Mantive quem tinha mais afinidade e visão parecida das coisas por perto e trouxe gente nova para banda com energia e mais talento. Com uma nova cara passamos a ser requisitados e nos apresentarmos além dos showzinhos de colégio e com a ajuda da mãe de Lis logo tínhamos um formato e uma acessória que nos mantinha sempre no pique duma atividade de grupo unido em busca de algum reconhecimento maior e prazer constante pelo . Foram quase quatro anos nessa vibração até que os compromissos de um e outro foram impedindo da banda continuar unida. Eu fui para faculdade em São Paulo, Berg se mandou inusitadamente para o Escola Preparatória de Cadetes do Exército e Lis se transformou numa bela mulher casando-se com um gringo que conhecera nas férias. Berg fez disso um duplo aprendizado, pois fez a transição duma moleque desengonçado para um homem através das coxas grossas da mãe de Lis. Da minha parte eu era o arranjador do grupo e tinha muita afinidade com a Lis, sem ter nada com ela além duma profunda amizade e admiração. Nesse posto de definidor de repertório e líder da banda mantive a paulera de Supernaut do Balck Sabbath como música de abertura de nossos shows como sempre foi nos tempos de Corrosão Cerebral, coloquei em seguida com a aval da galera vinha emendado Rock and Roll do Led e Purple Haze do Hendrix.


Esse bloco era a primeira parte do nosso show com Lis nos vocais e a pegada de bateria fazia que fossem quinze minutos atrativos para o público. Depois Lis assumia os teclados dava lugar para o Beto nos vocais e vinha a segunda parte que tinha mais três ou quatro músicas. Começávamos essa segunda etapa com Roadhouse Blues do The Doors, e Beto com sua cabeleira loira e olhos azuis tirava a camisa virava um Jim Morrinson nórdico no palco que fazia as meninas se aproximarem do palco, em seguida vinha Lazy do Deep Purple e essa era a hora da Lis dar seu show a parte junto com os guitarristas e baterista. Toda aquela vibração sempre enchia a atmosfera dum clima e adrenalina que contagiava todos. A próxima canção servia para manter a vibração e chamar a atenção dos mais coroas que sempre prestigiavam as apresentações, isso era dedo da mãe de Lis no funcionamento da banda, com isso o nosso Jim Morrison loiro se transformava em Mick Jagger com icônica Jumpin Jack Flash e para finalizar esse bloco surgia YYZ do Rush como arremate. Uma breve pausa para refrescar e enxugar o suor e vinha a parte que mais gostava: o cover de Echoes I do Pink Floyd que nunca foi tirado em cima da pinta, mas enganava bem e era reconhecida. Lis e Beto faziam o vocal nessa parte do show enquanto o resto da banda se concentrava ao máximo na condução da música que por ser longa e com variações e técnicas diferentes exigia toda nossa atenção.  Depois vinha a fase que era conhecida como Lis Mother devido ser ela a sugerir o repertório dessa parte das apresentações. Começava com Somebody to Love do Jefferson Airplane com Lis no vocal e Beto no backing vocal. A seguir vinha Revolution dos Beatles na maioria das vezes, e Baba O’Rilley do The Who que transformava Lis e Beto mais uma vez na grande atração no palco. Para o granfinale duas canções fiéis as origens dos metaleiros da banda: Back in Balck do AC/DC e Enter the Sandman do Metallica era a grande saidera que fazia arrepiar o abacateiro e deixava todos pulando na platéia e era nessa hora que eu me esgoelava no vocal.    

Sem medo de errar admito que essa fase da banda foi uma das passagens mais gratificantes e emocionantes da minha vida. Tinha amigos e vivia fazendo algo que qualquer garoto na nossa idade sonhava. Driblava os limites caseiros e conservadores impostos pela madame francesa que torcia o nariz para isso tudo e mantinha o meu senso de liberdade e independência cada vez mais forte ao ponto de nos anos seguintes me julgar plenamente satisfeito com cada oportunidade que a vida tinha me dado. Essa fase de tremenda alegria só seria abalada com a morte de Camila, porém até nesse momento triste e desesperador consegui graças a esse espírito de buscar sempre o melhor transformar agruras em flores com o passar do tempo. 
 
Acreditem ou não, é possível existir satisfação e aceitação com a própria vida, sem a real necessidade de perseguir qualquer outra resposta pré-formatada pelos meios que nos impõem. Não vou dizer que isso é algo fácil e constante durante toda a vida, pois a trilha é cheia de percalços e pouca gente irá lhe compreender. A única resposta satisfatória para aceitar a própria vida é muitas vezes deixá-la fluir sem questionar certas coisas e tornar o ditado Carpe Diem numa realidade motivadora. Hoje em dia tento ao máximo fomentar esse espírito nos meus filhos que florescem a cada dia para um vida cheia de encantos e novidades, bem como para dias difíceis que poderão vir sem o menor aviso prévio. Foi acreditando nessas coisas que sempre me senti livre e disposto a cada manhã. 


Como conciliar essa idéia de viver bem estando em permanente estado de graça é impossível, mas operar esse milagre de viver bem a vida sendo que o fato mais notório é que nossa própria existência definha dia após dia numa caminhada inevitável para a morte é algo que confio minhas crenças no tal ditado do Carpe Diem. Com isso não  espero estar sendo existencialista ou autor de alguma dica de auto ajuda, estou sendo realista ao ponto extremo de  ver mais méritos para seguir em frente buscando coisas novas, novas atividades, novos amores e paixões do que parar numa altura do caminho e apenas olhar para trás com nostalgia.


Esse pensamento radical da maioria das pessoas convencionais de ser feliz ou infeliz basta para muitos. A vida se encarrega de esconder de cada um nós - matéria pensante com alma dada por uma suposta divindade - um meio termo dessa afinação de sentimentos pelo que é bom, justo e belo.  Há na maioria das pessoas uma espécie de conformismo de que, queira você ou não, a vida é mais complexa e profunda do que isto. E justamente por essa condição, precisamos aceitar e entender que esse estado de perturbação constante para certas pessoas não é necessariamente meramente tenebroso, mas sim um rota de auto destruição em pequenas doses venenosas e diárias. Já para outros a vida é bela e sempre pedindo mais e mais de cada um de nós. Cada um opta por seguir um caminho ou outro...

Naquela segunda-feira de manhã, acordei nos braços perfumados de Flávia. Aliás, nem era de manhã ainda, era quase manhã. Ela ainda estava com seu pé de bailarina desastrada dolorido e disse que iria ao médico. Sem pensar em mais nada além daquela boca dela com bafo de margarina mal terminei o café na cama, com pressa coloquei as meias dela repetindo uma cena clássica de algum livro que havia lido, e me mandei direto para o trabalho trazendo comigo uma torrada que Flávia havia me servido. Quase bati o carro num cruzamento devido a pressa, daí resolvi respirar fundo e ir mais devagar. Cheguei no escritório e só havia o porteiro do prédio trabalhando. Passei rapidamente na copa e coloquei a cafeteira para fazer uma quantidade exorbitante de café com pó importado que havia trazido da viagem.  Liguei o computador da minha sala, e passei a me informar como estaria o mercado de ações naquele dia turbulento, planejei alguns trades, depois tomei uma caneca de café puro e daí passei a tratar duma pilha de papéis em cima da minha mesa. Adiantei dias de trabalho quase em três horas de expediente matutino seguindo a regra básica de quem cedo madruga faz mais que os outros.

Nove horas em ponto o escritório está cheio e chegam as “novas funcionárias” Giovana, Ana Laura e Bruna e se espantam com os meus trajes de golfe atrás duma mesa com papéis em total desordem que ficaram a encargo da secretária dar um jeito. Todas elas devidamente trajadas com roupas de grife de executiva perfumaram a minha sala transformando aquela sala numa competição de fragrâncias de perfumes caros. Logo de cara entreguei um tubo com um projeto inacabado para Bruna que recém formada em arquitetura poderia começar a replanejar e ter idéias sobre aquilo. Chamei a secretária e solicitei uma mesa para ela em algum ponto daquele escritório que eu ainda mal sabia quantas salas tinha ao meu dispor. Para Ana Laura eu tinha planos menos auspiciosos. Consultei o currículo dela e ao menos na teoria ela parecia ter conhecimento de base para passar uma semana inteira analisando uma papelada referente a imóveis que seriam transferidos para Tia Fanny e redigindo o acordo de permuta de bens e quem sabe até mesmo ela poderia adiantar os cálculos necessários para driblar a receita nessa operação toda. Já Giovana era dondoca e apesar de ser também advogada serviria no máximo como auxiliar de Laura. Despachei as duas para um canto qualquer do escritório e quando vi a pobre Laura esbulhando os olhos para a pilha de pastas que teria que dar conta naquela semana senti que ela estaria em apuros e mandei Dani minha secretária fiscalizar cada passo daquela bela menina que parecia mais uma garota recém chegada do interior que nunca tinha sido desafiada a fazer algo tão importante.   

 Assim que me livrei delas, fiquei quase uma hora no telefone com uma encantadoras senhora japonesa discutindo planos de hotelaria. Aquela vibração tranqüila da mulher do outro lado da linha e objetividade japonesa me fizeram crer que ainda havia gente competente no mundo com visão inovadora para os negócios. Fechei as bases dum negócio com ela e era só esperar a visita da emissária jurídica dela nas próximas semanas para selar tudo de papel passado. Era quase hora do almoço e atendi mais algumas ligações e almocei com Marie que aos poucos estava se tornando numa eficiente assistente para assuntos de menor destaque. Passei uma lista de tarefas para ela naquela tarde que era basicamente telefonar e agendar os compromissos de resto de semana para mim. Deixei ela resolvendo isso com algum auxílio pontual de Dani com toda minha sala ao dispor das duas e fui para casa tomar um banho e trocar de roupa. Passei na barbearia dei uma aparada no cabelo, barba e bigode. Voltei para o trabalho chequei as operações de trades, e tudo mais que havia delegado para Laura e Marie, e percebi que o currículo de Laura não fazia jus à pratica, mas ao menos ela era esforçada e pelo visto faria muitas horas extras e levaria serviço para casa. Bruna por sua vez já tinha adiantado bem os seus afazeres e esboçado algo promissor para aquele projeto de night club que tinha deixado sob os seus cuidados.    


Depois disso deixei Marie na aula de dança e fui passar o final da tarde com Flávia que estava mancando ainda e chapada de analgésicos dizendo que teria provavelmente que fazer fisioterapia nas próximas semanas. Ao cair da noite fui até a casa de Bia ver Ivan e tratar alguns detalhes da venda da empresa dela. Jantei com eles e quando Ivan caiu no sono depois da sobremesa voltei para casa descansar um pouco e checar mais alguns assuntos no escritório de casa até a hora de dormir.


