Muitas vezes as
pessoas me taxam de arrogante ou excêntrico devido o jeito que levo a vida. Não
dou muita bola para opinião alheia nem mesmo para quem julga que me ofendendo
com maldizeres diz algo a respeito da minha pessoa. Uma frase de Cícero me chamou a atenção num
livro quando era garoto: “Minha consciência tem para mim, mais valor do que a
opinião do mundo inteiro”. Acho que tinha uns 14 anos quando li isso e aquela
frase ecoou dentro de mim e dali por diante sempre passei a ter ainda mais uma
postura de independência em relação a todos que me cercavam. Os modos, idéias e
atitudes das pessoas que me cercavam seja fosse em casa, na escola, ou até
mesmo na rua não me representava. Era um rebelde sem causa, mas sem movimentos
toscos e pueris próprios da idade, era um anarquista do bem querendo “provar
que não precisava provar nada para ninguém” como dizia a canção que sempre
ouvia naquela época.
Nessa idade a
minha melhor atitude foi arrumar um jeito de ganhar a própria grana como um
relés office boy despretensioso que quer aproveitar os seus momentos sem dar
satisfação para ninguém. Eu era mais um daqueles garotos que faz cobranças e
serviços bancários de bike ou de busão e ao final da tarde volta para casa toma
um lanche e se manda para o colégio estudar e relaxar com a zoeira na sala de
aula. Meus colegas de trabalho e escola
naquela época mudaram deixei de lado as peripécias costumeiras com os irmãos
Berg, ou melhor dizendo, mantinha as más companhias apenas aos finais de semana
nos ensaios da nossa banda da qual eu de baixista fui transformando em
vocalista e tocador de gaita por ter um inglês na ponta da língua devido fazer
cursinho desde pequeno. Aos poucos comecei transformei uma banda que
originalmente era de metal chamada Corrosão Cerebral numa banda com múltiplas
influências numa espécie de blues psicodélico com dicas do meu irmão e primos
blueseiros. Consegui me livrar do carinha que roubou meu posto de baixista e
coloquei um garoto que tocava baixo em outra banda no seu lugar e assumi a guitarra
quando o então guitarrista foi morar no Japão com sua mãe. De corrosivos
passamos a ser uma espécie de The Who ou Pink Floyd no visual, cortamos os
cabelos, mudados o look de camisetas de bandas de rock pesado por camisetas sem
estampa alguma e calças jeans sem nenhum rasgo e o nome da banda se tornou
Aloprado Alonso & Berg Brothers. De repente o conceito mudou e os ensaios
que eram mais voltados para a galera fumar maconha beber e pegar menininhas
tietes se tornaram ensaios sérios e com intenção de fazer covers mais fiéis ao
repertório escolhidos. Talvez isso se deva ao fato de eu como mais um dos
irmãos Berg ingressamos no conservatório e aprendermos a ter certo formalismo e
disciplina musical.
Logo o conceito
entre fazer algo mais sério e mais afastado do metal em face de algo mais
experimental fez com que os irmãos Berg quebrassem o pau e com isso tivemos que
mudar mais uma vez o nome do quarteto que virou um trio: Aloprado Alonso, Berg
e Wolf que era o apelido do novo baixista. Na falta do mano Berg que era nosso
baterista tive que me arriscar nas baquetas. De saco cheio de fazer vocal e
tocar bateria inovamos e colocamos uma garota que era nossa amiga como
vocalista em algumas músicas e um cara mais velho no vocal que era professor de
inglês no Fisk. Arrumamos um baterista que era do ministério de música duma
igreja pentecostal, mas apesar disso era chegado em rock e logo ele trocou os
louvores e hinos somente pelo rock and roll.
No começo a banda como trio durou algumas semanas apenas e teve resultados
satisfatórios, porém eu não era o melhor baqueteiro do mundo e errava muito e
me atrapalhava de mais. Com os novos integrantes fui para a guitarra base e o
Berg para solo, o Wolf mantinha a cozinha e Lis e Alberto eram o vocal. Quando
Lis, que também tocava teclado assumiu a banda como seus melhores amigos, ela
deixou de ser a nossa fotografa e garota das relações públicas que marcava shows
e até cobrava cachês para se tornar parte vital da banda no palco. Lis era
filha duma gerente de banco divorciada e roqueira, isto na prática significava
que a mulher que tinha seus quarenta e poucos anos era chegada em rock e também
tinha um certo apego pelo Berg e com os outros garotos e permitia que
ensaiássemos no quintal da casa delas. Logo a intimidade de Berg com a mãe de
Lis fez com que a coroa nos comprasse novos instrumentos e com isso passamos a
ficar mais profissionais nos apresentando em alguns lugares da região. Nosso maior feito foi abrir um show do Ira. Aquilo sim foi um dia memorável como tantos outros shows e apresentações onde o que valia era a adrenalina do momento!
