Depois dessa viagem ao Mato Grosso do
Sul e reencontro com Karen haveria ainda mais um reencontro com ela, ou o que
seria o encontro final. Durante as festas de final de ano Tia Charlô fez
questão de convidá-la pra passar o Natal em Curitiba em nossa casa e decorrente
disso Karen também acabou indo junto com o filho passar o final de ano em
Camboriú junto comigo e Quim e o resto do pessoal da família.
Na tarde de véspera de Natal Karen
disse que queria conversar comigo, no momento pensei que seria apenas realmente
uma conversa sobre alguma coisa ligada ao filho dela ou coisas de família, mas
não foi isso, foi só um pretexto para sair do meio de primos, tias, mãe e
filhos para ela me lascar um beijo na boca ali mesmo dentro do carro. Aquela
sensação de amor proibido tinha voltado de repente. Tantos anos depois, sem
contato, sem nos falar e vivendo cada um a sua própria vida ela estava ali como
antes nos meus braços dizendo que estava com vontade de dar esse beijo desde
quando estávamos na fazenda nessa última vez devido aos negócios.
Após a ceia de Natal fugimos mais uma
vez da presença de todos, enquanto uns foram para a balada e outros ficaram em
casa descansando, eu e Karen fomos para o meu apartamento onde logo que fechei
a porta encostei ela na parede e a beijei como se fossemos dois adolescentes
mais uma vez. Ela trançou suas pernas nas minhas costas e caminhei com ela
grudada em mim até a cozinha onde a sentei na mesa e depois a deitei aos beijos
e beijos como fora naquela tarde da fazenda em nossa primeira vez. Acontece que
dessa vez ao invés de tudo transcorrer como daquela vez ela pediu para parar e
não fizemos amor. Fiquei surpreso e sem entender, mas como ela tinha ficado
viúva já algum tempo achei que ela estava com alguma espécie de temor. Passamos
algumas horas ali conversando, e desta vez colocamos a conversa realmente em
dia ao conversar sobre nosso pequeno romance do passado, de como nossas vidas
tinham sido e tudo mais sobre essas coisas. Os olhos dela brilhavam como antes,
o modo dela arrumar o cabelo não tinha mudado, a boca continuava molhada e
beijoqueira como antes, a única coisa que tinha mudado era uma vida passada cada
um no seu canto vivendo a própria vida mantendo as recordações daquela paixão entre
primos numa gaveta.
Dois dias depois viajamos para o
litoral e após algumas tardes de passeio a dois para ver o por do sol uma chuva
nos pegou de surpresa, voltamos correndo até a casa de praia. Logo ao entrar
molhados de chuva mais um beijo como aquele do apartamento, dessa vez tirando a
blusa molhada dela pelas alças e deixando cair até os pés, segui colado naquela
boca duas vezes molhada com sabor de chuva e calor, avancei para o pescoço e
depois os seios molhados e quentes, carreguei ela até o sofá e fizemos amor ali
enquanto a tempestade lá fora matinha qualquer visita indesejada bem longe dali.
Após isso pegamos no sono e acordamos no meio da noite, subimos para o quarto e
como os garotos não tinham voltado por estarem em alguma festa, continuamos fazendo
amor o resto da noite. De manhã bem cedo ao ouvir o barulho do Quim e João
Paulo voltando da festa e tentando entrar na casa, pulamos da cama no susto,
enquanto eu fui abrir a porta Karen foi tomar banho e durante o café da manhã
com eles fazíamos de conta que tudo estava como antes.
O segredo duraria pouco tempo
guardado, no dia seguinte estávamos sentados na areia com Karen com a cabeça no
meu ombro e ouvimos ao fundo os garotos cantarolando alegremente: “Tão
namorando, tão namorando...” Sentaram-se
eles junto de nós cada um de lado e ficamos batendo papo planejando o dia
seguinte que seria a virada de ano. Passamos o réveillon juntos, a meia noite
um beijo e a sensação que as coisas com Karen seriam um novo capítulo, uma bonita
e possível história de amor entre dois primos que um dia já foram apaixonados e
agora se reencontravam depois de anos podendo viver essa história. Entretanto,
não foi assim, uma semana depois Karen me ligou dizendo que tudo tinha sido um
sonho maravilhoso, mas que nossas vidas são completamente diferentes e opostas,
disse que seria melhor cada um seguir seu destino como antes. Na certa, aquilo
me deixou chocado, parecia que tinha perdido pela segunda vez o gosto daquela
paixão juvenil, tentei insistir para ela mudar de idéia, creio que estava
apaixonado por ela novamente duma forma nova e até mesmo esperançosa. Karen
manteve seu juízo e nenhum argumento fez ela mudar de opinião sobre isso.
