domingo, 12 de abril de 2015

Nada como um dia após o outro com uma noite no meio...

Costumeiramente as pessoas suportam a estreiteza de suas vidas com máscaras. Muitas delas também passam boa parte de seu tempo remoendo acontecimentos e lambendo feridas que nunca cicatrizam. Sentir pena de pessoas que agem desta forma é óbvio, mas o natural é evitar se tornar como elas quando reconhecemos esses traços odiosos em alguém que desperdiça sua existência com tais atitudes.



O interessante seria perceber como, para a grande maioria das pessoas, o senso de ser está ligado à momentânea e efêmera alegria que alguns acontecimentos exercem em suas vidas e naquilo são. Quase sempre, ao serem questionadas sobre porque estão felizes disparam a falar sobre as coisas mais recentes como se as anteriores duma vida toda não se somassem a isso. Por outro lado, a idiotice dessas pessoas se auto-proclama quando negam o passado, porém sempre estão recordando dele como causa e efeito de cosias ruins que perduram no tempo. Pessoas assim sempre tornam presente o passado com arquivos secretos de ressentimentos e quando diz que está feliz por algum fato recente mente descaradamente.
Todos nós invariavelmente padecemos disso em alguma escala, pois estamos fadados a viver num mundo de aparências, de simulações e de simulacros. Isso que parece ser um tema tão pós-moderno da psicanálise dentro de uma narrativa clássica da literatura é na verdade a vida das pessoas. É a vida sob a égide da negação. Há quem passe a vida inteira mentindo ou sofismando para se esquivar de algo que transcenda a si mesmo. Há quem tenha uma vida morta que analisa sua vida defunta por toda uma vida.  Certamente saber disso já nos causa desgosto por pessoas assim, mas infelizmente elas nos rodeiam. Tornar-se ou não zumbis existenciais como esse tipo de gente talvez seja questão de tempo ou azar. Talvez dependa de onde e como você vive, com quem convive seja na família ou amigos até desconhecidos colaboram para essa desgraça...




Sabermos imperiosamente que vida independente de laços familiares é um bem degradável. A grande maioria passa uma vida ornamentada por uma família que segue os moldes convencionais do amor mútuo ou do ódio mútuo. Quando era adolescente e logo depois de ter perdido a virgindade com a empregada descobri como a vida em família é indecente e teatral.  Certa vez na casa dum colega do colégio, muito metido por ser rico, seu pai era dono duma distribuidora de bebidas e alcoólatra – nada mais pragmático para um alcoólatra do que isso – sua mãe era cuspida e escarrada um ser que parece ter sido originado do cruzamento de comerciais de eletrodomésticos do Polishop dos anos 90 com a histeria de vilãs de novelas mexicanas. No entanto, ela para mim naquela época se encaixava perfeitamente na categoria das mulheres agradáveis e mais sexys que tinha conhecido até então. De alguma forma aquela mulher exalava algo que atraia qualquer garoto ou homem que gostasse duma perua com maquiagem exagerada, de jeitão extrovertido que recebe os colegas de seu filho de shortinhos indecentes. Aliás, a irmã desse meu colega andava de calcinha pela casa sem temer a presença daqueles moleques indiscretos que fantasiavam com ela também. Aquela casa era o maior centro de subversão de valores da família careta. Como sabemos quase todas as famílias são uma instituição que padecem da banalidade da mesmice, mas naquela família de mulheres histéricas que andam pela casa quase nuas ou embriagadas de vodca a coisa toda era a face da originalidade não aceita pelos comerciais de margarina ou sabão em pó.