Acho que foi ao
transformar aquela banda de maconheiros numa banda mais estilizada e com uma
identidade menos imitadora de metaleiros e com repertório mais variado que
passei a descobrir a minha capacidade de empreendedor e liderança. Mantive quem
tinha mais afinidade e visão parecida das coisas por perto e trouxe gente nova
para banda com energia e mais talento. Com uma nova cara passamos a ser
requisitados e nos apresentarmos além dos showzinhos de colégio e com a ajuda
da mãe de Lis logo tínhamos um formato e uma acessória que nos mantinha sempre
no pique duma atividade de grupo unido em busca de algum reconhecimento maior e
prazer constante pelo . Foram quase quatro anos nessa vibração até que os
compromissos de um e outro foram impedindo da banda continuar unida. Eu fui
para faculdade em São Paulo, Berg se mandou inusitadamente para o Escola
Preparatória de Cadetes do Exército e Lis se transformou numa bela mulher
casando-se com um gringo que conhecera nas férias. Berg fez disso um duplo
aprendizado, pois fez a transição duma moleque desengonçado para um homem
através das coxas grossas da mãe de Lis. Da minha parte eu era o arranjador do
grupo e tinha muita afinidade com a Lis, sem ter nada com ela além duma
profunda amizade e admiração. Nesse posto de definidor de repertório e líder da
banda mantive a paulera de Supernaut do Balck Sabbath como música de abertura
de nossos shows como sempre foi nos tempos de Corrosão Cerebral, coloquei em
seguida com a aval da galera vinha emendado Rock and Roll do Led e Purple Haze do
Hendrix.
Esse bloco era a
primeira parte do nosso show com Lis nos vocais e a pegada de bateria fazia que
fossem quinze minutos atrativos para o público. Depois Lis assumia os teclados
dava lugar para o Beto nos vocais e vinha a segunda parte que tinha mais três
ou quatro músicas. Começávamos essa segunda etapa com Roadhouse Blues do The
Doors, e Beto com sua cabeleira loira e olhos azuis tirava a camisa virava um
Jim Morrinson nórdico no palco que fazia as meninas se aproximarem do palco, em
seguida vinha Lazy do Deep Purple e essa era a hora da Lis dar seu show a parte
junto com os guitarristas e baterista. Toda aquela vibração sempre enchia a
atmosfera dum clima e adrenalina que contagiava todos. A próxima canção servia
para manter a vibração e chamar a atenção dos mais coroas que sempre
prestigiavam as apresentações, isso era dedo da mãe de Lis no funcionamento da
banda, com isso o nosso Jim Morrison loiro se transformava em Mick Jagger com
icônica Jumpin Jack Flash e para finalizar esse bloco surgia YYZ do Rush como
arremate. Uma breve pausa para refrescar e enxugar o suor e vinha a parte que
mais gostava: o cover de Echoes I do Pink Floyd que nunca foi tirado em cima da
pinta, mas enganava bem e era reconhecida. Lis e Beto faziam o vocal nessa
parte do show enquanto o resto da banda se concentrava ao máximo na condução da
música que por ser longa e com variações e técnicas diferentes exigia toda
nossa atenção. Depois vinha a fase que
era conhecida como Lis Mother devido ser ela a sugerir o repertório dessa parte
das apresentações. Começava com Somebody to Love do Jefferson Airplane com Lis
no vocal e Beto no backing vocal. A seguir vinha Revolution dos Beatles na
maioria das vezes, e Baba O’Rilley do The Who que transformava Lis e Beto mais
uma vez na grande atração no palco. Para o granfinale duas canções fiéis as
origens dos metaleiros da banda: Back in Balck do AC/DC e Enter the Sandman do
Metallica era a grande saidera que fazia arrepiar o abacateiro e deixava todos
pulando na platéia e era nessa hora que eu me esgoelava no vocal.
Sem medo de
errar admito que essa fase da banda foi uma das passagens mais gratificantes e
emocionantes da minha vida. Tinha amigos e vivia fazendo algo que qualquer
garoto na nossa idade sonhava. Driblava os limites caseiros e conservadores
impostos pela madame francesa que torcia o nariz para isso tudo e mantinha o
meu senso de liberdade e independência cada vez mais forte ao ponto de nos anos
seguintes me julgar plenamente satisfeito com cada oportunidade que a vida
tinha me dado. Essa fase de tremenda alegria só seria abalada com a morte de
Camila, porém até nesse momento triste e desesperador consegui graças a esse
espírito de buscar sempre o melhor transformar agruras em flores com o passar
do tempo.
Acreditem ou não, é possível existir
satisfação e aceitação com a própria vida, sem a real necessidade de perseguir
qualquer outra resposta pré-formatada pelos meios que nos impõem. Não vou dizer
que isso é algo fácil e constante durante toda a vida, pois a trilha é cheia de
percalços e pouca gente irá lhe compreender. A única resposta satisfatória para
aceitar a própria vida é muitas vezes deixá-la fluir sem questionar certas
coisas e tornar o ditado Carpe Diem numa realidade motivadora. Hoje em dia
tento ao máximo fomentar esse espírito nos meus filhos que florescem a cada dia
para um vida cheia de encantos e novidades, bem como para dias difíceis que
poderão vir sem o menor aviso prévio. Foi acreditando nessas coisas que sempre
me senti livre e disposto a cada manhã.
