Passar
férias em família nunca foi meu forte. Sempre odiava aquelas viagens para o
litoral onde se reuniam alguns parentes insuportáveis e a comida sempre era
churrasco e maionese na maioria dos casos. Retornando ao Brasil resolvi driblar
essa situação que era uma tradição infernal. Peguei meus pequenos Quim e
Mazinha e mamãe e fomos para outra praia, outro lugar, bem longe das tias
chatas e primos que de certa forma viviam aquela vidinha comum de empreguinho
meia sola e todo dinheiro que tinham gastavam no carro do ano e baladas com
patricinhas entediantes, exceto pelos dotes de alguma ou outra na cama. Mesmo
assim aquela vidinha deles me dava enjôo. Quase todos estavam casados, suando
para comprar uma casa mais ou menos, num bairro supostamente legal. Os poucos
lugares que conheciam dava para contar nos dedos duma mão. Gente assim,
convencional e previsível demais, que pensa e age sempre igual, sempre me
entediava.
Vai ver que
é por isso que vilão de novela faz tanto sucesso no Brasil. O cara foge dos
padrões da sociedade castrada e vai atrás daquilo que ele quer custe o que
custar. Acho que também sou assim, mas não sou vilão, sou apenas mais um que
vive fora dos limites impostos em determinados momentos.
Se o
conceito de férias era relaxar, ficar na companhia desse pessoal maçante me
deixaria puto da vida. Ser obrigado a ouvir sobre o carro novo deles, sobre a
vida profissional da esposa mal comida, ou qualquer coisa dessas era pedir para
o tédio me nocautear. Não tinha graça aquela vidinha da casa para o emprego, do
emprego para a casa, comer sempre arroz, feijão e bife e finalizar a noite com
boa noite querida fantasiando com gostosa da secretária. Definitivamente a
minha vida era outra e falar dela para aquele bando de tapados seria só para
causar inveja neles.
Dessa vez eu
queria estar próximo dos meus filhos. Queria conhecer melhor eles de certa
forma. Inclusive junto de nós veio a irmã de Camila que havia se tornado a nova
mãe do Felipe, que era um bebê ainda. O pai dele, aquele mineiro filhinho de
papai egocêntrico, não estava nem aí para o filho, muito menos depois que Camila
falecera, e ele mesmo havia proposto para que a irmã ficasse como responsável
pelo filho deles. A irmã de Camila praticamente havia herdado não apenas o
filho dela, mas os negócios de Camila e tudo mais que havia deixado. Vivia
sempre falando do passado, sobre a irmã e mãe, não virava o disco, mas apesar
disso a companhia dela não era das piores. Afinal, ela sabia cozinhar muito bem
e isso numa casa de praia repleta de crianças esfomeadas o tempo todo era uma
mão na roda.
Pegamos a
pick-up e nos mandamos para duas semanas de playground com as crianças. Eu dava
graças aos céus por não ter uma esposa chata como a dos meus primos que bancava
a dondoca de fachada. Naquele momento eu estava bem melhor sozinho. Mulher
nenhuma me fazia a cabeça, e até hoje, parece que as poucas que fazem ainda
criam problemas. Desde a secretária que faz as vezes de amante e quer se tornar
a número um, até qualquer outra que comece a impor compromissos. No fundo não
tem como escapar desse cerco. Às vezes penso que ficar fiel a uma vida de
cafajestagens, rodeado de mulheres superficiais pode ser uma saída para isso
tudo. Todavia, ao longo do tempo percebe-se que nem uma coisa nem outra
realmente fazem sentido e sempre o que procuramos nas mulheres são as mesmas
coisas. Pensando bem, somente as mulheres que possuem algo que muito prezamos e
desejamos ou que conseguem dominar algo solto dentro de nós são aquelas que se
tornam especiais por unir as duas coisas. Mesmo
assim queria férias duma categoria ou outra dessas mulheres, ao menos por
enquanto queria férias de tudo isso.
Passei as
férias me divertindo com a criançada e numa espécie de retiro da vida de boêmio
e mulherengo habitual. Passei os dias levando eles para conheceram algo fora
daquela realidade urbana e de escolinhas babacas que viviam cotidianamente.
Levei-os para longe da família toda certinha e seus rituais encenados que
muitas vezes escondem insatisfação deles com a vida. Tinha tempo de sobra para
conversar com eles dentro daquilo que fosse possível conversar na idade deles e
saber como eles viviam e estavam. Isso era um modo de ficar mais próximo deles
devido a ter passado tanto tempo ausente. Prezava naquele momento mais a
qualidade do que quantidade dos momentos com eles.
Não entendia
certas coisas que eles me diziam no alto dos oito anos de um e seis ou sete da
outra. Como eu tinha sido criado no interior e sempre frequentado fazendas e
era adepto de fazer trilhas de bicicleta e acampamentos – muitas vezes com os
irmãos Berg e Nelson – isso me dava uma certa nostalgia ao ver aqueles pequenos
criados em apartamentos sem o menor contato com a natureza. Quim estava
gordo de tanto comer uma alimentação balanceada por Elma Chips e produtos
enlatados. Apesar disso era um gênio dos joguinhos de computador e matérias escolares.
Mazinha por ser filha de modelo tinha por hábito tomar iogurte e comer frutas
no café da manhã, odiava café, e até hoje é assim. No entanto, ela era
descolada e com uma tendência a ser mandona, tal como a mãe sabia fazer valer
seus pontos de vista e jeito de ser. Já o Felipe era uma bolinha fofa
naquela época. Era uma criança que estava bem na medida do possível, já que
estava sendo criado por uma mulher gorda, solitária, e hiper protetora, a qual
vivia sem dúvida para aquele garoto. A única coisa que posso falar dele é que
olhando para ele eu lembrava da mãe dele com muita saudade.
