Vida de universitário
casado que trabalha além de estudar é complicada. Numa universidade cheia de
alunas belas e estonteantes tornava-se cada dia mais difícil manter-se fiel a
esposa. Ainda mais sendo tão jovem e imaturo e borbulhando hormônios como uma
chaleira a todo vapor. Dentro de casa aquela vidinha de casado estava
começando desde cedo a se tornar um pesadelo. A esposa não sabia cuidar com
expertise dum bebê por ser mãe de primeira viagem, e certamente a pior coisa
não era ajudar a trocar as fraldas cagadas, mas sim receber a sogra no
seio de seu lar repleto de fraldas e com sua esposa reclamando que o bico do
peito dela doía. A sogra ficava dias a cada visita dando palpites em tudo e
todos, ou seja, cumpria fielmente o seu papel típico de sogra.
Como eu passava muito
tempo ocupado fora de casa e chegava tarde e muitas vezes passava quase ileso
sobre as observações ácidas tanto da sogra, como da minha mãe, que também
aparecia em nosso lar doce lar fazer rotineiras visitas mensais. Como sabemos a
influência da sogra sobre as filha é deveras desagregadora em muitos casos e
coloca sempre o marido em situações de xeque mate e total esgotamento da
paciência masculina.
Estávamos há apenas algumas
semanas em Sampa e a rotina puxada que sempre me mantinha ocupado. Com o passar
dos dias chegava em casa cada dia mais exausto e o lugar que morávamos era fora
de mão, o que tornava ainda mais cansativa a rotina. Apesar de não pagar
aluguel por ser um apartamento que era do meu pai e que já tinha sido usado
pelo meu outro irmão quando ele cursava faculdade em São Paulo as contas
estavam sempre fechando quase no vermelho.
Foi nessa fase que a minha
bela jovem senhora resolveu reclamar da vida com certa frequencia para sua
mãezinha e com isso até o velho portuga passou a vir mais nos visitar e começou
novamente com aquela lenga-lenga de me levar para trabalhar nos negócios dele e
deixar essa coisa de estudos de lado. Logicamente eu ficava furioso com isso
por puro orgulho e egoísmo em certo grau, mas não era quem estava pedindo ajuda
ou reclamando da vida para a mamãe ou papai. Era Valéria que fazia isso devido
ser bastante mimada pelos pais e não a culpo por ter realizado reclamações de
que a vida que ela queria e que não estavam se realizando seus mais grandes
sonhos. Tudo que aconteceu antes levou a onde estávamos inegavelmente. A
questão seria saber como lidar e superar as fases ruins e duras com
cumplicidade e seguir adiante. Infelizmente um casal jovem não tem jogo de
cintura para isso e quando percebi que Valéria não estava do meu lado
plenamente fui obrigado a tomar uma das mais difíceis decisões da vida tanto
por ela quanto pelo meu pequeno bebê que tinha o nome pavoroso do avô Joaquim
Neto.
Na Páscoa daquele ano abri
o jogo com ela que estava de saco cheio dessa situação. Enquanto dessa vez
éramos nós que visitávamos nossos pais devido a ocasião cada um ficou na casa
de sua família. Disse para ela que se quisesse ficar com pais dela seria melhor
para ela e para o bebê, mas que eu seguiria o meu destino em São Paulo com ou
sem ela por perto. Fiz isso com raiva e com certa dose de egoísmo, mas fiz
sabendo das possíveis consequências. Pela primeira vez na vida eu tinha tomado
uma decisão drástica e até ruim em certos pontos, mas que era a favor daquilo
que eu queria para mim independente de qualquer pessoa ou afeto. Podem chamar
ou julgar como quiser, mas às vezes fazer isso na vida é um bem necessário a si
mesmo e ao longo do tempo percebi que foi uma escolha correta apesar dos
pesares. Valeria disse que não agüentava mais também a vida em São Paulo
daquele jeito e que era melhor nos separarmos. Depois disso logo voltei para
Sampa e segui meu destino sozinho.
Acho que por ter a agenda
sempre lotada de compromissos e deveres não tive tempo para ficar remoendo isso
e toquei o barco em frente. Decidi sair daquele longínquo apartamento que já
estava mofando e me mudei para uma república. A grana que economizada com
transporte e contas da casa davam o direito ao luxo de poder fazer um mero
happy hour com os colegas que era algo raríssimo.
Ao voltar para as Sampa
depois daquela Páscoa tenebrosa estava decidido a melhorar meu desempenho nos estudos
e agarrar cada oportunidade que surgisse. Pelo lado pessoal tinha decidido que
iria levar uma vida de solteiro como manda o figurino sem se arrepender pelo
bailado e comido como diz a gíria portenha. Foi o que fiz e logo surgiu uma
oportunidade que nunca imaginei ser opção de trabalho na minha vida até então.
Não imaginem que me tornei um gogo-boy famoso isso seria uma afronta a um rapaz
de família como eu oras. Não sou a Bruna Surfistinha.
Foi nessa fase que comecei
a cogitar o que deveria fazer depois da faculdade em termos profissionais. Não
tinha uma perspectiva clara e precisa das coisas, mas a idéia de ser apenas um
advogado, ou até professor universitário não me agradavam muito. Havia algo de
mim pedindo para ser feito algo mais do que apenas isso. Eu não tinha a mínima
idéia do que era, e nem recursos para imaginar algo mais concreto como abrir um
negócio também. Só o tempo daria essa resposta. Assim sendo, passei anos
procurando sem achar algo que fizesse a minha cabeça totalmente e aprendi a
aprender lições com essa sensação uma coisa valiosa: Que no tempo certo as
oportunidades aparecem e devem ser aproveitadas ao máximo. Que a cada dia algo
novo e positivo pode acontecer e mudar o rumo das coisas e temos que estar
atentos a isso. Enquanto nada mudava radicalmente eu seguia dia após dia. Sozinho
e decidido a vencer e fazer algo que me trouxesse a sensação de dever cumprido. Antes
desse dia chegar passei por diversas outras estradas e shoppings da vida.