Como
conciliar essa idéia de viver bem estando em permanente estado de graça é
impossível, mas operar esse milagre de viver bem a vida sendo que o fato mais
notório é que nossa própria existência definha dia após dia numa caminhada
inevitável para a morte é algo que confio minhas crenças no tal ditado do Carpe
Diem. Com isso não espero estar sendo
existencialista ou autor de alguma dica de auto ajuda, estou sendo realista ao
ponto extremo de ver mais méritos para
seguir em frente buscando coisas novas, novas atividades, novos amores e
paixões do que parar numa altura do caminho e apenas olhar para trás com
nostalgia.
Esse
pensamento radical da maioria das pessoas convencionais de ser feliz ou infeliz
basta para muitos. A vida se encarrega de esconder de cada um nós - matéria
pensante com alma dada por uma suposta divindade - um meio termo dessa afinação
de sentimentos pelo que é bom, justo e belo. Há na maioria das pessoas uma espécie de
conformismo de que, queira você ou não, a vida é mais complexa e profunda do
que isto. E justamente por essa condição, precisamos aceitar e entender que
esse estado de perturbação constante para certas pessoas não é necessariamente
meramente tenebroso, mas sim um rota de auto destruição em pequenas doses
venenosas e diárias. Já para outros a vida é bela e sempre pedindo mais e mais
de cada um de nós. Cada um opta por seguir um caminho ou outro...
Naquela
segunda-feira de manhã, acordei nos braços perfumados de Flávia. Aliás, nem era
de manhã ainda, era quase manhã. Ela ainda estava com seu pé de bailarina
desastrada dolorido e disse que iria ao médico. Sem pensar em mais nada além
daquela boca dela com bafo de margarina mal terminei o café na cama, com pressa
coloquei as meias dela repetindo uma cena clássica de algum livro que havia
lido, e me mandei direto para o trabalho trazendo comigo uma torrada que Flávia
havia me servido. Quase bati o carro num cruzamento devido a pressa, daí
resolvi respirar fundo e ir mais devagar. Cheguei no escritório e só havia o
porteiro do prédio trabalhando. Passei rapidamente na copa e coloquei a cafeteira
para fazer uma quantidade exorbitante de café com pó importado que havia
trazido da viagem. Liguei o computador
da minha sala, e passei a me informar como estaria o mercado de ações naquele
dia turbulento, planejei alguns trades, depois tomei uma caneca de café puro e
daí passei a tratar duma pilha de papéis em cima da minha mesa. Adiantei dias
de trabalho quase em três horas de expediente matutino seguindo a regra básica
de quem cedo madruga faz mais que os outros.
Nove
horas em ponto o escritório está cheio e chegam as “novas funcionárias”
Giovana, Ana Laura e Bruna e se espantam com os meus trajes de golfe atrás duma
mesa com papéis em total desordem que ficaram a encargo da secretária dar um
jeito. Todas elas devidamente trajadas com roupas de grife de executiva
perfumaram a minha sala transformando aquela sala numa competição de
fragrâncias de perfumes caros. Logo de cara entreguei um tubo com um projeto
inacabado para Bruna que recém formada em arquitetura poderia começar a
replanejar e ter idéias sobre aquilo. Chamei a secretária e solicitei uma mesa
para ela em algum ponto daquele escritório que eu ainda mal sabia quantas salas
tinha ao meu dispor. Para Ana Laura eu tinha planos menos auspiciosos.
Consultei o currículo dela e ao menos na teoria ela parecia ter conhecimento de
base para passar uma semana inteira analisando uma papelada referente a imóveis
que seriam transferidos para Tia Fanny e redigindo o acordo de permuta de bens
e quem sabe até mesmo ela poderia adiantar os cálculos necessários para driblar
a receita nessa operação toda. Já Giovana era dondoca e apesar de ser também
advogada serviria no máximo como auxiliar de Laura. Despachei as duas para um
canto qualquer do escritório e quando vi a pobre Laura esbulhando os olhos para
a pilha de pastas que teria que dar conta naquela semana senti que ela estaria
em apuros e mandei Dani minha secretária fiscalizar cada passo daquela bela
menina que parecia mais uma garota recém chegada do interior que nunca tinha
sido desafiada a fazer algo tão importante.
Assim que me livrei delas, fiquei quase uma
hora no telefone com uma encantadoras senhora japonesa discutindo planos de
hotelaria. Aquela vibração tranqüila da mulher do outro lado da linha e
objetividade japonesa me fizeram crer que ainda havia gente competente no mundo
com visão inovadora para os negócios. Fechei as bases dum negócio com ela e era
só esperar a visita da emissária jurídica dela nas próximas semanas para selar
tudo de papel passado. Era quase hora do almoço e atendi mais algumas ligações
e almocei com Marie que aos poucos estava se tornando numa eficiente assistente
para assuntos de menor destaque. Passei uma lista de tarefas para ela naquela
tarde que era basicamente telefonar e agendar os compromissos de resto de semana
para mim. Deixei ela resolvendo isso com algum auxílio pontual de Dani com toda
minha sala ao dispor das duas e fui para casa tomar um banho e trocar de roupa.