Passei duas
semanas com eles, de manhãzinha e ao final da tarde, praia e castelos de areia,
e outras brincadeiras que deixavam a criançada com a corda toda. À noite minha
mãe se encarregava de contar histórias para eles até eles dormirem. Isso me
lembrava da época que eu viajava com minha mãe para fazenda nas férias do meio
de ano. Muitas vezes éramos apenas nós dois, ou alguma outra tia com algum
primo que aparecia. Eu passava o dia inteiro na companhia dos peões da fazenda
andando a cavalo e aprendendo como eles lidavam com gado ou plantação. O mais
divertido era participar das bóias deles, que sempre tinham comida típica
pantaneira e muitos causos engraçados para serem ouvidos repetidas vezes.
Desempacar
mula do brejo, ver bois sendo marcados a ferro e fogo, e pescar no bote eram as
brincadeiras que apareciam naquela época na fazenda. Não tinha nada de
vídeo-game, ou grude com os celulares como é hoje em dia. Tudo ali era viver o
momento numa ligação direta com a natureza e aprender muita coisa diretamente
da realidade do cotidiano daquela gente. Creio que se hoje em dia soltarem um
guri da cidade no meio do mato sem sinal de celular ele se ajoelha e reza para
o Harry Potter salvá-lo das onças ou até mesmo dos sapos, grilos e mosquitos.
Naquele tempo não era assim, os peões até nos ensinavam a caçar e dar
tiros de espingarda em latas, identificar cobras venenosas e a laçar novilhos.
Era tudo muito mais saudável e aprazível. Pena que as crianças crescem e logo
ficam dominadas pela tecnologia e babaquice de filmes e se recusam a ir para
fazenda já faz algum tempo. Nunca tiveram oportunidade de aprender essas coisas
e se divertir com isso. Preferem praia no máximo ou alguma viagem para Disney.
Por falar em
viagem para Disney quando eu tinha uns doze anos, meu pai levou eu, e as filhas
da nova esposa dele para a Disney. Aquilo lá era um porre para mim. As garotas
se achavam as próprias Cinderelas. A única coisa de legal que ocorria era ficar
com uma delas no final do dia no hotel brincando de casinha. Uma delas tinha a
minha idade, a outra era uma tampinha chorona. Confesso que passar a mão boba
naqueles peitinhos recém nascidos da Estela, que era uma gorduchinha
bochechuda, era única coisa digna de contos de fadas ali para mim. O Mickey e o
Pateta que me perdoem, mas férias numa fazenda é muito mais divertido.
Logo que
passaram essas duas semanas de férias, fui obrigado a ir para Sampa, e nomear
Dado como meu substituto e novo sócio na empresa. Não tinha mais como
acompanhar aquilo ficando tanto tempo fora. Mesmo distante conseguia comandar
alguma coisa, mas administrar tudo nos mínimos detalhes era impossível.
Dinheiro não era mais problema, mas viver em função dele estava se tornando um.
Além do mais, queria conhecer coisas novas e o mundo.
Peguei apenas
a grana suficiente para manter-me numa boa e voltei para Europa para mais uma
temporada em Portugal. Não tinha muito no que gastar além de gastos essenciais,
farras e viagens uma vez ou outra para a alguma outra cidade. Em Coimbra
passei a ter mais companhias femininas e fazer novos amigos. A ausência de
Layla dava saudade certas vezes, mas nada que uma rapariga portuguesa não fosse
capaz de saciar em noitadas recheadas de luxúria em bacanais regados a vinho.
Dessa vez,
eu tinha decidido apenas estudar e festejar. Não tinha arrumando nenhum emprego
para manter-me ocupado no resto do dia. Acordava tarde, na maioria das vezes de
ressaca e com algum bilhete na cama de alguma portuguesinha fogosa que prometia
retornar na próxima noite. Às vezes, duas retornavam na mesma noite e havia
barraco no meu lar doce lar que era um sobrado pequeno e antigo num recanto da
cidade. Nessa época eu me recordo de ter levado muitos tapas na cara, ou ser
alvo de garrafas de vinho sendo lançadas contra mim, e até um prato de bacalhau
fora lançado na minha cara. Eu tinha me tornado numa espécie da Casanova às
avessas ou Don Juan universitário da pior reputação.
Não me
vangloriava disso, mas até que gostava de ter uma reputação dessa espécie.
Muitos colegas da universidade me incumbiam como mestre de cerimônias de
festanças com garotas que queriam de alguma forma ou outra levar pra cama. O
meu pequeno sobrado tinha se tornado num ponto reconhecidamente famoso às
sextas feiras para jantares e encontros de amigos e amigas dispostos deixar de
lado seus pudores e cair na farra. Isso deu ao sobrado alcunha de “Quinta da
Sexta”. Era um jocoso e carinhoso apelido para aquele recanto onde os
mais destemidos boêmios universitários daquela época ousavam a frequentar desde
que contribuíssem com bebida e uma taxa de adesão de levar uma bela rapariga
para apresentar ao anfitrião. Nessa época eu estava vivendo aos moldes dum bon vivant
fazendo um estilo barbudo, descarado e
extravagante. Usava sempre uma camisa e óculos de sol e vivia com um charuto na
boca. Aos poucos aquele estilo fora do comum que parecia ser uma típica figura
de canalha brega sem pudores gerava nas portuguesas uma espécie de curiosidade
e elas se sentiam atraídas pela figura inusitada que havia me tornando.
Nesse meio
tempo nenhuma mulher em especial tinha mexido com meu coração vagabundo.
Isso não me incomodava nenhum um pouco, pois mesmo levando algumas bofetadas e sendo
alvo de garrafas e travessas de bacalhau, sempre havia uma outra donzela que
tinha o dom do perdão numa noite de saudades e solidão. Recorriam ao leito
daquele quartinho de sobrado para reparar uma bofetada dada num momento de
fúria. Elas chegavam ali ávidas por paixão e noites de prazer.