Certo dia quando fui ao
shopping comprar roupas para trabalhar
no restaurante em outra função lá estava eu com meu corpinho sarado de tanto
praticar esportes e pegar duro na oficina me olhando no espelho da loja com o
uma camisa social de fina estampa. Nisso eis que surge careca com um
óculos daqueles de lente vermelha e fala enjoada. Ele se aproximou de mim e
puxou assunto comigo. Sem muita delonga ele elogiou o meu porte físico e
perguntou se eu gostaria de me arriscar num desfile de cuecas que ele estava
produzindo para uma loja daquele mesmo shopping.
Na hora eu achei que o
cara era um tremendo viado e que aquilo era furada, mas o cara provou que o
lance era sério e me levou conhecer a loja e pediu para eu pensar no assunto e
ainda mais no cachê. Pensei um dia. Afinal toda grana é bem vinda numa fase
dessas. Voltei ao shopping e topei a proposta e fiz o tal desfile constrangedor
pensando que se eu contasse isso para os caras lá da minha terra iriam tirar
sarro da minha cara e me taxar de baitola. Entretanto, o cachê foi muito
bom para uma coisa tão simples que é andar de cueca. Tinha apenas que agir
naturalmente e andar fazendo uma cara de mauricinho míope boca aberta nem aí
com nada. Era moleza. Tanto que continuei pegando mais free-lances desse tipo e
esse careca doidão se tornou meu agente no ramo. Ele me levou para uma agência
de modelos gerenciada por uma amiga dele que era a coroa mais enxuta que eu
tinha visto na vida até então. A mulher era de fechar o comércio mesmo.
Ela também foi com a minha
cara e me contratou e logo mais e mais cachês davam conta de pagar a pensão do
meu bebê e financiavam junto com o meu salário do restaurante um possante.
Aproveitando esse novo ambiente fiquei com algumas garotas lindas que na
maioria eram gaúchas e catarinenses de cair o queixo e imbecis de cabeça oca
que viviam vomitando para não ganhar peso, tomando remédios para moderar o
apetite, e comendo talinhos de vegetais ou passando cremes. Naquela época era
fácil manter a boa forma, bastava correr, malhar um pouco, e estava tudo igual.
Hoje em dia o peso sobre num final de semana e lá se vai um mês para voltar ao
peso de antes.
A minha tripla jornada
continuou sendo universidade, restaurante, agência. Cansativa por um lado e
recompensadora pelo outro devido conhecer pessoas novas o tempo todo e ter um
leque de garotas sempre belas próximo para praticar aquilo que Gina tinha me
ensinado a fazer. E aí morava o perigo. Além disso outra Regina apareceu na
minha vida para mudar um pouco mais a minha vidinha ainda nada definida.
Na agência havia duas
irmãs com as quais eu tinha mais proximidade e sempre dava carona para elas por
que era caminho da república o apartamento que elas moravam. Duas morenas
gaúchas irresistíveis: Roberta e Regina que era seu “nome comercial” . Elas já
eram profissionais de longa data. Tinham deixado uma cidadezinha do Rio Grande
do Sul depois de serem eleitas princesas e rainha das festas de peão uma centena
de vezes.
Fiquei bem mais chegado da
mais nova Roberta que tinha me fisgado como seu namoradinho. Sempre que Regina
não estava em casa ou viajando a trabalho eu tirava umas férias da república e
do chulé daqueles marmanjos para enfiar o meu narizinho naqueles cabelos longos
cheirosos e me esbaldar com aquelas longas pernas dela. Era o meu playground
aquele apartamento toda vez que irmãzinha dela não estava por perto. Só que um
belo dia foi Beta quem viajou e Regina - a irmã mais velha - quem ficou e como
sempre estava dando carona para ela.
Numa sexta-feira ela
resolveu sabe-se lá porque raios me convidar para ir com ela numa balada.
Seguimos direto para tal balada e tanto ela como eu enfiamos o pé na jaca. Eu
ainda estava mais ou menos e ainda consegui levar ela para o ap dela. Foi aí
que a coisa ficou periculosa de vez. Ela começou a dizer que estava com medo de
dormir sozinha naquela noite, com medo de passar mal. Inventou mil motivos e
dormi lá com ela. Dormi depois de passarmos o resto da noite transando e no
outro dia para nossa alegria a irmã dela ainda continuava fora e passamos o
final de semana trancados naquele apê fazendo o que havia de melhor num
livretinho de Kama Sutra.
Aqueles olhos azuis
intensos e pele morena cabelos lisos dessa nova Regina eram seu ponto forte.
Era uma modelo fotográfica que pelo visto iria decolar na carreira em breve
enquanto sua irmã estava apenas aproveitando o momento. Mesmo sendo a irmã a
primeira a começar nesse mundo Regina veio na cola dela e soube aproveitar
essas oportunidades. O temperamento suave, de fala calma, às vezes era quebrado
pelo jeito impetuoso e competitivo dela. Regina tinha todo aquele carisma que
mulheres sedutoras possuem com naturalidade. Sabia chegar num ambiente e fazer
ser notada e deixar muitos homens ao seus pés. Isso a irmã dela não tinha
apesar de ser tão bonita quanto ela.