Passei na barbearia dei uma aparada no cabelo, barba e bigode. Voltei para o
trabalho chequei as operações de trades, e tudo mais que havia delegado para
Laura e Marie, e percebi que o currículo de Laura não fazia jus à pratica, mas
ao menos ela era esforçada e pelo visto faria muitas horas extras e levaria
serviço para casa. Bruna por sua vez já tinha adiantado bem os seus afazeres e
esboçado algo promissor para aquele projeto de night club que tinha deixado sob
os seus cuidados.
Depois
disso deixei Marie na aula de dança e fui passar o final da tarde com Flávia
que estava mancando ainda e chapada de analgésicos dizendo que teria
provavelmente que fazer fisioterapia nas próximas semanas. Ao cair da noite fui
até a casa de Bia ver Ivan e tratar alguns detalhes da venda da empresa dela.
Jantei com eles e quando Ivan caiu no sono depois da sobremesa voltei para casa
descansar um pouco e checar mais alguns assuntos no escritório de casa até a
hora de dormir.
Devido
a quantidade exorbitante de café consumida naquele dia demorei a ir para cama.
Conversei com Quim via internet e vi que ele depois do seu arroubo
futebolístico tinah votlado ao normal completamente graças a sua namorada a
qual ele iria trazer para passar as festas de final de ano conosco. Fiquei
animado com isso, e de certa forma era um tapa com luva de pelica na cara da
esnobe da mãe dele que estava me infernizando como sempre juntamente do seu
papai com senso de colonizador português. Logo na manhã seguinte depois de
curtas horas de sono, acordei com Marie me chacoalhando na cama porque mais uma
vez, como de costume tinha perdido a hora do colégio. Resolvi de imediato
deixar de lado esse negócio de escola naquela semana, pois já no dia seguinte
ela iria se encontrar com a mãe em São Paulo na SPFW e iria perder o resto das
aulas na semana mesmo. Tomei café com
ela e ficamos conversando sobre a viagem dela, sobre os planos dela para o
próximo ano na Suíça, e tudo aquilo me apertava o coração no fundo. Nos últimos
meses Marie era a pessoa mais próxima da minha pessoa com quem mais tinha
afinidades em tudo. Embora ela ainda tivesse surtos momentâneos de
desobediência e irresponsabilidade encarava aquilo como algo natural daquela
fase. Ela cumpria o que havia proposto para ela no escritório e na condução dum
projeto de loja dum shopping e eu sentia que aquilo poderia fazer ela ficar
mais algum tempo no Brasil e contrariar os planos tão minuciosamente traçados
pela avó e mãe controladoras do destino alheio.
Almocei
na rua com Marie e seguimos para o escritório. Para aquele dia tinha incumbido
a filhota assistente de organizar a viagens de negócios na próxima semana e
recepcionar o avô dela que chegaria naquele final de tarde. Depois disso só vi
ela a noite dançando feito criança no seu quarto sobre a cama. Ainda no
ambiente de trabalho senti pena de ver Laura descabelada com uma pilha de pastas
e documentos para dar conta. Sentei na mesa dela como se a sala dela e Giovana
fossem a minha própria sala. Fiquei olhando para cara de Laura como se não
compreendesse os relatos dela sobre aqueles documentos tentando fazer ela se
sentir uma incompetente. Ela ficou sem saber o que fazer a partir disso
tadinha. Parecia uma barata tonta falando sem parar e andando dum lado para
outro dizendo que aqueles documentos estavam com uma série de problemas em
cartórios e registros e coisas desse tipo. Dei algumas orientações para ela e
disse que havia mais uma série de documentos a serem analisados minuciosamente
e por fiz o pior dei: o prazo de uma semana para resolver tudo aquilo.
Levantei-me da cadeira e saí da sala dela sem ouvir um pio dela. O som do
suspiro que dizia “puta que pariu mais abacaxi para mim” foi a única coisa que
ouvi quando dei as costas.