Para atalhar a conversa sobre essa família: Foi com a mãe desse meu colega que tomei a primeira dose de vodca da vida e uma lição de despudor muito valiosa. Um dia num churrasco na casa deles a mãe dele estava alta e me encontrou na saída do toalete, havia acabado colocar trajes de piscina e estava só de sunga e camiseta regata, ela se aproximou de mim com aquele copo de vodca e disse: “Tome um golinho fofo”.  Aquilo desceu quente pela garganta, mas ela logo em seguida deixou tudo mais quente. Ela me empurrou para dentro do toalete me lascou um beijo passou a mão pelo meu corpo, eu fiquei num misto de espanto e excitação. Ela enfiou suas mãos de unhas longas dentro da sunga e disse com aquela voz bêbada no meu ouvido: “Ai como você é gostosão”.  Após esse assédio, que para mim era a mistura do estado de choque com tesão digno de nota, ela me mandou sair do toalete, não sem antes me beijar como uma vadia no cio e me proporcionar uma masturbação a dois onde ela gemia baixinho no meu ouvido entre uma frase ou outra de sacanagem. Antes de sair do lugar a vi ficando totalmente nua, com aquele corpo bronzeado sentando na privada para fazer xixi. Ela me olhou, sorriu e fez um gesto com a mão para fechar a porta segurando um cigarro entre os dedos.  Essa seria apenas a primeira vez que ela me atacaria por assim dizer, das outras vezes ela seria mais intensa, mas sempre mantendo tudo em segredo e sem dar na vista. Aquela mulher me ensinou como as coisas são seja na traição ou em como abordar uma mulher em poucas e surpreendentes lições. Além de beber vodca, aprendi a fumar e como chupar e ser chupado. Não resta dúvida que para um recém ex-virgem como eu ela foi o mestrado nessa área do conhecimento humano.  Estava pronto para o doutorado em outras academias por assim dizer.



Nessa época em que tive contato seja com a empregada com a qual tive a primeira vez ou essa tarada mãe do colega de colégio, passei a ver meus familiares como personagens caricatos ou alegóricos. A caricatura sem dúvida é a essência fundamental à condição de vidas compostas de simulações que formam nossa sociedade. Minha mãe, sempre tão correta e durona, tinha seu lado doce e suave, mas parecia tentar esconder esse lado seco e repulsivo dela com algo que é reprovável para o mundo exterior. Em alguns momentos confesso que a mulher era intratável, pois passava a imagem perfeita duma mulher apática e sem a menor sensibilidade, totalmente submissa ao seu arbítrio autoritário. Isso só melhorou quando ela resolveu se casar novamente. Anteriormente os pretendentes dela pós-divorcio - que se resumem a dois sujeitos patéticos - me davam pena e asco, não pelo simples fato dela ser minha mãe e haver uma espécie de ciúmes, mas sim devido os sujeitos serem deploráveis mesmo. Para minha mãe que ainda estava no ápice de sua beleza e por ser uma mulher culta e sensível ver aqueles pamonhas sem atrativos físicos, masculinidade e inteligência cortejando ela era algo inaceitável. Queria que ela fosse feliz, mas não com aqueles sujeitos dessa laia.  Por fim ela acabou se casando tempos depois com um homem viajado, refinado e de porte físico apresentável. Depois de anos vivendo para os filhos, casa e trabalho ela tinha encontrado nesse homem alguém a sua altura. Quando ele faleceu, de cirrose ou outra coisa ligada a isso, por ser um inveterado consumidor de destilados, porém nunca passando o recibo de bêbado em lugares públicos, ela ficou consternada por ter perdido um leal amigo e companheiro admirável. Palavras dela ao se referir a ele naquele velório regado a chás e cafezinhos numa tarde de sábado de inverno.




O grande fato oculto nessas coisas, para pessoas que vivem apenas no repúdio do seu passado num presente intransigente com a realidade, é que nesses encontros de pessoas, e suas relações intensas que podem durar minutos, dias ou até anos, sendo que é nisso que reside a beleza que há na vida. Como nós não a percebemos essa beleza efêmera que surge e passa e ressurge com novos acontecimentos ou encontros de histórias ou momentos passamos a nos negar certos prazeres e não desfrutar de muitos momentos. A falta de felling e ressentimentos são o que impedem as pessoas de verem a beleza que há em suas histórias e em novas possibilidades. Muitas são mantidas reféns do modo de ser e por conseqüência opõem-se a uma mudança de vida. Isso me recorda duma ex-namorada que se assemelha a muitas outras. Giulia uma garota que um dia foi simples, mas que por ser confiante em demasia nos seus dotes intelectuais e também sempre tentando se mostrar ao mundo como uma garota sensual, muito segura de si e que sabe como lidar com o assédio masculino pecava justamente por viver nesse teatrinho. Com o passar do tempo suas guardas baixavam e ela se revelava frágil e insegura quanto a si mesma. Isso era insuportável para ela. Sempre que bebia um pouquinho mais disparava nela um mecanismo de revolta com fatos e coisas ao seu redor e ela passava a se tornar uma garota pedante, insensível e inconseqüente. No fundo tudo isso revelava que ela era medrosa, em tudo, até mesmo na cama. Quando ela descobriu que além dela havia também Aline e Bia como mulheres a qual tinha mais deslumbre ou afeição continua por elas, Giulia, da qual eu gostava de sua companhia por ela ser inteligente e agradável resolveu partir depois dum acesso de fúria deixando claro que tinha estragado com a vida dela.  Aquilo não me abalou, conhecia de longa data as histéricas e mulheres que se escondem em camadas e só se mostram como são quando existe alguma pressão intransponível que as fazem retirar seus adereços teatrais e descerem do palco.