Uma dessas
noites merece ser contada. Chovia e já era quase meia noite, e lá estava eu
sozinho arrotando vinho pela casa e lavando algumas roupas, quando bate a porta
Manuelita. Essa era a que havia me atirado a travessa de bacalhau na cara por
um acesso incontrolável de ciúmes sem motivos. Ao atender a porta lá estava
aquela moça de cabelos molhados, olhos grandes e castanhos claros e lábios
grossos com alguma desculpa qualquer para estar ali. Ela entrou, e fui preparar
uma bebida quente, arrumei uma toalha para ela se secar, e logo que dei a
toalha nas mãos dela, ela tirou toda a roupa e se enrolou na toalha. Fiquei
olhando surpreso por ela fazer isso ali mesmo na cozinha e em resposta ela
disse: Pareces que nunca me viu nua! Servi um chá ou café com lágrimas de
contreau – pouco importa a bebida nessas horas - e ficamos conversando até que
ela resolveu pedir para dormir em casa. Eu estava ainda meio surpreso e disse
que dormiria no sofá enquanto ela poderia ficar com meu quarto aí ela
arrematou: Criou bons modos ou está com medo de dormir comigo? – Pergunta a
qual respondi dando um beijo nela e carregando aquela portuguesinha abusada
para o quarto, envolta numa tolha que logo foi tirada dando lugar ao meu peito
cabeludo sobre ela para fazê-la suar e enxugá-la; e fazê-la suar novamente. Foi
uma noite de chuva onde os raios estavam caindo na minha cama com certeza. De
manhã, como sempre, um bilhete no travesseiro informava o paradeiro da
rapariga; e esse foi o mais memorável de todos: “Querido, agradeço-te pela
noite maravilhosa, foi minha despedida de solteira, me caso mês que vem.
Adeus”. Foi assim, direito e sem maiores rapapés que tudo se resolveu depois
que ela havia jogado em mim uma travessa de bacalhau e passado semanas me
evitando nos corredores da universidade.
Semanas
depois, resolvi ir para Madri, tinha marcado encontro com um amigo brasileiro
que estaria por lá e foi em Madri que conheci a uma mulher que iria reascender
em mim a brasa do amor. Numa noite quente madrilhena eu e meu comparsa fomos
beber num desses barzinhos típicos espanhóis onde se toca flamenco. A clientela
com ares de pessoas intelectuais e cheio de jornalistas locais fazia daquele
bar um point badalado e ótimo para flertar com alguma espanhola desavisada.
No entanto,
foi a garçonete Elena quem me deixou seduzido naquela noite com seus cabelos
cacheados negros, pela alva e olhos azuis. Era uma gata borralheira no meio
daquela espanholada de nariz empinado. Fiquei horas flertando com ela e ela correspondia
fazendo questão de vir sempre à mesa que estávamos. A cada vinda escrevia um
bilhete para ela no guardanapo e ela a cada nova “cerveza” que nos servia
trazia também a resposta do bilhete anterior. Acabei despachando o meu camarada
e fiquei esperando ela encerrar seu expediente. Já estava quase amanhecendo e
fomos caminhando até a casa dela conversando e nos conhecendo melhor. Ela disse
que estava cansada e se poderia aparecer no bar naquele final de semana para
repetirmos o trajeto. O combinado foi seguido à risca. Passamos o final de
semana naquele ritual de caminho para casa dela, mas foi somente na
segunda-feira, folga dela, que passamos mais tempo juntos com direito a não
apenas um beijo de despedida. Ela abriu as portas de sua casa e seus braços
para mim. Fiquei em Madri durante aquela semana toda conhecendo cada pedacinho
do corpinho dela e deixando o Museu do Prado e outros pontos turísticos para
outra oportunidade. Meu colega se deu bem também. Caiu nas graças duma aeromoça
espanhola e apareceu só para se despedir de mim. Depois disso segui para
Barcelona, e embora tenha convidado Elena para fugir comigo não foi dessa vez
que ela topou. Mesmo assim mantivemos contato.
Chegando em
Barcelona me encantei com a cidade e sua arquitetura e paisagens, fiquei mais
uma semana por ali a ponto de ver aquela equipe que havia sido campeã européia
desfilar aquele futebol de que desaprenderam a jogar no Brasil. Sentia falta da
madrilhena de olhos azuis, porém, queria conhecer o resto da Europa aproveitando
a grana no bolso. Rumei de barco para o sul da França, passei alguns dias em
Marselha, depois Sardenha e depois Roma ver o Papa e toda aquela coisa típica
de turista que aparece por lá. Passei essas semanas comendo pratos maravilhosos
e tomando vinhos que faziam o meu paladar ter orgasmos múltiplos. Já fazia mais
de um mês que estava viajando sem parar e conhecendo lugares que através dum
guia turístico não teriam o mesmo sabor de liberdade e aventura.
Gostava de
conhecer o dia a dia das cidades, em restaurantes ou cafeterias comuns que
apresentavam o sabor local de cada lugar, desde uma “fromage” com “vin”
até aquela “pasta suta” com molhos que raramente se encontra em outro lugar do
mundo. Como já tinha comido muito na França e rezado com o Papa num domingo
qualquer e amado em Madri o meu “Comer, Rezar e Amar” estava cumprido em grande
estilo. Decidi pegar o frio suíço e lá depois de ter amado aquela linda
espanhola não resisti aos encantos duma loirinha de Genebra que conheci numa
dessas chocolaterias que naquela época do ano era o ponto predileto de qualquer
suíço ou turista. Canecas e canecas de chocolate quente depois percebi que
Agnes, uma suíça não tão bonita, mas mui simpática, magra e alta que era
professora de inglês me daria mais que o prazer da companhia dela numa
mesa. Estava cada mais empolgado com o jeito das mulheres européias que quando
queriam algo não faziam jogos e nem demoravam muito em decidir em partir logo
para os lençóis.