Geralmente
coloco muita pressão nos novatos na esperança que eles resistam a essa prova de
fogo inicial e me surpreendam com resultados positivos. Com Bruna estava
pegando mais leve, até porque os assuntos que tinha delegado para ela eram de
longo prazo e já estavam com a parte burocrática em ordem. Aquele ambiente leve
de muitas mulheres no ambiente de trabalho me agradava e nenhuma delas ali
tinha uma tendência a ser uma nova Aline em todos os quesitos. Com exceção da
Dani a secretária que já tinha se arrependido de ter cedido aos meus encantos
tudo estava funcionando no mais estrito profissionalismo. Voltei para minha
sala e Marie estava gostando cada vez mais de ocupar a minha sala ao ponto de
ter trocado as persianas por cortinas novas e providenciado alguns retoques na
decoração que eram a cara dela e não a minha. Despachei ela para buscar o meu
pai no aeroporto com o motorista e servir como anfitriã do velhote visto que
minha mãe, não faria a menor questão de recepcioná-lo como manda a tradição de
hospitalidade. Marie se mandou e fiquei fazendo uma rodada de telefonemas
resolvendo mais alguns assuntos com os caciques de Sampa que em breve seriam
comandados pelo velho libanês no próximo ano. Sentia correr nas veias um ano
promissor apesar das expectativas negativas originadas pela reeleição da dona
poste. Em breve eu estaria colocando os planos de governança corporativa em
andamento e quem sabe poderia dentro de
alguns anos deixar por conta de executivos contratados e me dedicar a
empreendimentos menores e menos exigentes e estressantes.
Como
a empresa estava crescendo e ficando grande demais, lenta e por vezes
ineficiente em alguns projetos devido a administração tão centralizada na minha
pessoa e no meu staff de comando era hora de pensar em como crescer sem perder
o fio da meada dentro dum cenário aparentemente incerto e que exigiria
correções de rumo constantes com maior celeridade, efetividade e eficácia.
Articulava lentamente todas minhas idéias e estudos sobre este assunto num
dossiê com planos de metas e projetos de médio e longo prazo que deveriam ser
implantados nos próximos anos visando chegar nesse patamar. Foi nessa hora que
recordei dos tempos de adolescência de como tinha transformado uma banda de
metal numa banda com potencial de ter até mesmo gravado algum disco próprio.
Tinha a sensação, mesmo que remota, que estava diante de algo que poderia me
dar prazer e criar algo novo e que poderia ser deixado de legado, por exemplo,
para Marie assumir nos anos futuros devido a desenvoltura e compreensão que ela
demonstrava com certos aspectos de administração. Via nela o dom de observar e
ouvir calada negociações inteiras e depois me questionar os motivos e como isso
e aquilo funcionava. Aquela curiosidade dela me fazia notar que eu não deveria
ser como meu pai que quando questionado sobre algum teor de negócios sempre
dizia que aquilo era algo não iríamos compreender. Embora a ideia de preparar
ela para ser uma possível sucessora nos negócios fosse algo que me cativasse,
não iria colocar isso na cabeça dela enquanto ela não tivesse definido seu
próprio destino com base nos planos e sonhos dela mesma.
Fechei
o expediente daquele dia espiando mais uma vez Laurinha se esmerando em
adiantar aquela papelada medonha e burocrática. Troquei de roupa e tirei a bike
da traseira da pick up e fui pedalando até a casa de Bia visitar o Ivan.
Chegando lá fiquei por cerca de uma hora brincando com o moleque e tomei um banho
e pedi para o motorista me buscar lá me trazendo um terno para ir jantar com o
velho libanês. Jantei com o coroa e coloquei para ele todas as cartas na mesa
do que queria dele como meu agente na sede em Sampa. Ele compreendeu e aceitou
o encargo com altos honorários. Selamos o acordo com uma garrafa de vinho.
Fechado o preço da lealdade dele me senti livre para apreciar e até aceitar uma
proposta de consultor chefe de negócios em um projeto num banco paulista que
havia sido ofertada nas semanas anteriores. Aquilo implicava que teria que
passar boa parte do tempo em São Paulo e quem sabe deixar de lado toda aquela
qualidade de vida menos estressante em Curitiba. Fazer o que se isso fosse
ossos do ofício.
Voltei
para casa com o velho que logo se recolheu e ajudei a dançarina Marie a fazer
suas malas para Sampa, ela insistiu para que fosse com ela ver a mãe fazer
comerciais para O Boticário e participar com elas dos bastidores da SPFW.
Aquilo no começou até me tentou, mas recusei, depois no final acabei aceitando
e indo para Sampa com elas visto que tinha ingressos para o GP Brasil de F1
garantidos para todo pessoal da alta cúpula do escritório paulista. Telefonei
para Flávia com intenção de levá-la como acompanhante, porém ela se recusou
dizendo que iria receber a visita dos pais naquele final de semana e até
esboçou um ataque de ciúmes e uma briga. No final ela aceitou minhas desculpas
esfarrapadas e se acalmou dizendo para me comportar. Certamente aquela
recomendação seria a última coisa que faria. Na
manhã seguinte avisei o velhote que a casa era dele no café da manhã e
ele senti-se envaidecido por deixar a chave da casa e toda criadagem ao dispor
dele. Quando retornei na semana seguinte, percebi que ele tinha aproveitado
casa momento dessa tal liberdade. Fez um jantar requintado para amigos locais
dele e visitas do meu irmão e até mesmo convidado a vizinha francesa e Agatha
para um jantar no estilo maçônico que ele tanto gosta.