Devido a quantidade exorbitante de café consumida naquele dia demorei a ir para cama. Conversei com Quim via internet e vi que ele depois do seu arroubo futebolístico tinah votlado ao normal completamente graças a sua namorada a qual ele iria trazer para passar as festas de final de ano conosco. Fiquei animado com isso, e de certa forma era um tapa com luva de pelica na cara da esnobe da mãe dele que estava me infernizando como sempre juntamente do seu papai com senso de colonizador português. Logo na manhã seguinte depois de curtas horas de sono, acordei com Marie me chacoalhando na cama porque mais uma vez, como de costume tinha perdido a hora do colégio. Resolvi de imediato deixar de lado esse negócio de escola naquela semana, pois já no dia seguinte ela iria se encontrar com a mãe em São Paulo na SPFW e iria perder o resto das aulas na semana mesmo.  Tomei café com ela e ficamos conversando sobre a viagem dela, sobre os planos dela para o próximo ano na Suíça, e tudo aquilo me apertava o coração no fundo. Nos últimos meses Marie era a pessoa mais próxima da minha pessoa com quem mais tinha afinidades em tudo. Embora ela ainda tivesse surtos momentâneos de desobediência e irresponsabilidade encarava aquilo como algo natural daquela fase. Ela cumpria o que havia proposto para ela no escritório e na condução dum projeto de loja dum shopping e eu sentia que aquilo poderia fazer ela ficar mais algum tempo no Brasil e contrariar os planos tão minuciosamente traçados pela avó e mãe controladoras do destino alheio.


Almocei na rua com Marie e seguimos para o escritório. Para aquele dia tinha incumbido a filhota assistente de organizar a viagens de negócios na próxima semana e recepcionar o avô dela que chegaria naquele final de tarde. Depois disso só vi ela a noite dançando feito criança no seu quarto sobre a cama. Ainda no ambiente de trabalho senti pena de ver Laura descabelada com uma pilha de pastas e documentos para dar conta. Sentei na mesa dela como se a sala dela e Giovana fossem a minha própria sala. Fiquei olhando para cara de Laura como se não compreendesse os relatos dela sobre aqueles documentos tentando fazer ela se sentir uma incompetente. Ela ficou sem saber o que fazer a partir disso tadinha. Parecia uma barata tonta falando sem parar e andando dum lado para outro dizendo que aqueles documentos estavam com uma série de problemas em cartórios e registros e coisas desse tipo. Dei algumas orientações para ela e disse que havia mais uma série de documentos a serem analisados minuciosamente e por fiz o pior dei: o prazo de uma semana para resolver tudo aquilo. Levantei-me da cadeira e saí da sala dela sem ouvir um pio dela. O som do suspiro que dizia “puta que pariu mais abacaxi para mim” foi a única coisa que ouvi quando dei as costas.

Geralmente coloco muita pressão nos novatos na esperança que eles resistam a essa prova de fogo inicial e me surpreendam com resultados positivos. Com Bruna estava pegando mais leve, até porque os assuntos que tinha delegado para ela eram de longo prazo e já estavam com a parte burocrática em ordem. Aquele ambiente leve de muitas mulheres no ambiente de trabalho me agradava e nenhuma delas ali tinha uma tendência a ser uma nova Aline em todos os quesitos. Com exceção da Dani a secretária que já tinha se arrependido de ter cedido aos meus encantos tudo estava funcionando no mais estrito profissionalismo. Voltei para minha sala e Marie estava gostando cada vez mais de ocupar a minha sala ao ponto de ter trocado as persianas por cortinas novas e providenciado alguns retoques na decoração que eram a cara dela e não a minha. Despachei ela para buscar o meu pai no aeroporto com o motorista e servir como anfitriã do velhote visto que minha mãe, não faria a menor questão de recepcioná-lo como manda a tradição de hospitalidade. Marie se mandou e fiquei fazendo uma rodada de telefonemas resolvendo mais alguns assuntos com os caciques de Sampa que em breve seriam comandados pelo velho libanês no próximo ano. Sentia correr nas veias um ano promissor apesar das expectativas negativas originadas pela reeleição da dona poste. Em breve eu estaria colocando os planos de governança corporativa em andamento e  quem sabe poderia dentro de alguns anos deixar por conta de executivos contratados e me dedicar a empreendimentos menores e menos exigentes e estressantes.


Como a empresa estava crescendo e ficando grande demais, lenta e por vezes ineficiente em alguns projetos devido a administração tão centralizada na minha pessoa e no meu staff de comando era hora de pensar em como crescer sem perder o fio da meada dentro dum cenário aparentemente incerto e que exigiria correções de rumo constantes com maior celeridade, efetividade e eficácia. Articulava lentamente todas minhas idéias e estudos sobre este assunto num dossiê com planos de metas e projetos de médio e longo prazo que deveriam ser implantados nos próximos anos visando chegar nesse patamar. Foi nessa hora que recordei dos tempos de adolescência de como tinha transformado uma banda de metal numa banda com potencial de ter até mesmo gravado algum disco próprio. Tinha a sensação, mesmo que remota, que estava diante de algo que poderia me dar prazer e criar algo novo e que poderia ser deixado de legado, por exemplo, para Marie assumir nos anos futuros devido a desenvoltura e compreensão que ela demonstrava com certos aspectos de administração. Via nela o dom de observar e ouvir calada negociações inteiras e depois me questionar os motivos e como isso e aquilo funcionava. Aquela curiosidade dela me fazia notar que eu não deveria ser como meu pai que quando questionado sobre algum teor de negócios sempre dizia que aquilo era algo não iríamos compreender. Embora a ideia de preparar ela para ser uma possível sucessora nos negócios fosse algo que me cativasse, não iria colocar isso na cabeça dela enquanto ela não tivesse definido seu próprio destino com base nos planos e sonhos dela mesma.


Fechei o expediente daquele dia espiando mais uma vez Laurinha se esmerando em adiantar aquela papelada medonha e burocrática. Troquei de roupa e tirei a bike da traseira da pick up e fui pedalando até a casa de Bia visitar o Ivan. Chegando lá fiquei por cerca de uma hora brincando com o moleque e tomei um banho e pedi para o motorista me buscar lá me trazendo um terno para ir jantar com o velho libanês. Jantei com o coroa e coloquei para ele todas as cartas na mesa do que queria dele como meu agente na sede em Sampa. Ele compreendeu e aceitou o encargo com altos honorários. Selamos o acordo com uma garrafa de vinho. Fechado o preço da lealdade dele me senti livre para apreciar e até aceitar uma proposta de consultor chefe de negócios em um projeto num banco paulista que havia sido ofertada nas semanas anteriores. Aquilo implicava que teria que passar boa parte do tempo em São Paulo e quem sabe deixar de lado toda aquela qualidade de vida menos estressante em Curitiba. Fazer o que se isso fosse ossos do ofício.
Voltei para casa com o velho que logo se recolheu e ajudei a dançarina Marie a fazer suas malas para Sampa, ela insistiu para que fosse com ela ver a mãe fazer comerciais para O Boticário e participar com elas dos bastidores da SPFW. Aquilo no começou até me tentou, mas recusei, depois no final acabei aceitando e indo para Sampa com elas visto que tinha ingressos para o GP Brasil de F1 garantidos para todo pessoal da alta cúpula do escritório paulista. Telefonei para Flávia com intenção de levá-la como acompanhante, porém ela se recusou dizendo que iria receber a visita dos pais naquele final de semana e até esboçou um ataque de ciúmes e uma briga. No final ela aceitou minhas desculpas esfarrapadas e se acalmou dizendo para me comportar. Certamente aquela recomendação seria a última coisa que faria. Na  manhã seguinte avisei o velhote que a casa era dele no café da manhã e ele senti-se envaidecido por deixar a chave da casa e toda criadagem ao dispor dele. Quando retornei na semana seguinte, percebi que ele tinha aproveitado casa momento dessa tal liberdade. Fez um jantar requintado para amigos locais dele e visitas do meu irmão e até mesmo convidado a vizinha francesa e Agatha para um jantar no estilo maçônico que ele tanto gosta.


Chegando em Sampa, a cidade parecia estar efervescente com turistas chegando de todos os lados no aeroporto por conta dos eventos daquela semana na cidade. Mandei Marie direto para o apartamento que havia cedido para a mãe dela passar aquela semana e preferi me hospedar num hotel mais próximo do escritório para ter mais liberdade e receber as visitas de Mônica e Juliana que haviam topado passar aquele final de semana no GP. Peguei uma das suítes mais ostentosas que eram as únicas que havia livre, pois o resto estava tomando de turistas de todas as partes do Brasil e por uma vasta equipe de jornalistas gringos que iriam cobrir o GP. Depois do check in no hotel liguei para a Bianca me buscar no hotel naquele meio de tarde para darmos um rolê pelos eventos da semana de moda. Como ela tinha que apresentar um seminário na faculdade passamos pouco tempo juntos, e logo depois disso me encontrei com Marie e sua mãe num jantar da equipe dela num restaurante badalado em Vila Madalena. Quando as duas se mandaram, resolvi aproveitar o restante da noite com Bianca numa danceteria. Ela já tinha cumprido com seus deveres acadêmicos e mandando o namorado dar linha. A noite era propícia para levá-la para o hotel e cumprir o dever de casa do script de nova Aline. Infelizmente Bianca não tinha muito a ver com Aline nesse quesito, preferiu me deixar na porta do hotel e ir direto para casa sem levantar suspeitas do papai, mamãe e namoradinho que estava se tornando mera figura de decoração ao lado dela após tantas investidas minhas e encontros secretos com ela nas última semanas.


Tratei aquela atitude dela como um fora, e no dia seguinte resolvi prestigiar a amiga Anne, que estava naquela fossa. Fui até a casa dela logo depois do café da manhã e coloquei a conversa em dia em dia. Ela me fez ficar para o almoço, por sinal maravilhoso devido a cozinheira ser uma mineira de mão cheia. Assim que ela enviou o seu pimpolho para o colégio fomos para mais uma rodada de desfiles da semana de moda. Tinha acertado em cheio em dar um gelo em Bianca e convidado Anne para ser minha companhia naquele dia. Bianca não parava de me ligar, e eu só atendi uma vez dizendo que tinha compromissos e agenda cheia para o resto da semana e que passaria no escritório na manhã seguinte. Por outro lado, Anne despertava a curiosidade de Marie e da sua mãe que nos convidou para mais um jantar com sua equipe naquela noite. Anne não pode ficar para o jantar por motivos óbvios, tinha que cuidar do filho e manter a discrição devido a separação recente. Passei o resto da noite acompanhando Marie e Gina que estava se demonstrando feliz devido sua nova fase na carreira e vida pessoal. Mesmo sem estar com nenhum relacionamento ela parecia ter um brilho nos olhos que há tempos não via nela. Parecia que a fase de treinadora de modelos e produtora tinha despertado nela e em Marie uma espécie de interesse comum e finalmente selado as pazes entre elas. Gina colocou Marie num editorial que foi fotografado naquela semana e estava produzindo propagandas para grandes empresas do ramo. Aquilo tudo me deixou feliz e me fez ver que poderia haver uma possibilidade de manter Marie por perto na próxima temporada se soubesse fazer a cabeça da mãe dela para apoiar essa intenção. No entanto, não toquei no assunto, deixei tudo fluir e ver com as duas se comportavam. Finalizei a noite voltando para o hotel e dormindo naquela cama confortável tendo sonhos maravilhosos com Mônica e Juliana que chegariam no final da tarde do dia seguinte.