No entanto, isso não condena ninguém à pecha de ser má pessoa, mas restringe muitas coisas que poderiam ser boas e se tornam degradantes.  Ao me encantar por algumas mulheres raras vezes eu também me deixei revelar. Sempre escutei que sou um sujeito misterioso, e por mais que isso ressoasse sem sentido, era isso que acabava por mostrar que também possuo fragilidades ordinárias comuns a qualquer pessoa.  Nada contra tornar apenas visível a ponta do iceberg que somos. Isso não é falsidade, nem ser mascarado ao ponto de ocultar todas as outras coisas que podemos esconder e jamais tornar evidente a quem nos cerque. Simplesmente pode ser bizarro à primeira vista se mostrar como é verdadeiramente. Isso pode quebrar o encanto e malfadar uma relação que poderia dar certo. As pessoas que se aproximam de nós muitas vezes se interessam por nós depois da primeira impressão, que segundo o ditado dizer ser a que fica. Isso parece ser uma mentira. Primeiramente é impossível conhece alguém ou saber muito dela num primeiro instante. Embora existam exceções, são as atitudes e não as aparências que nos surpreendem; de modo que isso vá além da tal primeira impressão que fica. Essa é a beleza da vida e das pessoas que perdemos por não sermos pacientes e perseverantes. Olhamos as pessoas e tentamos descobrir o que há de diferente nelas, mas muitas vezes sem se abrir para essa diversidade. No fundo isso torna claro que procuramos pessoas parecidas e semelhantes a nós em tudo simplesmente por não suportar que o outro seja de fato outra pessoa. A nossa percepção de realidade devido a um excesso de egoísmo e orgulho não internaliza a percepção da beleza de alguém que por ser diferente de nós poderia cair como uma luva em nossa vida. Como diria a canção Eduardo e Mônica: “eram nada parecidos... Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão E ele ainda nas aulinhas de inglês”



Como regra, acredito que tudo ou qualquer pessoa merece um olhar à parte. A cada dia que se passa cada um de nós estamos nos apresentando ao mundo mais uma vez, e não sabemos quem pode nos encontrar ou o que pode nos acontecer. Talvez seja por isso que a vida em da família seja muitas vezes maçante. Essa vidinha nos delimita espaços, oportunidade e até mesmo devido às obrigações e responsabilidades mata sonhos que poderiam ser concretizados com uma boa dose de equilíbrios entre o dever e querer. Há em nossas vidas, todos os dias, timbres e cores novas que precisam ser desvendados, ouvidos com atenção e vistos em seus detalhes de tons. Essa atitude de sempre ir à busca de algo novo nos enche novas possibilidades e determinação.   Não vivemos presos numa tribo onde a origem, regras e costumes nos definem e delimitam o que somos e devemos fazer. Às vezes é preciso sair fora dessa órbita para que até mesmo num delírio qualquer que possamos enxergar as coisas de cima numa visão mais ampla.  Talvez nos falte sabedoria. Afinal de contas, “o homem sábio basta a si mesmo” dizia Aristóteles. Esse é um pensamento também perigoso, pois pode levar ao extremo da solidão. Constantemente muitas escolas de filosofia ocidental se vêem diante dessa questão da solidão, muito mais do que a da sabedoria em lidar com as questões tais como solidão. Dizem que a solidão é um caminho para a sabedoria, no entanto, vivemos num mundo em que a introspecção parece uma praga das quais todos fugimos. A solidão se confunde com sintomas da depressão tão comum em nosso tempo e  embaraça e envergonha certas pessoas.