Era isso que intrigava
Regina e talvez o que tenha feito roubar o namoradinho da irmã mais velha. Ela
me perguntava o que eu tinha visto na Beta e sempre respondia: Esquece da
maninha agora somos eu e você! Ela sorrida me olhava nos fundos dos olhos com
aquele lindo par de olhos azuis dignos de miss Taylor e me beijava. Acham que
sentia algum remorso ou algo parecido por trair a minha suposta namorada com a
irmã dela. Negativo. Com certeza Beta estava com algum playboy ou qualquer
outro cara se divertindo muito quer onde estivesse. Só que o problema com as
irmãs não foi esse. Logo que Beta voltou eu pedi a conta pra ela e ela topou
numa boa sem ressentimentos.
Mantive o romance com a
irmãzinha dela em segredo. Só que nosso segredinho durou umas três semanas. Num
belo dia, depois das férias da facul, chego na agência para pegar meu cachê e
todo mundo sabia do que eu ainda não sabia: Regina estava grávida. Eu fiquei
gelado como da primeira vez na oficina. Fiquei pensando milhões de vezes por
minuto: E agora o que vai ser? Fiquei pensando no que a minha mãe diria em tom
extremado algo como: Mas já tem um com menos de um ano e já arrumou mais um?
Aliás, ela disse isso mesmo quando contei para ela e logo se conformou. Só que daquela vez minha mãe foi
muito mais amena.
Mal sabia que nas semanas
seguintes estaria cometendo a mesma irresponsabilidade pela terceira vez num
tempo recorde. Nas férias daquele ano, fui visitar minha mãe em Sorocaba, e
ainda sem saber da gravidez de Regina, acabei me envolvendo com Ágatha que era
uma garota de quinze anos que mamãe havia trazido morar com ela. Loira, alta de
olhos verdes e sorriso encantador logo fiquei doido por ela. Logo na primeira
semana consegui seduzir ela devido ela estar brigada com seu namorado, saímos
passear no final de semana e entre uma bebida e outra e uma bricadeira e outra
acabamos indo para cama e sem saber engravidei Ágatha que no final das contas
acabou inesperadamente se casando com o namorado como se o filho fosse dele.
No começo nem passou pela
minha cabeça que a filha dela pudesse ser minha filha, mas depois que a criança
nasceu eu percebi que não poderia ser bem assim e sempre essa história gerou
uma remota dúvida. Isso com fundamentos nas ações da minha mãe que sempre
estava auxiliando Ágatha em algo e nunca se desgrudaram desde então. Além do
mais, o pobre coitado do namorado dela, e depois marido, vivia mais longe dela
do que perto trabalhando na roça ou como caminhoneiro. Para mim, era muita coisa para um garoto
pensar, ainda mais com menos de vinte anos sendo pai pela segunda vez, e talvez
até terceira vez, caso o destino tivesse sido um pouco mais justo com as coisas
naquela ocasião. Toquei o barco por anos sem saber que naquela noite tinha sido
eu a engravidar Ágatha e não o namorado dela.
Lembram da coroa enxuta da
agência de modelos? Ela me despediu no ato ao saber da gravidez da Regina.
Aliás despediu ambos. Deu aquele sermão que não podia aceitar aquilo nos entre
os funcionários e toda aquela baboseira moralista. Pagou o que me devia e
desejou-me boa sorte. Assim terminou minha breve carreira de andarilho de
cuecas ou cabide ambulante. O pior não foi isso. Em absoluto. O pior foi ir até
ao apartamento das irmãs gaúchas e ao invés de encontrar Regina, que tinha
voltado pro sul sem avisar nada, o fodástico foi encontrar Beta e levar um
sermão dos mais inesquecíveis da minha vida. Fazer o quê eu merecia.
Fui passar o Natal no Rio
Grande do Sul conhecer a família da mãe do meu próximo filho. Aquele clima
pesado fez com eu e Regina logo nos mandássemos dali. Fomos visitar a minha mãe
daí, que por sua vez ficou furiosa muito menos que eu esperava, além
disso, mamãe se encantou com a Regina e tudo ficou mais ameno. No réveillon, eu
e a bela morena, resolvemos esquecer os problemas e viajar para o Pantanal a
convite do meu pai que residia por lá nessa época. Nem sinal da Karen havia por
lá dessa vez. Talvez se tivesse reencontrado com ela poderíamos conversar sobre
nossas vidas. Nessa época ela estava começando a faculdade de psicologia e
havia se mudado para o Paraná.
Regina e eu ficamos
naquela fazenda que tinha sido o cenário do meu romance com Karen. Aproveitamos
o tempo e colocamos a cabeça em ordem e conversamos muito sobre o futuro. No
fundo estávamos ficando mais amigos do que amantes. Ela era assim como eu, independente
e ambiciosa, e queria logo que tivesse o filho retomar a sua carreira o mais
breve possível e tentar carreira internacional. Eu não fazia nenhuma crítica
quanto a isso nem me opunha aos planos dela. Ao que tudo indicava era que nós,
assim com eu Valéria, não tínhamos um futuro juntos devido a uma série de
planos diversos. Resolvemos que iríamos morar juntos até o bebê nascer e depois
a gente sentava e conversava de novo sobre o que cada um tinha em mente. Foi
uma das coisas mais sábias que fizemos sem que ninguém tivesse influenciado ou
pressionado a fazer isso como havia acontecido anteriormente comigo da primeira
vez que “comi o lanche antes do recreio”.
Alugamos um apartamento
pequeno e bem funcional, arrumamos tudo para a chegada do bebê e ficamos
curtindo a gravidez numa boa sem ter maiores problemas. Regina continuou
fazendo alguns trabalhos durante a gestação posando para revistas de bebês e
isso deixava ela feliz e eu também. O dia que o bebê resolveu nascer nos pegou
de surpresa, pois estávamos no cinema e ela com aquela barriguinha começou a
ficar vermelha e me puxou pela gola do blazer e disse: Tá na hora! Tá na hora!