Pela manhã de sexta feira, tomei um café em meio a um salão lotado de turistas e fiz amizade com um paraibano que estava com seus filhos. Em seguida peguei o rumo da empresa e esnobei Bianca que estava na ante-sala do escritório da maninha. Fiquei conversando com ela sobre o ingresso do velhote na empresa. Ela parecia se opor ao fato dele ser o novo chefe e manda chuva na empresa no próximo ano por um período indeterminado e com funções de fiscalizar a todos. Duma forma ou de outra ele estaria num posto acima dela e isso deixava ela pau da vida. Não dei bola para isso. Quando saí falei rapidamente com Bianca que parecia arrependida da forma que tinha levado as coisas em nosso último encontro. O gelo tinha surtido efeito, mesmo assim mantive a postura estratégica de não dar mais esperanças para ela para ver onde aquilo poderia desembocar. Evitei transitar no corredor onde a minha sala ficava para não me deparar com Evelin também e devido a isso acabei cruzando com Aline que inesperadamente me chamou para sala dela. Como não tinha desculpa alguma e fui pego de surpresa tive que conversar com ela. Ela foi breve e concisa. Disse que no próximo ano estaria se desligando da empresa para trabalhar por conta própria e que já tinha avisado aos meus sócios dessa decisão dela. Não tinha mais nada a fazer, nem mesmo recordar ou tocar no assunto do bebê, fiz o que manda o manual dos cavalheiros nessas hora: Desejei sucesso para ela e se precisasse de alguma espécie de ajuda em algum momento futuro poderia contar comigo. Nem mesmo esse gesto tirou dela um sorriso, ela se manteve séria e centrada. Senti aquilo como um ponto final ou uma espécie de golpe no meu ego, porém não fiquei digerindo aquilo como algo ruim, mas sim como um final feliz dentro das circunstâncias.


Para finalizar aquela estranha manhã fui almoçar com Marie e Regina. Elas iriam seguir para o Rio de Janeiro passar o final de semana e aproveitei a ocasião para me despedir delas. Em seguida fui até a empresa daquela amistosa senhora japonesa para tratar de nossos assuntos. Ela não estava disponível no dia devido outros compromissos. No entanto o assessor jurídico dela me atendeu com muita simpatia e para minha grata surpresa a assistente dele era uma ex-colega de faculdade que me deu toda atenção e facilitou ainda mais as tratativas adiantando ainda mais as negociações. Rever Brenda depois de tanto tempo e relembrar a época de faculdade, quando ela estava dois anos atrás da minha turma, mas sempre era figurinha carimbada nas festas da galera de Direito me deixou mais uma vez com uma sensação de nostalgia daquela época que nada tinha e por outro lado tinha todo o mundo a ser conquistado.

Depois desses encontros inesperados fui para um coquetel com os sócios, evitei beber muito, os planos para aquele final de semana na companhia de Mônica e Juliana prometiam. Assim que voltei para o hotel, fiz o check out e me transferi para o apartamento que estava mais uma vez livre devido a saída de Regina e Marie. Essa foi a pequena mudança de planos feita naquela tarde e executada de imediato. Tinha previsto passar o final de semana no hotel sendo tratado como celebridade devido ter pego a suíte mais cara do menu de quartos vagos, mas pouco ficava no hotel e nem sequer a banheira de hidro que era atrativa tinha usado em momento algum. Achei que aquela suíte não me trazia boa sorte e me mandei de lá. Pode parecer excentricidade ter um apartamento e preferir ir se hospedar num hotel, todavia eu tinha meus motivos e planos que não foram concretizados com Bianca e ainda tinha duas beldades chegando para dar conta. Logo que saí do hotel a minha sorte mudou realmente, recebi uma ligação de um dos advogados da empresa dizendo que naquela mesma hora um juiz tinha dado ganho de causa em primeira instância num processo milionário contra um prefeitura que fraudou um licitação que havíamos ganho sem levar a obra. Aquilo reforçou o meu senso de que o universo estava fazendo as pazes comigo como uma amiga havia me dito semanas atrás e reforçou mais ainda que aquele hotel não me trazia sorte. Feliz da vida com dinheiro em caixa entrando em breve devido a condenação ordenar depositar em juízo metade do ora pleiteado assim que avistei Mônica e Juliana tive mais motivos para sorrir e seguimos para o apartamento que tinha passado por uma revolução naqueles dois dias que Marie passou por lá.


Finalmente alguém tinha reformado aquela decoração antiga e substituído por algo novo e de bom grado aos meus olhos. Tinha combinado isso com ela muito antes, depois o assunto nem surgiu na pauta de nossos encontros naqueles dias. Não esperava que ela conseguisse fazer algo em tão pouco tempo. Embora a conta tenha sido salgada e inesperada liguei para ela e pelo visto o toque de fada não foi dela, mas sim de Regina que bem relacionada com decoradores deu um jeito naquilo num único dia de forma impressionante. Agora aquele recanto tinha novos ares e recebia aquelas duas beldades devassas que me fariam companhia naquele final de semana de luxúria e velocidade em Sampa. Sentia o universo conspirando ao meu favor e lembrava das previsões furadas do vidente peruano feitas semanas atrás com certa ironia. Mônica e Juliana tomaram um demorado banho, se produziram todas e fomos jantar num restaurante requintado. A cada olhar masculino ou feminino para nossa mesa eu sentia que estava sendo alvo se alguma espécie de inveja por ter duas mulheres lindas em minha companhia enquanto no restante da mesa via membros da alta roda no seu tradicional jantar cheio de parentes que faziam brindes por alguma ocasião como noivado ou coisa do tipo.


Apesar de toda educação refinada dada pela minha mãe com seu estilo francês afrescalhado eu raramente me portava de acordo com as regras de elegância e requinte dadas por ela. Muitas vezes começava seguindo cada uma dessas regras de finesse nesses estabelecimentos de alto padrão e depois relaxava e mantinha a postura adequada, porém exacerbava em alguns momentos os modos de matuto do interior que me deixavam mais a vontade. Não chegava a ser um Jeca Tatu, só que sentia prazer em transgredir certas formalidades e tratar os garçons como pessoas de verdade não como meros serviçais. Afinal de contas, eu talvez fosse um único ali que já tinha vivido a experiência do outro lado da mesa como garçons nos idos tempos de labuta num restaurante da mesma estirpe. Além disso, tratava as minhas companhias como elas mereciam ser tratadas, sem fazer encenações de afeto ou atenção eivadas de certa falsidade só para aparentar ser mais um ilustre desconhecido da alta roda.


Talvez isso seja uma grande crítica ao modo de como os ricos se comportem com certa distância do mundo real vivido pela maioria das pessoas comuns e menos abastadas. Embora eu deteste gente convencional eu tenho uma raiz no meio delas, de gente simples e humilde que gosta de ser tratada com respeito e trata os demais sempre com a mais alta educação que são capazes de ter. Minha mesa era servida com esmero, os garçons pareciam felizes de permitir que eles se deslumbrassem com minhas companhias sem torcer o nariz para eles. Agia ao contrário dos outros homens nas outras mesas com suas esposas e namoradas cobertas de jóias e roupas de tecido fino.  Deixava que eles se aproximassem e servissem as belas moças em cada fase do jantar e ainda colocava eles como parte nas conversas que estávamos tendo. Aquilo não era apenas uma forma de me manifestar de forma diferencial dos outros clientes, aquilo era uma forma de ver as pessoas e o mundo com certa equidade apesar das diferenças marcantes que existem na sociedade.


Após o jantar fomos para uma festa, mais um coquetel rega bofe na verdade, aquela rotina de lugares cheio de patricinhas e mauricinhos já estava me dando nos nervos, mas as garotas pareciam apreciar aquele admirável mundo novo a qual não estavam habituadas. Da minha parte eu queria agradar elas e depois ser recompensado naturalmente com lascívia. Era minha única intenção e real motivo de estar ali naquele recanto de playboys e pistoleiras disfarçadas de moças de família. Conhecia a fachada e ainda mais o que havia por de trás daqueles cenários e teatro comprado via promoters. Comecei a ter uma espécie de asco filosófico daquilo tudo e me sentir vivendo num mundinho que já não correspondia mais aos meus anseios mais íntimos. Parecia estar tendo uma visão de que tinha chegado o momento de deixar toda aquela ostentação finalmente de lado, porque ela já tinha me dado tudo que queria e não precisava mais daquilo. Sentia que tinha ingressado novamente num mundinho que eu já fui membro distinto do clube de toda aquela aparência decadente e grande profanador de muitas virtudes de jovens desavisadas que surgem vez ou outra nesses espaços. Parecia que finalmente eu tinha me dado conta que fazia tempo que aquilo nunca de fato me agradou, mas que era necessário em algum momento da vida ter passado nesses pardieiros de endinheirados para aprender algo maior e mais proveitoso para minha relés existência como homem de negócios.  


Ao sair dali e respirar o ar impuro da madrugada paulistana, tomei a decisão de evitar a todo custo novas festinhas daquele naipe, e dar preferência aos locais mais condizentes com a minha nova visão de mundo. Sentia-me como um Brás Cubas que tinha descoberto o emplasto para os males escondidos na alma ou algo uma nova filosofia para dedicar a minha vida. Tanto foi assim aquela noite que o sexo tórrido com aquelas duas mulheres foi como uma despedida dos tempos de outrora onde a canalhice a conquista depravada e barata faziam sentido. Na montanha russa deste ano cheio de desilusões me recordei depois do coito que aquele vidente disse que teria uma desilusão e depois uma nova chance. Fumei o último cigarro do maço e no outro dia não comprei um novo, em esbaldei naquele final de semana entre coxas e beijos molhados, felações e toda sorte de prazeres sexuais e ostentação que o meu ser e dinheiro poderia me conceder e voltei para casa com a sensação de dever cumprido numa carreira de devassidão com louvor e honra ao mérito de ser um dos cafajestes mais bem sucedidos da história dessa pátria.  