A idéia da solidão em abstrato ou concretamente é como se fosse uma maldição. Ninguém toma uma cerveja sozinho ou degusta dum saboroso prato numa campanha publicitária. Nenhuma estrutura da vida humana é baseada em alguém solitário. Até mesmo na bíblia a solidão é retratada como um momento de desamparo, desespero e final da linha. No entanto, as tradições orientais ou místicas, como do taoísmo ao hinduísmo, até mesmo cristianismo, deixam claro que a solidão como uma etapa indispensável para o autoconhecimento. Na China e no Japão antigos, os homens poderosos se recolhiam à solidão monástica no final da vida em busca da elevação espiritual.  Cícero resumiu isso assim: "Quem depende apenas de si mesmo e em si mesmo coloca tudo, tem todas as condições de ser feliz". Já Schopenhauer se deteve longamente neste tema da solidão. No final de sua vida, morava em Frankfurt na companhia do seu cão poodle. Tinha poucos amigos e jamais se casou. Mais que pregar a reclusão, ele a praticou. E os ecos de sua voz se ouvem em múltiplos lugares em nossa sociedade atual. Movimentos como o Existencialismo e artistas como Tolstoi, Proust e Wagner sofreram intensa influência da voz pessimista ou, simplesmente realista, de Schopenhauer. Creio que Rust Cohle do True Detective seja um exemplar disso, apesar da referência autoral ser outra. Todo homem digno, segundo ele, é retraído: "O que faz dos homens seres sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nesta, a si mesmos". As pessoas retraídas, numa cultura que supervaloriza a tagarelice vazia e a desenvoltura social, podem sentir-se diferentes das outras e, para pior. Se lerem Schopenhauer, terão outra visão de si próprios, francamente mais positiva no meu entender.


Não há por que discordar disso ou concordar inteiramente, mas onde quero chegar trazendo isso à baila é que existem muitas pessoas que vivem cercadas de pessoas, todas elas cada um com suas mascaras vivendo em comunidades de pessoas solitárias. Veja só o caso da mulher que tem um amante, que sabe que ele é casado. Isso é delimitador e propagador duma espécie de solidão para quem vive sempre na sombra da outra vida do seu amante. Isso é uma forma de solidão mesmo que haja alguém em sua vida.  Já fui acusado de causar isso, não apenas por haver outra vida ou pessoa no centro de tudo, mas por colocar o trabalho como prioridade em diversas fases da vida. Desde o começo dos meus relacionamentos ou casos ouço as frases: “Você me deixa sozinha” ou “Não suporto mais viver te esperando para você aparecer quando bem entende”. Nos dias anteriores havia escutado isso de todas as mulheres com quem tinha filhos. Elas sempre bateram nessa tecla, além dum teclado inteiro que parecia se repetir no conteúdo e estilística.  Isso já estava devidamente absorvido e compreendido, o que deveria aprender disso é como aquilo que aprendi com aquela mãe do meu colega de colégio que me deu em alguns encontros fortuitos lições de como as coisas são. As coisas mais impróprias por assim dizer, sem dúvida aprendemos mais rapidamente, já as que são mais difíceis que remontam ao nosso modo de ser e caráter são complexas, levam tempo e precisam ser maturadas e aperfeiçoadas.  Parecia que tinha chegado ao estágio final desse segundo aprendizado. Que estava prestes a me formar na escola da vida nos assuntos atinentes a como ser uma pessoa melhor e mais madura sem cair nos mesmos erros do passado. Podemos encarar isso como uma coisa saudável que muita gente deixa para depois ou evita tornar um processo de aprendizado para tornar sua existência mais qualificada.



Tenho uma amiga que é psicanalista, e ela em pouco tempo rompeu com meus preconceitos sobre certas coisas do ramo da análise do nosso comportamento e emoções por profissionais da área. Sempre soube que ter uma espécie de confessor ou conselheiro faz bem, seja para os assuntos da vida ou nos negócios é algo salutar ter um guru ou tutor nesse sentido. Na vida fui agraciado por muitos professores e mestres nesse sentido. Entretanto, parecia ter chegado a hora que deveria buscar quebrar os últimos pontos onde existiam coisas escondidas e arquivadas nesse teor dentro de mim. Para tratar isso com a devida sabedoria deveria fazer isso sozinho, sem interferências alheias ou subjetivismo intruso de quem quer que seja. A idéia parecia bastante precisa e muito recompensadora, mas não iria para nenhum mosteiro budista ou ficar trancafiado em algum lugar ou meditando o cosmos para abordar esses temas.  Antigamente quando fazia isso, passava uma semana inteira bebendo preso num apartamento por pura indolência em encarar as coisas frontalmente. Isso fazia pegar os assuntos duros da vida pela beirada e chacoalhar ou debater eles como uma colcha de retalhos para que só restassem os pontos principais. Todavia, na vida descobrimos que são os detalhes de tudo que vivemos que tornam as coisas mais claras.