Naquele momento eu surtei. Logo que chegamos no carro coloquei ela no banco
traseiro e saí como se fosse o Senna na chuva por Sampa até o hospital. Tudo
correu bem. Exceto pelo fato dela ter colocado o nome das avós no baby: Marie
Bernadete. Ela tinha feito promessa e por isso aquela bela garotinha branquinha
de olhos que pareciam duas bolinhas de gude azul homenageava a mãe daquela
linda garotinha. Apesar disso, eu desatei a chorar quando vi aquele bebê lindo.
Pois é, homem também chora. Voltamos para casa e ficamos juntos até “Mazinha”
completar um ano. Após isso, Regina tinha conseguido um contrato para trabalhar
no Rio e levou minha pequena princesa junto com ela. Apesar disso sempre nos
visitávamos.
Nessa época, nem com
dezenove anos completos, tinha passado por tanta coisa que me tornou muito mais
focado em fazer algo acontecer no sentido profissional para dar conta de
sustentar dois filhos. Tudo que tinha passado até então me dava know how para
aguentar pressão de todos os lados e ter forças para seguir adiante a todo
vapor. Foi nessa época que comecei a juntar “felling” para passar dum
estagiário fora do habitual até chegar advogado e depois uma carreira pública
deixada de lado para se tornar empresário. Confesso que passou tão rápido que
me recordo apenas das principais coisas que aconteceram.
No ano seguinte comecei a
estagiar. Os clichês sobre os estagiários são na maioria dos casos pejorativos
ensejando que são além de sujeitos inexperientes no serviço pessoas sem
competência e talento ou vocação pra coisa. Ora, a minha vida de estagiário era
uma maravilha, pois ao que tudo indicava eu tinha nascido fazer acordos.
Fazer acordos era minha
especialidade natural, a minha praia, o meu objetivo. Muito mais que lutar pelo
direito de alguém o lance era resolver os atritos e fazer dinheiro. Não tinha
entrado na faculdade de Direito para ficar decorando leis e princípios que no
Brasil só atendem a quem pode pagar por um bom e caro advogado. Não tinha
ilusão quanto a isso. O que eu queria mesmo era ser chamado de doutor e
encher a conta de grana. O resto não me importava muito.
Eu
chegava todos os dias com o meu terno impecavelmente alinhado no escritório às
oito em ponto depois de tomar café no mercadão municipal. Era um ritual cafona,
sair de casa com toda aquela panca e soberba típica dos advogados mais
arrogantes e ficar fazendo pose o resto dia. Colocava óculos sol, cada dia um
diferente, cada dia da semana um relógio vistoso, e sempre tentava copiar o que
havia de novidades sobre ternos, sapatos e gravatas. Havia um velho alfaiate
turco no Bom Retiro indicado por Tio Pepe que cuidava do meu estilo e dava seus
toques especiais sob medida para mim. Eu adorava aquilo tudo. Desde bico do
sapato até a ponta do cigarro que eu fumava eu planejava cada detalhe para que
eu tivesse uma imagem que se destacasse e vendesse a minha mão de obra. Hoje
chamam isso de marketing pessoal ou coisa que o valha. Para mim isso era estilo
e vender meu peixe com exclusividade.
Como todo
estagiário, eu passava atolado em papéis, lendo processos, redigindo petições e
pareceres e muitas vezes visitando clientes com meu chefe e mentor que era um
baixinho mala que advogava na área criminal. Almoçava
sempre com ele ou com a sócia dele, uma daquelas advogadas classudas que usam
de óculos, magra e esquia na casa dos quarenta, que quase sempre usava saia e
um casaquinho negro com meias calças e sapatos pretos que davam para a mulher
um ar de viúva negra. Para destacar mais ainda, a mulher adorava jóias e usava
desde duma imponente aliança de ouro até espalhafatosos brincos que brilhavam a
cada movimento de cabeça. Além disso, as unhas e batom vermelhos fechavam o
visual da doutora. Era um espetáculo ver a doutora Janete dando seus chiliques
e falando de si mesma na terceira pessoa em certos momentos.
Como eu
tinha trabalhado anteriormente em restaurante eu tinha certo conhecimento de
como planejar reuniões fora do escritório em lugares de alto nível com clientes
cheios do papel numerado. Fosse almoço ou jantar eu agradava desde o grã-fino
mais esnobe até o colarinho branco mais mentiroso que precisavam resolver seus
problemas com a dona justa ou investigações policiais e outras cositas mais como
manter a amante como laranja sem que a esposa descobrisse. Era habitual fazer
isso.
Sempre
voltava com resultados positivos dessas reuniões e com isso ganhava bônus.
Conseguir passar a lábia nesse povo não era fácil. Exigia preparo e ensaio do
que dizer, como dizer e como notar a reação deles. Para isso o meu patrão
sempre me dizia que eu deveria jogar poker num clube que ele mesmo freqüentava.
Ali havia sempre homens dos mais variados estilos, mas todos tinham grana,
fosse produto de roubo ou assalto ou trabalho honesto. Garotas de programas
viviam por ali também faturando alto e conversar com elas e saber como adoçar
elas ajudava a descobrir quem ali estava precisando dum advogado.