Passei os dias seguintes com aquele nó na garganta, me sentindo rejeitado, ou
algo parecido, sem entender porque ela esteve tão aberta e envolvente a
permitindo tudo aquilo acontecer entre nós mais uma vez e dias depois vetava
qualquer esperança. Feito isso ela não deu mais notícias, desapareceu mais uma
vez e agora todas vezes que recordo de tudo que passamos juntos lembro disso
com um desfecho infeliz que tenho que aceitar. Tudo que vivemos juntos ficou
divido em dois atos como numa peça de teatro onde o tempo e destino se
encarregam de trazer e levar sentimentos conforme bem entende sem levar em
conta o sentimento dos personagens.
Com isso voltei a rotina habitual de
trabalho, enquanto todos contavam fatos sobre suas férias no escritório
alegremente e bem bronzeados, eu ficava quase calado no meu canto e fugia
dessas conversas pelo simples fato disso me fazer lembrar do desfecho daqueles
dias tão bons que nunca mais iriam retornar. Coube como sempre a Aline me dar
consolo, sem saber nada disso, ela sempre estava ali de braços abertos e
presente para de alguma forma fazer esquecer seja da Bia, Karen, ou qualquer
outra. Talvez seja por isso que quando ela quis deixar a empresa e voltar para
casa eu tenha feito de tudo para ela ficar. Além de ser uma pessoa de total
confiança nos negócios, o meu “braço esquerdo” na empresa, ela também se tornou
minha amante mais longeva, uma amante que duma forma ou de outra me mantém
livre, e sabendo que mesmo surgindo uma ou outra na minha vida eu sempre volto
para os braços dela. Pensando nela assim tudo parece indicar que ela sempre
está presente, apenas aguardando o momento que eu retorne para que ela como e
sempre faz, chega ao meu lado fala alguma coisa próxima do meu ouvido sussurrando,
toda perfumada, sem acusações ou cobranças e isso já me faz rende-se a ela.
Aquela garota falante e sorridente
que havia conhecido numa das minhas viagens de negócio, à época tão
inexperiente em tudo, mas que me transmitia um certo brilho de ambição e
fascinação aos poucos se transformou numa mulher graciosa e mais viçosa que
aquela garota de antes. De início, ao mesmo tempo que quis seduzi-la ela se
deixou seduzir, não tinha medo de entregar-se para mim desde o começo, não fez
jogos nem criou barreiras. Com Aline tudo fluía nesse sentido, sentia que ela
me admirava e ela por seu talento revelado nos negócios e por ser uma mulher
que permitia se envolver comigo sem imposições fazia com isso que eu a
admirasse duplamente. Essa recíproca entre nós sempre se estabeleceu assim
desde o início. Há quem diga que ela seria a mulher ideal para ficar do meu lado
e conduzir a empresa e para termos um
possível casamento feliz. Embora tenha pensando nisso vagamente, nunca quis dar
essas esperanças para ela de forma evidente, por perceber que ela passou a nutrir
essas mesmas idéias. Por outro lado, ao não fazer isso, ao não tentar enganar
ela, acho ao menos, que a protejo de alguma decepção maior ou que quem sabe
algum dia isso ocorra com ela mais madura e eu também.