Na casa de
Agnes, numa tarde de nevasca fazer amor na frente duma lareira parecia clichê
de filme do James Bond, mas por lá segundo ela era algo que os casais fazem a
cada inverno. Conheci assim os costumes suíços tanto da mesa como da cama, e
sem dúvida isso me deixava empolgado e extasiado. Estava vivendo uma aventura
após a outra e como disse o velho aventureiro japonês mais uma vez: Melhor uma
vida curta e cheia de aventuras do que uma longa e entediante. Logo, minha
estadia na Suíça seria interrompida para aceitar um convite dum amigo da
faculdade que estava indo para Colônia na Alemanha tentar uma vaga de professor
por lá. Resolvemos nos encontrar num final de semana em Paris planejando uma
grande farra parisiense regada a vinho, queijo e mulheres. No final das contas,
os planos foram por água abaixo, ou melhor, neve abaixo. Nevava muito naquela
ocasião e os trens estavam com dificuldade de se locomover. Isso me fez rumar
da Suíça direto para a Alemanha indo direto para Colônia na companhia de Agnes
que também tinha certo ímpeto aventureiro e economias para gastar. Na verdade
ela estava “me usando” para esquecer do ex-noivo, que tinha largado ela sem o
menor pretexto.
Colônia era
fabulosa mesmo coberta de neve. A cidade com seu estilo gótico misturado com
construções modernas fez com que eu Agnes passássemos o Natal por lá mesmo
tomando muita cerveja de trigo e comendo os quitutes da culinária alemã que até
então eram novidade para mim. Se a neve não dava trégua nada melhor que passar
horas debaixo do cobertor queimando calorias dos strudels de maçã que haviam
fisgado o meu paladar. Enquanto, isso o meu colega tinha seu leito de hotel
aquecido por uma imigrante turca. Toda manhã se dizia arrependido de trair a
namorada, mas toda noite se esquecia disso. Quando a neve deu uma trégua, logo
após no Natal, nossos planos eram passar o ano novo em Copenhagen com direito a
uma passagem por Berlim. Dessa vez Agnes não veio conosco devido problemas de
saúde do pai. Assim ela retornou para casa e eu e Michel, que era
franco-português, seguimos nosso destino para Berlim que não tinha muito o que
fazer por lá nesses dias. Passamos uma tarde e uma noite, e seguimos para
Copenhagen terra da namorada corna dele.
De lá eu
pretendia ir para Londres e depois finalmente voltar para casa, ou talvez quem
sabe, retornar para Madri se sentisse que Elena queria me rever. Apesar da
companhia de Agnes, era Elena que tinha mexido com a minha cabeça. Só que
devido alguns cálculos errados e muitos gastos fora do previsto como noitadas
de bebedeiras iriam me fazer tomar um rumo totalmente diferente.
Em
Copenhaguen entre uma aquavit e outra descobri que faltaria grana para voltar
embora. Fiquei temeroso com isso, mas não por muito tempo. Depois do réveillon
descobri que um navio cargueiro britânico precisava de tripulantes, dentre as
vagas oferecidas estava a de ajudante de cozinha. Como já tinha trabalhado em
restaurante na época de faculdade na mesma função, aquele anúncio caia como uma
luva tendo em vista necessidade presente naquele momento. Não pensei duas vezes
e fui contrato logo que disse tinha certa experiência naquilo. A única pergunta
adicional mais relevante sem ser sobre nacionalidade e documentos era se sabia
nadar. Bom, eu sempre nadei muito bem modéstia a parte, mas não estava nem um
pouco disposto a ter que nadar no Mar Báltico em pleno inverno caso houvesse um
naufrágio.
Ao chegar no
meu quarto no navio, descobri que dividiria o lugar com um italiano falastrão
chamado Paolo Vincenzo. Era um sujeito que cultivava um bigode naquela ocasião
digno de Nietzsche, e tinha sempre um cigarrinho na boca e um sorriso de gaiato
na cara o tempo todo. Raramente ele ficava sem aquele cigarro na boca, creio
que até dormindo o cigarro estava sendo tragado. Outros hábitos peculiares se
destacavam em sua figura loira e calva e de costeletas longas. Ele tinha o
hábito de no almoço e jantar tomar um cálice de vinho, religiosamente, e fazia
o sinal da cruz, uma breve oração e depois disso passava a falar mal de usa
ex-esposa para todos no refeitório. Ficava falando que a mulher era uma
“impiastra” que tinha traído ele com um padre ordinário que não honrava a
batina. Apesar de ser católico e devoto de San Genaro todos os dias rezava para
que ambos ardessem no inferno após o juízo final. Fora isso, a única coisa que
o irritava era se alguém escondesse a garrafa de vinho dele.
Num dia de
forte chuva o navio partiu para Klaipeda, um porto na Lituânia, com uma breve
parada na Polônia que deu tempo para um jantar apenas e testemunhar uma briga
numa quermesse local. A rota da embarcação era basicamente ancorar e despachar
cargas inglesas na Escandinávia e carregar produtos escandinavos e russos para
a Grã Bretanha. Em Klaipeda o carregamento era nada mais nada menos que caviar,
vodca e casacos de inverno. Ao ancorar naquele porto logo tivemos oportunidade
de experimentar numa breve folga em terra não só o caviar e vodca, mas também
desfrutamos da companhia das belas as prostitutas lituanas e polonesas do
porto. Na verdade, eu fui abordado por uma jovem puta ucraniana que se
chamava Cristina Oryenko, até mandei uns postais de Estocolmo e Liverpool para
ela depois agradecendo a gentileza de não ter cobrado pelo serviço. Em
Estocolmo, depois de atravessar a costa finlandesa fria e repleta de causos de
marinheiros sobre fantasmas do mar e sereias assassinas o sol voltou a dar o ar
da graça. Em terra mais uma vez o passeio foi bem longe dos bares, restaurantes
e prostíbulos portuários. Conheci Solna uma espécie subúrbio requintando de
Estocolmo. Passamos algumas horas bebendo, comendo, e dormindo dignamente num
hotel que já era conhecido de toda tripulação e famoso por receber os velhos
lobos marítimos.