Eu ficava
fascinado com a capacidade delas obterem confissões sobre qualquer fato
daqueles caras. As histórias eram quase sempre iguais, mas sempre com algum
detalhe marcante que diferenciava um facínora que tinha roubado uma série de
lojas de carros importados dum dono de fábrica que estava passando os sócios
pra trás. Havia dias em que eu passava na rua com esses escroques ou
empresários encrencados ou até mesmo nas suntuosas casas e apartamentos que
eles gentilmente abriam as portas para recepcionar o salvador da pátria e
patrimônio deles das broncas e confusões, das penhoras e separações. Por isso
que o acordo era a chave do negócio. Fazer um acordo era rápido e evitava
maiores desgastes. Um acordo bem proposto sempre dava fim numa série de
problemas, fosse uma esposa corna puta da vida num divórcio, um sócio com raiva
espumando por ter perdido a empresa para outro sócio, ou com algum traficante
que precisava lavar dinheiro com contadores especializados nisso. Tudo era na
base da lábia e do acordo. Pagou levou, e quanto mais alto o honorário mais
rápido a coisa andava.
Fora esta
rotina havia outra rotina que surgiu no escritório. Essa tinha a ver coma a
assistente pessoal da doutora viúva negra. Era uma japonesa, uma advogada
especializada em direito trabalhista, que tinha além daqueles olhinhos não tão
puxadinhos, um traseiro fenomenal e um par de penas que a cada cruzada de perna
fazia o chefe baixinho ficar de pé atrás da mesa dele para achar um ângulo que
pudesse ver melhor a cena que se repetia diversas vezes ao dia. Ela tinha um
rebolado quase discreto que tirava a concentração de qualquer homem no
escritório. Com o passar do tempo peguei intimidade com ela e passamos a ir
embora juntos, sempre dando uma passadinha em algum evento que ocorria na
cidade para relaxar. Como sempre acontece uma coisa leva a outra e passamos a
viajar juntos para o litoral na casa dos pais dela sempre que havia um final de
semana prolongado que batia com algum feriado. Eram japoneses milionários
com direito a uma lancha. Torrávamos muita grana em festas e baladas das
mais caras. No escritório, quando batia vontade e não tinha mais ninguém por
lá, era ali mesmo que a gente resolvia a nossa demanda com procedimentos do
rito especial do sexo. Era o estágio dos sonhos sem a menor dúvida.
Essa
farra com ela durou cerca de um ano e meio. Logo a bela doutora japa passou
para promotora e foi para o interior seguir carreira pública. Passei o resto do
estágio sem ter mais nenhuma princesa do mundo forense no escritório. A nova
assistente da chefa era um canhão, pior, era competente e competitiva e vivia
querendo se livrar de mim não sei por que. Era como aquelas vilãs de novela que
querem fazer o mal e puxar o tapete de quem não vai com a cara. Porém, um belo
dia ela cometeu um erro numa causa e foi obrigada a pedir a conta. Sem a japa
para animar o meu dia-a-dia no escritório o jeito era encontrar alguém que me
fizesse feliz novamente e me tirasse daquele tempo de vacas magras.
Certa
manhã de inverno que estava um frio do cão e chovendo eu tive que ir ao banco
sacar uma grana para pagar o aluguel do meu cafofo. Eu já estava me engraçando
sem fazer muito sucesso ao ter puxado papo com uma loira na fila contanto uma
piadinha sobre loira burra que deixou ela meio indignada. Por azar ou sorte,
justamente na hora que estava na fila prestes a sacar meu cheque e ela prestes
a me dar um fora o banco foi assaltado. Quando os assaltantes deram o bote ela
nem completou a frase do fora. Foi bem rápida a ação da quadrilha e ninguém
ficou machucado, mas todos no banco ficaram nervosos. Quando tudo voltou ao
normal a loira com quem eu estava quase levando o toco estava ainda
tremendamente assustada. Tadinha. Fiquei consolando ela como bom moço e cheio
de cuidados e convidei-a para tomar um café. Ela topou se acalmou e deve ter
sido isso que mudou o juízo dela sobre mim. Para minha sorte comecei a namorar
com ela logo depois.
Concidência
do destino ou não, assim como a japonesa seu nome era Débora, mas esta, a
loira, cursava engenharia civil, ela não era nenhuma top model, pelo contrário,
ela era alta, mas meio gordinha e tinha uma voz ardida e gênio difícil. Todavia
eu simpatizava com alguma coisa nela. Ela parecia uma alemã típica de olhos
claros, pela clara, boa de garfo, sotaque do interior de Minas e o melhor: Era
um vulcão na cama. Fiquei de namorico com ela até me formar. Depois disso,
ela conseguiu um emprego numa empresa em outro estado e se mandou.
Já eu
continuava em Sampa mais uma vez sozinho e dessa vez desempregado logo depois
término da faculdade. Mesmo tendo passado em algum concurso não fora chamado
pelos seis meses seguintes. Nem pra delegado, nem pra oficial de justiça, nem
pra passar toga de desembargador. Foi aí que resolvi me inscrever para fazer
cursos de intercambio numa universidade do EUA ou até fazer pós na Europa ou
arrumar algum mestrado por ali mesmo em São Paulo. Mais faltava cash pra bancar
isso e acabei entrando em economia devido estar começando a me envolver com
negócios financeiros e gostava daquilo tudo de mercado de ações e empresas.
Enquanto
isso ainda fiz um curso de corretor de ações e fui trabalhar numa corretora
para aprender os macetes do mercado. Fiquei pouquíssimo tempo nisso. Daí pra
frente a coisa decolou. Logo que surgiu uma oportunidade de levantar uma grana
numa venda dum carro velho que tinha e depois dum imóvel da minha mãe eu
consegui alçar vôo. Propus a ela que o que conseguisse além do valor de mercado
do imóvel dela ficaria para mim como comissão. Ela topou e fechei um baita
negócio e recebi uma grana que dava pra me livrar daquele carro velho enfiei
quase tudo em ações e num terreno que vendia para comprar outro e outro e assim
a coisa girava. Passava operando day trade todos os dias ou fazendo outros
negócios imobiliários junto com Tio Pepe que era meu mentor nos negócios. Meses
depois tinha dado retorno e faturado alto. Juntei uma grana que já dava para
comprar um carro novo e um apartamento pequeno e fazer mais dúzias de outros
negócios. Logo depois disso tive oportunidade de fazer intercambio no EUA numa
faculdade de Direito. Passei três temporadas curtas de um a dois meses por lá em
cursos de verão, e nessa fase Regina a meu convite resolveu ir junto comigo
para o EUA tentar alguma coisa na carreira dela. Ela ficou por lá anos enquanto
eu ia e voltava sempre fazendo pequenos cursos de intercambio em outras
universidades. Aprendi e conheci muitas pessoas novas por lá, mas uma história
tem sabor todo especial nesse quesito.