Aos poucos com o passar do tempo
deixei de tentar prever o futuro, de tentar estabelecer o controle sobre
sucessões de fatos de acordo com meus interesses e desejos. Sempre que deixei
de seguir a intuição noto que as coisas saíram totalmente fora do esperado. Foi
assim com Bia meses antes e com Karen pouco tempo atrás. De alguma forma intuía
que algo não iria ser suficiente ou dar certo no final, mas deixei de lado essa
intuição, preferi me arriscar com ilusões e falsas esperanças como se fosse um
garoto que ainda teimava em viver alguma história de amor corriqueira dos
enredos de cinema com algum final feliz surpreendente. De certa forma passei a
não me reconhecer mais devido a esses dois últimos ou três fatos. Avaliando a
minha relação com Bia, uma ex-esposa com a qual tive um casamento feliz até
certo ponto, regado de viagens internacionais, pois Bia era uma exímia
planejadora de viagens e vivíamos num constante namoro mesmo depois de casados
viajando e sonhando. Isso durou até a primeira pane no casamento, até o momento
que ela adoeceu e ficou inerte deixando a vida tão perfeita que tínhamos naufragar
aos poucos como se fosse um barco repleto de furos. Depois disso, continuei
amando ela, de alguma forma passiva e distante, mesmo não tendo os momentos
intensos de antes sabia que tinha restado algo e quando mesmo sabendo que esse
algo restante não seria o suficiente para retomar aquele amor e vida de antes
quis arriscar tudo e me deparei com o destino impedindo isso de alguma forma.
O mesmo ocorreria com Karen, anos e
anos sem nos ver, sem trocar uma palavra e repentinamente tudo ressurge
abrasador como antes, e dias depois desfalece dessa vez por uma iniciativa
dela. Apesar de saber que poderia ser passageiro mais uma vez preferi sonhar e
apostar no incerto, sem dar ouvidos a alguma coisa que dizia: “Não vai ser
dessa vez meu camarada”. Esse é ponto que parece que atualmente as coisas andam
quando penso em Aline. Duma forma um pouco diferente. Existe a mesma intuição
que freia ou acelera as coisas em direção a ela, às vezes quando sinto que
estou prestes a deixá-la em definitivo ela surge e me seduz, ou quando ela quer
me deixar eu vou até ela e faço o mesmo, a seduzo, digo tudo que ela quer ouvir
e a convenço como se fosse uma relação dialética num jogo de sedução
interminável.
Por outro lado, em casa, há que faça
suas apostas num possível romance com Ágata, mesmo contrariando uma decisão que
tomei logo após o fiasco da nossa volta de Buenos Aires onde mais nada fluiu
entre nós a não ser a mesma amizade de sempre. Decidi não reviver mais
histórias com passado. Nisso fui pego de surpresa logo em seguida com Karen e
tudo que aconteceu e terminou em semanas entre nós. Tudo isso me serviu para
reforçar essa decisão: Mulheres do passado nunca mais. Ao meu ver seria
necessário uma mulher nova, ainda desconhecida com poderes de me seduzir e me
fazer sentir algo novo e dominar-me de alguma forma. Uma mulher que rompesse
com tudo que é superficial e até profundo já existente dentro dum cara como eu,
que teve muitas, umas que remetem a Gina, a empregada, essas as quais
significam apenas novidades passageiras e prazer mas sem afeição alguma. Em
outro patamar existem outras onde talvez se encaixem Elena, Ágata e Regina a
mãe de Marie, que são aquelas que passaram em minha vida e deixaram suas
marcas, porém nunca as amei, talvez no máximo fossem uma paixão de momento que pouco
durou apesar da consequências e no final uma se transformou em amiga e outra
também, apesar de devido aos fatos perder esse laço de amizade com a segunda.
Por fim, existe o rol daquelas que foram amadas e pelas quais fiquei
perdidamente apaixonado, as quais levei a sério, e quis uma vida com elas e
essas até hoje são talvez apenas duas: Camila e Bia. A primeira partiu
prematuramente antes que tudo fosse solidificado, quanto a outra, mesmo havendo
amor não houve tempo de criar solidez permanente na relação.
Poderia até dizer que talvez nenhuma
delas foi amor, amor verdadeiro, não saberia apontar isso com clareza, mas no
fundo àquelas que passaram em vão pela minha vida apenas por puro prazer em
face das outras que ficaram mais tempo e de forma mais profunda apontam para um
afeto genuíno. Se alguma delas tivesse faltado ou Camila ou Bia, quem sabe não
teria como dizer isso, se não tivesse encontrado com Elena, Regina ou Ágata num
momento qualquer quem sabe também não poderia dizer isso. A sucessão de cada
uma delas, de todos os fatos pertinentes que uniriam e nos separaram fazem
parte dum todo indissolúvel na minha vida.