Na semana seguinte fiz uma vultosa contribuição pra uma instituição de caridade como se aquilo que alguma forma apagasse os meus pecados. Isso era mais um dever do que um ato de suma bondade da minha parte. Sempre odiei ver gente passando necessidades. Pensei em me confessar com um monsenhor que sempre tomava um lanchinho com tia Charlô, mas aquela pieguice religiosa da absolvição sumária e retroativa dos pecados carecia de arrependimento e eu nunca me arrependeria do bailado e comido na minha longa trajetória de fornicador. Já me gabava e muito de não ter sido adultero durante os casamentos falidos que tive. Havia deixando de lado belas secretárias e amantes enquanto usava aliança, então achava que estava quites com a entidade religiosa duma forma ou outra, aliás, não devia nada para a instituição religiosa; a não ser minhas condolências devido aquele semestre no colégio católico em tempos passados.

Depois daquele final de semana onde torrei horrores com luxo e sexo do bom e do melhor, resolvi achar um caminho mais suave para descobrir novos horizontes e providenciar com isso quem sabe um post mortem num paraíso como reza o alcorão dos homens bomba.   

sábado, 1 de novembro de 2014

Intrigas palacianas


Chegando em casa fui recepcionado pelo cãozinho de titia Charlô que me recebeu apropriadamente com euforia mijona pela minha chegada repleta de presentes cafonas para todos. Especialmente para Marie que sempre fora a mais pidona à exemplo da avó paterna.  Eu não tinha sido o único a chegar naquele dia. Tia Fanny e mais três primas e uma afilhada  dela estavam no hall de entrada como se aquilo fosse uma comitiva de recepção feminina para um soldado que chegou da guerra. O único marmajo era meu irmão que parecia estar mais preocupado em saber se tinha lhe trazido alguma garrafa de bebida.


Entre um cafezinho e sucos e um papo e outro logo fui me familiarizando novamente com pessoas que não encontrava de longa data como Bruna minha prima em segundo grau e Ana Laura a afilhada de Tia Fanny. Estavam cada uma ao seu modo duas mulheres lindas e mantinham ainda cada qual ainda o jeito provocante de Bond Girl do mal e a outra o estilo low profile e sereno deixando toda atenção de qualquer pessoa voltada ao belo par de olhos profundamente azuis emoldurada por cabelos negros lisos.  Conversei pouco e logo fui me entreter com Ivan no quintal, estava aflito por tê-lo deixado tanto tempo com as avós e irmãs e conversar sobre carrinhos e gibis era quase impossível via internet devido a agitação dele. Marie logo veio me cobrar de seus souvenirs e contar fofocas da casa. Fiquei com ambos alguns momentos caminhando pelo jardim dos fundos ouvindo a tagarela da minha filha destrinchar fatos desinteressantes e outros capitais sobre aquelas últimas semanas. Quando ela realmente adentrou num assunto sério foi sobre a viagem que fariam para Chamonix junto de Ing, Agatha tia Charlote e mamãe e sobre a ida delas para estudar fora do país.



Aquela viagem já era o prenuncio de que minha mãe tinha conseguido atingir seus objetivos de conseguir vaga para Ingrid e Marie num colégio suíço de preparação. Isso eu já antevia ainda sem acreditar na real possibilidade disso. Mas como Marie, Ingrid e até Agatha estavam se esmerando em aulas de francês há alguma tempo tudo aquilo me chamava a atenção para um movimento estratégico oculto que não dei muita bola apesar disso. Minha mãe só me comunicaria isso no final daquela semana juntamente de seu colegiado de defensoras da causa onde todas estavam de pleno acordo em mudar-se para lá visando iniciar os estudos na Europa. Só notava uma pequena indecisão em Marie que estava começando a gostar das suas tarefas extra-colégio e estava se saindo bem nos seus afazeres no escritório.  Fiquei um tanto decepcionado pela notícia devido não fazer parte dos meus planos acompanhá-las nessa empreitada in loco. Meu irmão também tinha objetivos comuns em mudar-se para França com sua filha e recomeçar nova vida e usaria isso como trampolim visto que minha mãe inclui-o nos planos da Suíça. Minha mãe tinha realizado todo esse projeto com base na sua capacidade de persuasão e ascendência sobre as garotas, não tinha como negar que ela tinha feito a cabeça delas, e conseguiu preparar nas minhas tantas ausências um caminho mais abreviado para um processo que eu queria que fosse um pouco mais extenso e gradual.


Essa notícia significava que o futuro com Agatha era uma preocupação e menos e tudo que houvesse de bom ou ruim dali por diante teria um desfecho inevitável que era a separação. Isso me aliviou de certa forma, pois naquela mesma terça à noite que havia chegado passamos a noite juntos. Ela com seu novo look engenhado por Marie com cabelos tom de chocolate estava com um vestido rosa shock parecendo mais uma adolescente do que a velha e repetida garota country de sempre. Foi a última noite que passamos juntos, na quarta tudo já viria abaixo ao aceitar um convite de Daniela para acompanhá-la na festa de aniversário de Flávia que insistia para que comparecesse naquela festa. Aquele convite já estava agendado e sentia que Flávia estava me rondando novamente já fazia algumas semanas de forma discreta e indireta e direta.  Por não ter mais me visto ao lado de Agatha, ao menos não em público depois daquele incidente estúpido de Agatha ter aceito o meu pedido e depois jogado tudo fora, Flávia parecia querer ocupar o posto deixado pela desastrada rival de colégio. Ambas pareciam ter uma certa antipatia comum uma pela outra que era velada no trabalho, mas evidenciada em outros cantos conforme Dani me informava fazendo uma espécie de advogada do diabo.



Um jantar simples, pouco conversei com a aniversariante, embora o flerte dela fosse evidente, mas aquilo foi o suficiente para no dia seguinte Agatha dar o seu chilique de ciúmes emanando todos os tons de posse e insegurança imatura que faziam jus ao look adolescente dela. Saí conversar com ela naquele final de tarde no colégio depois de assistir um jogo de vôlei por lá para me distrair. Saímos de carro e paramos num lugar calmo e sem movimento. Escutei todas as acusações infundadas dela calado. Como já estava indeciso e confuso sobre o que esperar dum futuro com ela aquilo tudo foi a linha divisora de águas. Quando ela terminou de esbravejar e me acusar de estar mantendo um “caso secreto” com Flávia e com ela ao mesmo tempo a coisa me soou tão despropositada que a minha única reação foi despejar ironia e sarcasmo para cima dela, poupando ela dum longo sermão devido ter sido ela a ter feito antes o que agora me acusava. Quando ela terminou seus últimos atos definindo tudo ao dizer para não mais procurá-la selei com ela um acordo de aquilo tudo entre nós nunca deveria chegar até Ingrid. Até pensei em consolar ela várias vezes e fazer ela recobrar a calma durante o discurso acusativo inflamado dela, mas isso não fazia mais sentido. Afinal era ela quem acusava e terminava tudo crendo que de fato eu estava novamente com Flávia devido o simples fato de ter comparecido ao aniversário dela sem a menor intenção de cortejá-la novamente.


A ideia até aquele momento era apenas fato na cabeça de Agatha, mas o enredo dela era tão convincente que resolvi torná-lo um acontecimento real como se fosse uma espécie de punição por ela ter em certo momento dito me querer e voltado atrás ficando com outro por algumas semanas até cair na real. Não era vingança era um meio de colocar um ponto final definitivo naquela história que aparentemente tinha algo em sua essência que jamais daria certo. Após levar Agatha para casa telefonei para Flávia e coloquei as cartas na mesa. Nisso havia uma clara evidencia que Daniela de advogada do diabo e diplomata que parecia querer  selar a paz entre Palestina e Israel não tinha nada. Ela estava também contra Agatha devido ela estar se tornando uma espécie de ameaça à posição dela no colégio. Ao menos era essa a teoria conspiratória que estava circulando nos corredores. No fundo isso não me interessava, o que tinha a fazer agora era tornar fato as acusações de Agatha e isso foi mais simples do que imaginava. Bastou telefonar para Flávia e ela rapidamente abriu o jogo sem fazer rodeios. Disse que tinha sido um erro nossa separação meses atrás e que tinha se arrependido e não sabia como reatar. Sentia sinceridade nela, mas isso também pouco me importava, queria mesmo é usar tudo aquilo para fechar um ciclo. Por mais manipulador que possa parecer era a chance mais fácil e à mão de matar e enterrar aquela história de vez com Agatha e tocar o barco em frente. Naquele momento não houve em nenhum momento de crise de consciência digna de Felipe Barreto depois de ter desvirginado uma tolinha e se tornando inimigo mortal da mesma. A coisa na minha mente estava calibrada e voltada para abrir novas possibilidades tendo em vista tudo que estava ocorrendo sem sair do lugar há algum tempo.




Fiquei horas conversando com Flávia na casa dela, cartas na mesa, nenhum ressentimento e tudo acertado pegamos no sono no sofá assistindo um filme como se nunca tivéssemos decidido antes em deixar um ao outro tempo antes cada qual com seus motivos não confessos na ocasião.  Acordei cansado por dormir torto no sofá, levei ela para o quarto e fui embora, pois sabia que Ivan estava meio febril e Marie como sempre dorme como uma pedra. Me senti irresponsável no caminho para casa, logo essa sensação passou e o mode fuck all estava on mais uma vez. Ao chegar em casa estava tudo bem com Ivan.  Tomei um banho e arrumei as coisas dele para ir buscar Bia que estava para sair da clínica de repouso. Ele parecia não estar disposto a sair da cama, deixei ele dormindo mais um tempo e foi Marie quem conseguiu tirar ele da cama e arrumá-lo com seu habitual poder de convencimento: a insistência. Enquanto isso estava na cozinha conversando com Tia Fanny e Ana Laura que tinha sido escolhida para ser a sua manda chuva nos negócios que queria realizar comigo. Ela nos deixou e fiquei com titia falando de outros assuntos, assim que Laura deixou a mesa titia me disse: A Ana é uma boa moça – A expressão me soou como: “Não se meta com ela seu cafajeste ela não é para o seu bico são só negócios”. Minha tia tem um tom enigmático e mais autoritário que a minha mãe e fiquei sem compreender a razão dela ter sublinhado o caráter e personalidade de Ana Laura que na manhã anterior havia agido comigo também de forma autoritária ao me flagrar fumando um cigarro logo pela manhã na presença do Ivan que tomava sua caneca de sucrilhos.