Qualquer pessoa que mora
longe da família e é obrigado a se virar por conta própria valoriza muito mais
aquilo que consegue. Ao meu ver isso é uma lei básica da vida. Essa coisa do
“realize seus sonhos” e “faça você mesmo” é muito valorizada no EUA. No Brasil
parece que a ótica é diferente e o mandamento sacrossanto é “sobreviva como
puder”.
A primeira pergunta que a
professora fez para turma que eu frequentava não foi: “Qual é a sua meta?” ou
“Quais seus planos para depois que sair daqui?” a pergunta foi pura e
simplesmente: “Qual é o seu sonho?”
Pensando bem muitas
pessoas deixam de sonhar a certa altura do caminho devido aos perrengues que
passam. A grande sacada que a teacher tentou nos ensinar durante as
aulas foi sobre como ser uma pessoa empreendedora sempre, seja num dia de
sol ou de chuva, seja na pindaíba ou mesmo que já tenha sucesso. O princípio
básico era muito simples: Sempre pense como uma criança que se sente no centro
do universo. Isso não significa ser, infantil ou imaturo; boboca ou viver no
mundo da lua. Isso significa ter sempre nutrida a capacidade de manter-se
criando coisas e fazendo coisas novas através de si mesmo, pois todos os sonhos
duma criança sempre dizem respeito a si mesmas e ninguém mais. Eu achava a
teoria fantástica e na prática por mais complicada que fosse aplicar isso na
realidade dura e cheia de limites, a coisa funcionava desde as pequenas coisas
até as grandes coisas.
Prova disso era conquistar
garotas. Isso mesmo. Conquistar a mulherada fazia parte dessa filosofia. Se
você quer aquela garota bonita ou qualquer outra do seu interesse, aquela que
todos querem e julgam impossível chegar nela sem levar um fora, você tem que acreditar
na única chance de conquistar ela? Pelo contrário. Você tem que criar a chance
de como fazer aquela garota se render aos seus encantos. Essa teoria servia
para qualquer coisa, negócios, arrumar um emprego, etc. As pessoas fracassam
porque não criam estratégias. A professora sempre repetia: Tudo é sedução.
Criar meios de seduzir as pessoas e fazer com que elas colaborem com seus
planos é concretizar certos sonhos.
Na prática isso funcionou
quando fiquei deslumbrado por uma garota do campus. Uma daquelas americanas bem
tradicionais em tudo. Desde ser republicana até freqüentar a igreja todos os
domingos e fazer serviços voluntários com se fosse salvar o planeta de alguma
catástrofe. A garota era um poço de beleza na mesma medida que tinha aquele jeitão
esnobe insuportável que para agradar ela, você deveria ser alguma entidade
genial do tipo o Gandhi, Mandela, Luther King, ou seja lá quem for desse nível.
Para ela existia um cara perfeito no mundo e cara certinho, o qual ela tinha
idealizado, o qual precisava se encaixar na vasta lista de exigências dela para
que ela cogitasse em lhe dirigir a palavra ou aceitar um convite para tomar um
sundae. Eu definitivamente não me encaixava na lista.
Das duas primeiras vezes
que tentei me engaçar com a moça na primeira ela sequer me deu o fora, foi
apenas desprezo puro, sem nenhuma palavra de repúdio Apenas virou as costas e
seguiu seu destino. Na segunda ela disse que era para nunca mais dirigir a
palavra para ela. Trocando em miúdos eu não era o sujeito ideal nem que vaca
tussa.
Mesmo assim eu era
insistente, quando ela passava do meu lado eu a cumprimentava e ela só olhava
ou fazia uma cara de desdém ou passava reto como se eu fosse mera parte da
paisagem. Só que as coisas mudam. As coisas mudam quando bolamos um meio para
que elas mudem. Pois bem, é aí que entra o cara que ela começou a namorar. O
camarada era jogador de golfe da universidade e eu treinava junto com ele todos
os dias. Esse era o típico cara certinho em tudo. Certo dia ela apareceu por lá
visitar o namoradinho dela que era um sujeito gente boa, boa pinta, filho dum
milionário e assim como ela, era um bom moço da igreja metodista que sempre vai
aos cultos e ajuda os mais necessitados e faz tudo sempre corretamente. O nome
dele era Todd.
Resolvi me tornar o melhor
amigo de infância do Todd e consegui. Ao me tornar amigão dele logo ele passou
a me convidar para sair com a turma dele que incluía a bela esnobe Ellen. Sem
dúvida ela tentou sabotar a amizade que ele tinha comigo por não ir nem um pouco
com a minha cara. Só que tinha um detalhe. Eu jogava melhor do que ele, e
ajudava ele melhorar a técnica dele no jogo e como o pai dele era fanático por
golfe isso ajudou a conquistar o pai dele também quando ele veio nos visitar.