De volta ao
mar, seguimos para Oslo e Bergen na Noruega carregar bacalhau enlatado e outras
iguarias norueguesas. Lá mais uma vez era hora de gastar um pouco do salário
semanal com alguma deusa nórdica da vida. Dessa vez a conta foi cara, e a
garota de programa era uma striper daquelas de fazer um homem bem casado largar
a família. Aquela loira de 1.80, e olhos verdes e lingirie e batom
vermelhos parecia uma diaba no palco, fiquei colocando notas na calcinha dela
até o momento que ela me convidou para pagar uma bebida para ela. Ela tentava
me deixar embriagado logicamente, mas é aí que entra a velha malandragem
brasileira.. Foi ela que ficou num porre e fomos para o quarto. Creio que fiz
muito turismo na Noruega logo que ela se despiu e aquele baita bumbum branco,
que parecia uma montanha em cima da cama pedia para ser escalado. Os seios dela
era enormes também, as coxas eram roliças, a boca e língua dela era bem grandes
também e ela adorava usar aquela boca e língua nas preliminares. Serviço
completo à moda norueguesa. Fiz todos os tipos de sacanagem com aquela
norueguesa bêbada e posso afirmar “o que é que a norueguesa tem”. A
julgar pelo calor vulcânico daquela mulher a Noruega pode ser considerado um
país tropical sem a menor dúvida.
Dali pra
frente seria só água e vento gelado e dias a fio dentro da cozinha daquele
navio que apesar de britânico tinha grego, italiano, indiano, africano, e até
um mexicano que era o chef de cozinha. A rotina da cozinha era basicamente a
mesma o tempo todo: Tomar tequila do nosso companheiro “lacucaracha” para
espantar o frio e fazer muito macarrão com ovos e peixes grelhados. A comida
não era a melhor do mundo, mas tratando-se de navio inglês era sem melhor que a
comida nativa britânica.
Navegando
pelo Mar do Norte os dias eram mais tranquilos, passávamos as horas depois do
expediente jogando baralho e conversando sobre planos e contando coisas sobre
de onde viemos. Paolo que já era macaco velho naquela vida de marinheiro tinha
percorrido o mundo a bordo de navios daquele tipo. Tinha mil e um histórias
para contar e dizia que gostaria de se mudar para a Austrália e comprar um
navio pesqueiro. Só que o destino dele no final das contas foi se casar com uma
argentina e morar metade do ano em Nápoles e a outra metade em Buenos Aires
logo se aposentou. Fiquei muito amigo dele a ponto dele ter nos arrumado
vaga em outro navio assim que chegamos a Liverpool enquanto “Lady Madona”
ficava em manutenção no cais.
Antes disso
ainda passamos pela costa escocesa com direito a passar uma tarde num típico
bar escocês tomando o melhor dos whiskeys do mundo direito no balcão. Dizia o
dono do bar que o segredo daquele whisky seria nada mais que as águas
abençoadas das montanhas escocesas e os barris que eram guardados em velhas
destilarias de pequeno porte ao redor daquela cidade. Depois daquele breve
parada fomos para a Irlanda continuar a rota de entregas dessa vez. Em Dublin
passamos um final de semana devido ao mau tempo típico da região. Dois dias ali
a base de muita cerveja e paquerando aquelas ruivas sardentas que pareciam
brotar em cada canteiro de jardim ao longo da cidade. Paolo ficou entusiasmado
com uma senhora que conheceu na paróquia local, passou a missa toda flertando
com “bella donna” no final do culto quase se atreveu a ir conversar com a
mulher, mas não arriscou-se tanto ao ponto de concretizar isso. Quando a
capitania dos portos liberou a navegação seguimos para o destino final: A terra
dos Beatles.
Em Liverpool
depois de termos recebido o pagamento e dormido longas horas estávamos prontos
para mais uma noitada. Ficamos à toa de bar em bar pela cidade conhecendo o
lugar e jogando conversa fora sem novas conquistas que pudessem nos trazer
prazer e algum calor humano. Como a grana ainda não era totalmente segura para
chegar até Londres e pegar um vôo para o Brasil o jeito foi se arriscar em mais
uma empreitada marítima. Alguns dias depois Paolo já havia arrumado vagas num
navio croata que estava de retorno para sua terra. Dessa vez iríamos num navio
maior e mais potente carregado de conteiners. A primeira parada seria Hamburgo
e depois Roterdam, depois disso seguiria a todo vapor para a penúltima parada,
que era no sul da Itália onde Paolo iria desembarcar e eu também a convite dele
para conhecer a bela Campânia.
Nesse navio
a história era diferente. A maioria da tripulação era de croatas e compreender
o que eles diziam era uma tarefa indigesta. Apesar disso todos eram muito
amistosos e falar de mulher e futebol quase sempre fazia com que todos se
entendessem numa boa num inglês meia boca. Chegando em Hamburgo tivemos uma
indigesta recepção das autoridades portuárias germânicas. O navio estava sob
suspeita de tráfico de pessoas, mas o incidente era fundado tão somente na
suspeita da polícia alemã a cada navio que ali atracava. Logo que passamos por
uma vistoria tudo estava normal novamente. Em Roterdam a coisa foi mais
simples, tivemos um tempo razoável em terra para conhecer um pouco da cidade
que é magnífica. Viramos a noite numa cervejaria como era costume e ali ficamos
até o sol raiar cantando com o receptivo povo holandês que fica amigo de
qualquer um que beba tanta cerveja quanto eles. As poucas garotas que
encontramos eram mais recatadas do que as de outros cantos e recantos. Mesmo
passando em branco pelos leitos da Holanda a estadia foi boa e
inesquecível.
Ao chegar no
navio tivemos a péssima noticia que um dos tripulantes tinha sofrido um ataque
cardíaco. Não tínhamos tempo a perder para fazer uma visita ao sujeito e num
piscar de olhos seguimos a viagem sempre lembrando desse ingrato assunto. Por
fim, depois de dias conhecendo a costa da Bélgica e França apenas do convés do
navio tivemos oportunidade de estacionar próximo à cidade do Porto numa pausa
devido ao mal tempo. Até pensei em abandonar o navio nessa ocasião por me sentir
de certa forma em casa estando em solo português. Mudei mais uma vez de idéia
quando vi que o dinheiro não bastava para ficar ali e seguir até Madri para
rever Elena que pelas notícias que recebia queria me reencontrar também. Em
terra, fui encarregado de ser o tradutor oficial do grupo de marinheiros num
jantar onde mais se ouvia trovões do que fado. Na manhã seguinte estávamos
todos a bordo e só iríamos ter um pequeno adiamento no trajeto em Vigo mais uma
vez devido ao tempo perigoso em alto mar. Naquela ocasião eu pensei em convidar
Elena para ir até lá, mas sem tempo hábil para termos um encontro desisti logo
da idéia.