Apesar da bronca ter sido em tom de professora antiquada, ela se sentou na mesa do jardim e conversou comigo com toda sua simpatia e timidez dando flashs a todo momento de rubor no rosto. Nem parecia uma advogada executiva que poderia tomar conta dos interesses de titia como sua procuradora. Laura falava muito sem dizer nada de conclusivo sobre assunto algum. Aqueles olhos azuis eram mais interessantes do que o mundo ao redor e não me ocupava em dar atenção a mais nada a não ser a beleza dela naquela mesa pouco me importando com o que ela falava. Ela facilmente conquistou a atenção do Ivan também que depois daquilo era o chaveirinho dela pela casa durante aquela quinta feira que tinha sido efervescente de intrigas fora dos muros daquele chateaux de Madame Monique.  Logo Bruna, minha prima, com sua dose de mau humor e indelicadeza matinal surgiu sem nos dar bom dia. O jeito rebelde do pai era traço marcante dela e foi o que me fez dez anos antes ter ficado com ela numa viagem ao Mato Grosso do Sul que parecia ser o lugar dos cosmos onde as primas eram desvirginadas por um primo sem noção do perigo.  Foi bem na entre safra de quando Camila me deixou sem notícias para casar com o mauricinho mineiro que isso aconteceu. Depois daquilo perdemos o contato e eu nesses acasos e caprichos do destino acabei voltando para Camila. Bruna continuava sendo exuberante, arrogante e simplesmente ela mesma independente de tentativas de tia Fanny colocá-la na linha.  Ela tinha se tornado uma mulher sensual e muito “pra frente” que para os padrões daquela família de mulheres caretas. Somente ela e minha sobrinha e talvez Marie tinham aquele senso de transgressão das “tradicionais regras da casa” para as mulheres. Isso me deixava mais uma vez atraído por ela do que pelos olhos azuis de Laura com seu jeito tímido e aparentemente cheio de não me toques.



Retornemos a sexta de manhã novamente: Fui com Ivan buscar Bia, ela estava ótima, o dia das bruxas tinha animado sua imaginação e ela logo trouxe Ivan para o seu mundinho de contos de bruxas e vampiros. Parecia que os remédios e terapias em doses diárias estavam recuperando aparentemente o lado jovial e ativo dela. Deixei eles na casa dela, e passei lá ao final da tarde para ver como estavam ficando até a hora do janta indo depois para casa de Flávia que tinha me ligado depois de chegar da academia. Bia estava tão equilibrada e demonstrando controle emocional e curada duma anemia. Estava muito confiante ao ponto de fazer planos para o final de ano com Ivan numa viagem mãe e filho. Conversamos um pouco sobre aquilo e entramos num acordo de dar tempo ao tempo sob a promessa incondicional dela tomar os remédios e fazer terapia sem deixar a peteca cair. Jantei com eles e segui para casa de Flávia onde passei a noite. Evitei voltar para casa para não brigar com mamãe. Em casa já sabia que ela me esperava para dar os detalhes e anunciar que no próximo ano Marie e Ingrid tinham seguido os planos dela e não os meus. Ambas tinham me dito todos os detalhes e demonstrado estar de acordo integral com as propostas de mamãe apesar de Marie hesitar numa coisa ou outra. Não tinha espaço para bater de frente com as meninas, mas minha mãe me devia explicações disso que julgava ser mais uma das traições dela. Passei o final de tarde com Bia remoendo aquilo e só tive um pouco de paz na casa de Flávia quando ela se despiu e me levou para o lado oculto da lua naquela noite quente e caliente de primavera.

De manhã, um café a dois naquela pequena casa aconchegante de Flávia e ela iria para uma série de compromissos com suas amigas, tais como chás de casamento e compras, combinamos de nos vermos a noite. Voltei para casa, conversei com a velha francesa a sós, ouvindo cada ponto a favor do plano dela feito as ocultas. Disse que não iria me opor, mas que da próxima vez que ela armasse algo em segredo ela iria pagar caro, pois iria tomar aquilo como algo pessoal daqui pra frente e não como um bem que uma avó ou mãe quer fazer em favor de netos e filhos. Ela sentiu a dureza do que disse e ficou constrangida. Apesar de não ter gostado de ter feito isso e estar furioso com ela tratei aquilo com base no respeito que ela merecia por ser minha mãe, porém deixei o aviso duro e bem refletido por não ser intempestivo e saber que ela seria capaz de fazer novamente coisas do mesmo tipo como manter Agatha e Ingrid anos numa condição de reféns duma suposta proteção sob o controle dela. Não era necessário jogar detalhes e fatos na cara dela, mamãe tinha compreendido a força do recado e a minha decepção com ela e ficou abalada.

Saí almoçar com as meninas sem tocar no assunto, quando voltamos para casa passei a tarde no home office resolvendo via telefonemas e conversas de computador uma briga que havia ocorrido entre um cliente e um de meus sócios e depois entre sócios no dia anterior. Parecia que o meu estilo de conduzir a empresa e liderança estava começando a entrar em atrito com a segurança dos meus sócios conduzirem os negócios devido minha ausência em São Paulo. Isso me dava uma noção prematura de que algo de errado poderia estar acontecendo lá dentro e que precisava oxigenar certos setores e voltar ter uma presença mais próxima do cotidiano da sede em São Paulo ou criar uma divisão de poderes entre eles maior ainda para que não tivessem meios de unir-se ou desunir-se ainda mais numa eventual decisão que pudesse contrariar a minha ótica de gerenciamento e decisões finais.


Esses incidentes tinham se tornado algo corriqueiro nos últimos meses, mas a linha de reparação de danos e desentendimentos estava até então amena. O acumulo parecia ter colocado Marcos contra Augusto devido uma ingerência e quebra de hierarquia. Isso eu já havia percebido antes. Enquanto um seguia os procedimentos como o planejado o outro fazia pequenos ajustes que só eram comunidades posteriormente para direção. Isso não é nada agradável e saudável numa relação de negócios tanto quanto numa relação pessoal.  No entanto, eu tinha a pessoa certa para representar meus interesses e realocar as coisas nos próximos anos. Meu pai estava ocioso em seu rancho e sempre tentando reconciliação comigo e com minha irmã nos negócios depois de várias disputas judiciais. Liguei para ele e para ela e expliquei os meus planos e ambos fecharam um acordo de parceria comigo que seriam meus olhos e ouvidos e minha mão invisível na sede enquanto eu cuidava de outras atividades extra-empresa e na divisão que estava começando a funcionar no Paraná e voltando a funcionar no Mato Grosso do Sul devido a proposta de Tia Fanny em passar sua rede de hotéis fazenda de lá em troca de imóveis e outras fontes de renda no Paraná que ficariam a cargo de minha pessoa na gestão sendo Ana Laura e minhas primas Bruna e Giovana uma espécie de aprendizes de feiticeiro nos negócios ou sub-gerentes. A proposta era vantajosa e a fama de ético e bons lucros me davam total aval para comandar essa transição de imediato.


Passei aquela tarde resolvendo detalhes sobre esses assuntos para segunda feira navegar para águas mais profundas e lançar minhas redes em busca de novos cardumes. Apesar da intrigas e golpes do destino havia por onde e como tirar proveito de cada fato adverso seja do passado ou presente.          

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Deixa a vida me levar...

No retorno para o Brasil, eu e Anne tivemos oportunidade de consultar um vidente no aeroporto que estava para embarcar no mesmo vôo. O sujeito parecia mais o típico charlatão proxeneta de previsões falidas, não trajava túnica nem turbante, mas sua cabeça leonina lembrava muito Walter Mercado e o sotaque também. No entanto o cara acertou que a Anne possivelmente iria ter um futuro próximo negro no casamento. Quanto a mim as previsões foram mais ou menos, não haveria nem tanta desgraça nem muita felicidade, a coisa tava na média. O que ele não previu foi que teria um ménage à trois naquele final de semana quando fui para Sorocaba para votar nas eleições. Não previu também a semana sexualmente ativa com diversas parceiras e nem mesmo o chilique histérico da Agatha nem o reaparecimento duma priminha em segundo grau um tanto exuberante e provocante, e nem mesmo que iria conhecer um doce de mulher num café da manhã. Não previu que alguns negócios esperados não dariam certo e outros inesperados seriam fechados. Enfim, parecia mais um instituto de pesquisa eleitoral do que vidente.  


Chegando em São Paulo fui direto ao bom velho apartamento quase totalmente sem mobília e sem nada para ser feito por lá. Um quarto montado, uma geladeira e microondas e uma escrivaninha era a fotografia da decoração atual. Mantinha o AP vazio, sem intenção de locá-lo devido sempre estar em Sampa para tratar de um assunto ou outro. Logo que cheguei fiz questão de ficar na banheira por longos minutos numa vibração deixa a vida me lavar. Pensava nas previsões do vidente e sentia saudade dos filhos e imaginava como seria o retorno para Curitiba onde tinha que alinhavar na próxima semana os negócios e inaugurar de vez o novo escritório pra valer. Fiquei lá ensaboado ao sabor duma garrafa de pisco trazido do Peru e dum Delectado 4, ao som dum LP do Pink Floyd tocado na vitrola do quarto num volume. Vez ou outra tocava o celular e quando era alguém que merecia atenção. Duas ligações atendidas no viva voz: Uma da Marie que queria saber se tinha comprado algum souvenir para ela. Depois foi a vez da Eve a minha secretária ser atendida querendo saber de detalhes da viagem e informando que tinha deixado algumas coisas pendentes. Convidei ela para um jantar para assinar a papelada e depois acabei passando as três noites seguintes com ela. Passamos a primeira noite numa típica fantasia secretária chefinho, a qual não irei pormenorizar em detalhes, mas aquela loira sensual e com um corpão era um vulcão em erupção constante e eu um bombeiro sem medo de me queimar. Na segunda e terceira noite entramos na fase do sexo tântrico, pegamos um exemplar com as dicas básicas do negócio e passamos horas e horas naquela brincadeira até o vulcão Eve explodir várias vezes naquela noite.

Essa foi a rotina das noites, durante o dia fui uma vez apenas ao escritório, justamente logo após a primeira noite com Evelin. Para evitar dar na cara, mantive a discrição e evitei a proximidade com ela durante o dia como bem manda o manual dos chefes com amantes secretárias. Passei aquele dia tentando comprar uma fábrica de café, e tudo deu errado, o sujeito com quem negociava além de não ir com a minha cara de longa data, por ser um ex-affair da Valéria depois que me separei dela, era também um coroa avarento que queria vender na prática uma fábrica de ouro em pó, mas não de pó de café.  No dia seguinte não fui sequer trabalhar, logo depois que Eve se mandou, liguei para a nova Bianca e marquei um almoço com ela e passamos a tarde passeando em shoppings comprando roupas, livros, algumas quinquilharias eletrônicas, depois fui cortar o cabelo e ao dentista evitando assim o contato noturno com ela. Na sexta repeti o mesmo esquema, aleguei que iria viajar naquela noite, mas só parti na verdade na manhã seguinte na companhia de Eve que também é natural de Sorocaba e vota lá também.