Chegando
em Sampa, a cidade parecia estar efervescente com turistas chegando de todos os
lados no aeroporto por conta dos eventos daquela semana na cidade. Mandei Marie
direto para o apartamento que havia cedido para a mãe dela passar aquela semana
e preferi me hospedar num hotel mais próximo do escritório para ter mais
liberdade e receber as visitas de Mônica e Juliana que haviam topado passar
aquele final de semana no GP. Peguei uma das suítes mais ostentosas que eram as
únicas que havia livre, pois o resto estava tomando de turistas de todas as
partes do Brasil e por uma vasta equipe de jornalistas gringos que iriam cobrir
o GP. Depois do check in no hotel liguei para a Bianca me buscar no hotel
naquele meio de tarde para darmos um rolê pelos eventos da semana de moda. Como
ela tinha que apresentar um seminário na faculdade passamos pouco tempo juntos,
e logo depois disso me encontrei com Marie e sua mãe num jantar da equipe dela
num restaurante badalado em Vila Madalena. Quando as duas se mandaram, resolvi
aproveitar o restante da noite com Bianca numa danceteria. Ela já tinha cumprido
com seus deveres acadêmicos e mandando o namorado dar linha. A noite era
propícia para levá-la para o hotel e cumprir o dever de casa do script de nova
Aline. Infelizmente Bianca não tinha muito a ver com Aline nesse quesito,
preferiu me deixar na porta do hotel e ir direto para casa sem levantar
suspeitas do papai, mamãe e namoradinho que estava se tornando mera figura de
decoração ao lado dela após tantas investidas minhas e encontros secretos com
ela nas última semanas.
Tratei
aquela atitude dela como um fora, e no dia seguinte resolvi prestigiar a amiga
Anne, que estava naquela fossa. Fui até a casa dela logo depois do café da
manhã e coloquei a conversa em dia em dia. Ela me fez ficar para o almoço, por
sinal maravilhoso devido a cozinheira ser uma mineira de mão cheia. Assim que
ela enviou o seu pimpolho para o colégio fomos para mais uma rodada de desfiles
da semana de moda. Tinha acertado em cheio em dar um gelo em Bianca e convidado
Anne para ser minha companhia naquele dia. Bianca não parava de me ligar, e eu
só atendi uma vez dizendo que tinha compromissos e agenda cheia para o resto da
semana e que passaria no escritório na manhã seguinte. Por outro lado, Anne
despertava a curiosidade de Marie e da sua mãe que nos convidou para mais um jantar
com sua equipe naquela noite. Anne não pode ficar para o jantar por motivos
óbvios, tinha que cuidar do filho e manter a discrição devido a separação
recente. Passei o resto da noite acompanhando Marie e Gina que estava se
demonstrando feliz devido sua nova fase na carreira e vida pessoal. Mesmo sem
estar com nenhum relacionamento ela parecia ter um brilho nos olhos que há
tempos não via nela. Parecia que a fase de treinadora de modelos e produtora
tinha despertado nela e em Marie uma espécie de interesse comum e finalmente
selado as pazes entre elas. Gina colocou Marie num editorial que foi
fotografado naquela semana e estava produzindo propagandas para grandes
empresas do ramo. Aquilo tudo me deixou feliz e me fez ver que poderia haver
uma possibilidade de manter Marie por perto na próxima temporada se soubesse
fazer a cabeça da mãe dela para apoiar essa intenção. No entanto, não toquei no
assunto, deixei tudo fluir e ver com as duas se comportavam. Finalizei a noite
voltando para o hotel e dormindo naquela cama confortável tendo sonhos
maravilhosos com Mônica e Juliana que chegariam no final da tarde do dia
seguinte.
Pela
manhã de sexta feira, tomei um café em meio a um salão lotado de turistas e fiz
amizade com um paraibano que estava com seus filhos. Em seguida peguei o rumo
da empresa e esnobei Bianca que estava na ante-sala do escritório da maninha.
Fiquei conversando com ela sobre o ingresso do velhote na empresa. Ela parecia
se opor ao fato dele ser o novo chefe e manda chuva na empresa no próximo ano
por um período indeterminado e com funções de fiscalizar a todos. Duma forma ou
de outra ele estaria num posto acima dela e isso deixava ela pau da vida. Não
dei bola para isso. Quando saí falei rapidamente com Bianca que parecia
arrependida da forma que tinha levado as coisas em nosso último encontro. O
gelo tinha surtido efeito, mesmo assim mantive a postura estratégica de não dar
mais esperanças para ela para ver onde aquilo poderia desembocar. Evitei
transitar no corredor onde a minha sala ficava para não me deparar com Evelin
também e devido a isso acabei cruzando com Aline que inesperadamente me chamou
para sala dela. Como não tinha desculpa alguma e fui pego de surpresa tive que
conversar com ela. Ela foi breve e concisa. Disse que no próximo ano estaria se
desligando da empresa para trabalhar por conta própria e que já tinha avisado
aos meus sócios dessa decisão dela. Não tinha mais nada a fazer, nem mesmo
recordar ou tocar no assunto do bebê, fiz o que manda o manual dos cavalheiros
nessas hora: Desejei sucesso para ela e se precisasse de alguma espécie de
ajuda em algum momento futuro poderia contar comigo. Nem mesmo esse gesto tirou
dela um sorriso, ela se manteve séria e centrada. Senti aquilo como um ponto
final ou uma espécie de golpe no meu ego, porém não fiquei digerindo aquilo
como algo ruim, mas sim como um final feliz dentro das circunstâncias.