Na época dum feriado o Todd cometeu um erro fatal. Ele resolveu me convidar
para ir com ele para a casa dos pais dele, devido o pai ter sugerido um jogo
beneficente e gostaria da minha humilde presença por lá. Isso deixou a namorada
dele furiosa porque ele sequer cogitou de convidar ela. Lá fomos nós. Depois
dum final de semana de muito golfe e muita comida boa e muitas garotas nos
paparicando o Todd confidenciou que era mais fácil transar com qualquer
uma daquelas garotas do que com a Ellen que não deixava passar a mão, que quando
os amassos ficavam mais empolgantes mandava parar e coisas do tipo. Ela queria
casar vigem como mandava o figurino. Traduzindo cara estava vivendo a castidade
imposta pela megera. Ou melhor, ele estava doido sem poder ver pé de mesa,
explodindo testosterona para pegar ela e a coisa só rolava se casassem.
Na volta ao campus Ellen
parecia mais indignada depois que Todd contou sobre o final de semana repleto
de diversões. Foi aí que ela pressionou o Todd a deixar de ser meu amigo por eu
não ser “boa companhia” e deu um ultimato para ele. Sabe-se lá porque a garota
tinha ódio mortal de mim. Logo que ele me contou isso eu disse que ela estava
atrasando a vida dele, pois dentre tantas que fariam tudo para ficar com ele
porque raios ele estava com a que queria mandar nele? A conversa fiada pegou.
Mostrei para ele quantas garotas paqueravam ele no campus e coloquei na cabeça
que ele estava perdendo tempo em ficar com Ellen, uma única garota, sendo que
ele poderia ter um harém de cheerleaders aos pés dele. Ele mesmo acabou
terminando com ela no ato um dia depois dando razão aos meus argumentos. Isso
sem dúvida deixou a garota mais pau da vida com tudo. Se já era azeda ficou
mais.
Todd começou a levar uma
vida de playboy desregrada. Não tinha mais hora pra nada. Perdia aula, perdia
treino, mas não perdia a oportunidade de transar com qualquer uma. Às vezes me
ligava bêbado para buscar ele em algum motel ou casa de alguma sirigaita de tão
travado que estava.
Numa noite Ellen resolveu
ir visitar Todd no alojamento dele pensando em passar um sermão nele e fazê-lo
e largar daquela vida de fornicação e voltar a ser um bom moço que freqüenta a
igreja. Chegando no alojamento ele atendeu ela com um lençol na cintura e todo
arranhado e chapado. Ellen mesmo assim tentou passar um sermão. Todd não estava
nem aí e no final das contas foi ele quem esculhambou com a pobre coitada
dizendo que ela era uma virgem chata e mandou ela sumir dali porque estava com
uma das amigas dela na cama. A garota saiu de lá chorando e humilhada.
Ocorre que ela era
vingativa. Na saída ela pegou o bag de tacos do jipe do Todd e macetou a porta
do jipe sem dó nem piedade. Entretanto, a vingança dela não estava completa.
Ela tinha que se vingar de mim e foi atrás da minha pessoa no campo de golfe.
Estava chovendo e eu estava treinando mesmo assim. Para manter o alto nível do
meu jogo e a bolsa de intercâmbio para mais um semestre eu precisava mostrar
serviço. De repente avisto um vulto vindo na minha direção pisando duro, e
quando ela se aproximou percebi que era ela pelo perfume dela que não me saia
da cabeça desde que a tinha visto. Ela enfiou o seu dedinho no meu rosto e
ficou falando que eu era isso e aquilo e que tinha levado o Todd para aquela
vida. Eu achei engraçado, fiquei ouvindo tudo o que ela tinha para me dizer.
Quando ela me terminou e resolvi contra-atacar.
Comecei a dizer pra ela
que ela deveria me agradecer e não me xingar. Disse que o Todd sempre foi
sacana e ela que não tinha percebido isso. Disse com todas as letras que ela
era corna desde o começo e nunca se tocou. Mencionei ainda que havia dito para ele
terminar com ela porque iria fazer ela sofrer e ele num momento de lucidez fez
isso mesmo aproveitando a oportunidade que ela mesma tinha criado. Tudo que
disse eram mentiras das mais deslavadas, mas ela ficou perplexa e ficou se
perguntando como ela tinha escolhido o cara mais falso do mundo sem ter notado
nada. Para minha sorte a história colou porque Todd realmente estava com uma
amiga dela naquele dia.
Parece que isso amoleceu
ela e passou fazer Ellen ter uma espécie de certa admiração por mim. Ela até me
perguntou: Quer dizer que você fez isso para me proteger? Eu apenas balancei a
cabeça dizendo que sim. Nessa hora ela ficou mais perplexa e até se desculpou
por ter me tratado tão mal desde o começo quando me conheceu. Depois disso, ela
se despediu e saiu dali do campo acabada emocionalmente. Fui encontrar
ela no estacionamento com a cara no volante pensando na vida. Bati no vidro do
carro e perguntei se ela estava bem. Ela limpou as lágrimas e disse que estava
tudo bem. Daí ela ficou me encarado e disse: Nossa você está tão vermelho! Na
verdade eu estava pelando de febre mesmo. Ela como boa mocinha de igreja não me
deixou pegar o ônibus ou ir caminhando, me deu uma carona e disse pra me cuidar
e tomar umas aspirinas.
Faltei os três dias
seguintes no treino e curso devido uma gripe forte. Para minha surpresa quando
estava saindo para treinar de manhã ela passa de carro ao meu lado e estaciona
me oferecendo carona mais uma vez. Fomos até o campo conversando falando do que
aconteceu entre ela e o Todd. Ela dizia uma suposta verdade universal: “Homem
nenhum presta”.
Na certa fiquei jogando
mais conversa fiada na cabecinha dela. Antes de sair ela perguntou se eu tinha
algum compromisso naquele final de semana. Fiquei surpreso com o convite dela.