Chegando no interior o sol batia forte e não estava com a menor vontade de almoçar, estava meio casando ainda das viagens e com a cabeça a mil indo em diversas direções. Fui até a velha casa onde morei na adolescência. Aquela casa tinha sido desocupada pelos inquilinos, estava naquele dia sendo terminada a pintura, passei a tarde ali entre um cochilo e outro num rede consegui tornar aquele lugar vazio num recanto de paz ao som dos pardais e quero-queros. Ao final da tarde consegui organizar um fast-barbacue que tinha mais bebeida do que carne no final das contas para aquela mesma noite. Recebi alguns velhos amigos por ali numa espécie de revival da adolescência quando nos reuníamos para curtir um som, beber, jogar baralho e sinuca e também ficar com alguma garota qualquer sem compromisso. Liguei convidando Juliana e Mônica, as quais tinha reencontrado no primeiro turno em situações diferentes semanas antes. Apostava que apenas uma delas viria, e que seria a Dra Ju, mas para minha surpresa ambas vieram e assim tive que ciceronear ambas deixando a grelha de lado.


O mais interessante é que as duas ao invés de ficarem com ciúme uma da outra ou achar que uma estava sendo mais cortejada que a outra, nada disso aconteceu. Ambas ficaram sempre próximas de mim e conversando numa boa entre uma cerveja e outra e uma caipirinha a mais ambas ficaram altas. Eu estava extasiado com uma Shoshanna Dreyfus de Bastardos Inglórios dum lado e do outro uma Maggie de True Detective o que mais eu poderia querer? Sim que ambas fossem comigo pra cama é claro. E foi isso que os deuses do Olimpo me concederam naquela noite véspera de eleição. Depois de deixar as duas soltinhas com a bebida e notar que a conversa delas era ultra mente aberta comecei a fazer a cabeça de Juliana para inspirar essa idéia na nova amiga, visto que Mônica também tinha um histórico de ser santinha do pau oco e amiga duma série de garotas nos tempos de colégio que eram chegadas numa experiência bissexual. Conhecia bem o passado rock and roll de Juliana que era nossa amiga nos idos tempos dos Berg Bros, já tinha notícia que ela tinha feito um ménage à trois femme com duas garotas naquela fase e Mônica era do tipo certinha que esconde o jogo e viúva pronta para novas aventuras. A combinação era perfeita e o destino como sempre me ajudava a ver a oportunidade e forçar tudo a acontecer sem medo de que a tentativa colocasse tudo por água a abaixo.


Deixei a churrascada e chave da casa com um amigo e saí com as duas para a casa da Juliana que tinha adorado a idéia e convencido Mônica a ir para lá para uma tomar saideira mais privativa. Chegando lá Juliana não perdeu tempo, me mandou preparar uns drinks na copa e lascou um beijo em beijo em Mônica que se assustou de início, porém logo cedeu a tentação e ambas foram ficando nuas depois dum amasso que não rola em novela e ali mesmo no carpete da sala a coisa toda começou a ferver. Enquanto apreciava ambas fazendo amor com um copo de whisky na mão ainda sem participar do evento luxurioso, Eve insistia no celular o qual fazia questão de deixar tocar... No meio da coisa toda elas vieram pra cima de mim que estava sentado no sofá apreciando tudo de camarote até então controlado e aguardado a minha oportunidade... Elas me encheram de beijos praticamente rasgaram minha roupa e tudo parecia um sonho e quando vi ambas estava em cima de mim Juliana me chupava Monica me beijava logo logo penetrava em Mônica que cavalgava em cima de mim enquanto Juliana acariciava os seios dele e lhe beijava o pescoço. Depois que Mônica teve o orgasmo e parou Juliana não quis parar, ficou de quatro e pediu para tudo continuar, comi aquela bucetinha molhada e quente enquanto Mônica se tornava nossa espectadora. Entre um gemido e outro eu não sabia se estava no céu ou vivendo os meus  sonhos eróticos materializados duma forma excepcional. Passamos a noite toda entre beijos, carícias e sexo a três, quando pegamos no sono era quase amanhecer e Mônica deu no pé sem se despedir ou nos despertar. Ela ligou horas depois tanto para mim quanto para Juliana pedindo o óbvio: Manter segredo de tudo sobre aquela noite. Amanheci ao lado de Juliana que estava feliz e com um sorriso lindo no rosto. Ela tomou uma ducha, fez o café e saímos votar juntos. Ninguém na zona eleitoral desconfiaria que a noite anterior tinha sido a melhor eleição da minha vida. Dilma ou Aécio vencendo o que contava era a noite de véspera do segundo turno.

Depois de votar tive que conter a fúria de Eve que tinha me ligado a noite toda. Inventei que tinha ido para o rancho do velho e que lá não tinha sinal e que tinha enchido a cara. Ela acreditou na minha suposta boa fé e tudo ficou bem. Naquela mesma tarde voltamos para Sampa e selamos a paz entre patrão e secretária. Na manhã de segunda, acompanhei o primeiro dia de pregão pós reeleição in loco. Passei a manhã toda num escritório de corretora e tomando informações com analistas de mercado. Repeti o esquema das tardes com Bianca e noites com Evelin e parti na manhã seguinte para o Paraná matar a saudade da família.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A maldição de Arequipa

Depois da viagem ao Peru estava convencido de duas coisas sobre aquelas terras: Que casais com relacionamento desgastado não sobrevivem uma viagem para lá e que lá era um ótimo lugar para se encontrar oportunidades de negócios.

Me recordo que a última viagem que fiz com meus pais quando eles eram casados foi exatamente passar uma quinzena em Arequipa e outra quinzena no Mato Grosso do Sul. Depois da chegada do Peru minha mãe foi para casa da minha tia que residia por lá disposta a ser a primeira mulher daquela família conservadora a pedir o divorcio. Meu irmão mais velho, ao saber disso, arrumou uma boa briga com meu pai e ambos saíram no tapa. Ao meu ver, foi isso que fez minha mãe tomar a decisão definitiva de separação, pois depois de ter passado duas semanas no Peru ouvindo que a outra era quem deveria estar ali com ele devido ela entender de negócios ao contrário da minha mãe que era uma simples professora e dona de casa que nada compreendia daquilo. Ver um pai defendendo a amante e estapeando o  próprio filho fez a família em frangalhos e minha mãe que até então estava indecisa e sem certezas do que fazer para o futuro tomou uma decisão exemplar em voltar para casa, fazer as malas dele e colocá-lo para fora de casa.

A viagem ao Peru naquela época se devia aos mesmos motivos dessa atual viagem. Eram negócios. Meu pai tinha se tornando sócio duma mineradora cujo dono era um amigo peruano da maçonaria e depois disso abriu uma filial no Brasil formando assim uma empresa com grande potencial de crescimento. Entretanto ela foi bem nos anos seguintes e depois começou a perder espaço paulatinamente. Com o divórcio, cinqüenta por cento da parte do meu pai naquela empresa foi parar nas mãos da minha mãe, a qual realmente não tinha a mínima idéia de como controlar aquilo e manteve meu pai na gestão recebendo apenas dividendos irrisórios devido a contabilidade fraudulenta dele. Acontece que o velho libanês com a queda dos negócios e sua gestão fraudulenta não esperava que um dia eu me tornasse um advogado com certo ímpeto de fazer justiça até mesmo em face do próprio pai. Depois de comprovar que a contabilidade do coroa tinha se valido dum caixa dois violento para desfalcar sócios na gestão da empresa e após ganhar na justiça depois de anos de demanda a parte acionária dele na empresa como indenização era hora de colocar aquela mineradora nos trilhos.


Confesso que foi a tarefa mais complexa que passei até hoje na carreira. Não tínhamos equipamentos de ponta, o caixa estava defasado, o passivo e ativo eram uma piada, mas havia a possibilidade vender equipamentos e máquinas e transferir licenças de exploração de calcário e projetos de prospecção para uma outra mineradora local e fechar as portas da filial brasileira que tinha sido sucateada pelo velho libanês. Feito isso o negócio era investir o montante adquirido nessa série de negociações na matriz peruana e robustecê-la financeiramente. Passei dois anos fazendo a primeira fase do negócio - com auxílio direto da Aline nessa época - e mais dois anos finalizando a transferência de valores para o lado peruano da empresa alavancando dinheiro da primeira etapa no mercado de ações.  Com isso consegui aumentar o valor da empresa no Peru e investimento em cerca de vinte por cento e aproveitando a onda de crescimento do setor no país logo atraímos sócios americanos. Essa atual viagem era para fecharmos uma fusão e ampliação da empresa por conseqüência dos bons resultados dessa engenharia financeira e onde da crescimento do setor no país que acompanhava o resto da economia ao contrário do Brasil.


Os herdeiros do amigo do meu pai, que tinham ficado com a outra parte da empresa depois do falecimento do Dr.Oscar Rondon Herrera, eram dois caras mais ou menos da minha idade e de trato fácil. Embora não tivessem nenhuma experiência formal em engenharia ou administração de empresas eles conheciam o ramo na prática tanto quanto eu devido contado direito com o negócio através dos anos. Em resumo éramos todos de formação advocatícia basicamente, e com a influência de um deles devido ser político local em início de carreira e outro ter uma rede local de contatos vasta devido sua banca advocatícia ser uma das melhores da cidade tudo isso corroborava para um futuro promissor nessa aliança de negócios. Passei praticamente a viagem toda fechado no hotel ou na casa deles tomando pisco, só saí desses locais para duas reuniões cruciais e jantares, além dum final de semana no golf club local relaxar ao lado de Charles e Bianca. Fora isso depois da pisada no tomate do Mané, recebia Anne toda noite no quarto para um papo com ela como se fosse seu psicoterapeuta num divã improvisado passando lencinhos de papel para ela a cada dez minutos.



Ela estava decepcionada e desiludida com o casamento que iria completar dez anos no próximo ano. Estava sem rumo e abalada aparentando não querer reconhecer que o casamento havia de fato falido devido o marido ter perdido totalmente a compostura. Por ser filha dum desembargador em muitas horas relatava que poderia ter se engajado na carreira de Estado e sido ajudada pelo pai, mas havia preferido ser mais independente e apostar suas fichas na sua família com Mané. Quando o filho deles nasceu dois anos depois de casados, essa foi a primeira ocasião que ele a traiu com uma secretária e ela descobriu e por fim depois de meses afastados o perdoou. Nos últimos meses novamente descobriu ligações de outra fulana no celular dele e fotos no notebook em viagens dele com uma outra garota. Ela fez vista grossa, calou-se e segurou as pontas até flagrar ele dando em cima de Bianca na porta do elevador nessa última semana. Anne estava evitando de todas as formas não reconhecer que o casamento dela tinha ido pelo ralo. O argumento supostamente mais forte que ela tinha era que Mané é um bom pai e que o filho adora ele e seria um trauma para o garoto a separação. Da minha parte, eu tentava não influenciar a forma de pensar dela, mas achava que aquela bondade toda dela de colocar a felicidade alheia acima do sofrimento dela como mulher era algo demasiadamente ingrato com ela mesma. Ela sempre fora uma garota certinha e correta, era praticamente uma santa, nunca vi deslizes dela. Ela era daquele tipo de garota na dela e tímida ao extremo, que raramente participava de festinhas de faculdade e vivia estudando e empenhando-se em seguir os passos do pai desembargador até conhecer Mané.