Para
finalizar aquela estranha manhã fui almoçar com Marie e Regina. Elas iriam
seguir para o Rio de Janeiro passar o final de semana e aproveitei a ocasião
para me despedir delas. Em seguida fui até a empresa daquela amistosa senhora
japonesa para tratar de nossos assuntos. Ela não estava disponível no dia
devido outros compromissos. No entanto o assessor jurídico dela me atendeu com
muita simpatia e para minha grata surpresa a assistente dele era uma ex-colega
de faculdade que me deu toda atenção e facilitou ainda mais as tratativas
adiantando ainda mais as negociações. Rever Brenda depois de tanto tempo e
relembrar a época de faculdade, quando ela estava dois anos atrás da minha
turma, mas sempre era figurinha carimbada nas festas da galera de Direito me
deixou mais uma vez com uma sensação de nostalgia daquela época que nada tinha
e por outro lado tinha todo o mundo a ser conquistado.
Depois
desses encontros inesperados fui para um coquetel com os sócios, evitei beber
muito, os planos para aquele final de semana na companhia de Mônica e Juliana
prometiam. Assim que voltei para o hotel, fiz o check out e me transferi para o
apartamento que estava mais uma vez livre devido a saída de Regina e Marie.
Essa foi a pequena mudança de planos feita naquela tarde e executada de
imediato. Tinha previsto passar o final de semana no hotel sendo tratado como
celebridade devido ter pego a suíte mais cara do menu de quartos vagos, mas
pouco ficava no hotel e nem sequer a banheira de hidro que era atrativa tinha
usado em momento algum. Achei que aquela suíte não me trazia boa sorte e me
mandei de lá. Pode parecer excentricidade ter um apartamento e preferir ir se
hospedar num hotel, todavia eu tinha meus motivos e planos que não foram
concretizados com Bianca e ainda tinha duas beldades chegando para dar conta.
Logo que saí do hotel a minha sorte mudou realmente, recebi uma ligação de um
dos advogados da empresa dizendo que naquela mesma hora um juiz tinha dado
ganho de causa em primeira instância num processo milionário contra um
prefeitura que fraudou um licitação que havíamos ganho sem levar a obra. Aquilo
reforçou o meu senso de que o universo estava fazendo as pazes comigo como uma
amiga havia me dito semanas atrás e reforçou mais ainda que aquele hotel não me
trazia sorte. Feliz da vida com dinheiro em caixa entrando em breve devido a
condenação ordenar depositar em juízo metade do ora pleiteado assim que avistei
Mônica e Juliana tive mais motivos para sorrir e seguimos para o apartamento
que tinha passado por uma revolução naqueles dois dias que Marie passou por lá.
Finalmente
alguém tinha reformado aquela decoração antiga e substituído por algo novo e de
bom grado aos meus olhos. Tinha combinado isso com ela muito antes, depois o
assunto nem surgiu na pauta de nossos encontros naqueles dias. Não esperava que
ela conseguisse fazer algo em tão pouco tempo. Embora a conta tenha sido
salgada e inesperada liguei para ela e pelo visto o toque de fada não foi dela,
mas sim de Regina que bem relacionada com decoradores deu um jeito naquilo num
único dia de forma impressionante. Agora aquele recanto tinha novos ares e
recebia aquelas duas beldades devassas que me fariam companhia naquele final de
semana de luxúria e velocidade em Sampa. Sentia o universo conspirando ao meu
favor e lembrava das previsões furadas do vidente peruano feitas semanas atrás
com certa ironia. Mônica e Juliana tomaram um demorado banho, se produziram
todas e fomos jantar num restaurante requintado. A cada olhar masculino ou
feminino para nossa mesa eu sentia que estava sendo alvo se alguma espécie de
inveja por ter duas mulheres lindas em minha companhia enquanto no restante da
mesa via membros da alta roda no seu tradicional jantar cheio de parentes que
faziam brindes por alguma ocasião como noivado ou coisa do tipo.
Apesar
de toda educação refinada dada pela minha mãe com seu estilo francês
afrescalhado eu raramente me portava de acordo com as regras de elegância e
requinte dadas por ela. Muitas vezes começava seguindo cada uma dessas regras
de finesse nesses estabelecimentos de alto padrão e depois relaxava e mantinha
a postura adequada, porém exacerbava em alguns momentos os modos de matuto do
interior que me deixavam mais a vontade. Não chegava a ser um Jeca Tatu, só que
sentia prazer em transgredir certas formalidades e tratar os garçons como
pessoas de verdade não como meros serviçais. Afinal de contas, eu talvez fosse
um único ali que já tinha vivido a experiência do outro lado da mesa como
garçons nos idos tempos de labuta num restaurante da mesma estirpe. Além disso, tratava as minhas companhias como
elas mereciam ser tratadas, sem fazer encenações de afeto ou atenção eivadas de
certa falsidade só para aparentar ser mais um ilustre desconhecido da alta
roda.