Naquele domingo levantei da cama ainda com o sabor do whisky entre dos dentes. Parecia que o sono havia sido cortado no meio e alguma coisa havia me despertado antes. Segui até a cozinha e como a dispensa estava completamente vazia e na casa ao lado não era mais mamãe e titia quem moravam e sim minha irmã que detesta visitas surpresas. Assim sendo, fui obrigado a sair para um fazer algumas comprinhas de itens básicos de sobrevivência. Não obstante disso, Ivan e Bia viriam almoçar em casa a meu convite também e precisava preparar algo decente. Na volta dei o azar de passar na frente da casa de Agatha que é caminho da minha casa; e ela estava cuidando do seu jardim, isso me fez crer que para quem disse que iria se mudar de cidade e deixar tudo para trás, estar cuidado das flores era um sintoma de quem não irá de fato partir. Talvez... Isso se deve ainda a ela ter esboçado uma intenção de dizer: “Vamos tentar mais uma vez, uma ultima vez”- porém interrompeu o raciocínio que levava a esse pedido na conversa protocolar que tivemos no dia anterior. Continuei a rotina daquela manhã sem pensar mais nisso e logo meus convidados chegaram e para minha surpresa a minha sobrinha e irmã se juntaram a nós trazendo mais comida. Elas estavam ali para me convidar para almoçar com elas. Todos reunidos num almoçamos descontraidamente num almoço ligeiro, pois cada um delas parecia ter compromissos para o restante da tarde, ao contrário de mim, que estava a deriva e pedi para passar a tarde com Ivan. Como a atração na cidade naquele dia era a manifestação e tinha recebido convites de alguns amigos locais para ir com eles, logo nos encontramos num ponto e seguimos para o manifesto. Bia acabou nos encontrando no meio do evento para buscar e Ivan e depois disso segui com meus amigos, tomar cerveja e fazer uma boquinha.



Ivan parecia ter puxado o meu dom para fazer amizades femininas facilmente, pois assim que chegamos à manifestação ele logo ficou amiguinho da filha de Letícia uma das garotas que estavam no meu grupo de amigos. Ele e a filha dela passaram um bom tempo se divertindo com aquele barulho e excesso de gente na rua. Isso aproximou eu e Letícia o tempo todo do evento e a conversa com a simpática mãe da nova amiguinha de Ivan se estendeu até o momento da chopada da galera. Parecia que a noite tinha tudo para tomar outros rumos, mas ficou apenas naquele chopinho amigo e até uma próxima vez. Entretanto, parecia que a fase de bilhetinhos não havia cessado ainda. Letícia algumas horas depois enviou uma mensagem de whatsapp dizendo o já conhecido: “adorei a nossa conversa”. Parecia que anos a fio de diálogos com as mulheres tinha me dado uma habilidade sem igual de tornar qualquer simples conversa com mulheres num gesto de sedução ou isso era simplesmente um feedback de mais uma mulher carente em busca de companhia. Nem todas que se rendem a esses subterfúgios da conversa fácil são necessariamente carentes. Há ainda umas duas ou três subdivisões que podem rotular as mulheres, mas irei me deter numa que é a pior de todas. São as canalhas carentes. Essas sim são a podridão dos relacionamentos fortuitos. Para resumir são aquelas mulheres que ao mesmo tempo que são devassas, são encalhadas e por serem encalhadas são carentes. A tipicidade desse tipo de mulher em qualquer lugar da sociedade me remete ao perfil da minha secretária Évelin. Aquela tendência a ir facilmente para cama pelo puro prazer de ser consumida pelo primeiro cara idealizado por ela a ser o seu príncipe encantado para fazer dela nem que seja uma amante é a faceta desse tipo de mulher. São as mais ordinárias e que trazem maiores danos. Não dá passar ileso aos arroubos de intrusão e desfeitos de mulheres desse tipo quando elas não obtém o que achavam que deveriam ter.