Depois disso
seguimos sem maiores problemas pelo Mediterrâneo de águas calmas e ventos mais
amenos e temperatura mais branda. Chegando na costa italiana Paolo estava feliz
em retornar para casa. Ao desembarcarmos pegamos um garrafa de champanhe e
quebramos no casco do navio em sinal de agradecimento a chegar em casa sãos e
salvos. Depois disso seguimos para casa do pai de Paolo que nos recebeu com uma
bela mesa cheia de comida. Apesar de serem pessoas extremamente simples eram
anfitriões maravilhoso com todo aquele jeito caloroso do sul da Itália. A irmã
de Paolo era uma solteirona meio amarga embora não deixasse transparecer isso
muito. Quando o irmão lhe deu alguns presentes trazidos foi uma das poucas
vezes que a vi sorrir e falar sem um tom duro. Passei horas conversando com o
pai de Paolo, o qual adorava política e queria saber como era a vida no Brasil
e detalhes sobre escritores brasileiros como Érico Veríssimo e Clarisse
Lispector. Ele tinha alguns livros como Capitão Rodrigo na sua estante cheia de
enciclopédias e fotos de antepassados. Dizia que alguns deles foram ou eram
membros da Camorra.
Como
estávamos perto de Nápoles passamos um final de semana ao sabor de pizzas
margheritas e instalados num bordel, diria que até luxuoso para os padrões dos
prostíbulos que tínhamos frequentado antes. Tiramos o atraso em grande estilo e
ao final da tarde o tomando sempre uma ou duas garrafas de Campari na beira da
praia no capô dum Alfa Romeo daqueles antigos fazíamos de conta que éramos os
donos de Nápoles. Mesmo ali na praia enchendo a cara estávamos acompanhados
daquelas damas de companhia que estavam sendo bancadas por um outro cliente de
longa data do estabelecimento: o pai de Paolo, que toda vez que o filho chegava
de viagem fazia daquilo um ritual entre pai e filho. As belas ragazzas
napolitanas nos presentearam com toda sorte de mimos dados apenas a clientes
vips naquela ocasião, desde danças eróticas a strips privês. Infelizmente isso
foi uma das últimas vezes que o velho pai de Paolo já no alto dos seus oitenta
anos faria aquilo. Alguns anos depois falecera sem realizar um sonho que tinha
me confidenciado. Conhecer o Rio Grande do Sul terra do seu livro brasileiro
predileto: Um certo capitão Rodrigo.
Depois disso
embarquei para Madri com grana suficiente para passar quase um mês de romance
com a bela espanhola e voltar para casa sem um tostão no bolso. Fizemos planos
para ela vir me visitar no Brasil assim que terminasse seu curso na faculdade
de jornalismo.
Nas folgas
de final de semana jogava um pouco de golfe para relaxar ou viajava com alguma
sirigaita pistoleira interessada na maioria das vezes arrumar um marido rico.
Apesar disso as golpistas faziam de tudo na cama na esperança de se tornarem
uma dondoca rica. A rotina de trabalho duro continuou mesmo com a vinda
de Elena para o Brasil.
Assim que
ela chegou noivamos e marcamos o casório para o ano seguinte. Deixei as
sirigaitas de lado e passei a viver quase exclusivamente da casa para o trabalho
e vice-versa. Entretanto, por ela ser estrangeira num país com cultura
muito diversa e por passar mais tempo solitária devido um noivo com a cabeça
mergulhada nos negócios seis meses depois ela deu no pé e voltou para a Espanha
rompendo tudo. Passamos bons momentos juntos, viajamos para Buenos Aires e
Punta Del Este que são lugares que sempre gosto de visitar, tentamos manter
aceso o amor apesar da rotina voltada para o trabalho, mas o temperamento
leonino dela não ajudava muito, e quando as discussões começaram a ficar
freqüentes não tinha outra saída; ou eu optava por ceder e dar o tempo que não
tinha ou ela faria as malas. Paguei o preço de perder ela em troca de sucesso
nos negócios. Tema que em muitos filmes é repetido com finais felizes quando o
cara larga tudo pela mulher amada ou ela a família quatrocentona e os pombinhos
vivem felizes para sempre o resto da vida. Isso acontece nos filmes, na vida
real a história é bem diferente: ou você escolhe entre uma mulher que te apóia
e te endente ou fica com uma mulher que transforma a sua vida num inferno.
Resumindo foi o que aconteceu.
Fiquei
infeliz com aquilo até porque estava apaixonado pela bela espanholinha de gênio
forte, mas logo a rotina de trabalhar e viver cercado de sirigaitas
interioranas que vendem até a alma por um marido rico voltou a agenda diária.
Confesso que enchi muito a cara nas primeiras semanas depois que Elena partiu e
até pensei em correr atrás da espanhola. Não fiz isso, engoli os sentimentos e
enfiei a cara no trabalho. Transferi a sede da empresa do interior para São
Paulo, ampliei os negócios, comecei a comprar tudo que aparecia pela frente e
cada vez mais aproveitando a boa fase dos negócios e viajava apenas para fazer
um pit stop no estresse e seguia aquela sanha por dinheiro aos últimos limites
o resto da semana.
Às vezes os
dias que passei com Elena tanto em Madri após aquela aventura marítima ou aqui
mesmo no Brasil me apunhalavam o peito, sentia saudades dela, só que mesmo
assim não dava o braço a torcer nem quando recebia alguma mensagem dela dizendo
sentir o mesmo. Não estava disposto a pagar duas vezes o mesmo preço por um
relacionamento que não daria certo devido ao temperamento forte de ambos e
planos de vida completamente diferentes.