Seria pensando nesse tipo de coisa,
quase sem nexo, que me sentia como Guido de Fellini 8 e ½, naquela cena onde
suas amantes do presente e passado, bem como, sua esposa aparecem numa cena
reverenciando Guido e fazendo de tudo por ele, até um breve momento que se
revoltam com ele fazendo-o arrumar um chicote para fazer as coisas voltarem ao
status quo do ínicio da cena. Aquela sensação de que não se sabe mais nada, de
como as coisas foram ou como serão, parece ter batido a minha porta cobrando
maturidade e sabedoria, mesmo que seja impossível alegar se isso é algo
temporário ou definitivo a sensação é que algo precisa mudar para que eu sai de
cenas como essa que rondam a minha imaginação.
Como sempre são durante festas e
viagens que os momentos de iluminação acontecem comigo. Por mais que haja vozes
alienígenas fazendo uma leitura da realidade diferente de como vejo as coisas,
são nessas horas que as duas coisas se complementam e percebo o fio da meada.
Dessa vez, esse processo começou durante a festa de aniversário de minha mãe e
se estendeu numa viagem que fiz com Marie para Europa.
Na festa lá estava eu ainda remoendo
o fora levado de Karen, estava opaco no meu canto com minha dose de Jameson
dando lugar a dose de Jack Daniels para mudar um pouco o sabor das coisas.
Todos os presentes estavam em conversas animadas, enquanto vez ou outra passava
por eles como espírito vagante que não chama a atenção como antes. Fazia de
tudo para evitar conversas com os convidados, em especial as mulheres, não sei
por que raios estava farto das mesmas perguntas e interrogatórios delas sobre
quem seria a minha namorada ou porque estava sozinho e os porquês deveria
arrumar uma nova namorada. Fiquei isolado alguns minutos num recanto, perto do
barman, quase envolto numa cortina para não ser notado e passei a julgar e
analisar a vida amorosa de quem eu conhecia ali. A começar pela da minha irmã:
Ali estava ela aquele baluarte de dignidade intacto. Anos e anos casada com um
milico extremado e ensimesmado que se tornou alcoólatra e a traiu com as
mulheres mais vis possíveis devido ao vício. Jogou fora o casamento tradicional
e duas belas filhas e uma esposa fiel pela janela. Primeiro amor, ela se casara
com o primeiro amor, e depois de tanto amor, assim como eu em relação a Bia,
houve alguma coisa com o cônjuge, muito pior no meu entender, que a fez ela deixar ele definitivamente. Depois disso,
arrumou um namorado, da mesma idade, também divorciado, homem de posses, mas
este mais uma vez era adepto do rabo de saia e isso para ela é imperdoável. Um
ano depois rompeu com este e estava ali em companhia das filhas que logo se
casam e de algumas amigas trazidas a tira colo como damas de companhia duma
espécie de duquesa ainda empolada apesar dos pesares.
Uma das amigas dela até que merecia
receber flerte da minha parte, só pela beleza, mas o ambiente e a minha elevada
vontade de encher a cara e sair correndo dali evitaram que eu me precipitasse
nisso. Após isso lancei as minhas análises para Ágata, lá estava ela na
companhia dum cara boa pinta atlético, alto e loiro, com um blazer comprado em
liquidação de shopping certamente. Seria o namorado oculto dela dando as caras
possivelmente e ao julgar pela distância que Ingrid, filha dela, mantinha de
ambos alguma coisa não agradava a filha em relação ao namoradinho da mãe. Para
uma mulher como ela, bonita e na casa dos trinta, o cara me pareceu bastante razoável
para ela, parecia bem articulado, extrovertido, quem sabe com um bom emprego e intenções
mais sérias com ela. O passado de Ágata tinha somente aquele “deslize” comigo,
no mais, passou anos assim como minha irmã sendo fiel ao marido ensimesmado e
dado aos rodeios e traições. Contando comigo, Ágata,minha irmã e com a minha
mãe, e alguns outros, aquela sala parecia uma convenção de divorciados e
fracassados na vida a dois. Com exceção das meninas que ainda iriam se casar
com seus noivos e dos adolescentes com seus paqueras habituais, os quais quem
sabe um dia passariam pelo mesmo. Fiquei mais aliviado em saber que não era o
único a ter quebrado a cara nesse departamento e pedi mais uma dose de whisky.