Se uma coisa que a experiência traz para os homens sábios e talvez para algumas mulheres sábias, é em primeiro lugar a capacidade de selecionar seus amantes, seus affairs e companhias sem cair nas falhas de se envolverem com alguém que seja altamente carente e desmiolado ou que já esteja num relacionamento oculto. Em segundo lugar a sabedoria da experiência os leva a considerar que é melhor ficar sozinho do na companhia de pessoas do porte supracitado. Havemos de concordar que ninguém que se preze como uma pessoa bem abalizada em sentimentos seja capaz de conviver com outras pessoas que apenas a usam e descartam ou que infernizam sua vida com surtos emocionais cretinos. Consideradas as possibilidades de um tiro sair pela culatra e haver algum engano nessa seleção por mais experiente que seja a pessoa nesses assuntos, ou quando isso ocorre por puro azar do destino, o melhor é chutar o balde e se livrar desse tipo de gente para resolver os conflitos. Foi exatamente isso que fiz desde Évelin como uma amante eventual e com Agatha como titular da situação. Esse tipo de mulher quando ingressa na sua temporada de neuroses podem saber... quem paga o pato é você...

Tomei consciência disso ao checar as ligações perdidas naquela noite, havia recadinhos como os de Letícia que aparentemente era uma mãe solteira que tinha ido com a minha cara por fazermos parte do mesmo grupo de amigos. Já as ligações perdidas eram um festival de perseguição de Agatha e Évelin com inúmeras ligações perdidas ao longo do dia. Se tivesse atendido alguma daquelas ligações ao longo do dia certamente teria ingressado numa espécie de buraco negro que suga sua paciência tornando o seu dia num aborrecimento. O simples fato de retornar uma dessas ligações, mensagens, seja lá o que for, é um erro tremendo que precisa ser evitado. Caso contrário lembre-se: O seu dia irá pelo ralo. Nesses momentos é que a sabedoria e solidão devem ser privilegiadas. Diante de situações onde tudo já chegou a um ponto sem volta, o mais compensatório é manter-se longe dessas pessoas tóxicas emocionalmente. Deixar a maré fluir até aparecer uma pessoa legal e disposta a ser uma companhia agradável e coberta de reais boas intenções. Trocando em miúdos: Fuja de encrencas e gente instável emocionalmente. O preço a ser pago é em parcelas altas e com juros e correção que consomem suas energias e desgastam seu dia a dia. Rezo para nunca mais incorrer nesses erros.

     
Como estava sem sono e com assuntos de trabalho pendentes para o dia seguinte resolvi me concentrar em ler alguns memorando e relatórios ao mesmo tempo em que batia papo com alguns amigos pela internet. A noite solitária sem se envolver com ninguém fisicamente é proveitosa quando sabemos desfrutar do prazer da nossa própria companhia e nos valer dum menu de bons amigos que são realmente amigos, sem nenhum envolvimento sexual na parada. Naquela noite percebi que precisava me reciclar em relação a alguns velhos amigos que já estavam se tornando também tóxicos. Não por culpa deles diretamente, mas sim do veneno lançado pelas víboras que tendo eles também no menu de amizades comuns  amaldiçoam e renegam determinadas amizades ao patamar de intrometidos e bisbilhoteiros nos relacionamentos alheios. Nisso se separa o joio do trigo, e desta vez tinha percebido que algumas amigas de Agatha, só eram amigas delas ou minha conforme a situação do nosso relacionamento. Em outras palavras, estava sendo espionado por uma amiga dela que fazia-se de sonsa para obter informações sobre como estava me sentindo em relação ao nosso rompimento. Já havia identificado a falsidade das amigas de Agatha de longa data, mas desta vez estava disposto a jogar o feitiço contra o feiticeiro numa espécie de vingancinha marota por puro passatempo. Convidei uma dessas bisbilhoteiras para jantar no dia seguinte. Primeiro a mui amiga de Agatha hesitou em aceitar, mencionando que não pegaria bem. Depois, talvez após uma prévia confabulação com sua mandante; aceitou docilmente o convite. Meus planos para aquela segunda-feira estavam traçados: um dia repleto de reuniões e um jantar com uma das espiãs de Agatha. Fechada a agenda para o dia seguinte fui dormir candidamente como se fosse um anjinho.   




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