Em São
Paulo, o nível das companhias femininas tinha melhorado, as sirigaitas
golpistas deram lugar a advogadas, médicas, executivas que tinham suas vidas
independentes de qualquer homem e queriam aproveitar a vida. Nenhuma delas me
fazia apaixonar-me novamente como tinha caído de amores por Camila ou Elena.
Nessa fase, quando essas relações que eram teoricamente livres começavam
a entrar num campo da zona de compromisso e exigências eu logo saia de cena e
deixava uma a uma a ver navios. Só que um belo dia o cupido acerta em cheio
quando menos esperamos e as coisas mudam totalmente de figura.
Com o passar
do tempo passei a sair do escritório mais cedo e sempre que podia tomava um
lanche numa cafeteria próxima do escritório e seguia para o clube de golfe,
nadar, fazer musculação, sauna e bater uma bolinha no campo. Depois seguia para
algum restaurante com alguma mulher bola da vez e depois dum sexo de boa noite
finalizava o dia.
Num desses
finais de tarde essa rotina religiosa de café, golfe e mulheres iria mudar.
Aquela cafeteria iria unir o meu destino ao de Bianca - minha segunda esposa e
mãe do meu terceiro filho – que passou a frequentar aquela cafeteria todos os
dias no mesmo horário que eu aparecia por lá lanchar.
No primeiro
dia que a vi, ela entrava pela porta da cafeteria enquanto eu pagava a conta.
Aquele sol de quase cinco da tarde que brilhava logo depois duma chuva
iluminava Bianca e a tornava um ser angelical que ao que tudo indicava tinha
despencado dos céus para me seduzir. Aquela garota alta, magra, esguia, cabelos
negros e longos que emolduravam aquele rosto com um par de olhos verdes que
pareciam artigos de joalheria e lábios macios me deixaram no balcão estático
sem tirar os olhos dela. Ela percebeu isso e tímida disfarçou, eu saí dali sem
tirar os olhos dela, como se tivesse sido atingido por um raio. Fui até o outro
lado da rua, saquei o isqueiro puxei o cigarro na boca, mas não acendi.
Fiquei de lá fazendo pose que falava ao celular só para ficar fitando aquela
garota dentro do café que tinha aparecido repentinamente do nada. Assim que ela
saiu de lá ela me viu ali e deu um sorriso tímido, abaixou a cabeça e entrou
numa porta logo ao lado que era um prédio comercial duma exportadora.
No dia
seguinte, na mesma hora no mesmo local, eu fiquei de plantão na cafeteria até
ela chegar e conseguir por intermédio da proprietária do café uma apresentação
e um dedo de prosa com a bela Bianca. Aqueles cabelos longos cor de chocolate
amargo e aquele par de sobrancelhas que expressavam o estado de humor dela me
deixavam encantado. Cada gesto dela era como um osso para um cão vira lata.
Sempre faceira apesar do jeans e camiseta ela não se importava em carregar no
sotaque caipira do interior paulista. Dia a pós dia, ficávamos ali conversando
e cada dia descobria um pouquinho mais sobre Bia. Quase um mês depois tivemos
nosso primeiro encontro fora do café. Fomos ao cinema, depois para um
restaurante e numa balada cubana que estava rolando na cidade na época. Depois
de horas junto com ela eu estava cada vez mais gamado. Ela tinha um jeito fácil
de cativar qualquer pessoa. Era brincalhona e sabia conversar sobre diversos
assuntos, gostava tanto quanto eu de viajar para Buenos Aires e adorava
conhecer novos restaurantes e vinho. Coisa tão banais, mas cheias de sentido
num momento desses.
Depois do
cinema, dum jantar romântico e uma noite de dança, ela colocou seus longos
braços cheios de pulseiras envolta do meu pescoço olhou fundo nos meus olhos e
me beijou sem dizer nada. Ela sabia seduzir qualquer um. Depois do beijo ela
saiu, bateu a porta do carro, e se agachou na janela dizendo pausadamente:
“Amanhã, eu e você, almoço mocinho”. No dia seguinte, um domingo, ela já estava
a me esperar linda num vestido de alcinhas, e com uma bela macarronada da nona
posta à mesa. Passamos o dia típico de namorados em começo de paixão, almoço
juntos, bitocas depois de sobremesa, passeio de mãos dadas pelo parque e entre
uma guloseima e outra, mais beijos apaixonados. Ao final do dia ao deixar ela
na porta do seu prédio ela disse mais uma vez pausadamente: “Me ligue quando
chegar em casa! Nada de ficar na rua!”. Depois disso horas e horas no telefone
até o boa noite final.
Os dias que
seguiram foram sempre iguais, nos encontrávamos no café, contávamos para a dona
da cafeteria sobre o nosso namoro e ela ficava maravilhada de ambos termos nos
conhecido no café dela. Colocou uma foto nossa no mural fazendo tim-tim com
xícaras de capuccino. Aos finais de semana passeávamos e jantávamos e
dançávamos e almoçávamos como no primeiro encontro. Até que resolvemos partir
para uma semana de folga a dois em Mendoza na Argentina e lá fizemos amor pela
primeira vez num hotel fazenda depois de muitas taças de malbec. Ao voltar pra
casa, estávamos cada dia mais apaixonados, e vivendo felizes naquela rotina da
cafeteria para jantares a dois todas as noites.
Com o passar
do tempo seguiu-se o habitual de qualquer casal de namorados, fomos conhecer um
a família do outro e daí descobri que ela tinha sido realmente criada numa
fazenda de café e por isso frequentava aquela cafeteria tanto quanto eu. Quando
ela contava que tinha sido criada na roça não pensava que ela seria filha do
dono da roça, pois ela omitia o detalhe. Aquela mesma fazenda cheia de pés de
café, reduto do pai dela, um fazendeiro viúvo que ao ver a sua única filha com
um cara como eu logo me chamou para uma conversa de homens, perguntando o que
eu fazia ou deixava de fazer e quais eram as minhas intenções com a sua bela
filha. Aproveitei a oportunidade para pedir a mão dela sem pensar duas vezes.