Como estava prestes a viajar com Marie
para Londres, ela volta e meia estava contanto a novidade para alguém e isso
constantemente fazia com que alguém, desconhecido ou não, olhasse na minha
direção ou viesse falar do fato comigo. Passei o resto da noite falando sobre
isso diversas vezes até o ponto do tédio me fazer bater em retirada logo após o
bolo ser servido. Entrei no carro e sai dar uma volta pelo condomínio. Quando
voltei, a vizinha, uma senhora enxuta e até bem sensual, na faixa dos quarenta
e alguma coisa aparentemente, estava na varanda do jardim da casa dela e
mencionou algo sobre a festa. Ficamos de papo e ela disse estar sozinha
naqueles dias devido o marido ter viajado, os filhos estudando fora, enfim lamentos
habituais dessas mulheres. Ousadamente perguntei se ela gostaria de tomar uma taça
de vinho, e ela aceitou para minha surpresa. Peguei um vinho e levei até a
varanda dela com duas taças e passei o resto da noite conversando com a vizinha
quarentona ou cinquentona, nem ousei descobrir a idade exata. Para ela contar
sobre a viagem para Europa não estava sendo entediante, talvez porque ela de
alguma forma ficasse tentando jogar algum charme para cima de mim sendo extremamente
simpática e afeita quem sabe ao adultério. Confirmei a minha suspeita apenas
depois que voltei de viagem, quando a mesma, sozinha mais uma vez, resolveu me retribuir a visita dada a ausência do
marido mais uma vez. Entretanto, durante a viagem havia surgido uma mulher que
tinha posto o meu coração a bater em outro compasso, e não seria uma vizinha
adultera ou outra qualquer que iria me tirar Luíza da cabeça.
A viagem para Europa começou em
Londres, a pedido de Marie estávamos à procura de algum colégio ou curso de
intercambio para ela ir estudar na Europa. Assim passamos uma semana à moda britânica
garimpando possíveis oportunidades para ela estudar por lá, assim como na
França e Suíça. Entre uma vitrine e outra ela sempre citava a que uma tal Luíza
iria gostar desse modelito ou daquele. Para mim essa tal Luíza não passava duma
adolescente como ela, a qual Marie tinha conhecido no vôo para Londres. Além
disso, a nova amiga estava na Irlanda e possivelmente só encontraríamos a mesma
na Suiça devido a mesma ter avós suíços por parte pai. Passei aquela semana em Londres aproveitando
todos os eventos que estavam rolando na cidade, desde jogo de futebol no
Emiriates até shows e palestras sobre negócios, restaurantes e compras. Na
França, tivemos um pouco menos de tempo para aproveitar essas coisas, as
compras deram mais espaço para as visitas aos restaurantes, cafés e museus. Notava
que a cada novidade Marie sempre falava da amiga.
Como previsto foi na Suíça que a
amiga oculta de Marie deu as caras. Numa tarde de sexta feira, eis que Marie
surge com a amiga enquanto eu estava lendo um livro no lobby do hotel esperando
o tempo ruim ceder para sairmos passear e depois jantar em Genève. Quando Marie
disse: “Pai quero te apresentar a Lu!” Foi aí que tudo começou. Tirei os olhos
dum livro que tinha comprado no mercado de pulgas de Paris e não consegui tirar
mais o olhar daquela loira de olhos verdes, um pouco tímida com a ocasião, mas
que tinha um sorriso espontâneo e cativante. Três beijinhos no rosto como manda
a moda brasileira e senti aquele pele alva roçar meu rosto e boca, senti aquele
cheiro do shampoo dela entrar pelas minhas narinas como se quisesse de antemão
guardar cadê detalhe dela para posteridade. Sem dúvida fiquei extasiado com a
beleza dela naquele primeiro momento, depois graças a Marie, Luíza passou ser
nossa companhia naquele final de tarde e noite, bem como, no restante da viagem
para Itália até o momento da despedida no aeroporto do Rio.