Devido nosso contato habitual na faculdade ela tinha se tornando minha melhor amiga logo quando cheguei lá e tinha problemas com Valéria e vivia num corre corre entre escola e trabalho. Anne se tornou uma espécie de irmãzinha, sempre ajudávamos um ao outro nos estudos, era habitual ela me dar carona quando eu não tinha carro na época e sempre vivia sendo aconselhado por ela para não me meter em encrencas devido meu jeitão um tanto impetuoso de ser. Ela era aquele tipo de garota que vale mais manter a amizade do que estragar tudo tentando algo além disso.  Certa vez ela ficou bêbeda numa festa e tive que salvar ela das garras dos gaviões que rodam garotas desavisadas com más intenções, além disso, toda vez que ela batia o carro por ser uma péssima motorista e muito medrosa no trânsito sempre me ligava para levar o carro dela na oficina ou algo parecido. Depois da faculdade ela foi trabalhar comigo na minha consultoria jurídico-empresarial, e lá conheceu seu futuro marido.  Ambos foram padrinhos do meu noivado com Camila e depois com Elena e por fim por ironia do destino do meu casamento com Bia. Também fui padrinho do casório deles e tudo isso indicava para uma relação de respeito entre nós. No entanto, não era apenas em cima da estagiária que Mané já tinha dado em cima. Ele tinha o péssimo hábito de dar em cima até mesmo das mulheres dos amigos. Já tinha dado em cima de Bia, e agora da outra Bia, tinha dado uma cantada na Ágatha semanas atrás quando esteve em Curitiba, da espanholinha Elena e para finalizar a lista de ataques dele tinha dado em cima de toda e qualquer secretária dele e ainda da esposa do Marcos.  Nenhuma secretária parava muito tempo no departamento dele devido a isso certamente. Não havia uma reclamação formal, mas muitas se demitiam ou pediam para voltar para o setor de origem. Esse assédio moral dele era constante e irremediável pelo visto.


Por mais que eu seja também um cafajeste de marca maior, e tenha feito de algumas de minhas secretárias amantes eu não tinha problemas de rejeição da parte delas como Mané tinha. Grande parte delas ao invés de se tornarem minhas inimigas se tornavam pícaras sonhadoras com um casamento com o chefe ou, no mais das vezes, fiéis escudeiras de carteirinha da minha pessoa sob qualquer hipótese. Minha mãe taxava isso como espécie de sabedoria que eu tinha com as mulheres. Ela dizia que eu era uma espécie de Picasso mais refinado que tinha tantas mulheres e depois de deixá-las, fosse qual fosse a razão, elas ainda se mantinham fiéis a mim numa espécie gratidão ou paixão mal resolvida. Segundo a teoria dela eu nunca me aproximava duma mulher com más intenções e não agia de forma direta e aberta, sempre agia pelas bordas e ocultando minhas reais intenções até o ponto de serem elas a tomarem uma iniciativa e com isso eu invertia as possibilidades de sentimentos de culpa e perda para a conta delas e saia sempre da relação com a consciência tranqüila.  Ao meu ver a teoria se justifica com a prática realmente, pois jamais fui motivado a deixar ou trair uma mulher a não ser que a coisa estivesse num ponto recheado de impossibilidade de manutenção em curto prazo da relação. Ou algo assim... Exemplo mais claro disso era ter ido parar na cama de Aline depois que Bia tinha surtado de vez quando eu já estava decidido a pedir a separação.


Passei a crer que o Peru tinha uma espécie de maldição para casais com relacionamento desgastado, pois desde a primeira vez que estive lá por ironia do destino caprichoso sempre era lá que havia o estopim das separações. Foi com assim com o casamento dos meus pais, com o meu casamento com Bia, pois fui para lá na companhia de Aline dois anos atrás e depois me separei e agora era a vez de Anne e Mané caírem na mesma maldição de Arequipa.   
    

Ao menos dessa vez aprendi a fazer ceviche...

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Eu não vivo eu sonho


É estranho como a arte tenta imitar a vida e a vida imita a arte. No fundo tudo isso se trata duma repetição de padrões e coincidências e acasos.  Sempre vi em muitas mulheres casadas ou que se desejam casar potenciais Madames Bovarys ou Ana Kareninas.  Mulheres com possibilidades a serem infiéis quando estão entediadas ou magoadas.

Há um fato interessante nisso, pois me parece que mulheres vivem sonhando com uma continua história perfeita de amor, cheia de brilho nos olhos e romantismo cafona, enquanto os homens vivem atrelados com seus trabalhos e crêem já terem cumprido o seu papel tornando suas sensíveis namoradas e noivas que amam em esposas. O casamento é uma realidade e não um sonho, e por isso os maridos quando têm oportunidade de trair apesar de tudo estar bem em seus lares cedem a essas oportunidades, pois se julgam detentores dum sagrado direito de aproveitar a vida e omitir-se do fato posteriormente.

Os homens falham inúmeras vezes nisso por acharem que o casamento é uma relação de obediência e subordinação a sua forma de enxergar a realidade. As mulheres, esposas mais recatadas e bem servidas, daquelas que passam seus dias cuidando da casa ou numa carreira paralela a dos maridos parecem se sentirem uma certa desproporção entre seus sonhos e possibilidades. Entretanto, o que torna uma mulher casada capaz de trair seu marido não é apenas essa insatisfação crônica consigo mesma, mas com a do seu par que deixou de ser tão costumeiramente sensível, agradável e romântico como era na fase do cortejo. Assim quando ela descobre estar sendo traída, muitas vezes prefere pagar na mesma moeda e depois manter isso sem total segredo até o túmulo ou revelar a infidelidade como uma forma de punir outro infiel.

Naquela viagem ao Peru, meus sócios e diretores levaram junto suas esposas, eu não levei ninguém, apenas convidei a novata estagiária Bianca para fazer parte da comitiva. Novata no sentido de jovem, pois já fazia um ano ou mais que estava transitando na empresa como assistente da minha irmã sem que eu sequer a tivesse conhecido. Convidei o outro aprendiz de marinheiro Charles para aquela viagem para testar a capacidade de ambos em alguns quesitos. A outra descompromissada da viagem era Débora, a qual substituía Aline em suas funções e mostrava-se ser mais focada no serviço do que em outras coisas. Ao menos para mim seria uma viagem tranqüila e focada estritamente nos afazeres de negócios acertando detalhes finais duma longa negociação, enquanto isso, nas horas livres, os casais teriam oportunidade de fazer alguma espécie de turismo rotineiro nos locais que estaríamos. Não foi bem assim. Sábado enquanto todos saíram conhecer pontos turísticos de Arequipa, eu me mandei para o golf clube local e passei a tarde toda praticando arremates. Solitário com tacos de golf, carrinho e uma garrafa de gin e charutos. Passei horas pensando em negócios, cenários para o próximo ano e nas possibilidades de que Ágatha ainda pudesse ser uma escolha definitiva para apostar minhas fichas num relacionamento mais estável.

Quando voltei para o hotel ao final da tarde estava cansado e com dor de cabeça, tomei um banho e passei o resto da noite recluso tentando me livrar daquela dor de cabeça causada por sol e bebida na cabeça naquela tarde. De manhã acordei antes da maioria, e desci para o desjejum e lá estava Anne a esposa do meu diretor comercial tomando uma grande xícara de café sozinha no salão do refeitório. Ela parecia um pouco aflita e com uma cara de choro. Como tínhamos uma certa intimidade devido nos conhecermos de longa data e ela ter sido funcionária da empresa algum tempo, lugar onde também conheceu seu marido, ficamos conversando sobre coisas banais, mas aquela cara de choro e sensação de aflição dela permanecia. Saímos dali e fomos dar um volta no jardim e resolvi questionar se ela estava bem. Ela inventou uma desculpa qualquer de início e evitou tocar no assunto, mas logo confidenciou que tinha visto seu marido flertando com a estagiária e se aproximando dela numa tentativa indecorosa de sedução. Foi um flagra sem uma cena naquele momento. Anne silenciou e discutiu com o marido na noite anterior a sós e ele como sempre negou os fatos e intenções e a taxou de estar vendo coisas.

Não era a primeira vez que aquilo ocorria. Manuel era um cara boa pinta e conquistador dos mais pertinazes. Tinha estudado comigo em Portugal e o convidei ele para vir trabalhar comigo, ele aceitou e conheceu Anne na empresa e logo se apaixonaram. O talento dele para a conquistar mulheres era o mesmo como negociador e rapidamente ele se estabeleceu se tornando peça chave no departamento comercial da empresa. Já Anne era uma garota naquela época recatada e tímida, ela trabalhava em outro setor, e parecia ser a típica mocinha de filmes que quer encontrar um príncipe encantado, mas acaba nas mãos dum canalha sofrendo desilusões no casamento.  Durante aquele passeio no jardim do hotel ela repetia: Ele está fazendo tudo novamente! – Anne parecia inconsolada e eu não tinha o que dizer ou fazer para ajudá-la. Coloquei a mão no ombro dela num abraço fraterno e caminhamos com ela recostando a cabeça no meu peito chorando sem dizer mais nada. Senti pena dela naquela hora. Afinal era uma mulher, diria que é uma santa devido a delicadeza e jeito nobre de ser, mas que estava quebrando a cara e apostando ainda num marido incorrigível. Isso me fez pensar mais ainda de que eu era um sujeito da mesma espécie do Manuel, capaz de fazer as mesmas coisas e gerar as mesmas mágoas e ressentimentos para a esposa.

No retorno para o interior do hotel encontramos Charles e Bianca tomando café da manhã juntos. Anne subiu para seu quarto. Ela ainda permanecia estarrecida e nitidamente evitando ter contato com a figura da garota que tinha sido alvo do seu  indecoroso marido. Eu fiquei por ali conversando com ambos e os convidei para irem comigo no golf clube. Depois do café deles logo partimos para um dia de golf e muita conversa sobre carreira e negócios. Passei horas tentando descobrir o que fazia de Bianca algo tão atrativo para todos os homens, inclusive eu, desde aquele coquetel numa semana anterior. Ela tinha a capacidade de virar a cabeça de qualquer um certamente, mas parecia agir inocentemente sem considerar ou desejar causar isso. Insinuei que ela deveria mudar de setor e ir justamente para setor chefiado por Manuel, e ela pareceu não gostar da ideia preferindo alegar que gostaria de se manter como assistente da minha irmã devido estar habituada ao serviço e aprendendo muito com ela em outro setor.