Na verdade eu tinha muitos compromissos, inclusive uma festa com o Todd, mas
deixei tudo de lado é claro, não poderia desperdiçar o convite daquela garota
que de chata estava até sendo gente fina comigo pela primeira vez na vida.
Topei na hora ir ao cinema com ela ver um filme chato.
Saímos e não rolou nada,
foi parte da estratégia não forçar nada, nem sequer um beijo de despedida. A
garota estava ainda com ranço do ex-namorado pegador e poderia não pegar bem
logo eu o “bom moço” da vez se aproveitar do momento. Isso com certeza aumentou
a confiança dela em mim. Daquele momento em diante ela sempre me cumprimentava
no campus, e passou a me convidar mais vezes para o cinema e até para ir na
igreja com ela. Eu não perdia nenhum convite feito por ela e até retribuía com
outros como ir aos jogos, almoçar ou tomar café depois do horário de estudos ou
aulas. Ela sempre topava também e isso se tornou uma pequena rotina dali por
diante. Creio que durante aquele mês ela estava caidinha por mim, mas mesmo
assim eu não tinha forçado nada, precisava duma ocasião perfeita e ela estava
para acontecer.
Ellen iria para a casa dos
pais naquele final de semana para o casamento do irmão e me convidou-me para ir
com ela visto que não tinha par para entrar na igreja devido toda aquela
ocasião exigir isso. Ela disse: - Olha faça de conta que é meu namorado, mas é
só pra fazer de conta, somos amigos! Aquilo foi a deixa que eu precisava
a meu favor para me declarar para ela com todos os requintes de romantismo
brega e deixar ela mais confiante no meu bom caráter fajuto. De bate pronto
respondi: Poxa, bem que esse teatrinho poderia ser real! Os olhinhos verdes
dela brilharam e aquele largo sorriso dela me fez também crer que poderia ser
real mesmo. Entretanto, ela arrematou: Eu vou pensar nisso! Deu-me um beijo no
rosto e foi embora dizendo para não me atrasar para a viagem que seria no dia
seguinte.
A viagem foi feita de
ônibus, passamos umas três horas lado a lado com direito a ficar de mãos dadas
enquanto ela falava e falava sobre a família, sobre o pai, a mãe e o irmão e os
planos dela para depois da faculdade. Ao chegar naquela típica cidadezinha do
interior do EUA, lá estavam os pais dela a esperar no ponto. Depois disso
seguimos para um grande almoço em família. Todos me tratavam como se já me
conhecessem. Ellen estava adorando tudo aquilo, até porque pelo jeito por lá
era ela tida como uma chata de galochas que dava palpite na vida de todos, mas
dessa vez ela estava leve e sempre sorrindo. Saber desse fato se deve a mãe
dela que veio me confidenciar isso enquanto me servia uma bela fatia de bife. A
coroa ficou alguns minutos ali fazendo aquele interrogatório que todas as mães
fazem aos novos namorados de suas filhas. Para minha sorte a coroa foi com a
minha fachada de santo do pau oco e de falso namorado que nada desabonava a
escolha feita pela filha.
Durante o casamento tudo
correu às mil maravilhas, uma bela festa, um baile no qual dançamos aquelas
músicas lentas juntinhos. Já era noite e fomos para beira duma lagoa no clube
onde a festa estava sendo realizada. Ellen dizia que precisava tirar os sapatos
porque estavam machucando seus pés. Quando ela tirou aquele salto alto aqueles
pezinhos lindos, bem cuidados me deixaram mais atrevido e roubei um longo beijo
dela ali mesmo, aproveitando a ocasião perfeita que tanto precisava. Voltamos
para a festa e dançamos até o final da festa de rosto colado como se fossemos
dois pombinhos.
Na volta para a
universidade a rotina era aula, treino e namoro. Aos finais de semana Ellen
sempre queria sair fotografar alguma paisagem ou filmar alguma coisa visto que
cursava cinema. Eu sempre interpretava algum papel que ela me dava para seus
testes. Ela estava ainda trabalhando num curta que era um documentário
que seria avaliado na próxima prova do curso. Passei a ajudar ela com isso, e
foi esse bendito documentário que seria a chave para nossa primeira vez. O
documentário na avaliação levou nota baixa e ela apareceu no meu apartamento
triste com isso. Nessas horas bater um papo e comer e beber alguma coisa sempre
faz bem. Portanto, foi nessa hora que revelei os meus dotes de ajudante de chef
de cozinha fazendo um belo jantar para nós com direito a muito vinho. O
vinho deixava ela sonolenta e acabou dormindo por lá mesmo no sofá. Na manhã
seguinte lá estava ela acordando no meu sofá e o café já estava pronto
especialmente feito para ela. Ela olhou a mesa, sorriu e disse seriamente: - Eu
quero outra coisa no café! Será que você tem aqui? Eu fiquei decepcionado
achando que o café não tinha agradado ela. Perguntei o que era que ela queria e
ela disse: - Eu quero você seu bobo! Lógico que inglês essa frase soa melhor,
mas escutar isso em inglês sulista ainda por cima é bem melhor sem dúvida.
Depois daquilo não tinha mais nada para fazer a não ser beijar ela longamente e
tirar cada peça de roupa dela com todo carinho e beijar cada pedacinho daquele
corpinho branco dela centímetro por centímetro e passar o resto do dia ali
fazendo amor com ela.
Passei o resto do curso
naquela rotina de aulas, treinos e muito amor, disse para ela filmar nossa
“love story” mas ela nunca fez isso, ficou apenas as fotos juntos para
registrar esse romance inusitado. Na época de voltar para o Brasil sentia mais
vontade de ficar por ali naquela rotina maravilhosa. Como sempre a vida nos
leva para novos lugares e tudo aquilo tinha que acabar para novas coisas
acontecerem tinham que acontecer...
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