Ficamos alguns minutos no lobby do
hotel conversando sobre os lugares que tínhamos visitado durante o percurso na
Europa, e assim que Marie foi buscar algum objeto esquecido no quarto para o
passeio, Luíza ficou as sós comigo, ainda encabulada e trajada de boina e
casaco fiquei admirando aquele rostinho angelical dela por quase um minuto
antes de puxar uma nova pauta para o tema da nossa conversa. Assim que Marie reapareceu
saímos passear juntos por alguns pontos da cidade. Luíza parecia ter caído nas
graças de Marie devido ao modo espontâneo e pelo gosto típico pelas mesmas
coisas em termos de moda. Só falavam de roupas e coisas do tipo. Além disso,
Luíza mora também no Rio como Marie, e aos poucos foi se abrindo e falando mais
comigo como uma flor que desabrocha apesar de sempre estar atenta a cada
conversa de Marie. Contou que estava viajando para Europa para conhecer a
Irlanda, devido ter certo gosto pelo país, e Suíça por causa dos avós serem de
lá. A viagem se devia ao fato de ter-se formado recentemente, era um presente
dela para ela mesma devido os anos de estudo completados. Para minha sorte, ela
se formou em Direito e isso nos dava muito engates para conversas e aquela
velha coisa de “temos algo em comum”.
Durante o jantar a conversa foi
ficando cada vez mais entre eu e Luíza, enquanto Marie pouco se intrometia em
nossa conversa olho no olho já com certos ares de paquera. Retornando para o hotel nos despedimos formalmente,
mas antes de Marie ir para o seu quarto
ela me perguntou: Pai você gostou da Luíza? – Gostei sim, achei ela legal e
bonita! Marie me olhou com um pouco de cinismo e disse: Percebi mesmo que você
gostou dela! Vou contar pra ela que achou ela bonita! E legal também! Marie me
deu um beijo de boa noite e certamente foi direito para o quaro da amiga
relatar o fato. Achei naquele momento que a minha sorte estava voltando. Pensei
comigo mesmo: Seja o que for para acontecer “carpe diem”.
Na manhã seguinte Marie apareceu com
boas novas durante o café da manhã: Bom dia pai, sabia que a Lu também te achou
legal e bonito? Dito isso ela riu e arrematou: Eu acho que formariam um belo
casal! E riu novamente. Mais uma vez passamos quase o dia todo juntos,
passeando em pontos turísticos e tirando fotos no Jardin Anglais e outros
lugares. Passei o dia servindo de tradutor para ambas nas lojas que fomos. Passamos um final de semana fabuloso, entre
passeios e jantares, consegui apenas ter poucos momentos privilegiados de
conversas a dois com Luíza. Em especial no domingo numa taça de vinho a dois no
bar do hotel enquanto aguardávamos o demorado banho de Marie. No dia seguinte embarcaríamos
de trem para Itália e foi no trem que consegui ter um momento realmente a dois
com Luíza. Enquanto Marie pegou no sono,
convidei a bela amiga dela para tomar um chocolate no vagão bar do trem.
Passamos uma hora ali conversando tranquilamente em bom português sem interrupções,
a não ser do garçom, cada vez mais o tom de paquera ficava evidente de ambas as
partes. Assim que foi anunciado a fronteira com a Itália, o trem diminiu a
velocidade e aproveitei o momento para sentar-me ao lado de Luíza, e sem dizer
nada, apenas olhando naqueles belos olhos azuis, entoei internamente o mantra “carpe
diem” e beijei aqueles lábios deliciosos. Fiz questão de dar um beijo longo, o
tanto quanto fosse correspondido por ela, e nisso se deu o inesperado, o flagra
de Marie sussurrando próximo de nós: Que lindo! Os dois se beijando! Caímos na
risada e depois daquilo não havia mais o que esconder, a não ser o fato, de
Luíza depois me revelar que tinha um namoradinho no Rio a espera dela. Pouco me
importei com isso, naquele momento não sabia se ela seria algo passageiro ou
duradouro, e tudo mais corroborava para a nossa paquera nos Alpes ser algo
inesquecível.
Após o flagra Luíza voltou a ficar um
pouco tímida, ruborizada, e aquele coração dela que disparou durante o beijo
parecia ainda estar com altas pulsações. Ao chegar em Milão naquela noite
cansados pela viagem longa, dormimos, aproveitamos dois dias ali no centro da
moda italiana para a alegria das meninas e depois seguimos destino a Roma com
aqueles passeios turísticos habituais pelo Vaticano ao ponto de receber benção
novo Papa devido um amigo dos idos tempos de república de faculdade ser padre
da cúria romana e conseguir tal feito. Depois da benção papal fizemos as malas
pela última vez na Europa e voltamos para casa. Em todo caso, eu me sentia
abençoado por Fellini por ter conhecido Luíza naquela viagem.
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