Parecia que ela não havia gostado nem um pouco da abordagem de Manuel e fez questão de deixar isso evidente num momento em que Charles se afastou de nós no campo. Era uma saia justa que não era da minha conta inicialmente, era preferível nem ter tomado conhecimento daquilo de ambos os lados envolvidos na tentativa do Manuel em aproximar-se dela. Agora era tarde demais, e com isso passei a ser uma espécie de diplomata em assuntos dos quais eu tinha amplo conhecimento das táticas e conseqüências. Dei alguns conselhos para ela como lidar com aquilo e ela aceitou cada um de bom grado. Em meio a isso tudo não resisti em também dar em cima dela, mas duma forma mais suave e amena, fazendo ela considerar de certo modo que ela tinha um dom de atrair os homens e que poderia tirar proveito disso. 

Quando retornarmos o resto da comitiva estava toda no bar fazendo um brinde para Marcos e sua esposa que tinha acabado de anunciar que estava grávida do segundo filho. Resolvemos realizar um jantar comemorativo e durante aquele típico jantar de confraternização pude notar que o clima entre Anne e Manuel estava fechado e com uma tendência a ser resolvido apenas no retorno ao Brasil. Após o jantar fui falar com ela novamente para saber como ela tinha passado o dia com aquilo na cabeça. Anne se sentia magoada e desejando uma única coisa: Partir dali e voltar o quanto antes para casa.

Após essa breve conversa fiquei com o resto do pessoal jogando cartas, e ensinando Bianca alguns macetes do poker até o sono chegar. Manuel estava ausente nesse momento e possivelmente estava tentando reparar a sua terrível mancada com esposa. Antes de subir para dormir resolvi tomar uma saideira e Bianca me acompanhou no balcão mesmo sem tomar nada. Parecia que aquela tarde no golf club e na mesa de poker tinha surtido efeitos na garota que estava cofiando nas minhas supostas boas intenções com ela em sentido profissional e pessoal. Ao notar que todos haviam desaparecido a convidei para um passeio na praça em frente ao hotel para tomar um ar puro antes de dormir. Ela olhou seu relógio disse estar com sono, não foi necessário insistir uma segunda vez ela calou-se um instante, respirou e sorriu abertamente dizendo que seria ótimo tomar ar puro antes de dormir.


Logo que atravessamos a rua e chegamos no interior da praça não tive dúvidas de abordar ela à moda Brás Cubas, um leve toque no braço, um olhar profundo nos olhos e um beijo que a deixou mole em minha mão que tocava aquela pele macia do rosto dela e outra a segurava pela cintura. O constrangimento dela após o beijo a fez ficar olhando para o chão e evitando me encarar, toquei seu queixo e repeti o olhar e beijo e ela logo cedeu novamente. Nessas horas não se precisa de palavras, conversas ou perguntas, se necessita de ações para tornar o momento agradável e inesquecível. O grande erro ao meu ver nessas horas é pedir explicações e diminuir com isso as possibilidades de se deixar levar pela emoção do momento. Saímos abraçados da praça e voltamos para o hotel, deixei Bianca na porta do seu quarto e lhe dei um singelo beijo no rosto de boa noite. Ela sorriu ainda encabulada e disse um boa noite com um sorriso.


Ao ter feito isso julgo ter solucionado o problema do casal de amigos de certa forma, pois seria impossível nos próximos dias Manuel ou Anne irem tomar alguma satisfação com Bianca visto que ela estava, digamos “na dela”. Os dias seguintes seriam de reuniões e poucos passeios, a não ser um jantar na residência dum sócio local que queria nos apresentar á sua família e anunciar o novo empreendimento aos familiares. Parecia que tudo estava propício a ser mais ameno nos próximos dias. Se isso iria de fato ser assim ou não cabia aos caprichos do destino dizer...      

Naquela noite assim que caí na cama peguei no sono. Não tive tempo de pensar nos acontecimentos e fazer uma revisão mental do que havia se passado naquele final de semana inusitado. Estava cansado demais da rotina de viagens e ansioso por concluir aquela agenda de negócios no Peru e voltar para casa. Isso se devia ao alto índice de reclamação da minha ausência em Curitiba nas últimas semanas deixando Ivan aos cuidados de outros e Bia reclusa numa clinica depois dum novo surto. São situações e acontecimentos que teria que solucionar da forma mais sensata possível, mas fugia de tomar alguma decisão concreta sobre isso por não saber exatamente como proceder com essas reviravoltas dos fatos. Preferi me manter mergulhado nos afazeres profissionais da forma mais intensa possível, trancafiado no escritório, resolvendo assuntos pendentes em diversos lugares e evitando entrar numa espiral de cumprimentos das expectativas alheias.


As coisas com as meninas pareciam ótimas, as notícias sobre elas eram animadoras, e nem mesmo a estadia da mãe de Marie alguns dias em Curitiba tinha feito ela mudar de ideia e planos, mesmo havendo propostas boas para voltar ao Rio de Janeiro com a mãe no próximo ano. Isso fez Regina considerar a possibilidade de se aproximar da filha e deixar o Rio para morar em Curitiba para ficar mais perto dos familiares que residiam na maioria no sul. Havia uma possibilidade de Marie e Ingrid no próximo ano já fazerem as malas e se mandarem para um curso preparatório no exterior, mas isso eu não estava acelerando o passo. Queria elas mais algum tempo amadurecendo próximas de mim para ter certeza de que não iriam jogar tudo para o alto posteriormente como o Quim tentou fazer nas últimas semanas.

O garoto num arroubo tinha decidido voltar ao Brasil para tentar uma carreira de jogador de futebol. Os avós maternos e sua mãe, como sempre arrogantes e prepotentes deram força para essa ideia dele, porém depois de falar muito com ele e tentar convencê-lo que aquilo era tolice sem sucesso, foi a namoradinha americana dele que agiu ao meu favor fazendo ele ficar por lá. Aquilo foi um presente do acaso e faria questão de agradecer pessoalmente aquela garota assim que possível.


Enquanto isso lá estava eu, em mais uma viagem e em mais um affair passageiro com uma mulher desavisada sobre minha tendência de conquistador barato ou algo parecido com isso. Na maior parte do tempo passava ainda considerando se Ágatha  era ou não um boa opção para pendurar as chuteiras numa vidinha mais sossegada. A ideia de vidinha de casado não me animava nem um pouco, e muito menos aquela espécie caso escondido que estávamos mantendo nas últimas semanas.  Não estava satisfeito com os desfechos dos meus últimos relacionamentos por mais superficiais e imaturos de fossem por uma série de impasses e atitudes do mulheril. O pior baque foi no caso Aline que tinha ficado grávida e perdido o filho e mesmo assim continuava com um comportamento de querer ser minha dona.


Ultimamente estava preferindo mulheres mais jovens devido a baixa tendência de serem apegadas a certos padrões de atitudes que com o passar do tempo todas por fatores como idade e relógio biológico fazem todas ficaram neuróticas e forçando relacionamentos com imediatismo. Não é uma regra, mas é uma tendência, pois até Luíza logo que a deixei ela reatou com o antigo namorado e noivou de imediato mesmo sendo dez anos mais jovem de Ágatha por exemplo, a qual revelou certa manhã ter o sonho de ter mais um filho.  Isso tudo me faz crer que a lei do eterno retorno parece de fato uma realidade e que não existem mulheres do passado, a não ser aquelas que realmente ficaram em algum lugar do passado sem mais se fazerem presentes como no caso a Luíza e Camila por acontecimentos diversos. Quanto as outras como Bia, Ágatha e até a mãe de Marie e tantas outras que aparecem e somem e reaparecem não há de fato o merecimento de serem mulheres do passado, ou melhor, o que há no passado são acontecimentos que ligaram e desligaram nossas vidas sem isso impor de forma categórica a inserção de cada uma delas num passado proscrito.


Quando uma nova figurinha surge no álbum é inevitável comparar com outras mulheres e sua forma de ser e agir. É como se comparasse o craque do atual time com um craque do passado que se transferiu para outra equipe e que ainda joga. A lei do eterno retorno parece viável até nisso, pois características tais como recato, ciúmes, insegurança vez ou outra reaparecem seja em qualquer mulher for a bola da vez como item de série feminino. Algumas conseguem maior impacto tanto positivo quanto negativo sobre mim a medida que escondem ou revelam esses traços ou quando tomam atitudes sem sentido seja na direção do rompimento ou manutenção desses relacionamentos. Pensar sobre isso é destrinchar como homens e mulheres são incapazes de estarem na maioria dos casos senhores de si mesmos e porque diabos é tão complexo acertar a medida de certas coisas nesse departamento das emoções divididas a dois.      


Não é do meu feitio bancar o psicanalista e colocar cada mulher que passou em minha vida num divã e analisar cada traço ou comportamento delas ou até mesmo o quanto elas mudaram se tornando umas mais maduras e outras extremamente perdidas com suas decisões e ainda imaturas. Essa ferramenta é um mero recurso ou uma tentativa de explicar porque cada uma delas permanece determinado tempo e depois fica para trás e num passe de mágica do destino ressurge dando ensejo a uma reprise do enredo de antes com novas nuances. Dessa situação descrita Aline e Ágatha se encaixam com perfeição. Uma foi amante dum marido aniquilado pela depressão da esposa e a outra um caso passageiro com conseqüências enormes para uma história de vida por ter sido engravidada. Tudo isso se mistura no caldeirão de fatos e acasos e altera o rumo e sentido da história, isso sem considerar ainda as intervenções de terceiros em muitos casos.


Expectativas femininas de serem esposas em belas casas e viverem um incessante conto de fadas parece ser o pano de fundo mais adequado para explicar isso, até o ponto que são magoadas ou traídas e quebram essa redoma de cristal na qual se sentem protegidas das avarezas do mundo. Considerar essas coisas com frieza e requintes de sobriedade racional não é característica feminina. Elas preferem muitas vezes se passar por vítimas do destino e se recolherem em algum canto sem dar novas chances a si mesmas. É uma tônica que também se repete geração após geração e parece que a evolução disso não passa por ideologias feministas nem avanços ligados a isso, é uma tendência natural a não reconhecer o fracasso nas questões sentimentais e culpar-se por algo que já não tem mais volta. Nisso resta claro uma coisa: Pessoas que não culpam a si mesmas são mais felizes. Elas são capazes de sonhar novamente e viver sonhos e é nisso que acredito para seguir em frente haja o que houver...