Talvez
isso seja uma grande crítica ao modo de como os ricos se comportem com certa
distância do mundo real vivido pela maioria das pessoas comuns e menos
abastadas. Embora eu deteste gente convencional eu tenho uma raiz no meio
delas, de gente simples e humilde que gosta de ser tratada com respeito e trata
os demais sempre com a mais alta educação que são capazes de ter. Minha mesa
era servida com esmero, os garçons pareciam felizes de permitir que eles se
deslumbrassem com minhas companhias sem torcer o nariz para eles. Agia ao
contrário dos outros homens nas outras mesas com suas esposas e namoradas
cobertas de jóias e roupas de tecido fino.
Deixava que eles se aproximassem e servissem as belas moças em cada fase
do jantar e ainda colocava eles como parte nas conversas que estávamos tendo.
Aquilo não era apenas uma forma de me manifestar de forma diferencial dos
outros clientes, aquilo era uma forma de ver as pessoas e o mundo com certa
equidade apesar das diferenças marcantes que existem na sociedade.
Após
o jantar fomos para uma festa, mais um coquetel rega bofe na verdade, aquela
rotina de lugares cheio de patricinhas e mauricinhos já estava me dando nos
nervos, mas as garotas pareciam apreciar aquele admirável mundo novo a qual não
estavam habituadas. Da minha parte eu queria agradar elas e depois ser
recompensado naturalmente com lascívia. Era minha única intenção e real motivo
de estar ali naquele recanto de playboys e pistoleiras disfarçadas de moças de
família. Conhecia a fachada e ainda mais o que havia por de trás daqueles
cenários e teatro comprado via promoters. Comecei a ter uma espécie de asco filosófico
daquilo tudo e me sentir vivendo num mundinho que já não correspondia mais aos
meus anseios mais íntimos. Parecia estar tendo uma visão de que tinha chegado o
momento de deixar toda aquela ostentação finalmente de lado, porque ela já
tinha me dado tudo que queria e não precisava mais daquilo. Sentia que tinha
ingressado novamente num mundinho que eu já fui membro distinto do clube de
toda aquela aparência decadente e grande profanador de muitas virtudes de
jovens desavisadas que surgem vez ou outra nesses espaços. Parecia que
finalmente eu tinha me dado conta que fazia tempo que aquilo nunca de fato me
agradou, mas que era necessário em algum momento da vida ter passado nesses
pardieiros de endinheirados para aprender algo maior e mais proveitoso para
minha relés existência como homem de negócios.
Ao
sair dali e respirar o ar impuro da madrugada paulistana, tomei a decisão de
evitar a todo custo novas festinhas daquele naipe, e dar preferência aos locais
mais condizentes com a minha nova visão de mundo. Sentia-me como um Brás Cubas
que tinha descoberto o emplasto para os males escondidos na alma ou algo uma
nova filosofia para dedicar a minha vida. Tanto foi assim aquela noite que o
sexo tórrido com aquelas duas mulheres foi como uma despedida dos tempos de
outrora onde a canalhice a conquista depravada e barata faziam sentido. Na montanha
russa deste ano cheio de desilusões me recordei depois do coito que aquele
vidente disse que teria uma desilusão e depois uma nova chance. Fumei o último
cigarro do maço e no outro dia não comprei um novo, em esbaldei naquele final
de semana entre coxas e beijos molhados, felações e toda sorte de prazeres
sexuais e ostentação que o meu ser e dinheiro poderia me conceder e voltei para
casa com a sensação de dever cumprido numa carreira de devassidão com louvor e honra
ao mérito de ser um dos cafajestes mais bem sucedidos da história dessa pátria.
Na
semana seguinte fiz uma vultosa contribuição pra uma instituição de caridade
como se aquilo que alguma forma apagasse os meus pecados. Isso era mais um
dever do que um ato de suma bondade da minha parte. Sempre odiei ver gente
passando necessidades. Pensei em me confessar com um monsenhor que sempre
tomava um lanchinho com tia Charlô, mas aquela pieguice religiosa da absolvição
sumária e retroativa dos pecados carecia de arrependimento e eu nunca me
arrependeria do bailado e comido na minha longa trajetória de fornicador. Já me
gabava e muito de não ter sido adultero durante os casamentos falidos que tive.
Havia deixando de lado belas secretárias e amantes enquanto usava aliança,
então achava que estava quites com a entidade religiosa duma forma ou outra,
aliás, não devia nada para a instituição religiosa; a não ser minhas condolências
devido aquele semestre no colégio católico em tempos passados.
Depois
daquele final de semana onde torrei horrores com luxo e sexo do bom e do
melhor, resolvi achar um caminho mais suave para descobrir novos horizontes e
providenciar com isso quem sabe um post mortem num paraíso como reza o alcorão
dos homens bomba.
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