Confesso que
fui em parte movido pelo impulso da ocasião, mas que já pensava naquilo com
seriedade, aproveitei o momento e dali corri numa joalheria da cidade comprar
um par de alianças enquanto o velhote providenciava um churrasco comemorativo
que pegou de surpresa Bia por sua vez. O velho barrigudo com seu par de botas
cano longo fez as honras da casa e anunciou que ganhava um filho ao invés de
perder uma filha. Quando ele disse isso Bia tremia de emoção e trêmula coloquei
a aliança naquelas mãos delicadas e suaves, e ainda trêmula brindamos com
champanhe até ela derrubar tudo no vestido e sair correndo trocar de roupa. Foi
uma cena engraçada. O velho estava feliz, e apesar de ser um pai zeloso e cheio
de escrúpulos, entendeu que a filha estava realmente apaixonada, tanto quanto o
futuro genro, o qual ninguém sabia do seu passado repleto de cafajestadas e que
ali tinha se tornado um bom moço de família mais uma vez.
Meses depois
aquela fazenda bonita e cheia de pés de cafés seria o palco do nosso casamento
selando tudo que havia começado por coincidência do destino numa cafeteria
Lua de mel
em Cancun é sem dúvida algo sublime. Passear de lancha por águas límpidas com
uma bela mulher de biquíni e óculos de sol gigantes com aquele chapéu de sol ao
seu lado até parece clichê de propaganda de turismo, mas no fundo não é o luxo
do lugar que importa e sim a companhia da amada.
Foi assim
que os dias felizes do meu casamento com Bianca começaram, com uma bela festa
na fazenda, uma lua de mel inesquecível e depois uma bela casa ampla e espaçosa
com tudo aquilo que as mulheres querem na decoração. Tudo isso parece ser um
tanto pedante e arrogante e na verdade não é o luxo da casa ou das viagens que
importavam para um casal de recém casados, mas sim celebrar o amor a cada dia
na companhia um do outro.
Creio que
com o passar do tempo ou dos anos muitos casais percam isso por inúmeros
fatores e o clima cheio de encanto e sorrisos fáceis de alegria e trocas de
olhares insinuantes se tornem menos freqüentes, com isso toda aquela paixão
inicial ao passar do tempo esfria ou se congela na monotonia da rotina a dois.
Rotina e falta de romance muitas vezes tornam a vida a dois numa espécie de
relacionamento burocrático que é chamado de casamento. Quando a coisa chega
nesse nível o melhor é repensar na vida ou arrumar uma amante. Mas existem
coisas que ocorrem que tornam a vida a dois infernal e que fazem todos os
sonhos se perderem e por fim fazem naufragar de vez o amor que parecia
inabalável.
O primeiro
ano de casado com Bia foi uma grande extensão da lua de mel e da rotina dos
tempos de namoro. A rotina era comum, ela trabalhava nos negócios dela e eu nos
meus. Depois dum café da manhã aturando algumas travessuras do nosso yorkshire
– chamado Toy - só nos reencontrávamos na cafeteria que tínhamos
nos conhecido, e depois, já no lar doce lar, depois dum jantar a dois ficávamos
conversando naquele grande jardim de casa tomando uma taça de vinho e
namorando. Era perfeito.
Aos finais
de semana uma viagem curta ao campo era sempre em vinda para relaxar, pois
alguma visita a ser recepcionada em casa sempre nos trazia motivos para
preferir ficar fora de casa aos finais de semana a sós. Frequentar alguns
eventos culturais era praxe. Gostávamos de irmos juntos aos shows de rock,
peças de teatro, e sempre um cineminha para nos comportarmos como dois adolescentes
aos amassos.
Algumas
visitas inevitáveis, como dos pais e parentes próximos. Uma das mais freqüentes
era do meu pai que quando aparecia em casa sempre nos arrastava para o Jockey
Club para acompanhar seus cavalos em corridas. O velho libanês tinha haras e
sempre que estava em Sampa passava em casa e trazia presentes para Bia e uma
caixa de vinhos para estocar na adega caseira. Já o pai dela era vezeiro em
passar alguns dias em casa numa espécie de retiro urbano. Ele ficava em casa,
mal saia de lá, gostava de ficar assistindo TV e roncando boa parte do dia.
Quando resolvia aceitar um convite para sair ele sempre pedia para ser levado
numa churrascaria ou restaurante italiano. Quando a visita era da minha mãe a
coisa mudava de figura. Ela gostava de cuidar do jardim da casa e sempre trazia
uma flor nova para enfeitar o jardim e seu programa predileto era sair para
fazer compras assessorada por Bianca.
No inverno
passávamos as noites sempre as voltas com alguma “gordice”. Um dia era
chocolate quente, no outro fondue de morangos, na outra crepe suíço, mas quase
sempre era queijo e vinho que dava o toque para as noites frias paulistanas.
Para finalizar o inverno em grande estilo sempre íamos para alguma cidade do
sul pegar aquele frio que na cama era pretexto para algo mais caliente. No
final de ano Bia resolveu convidar todos os parentes e amigos para passarem a
ceia de Natal em casa. Ela fez questão de organizar desde da árvore de natal
até os comes e bebes e presentes. No ano novo pediu para passar na fazenda do
pai dela para descansar.
Depois de um
ano repleto de coisas boas o ano seguinte aparentava que iria ser o mais feliz
de nossas vidas. Numa manhã de domingo Bia acordou e disse que estava grávida e
passamos o dia comemorando, telefonando para amigos e parentes contar a
novidade. Tudo corria bem até que no sexto mês de gestação o pai dela veio a
falecer e isso deixou Bianca muito abalada e depressiva. Nas semanas seguintes
ao funeral do pai dela ela passou ficar menos falante, visto que adorava falar
o tempo todo. Bia passava os dias reclusa em casa e deixou todo o processo de
inventário do pai dela por minha conta. Recordo-me que tive que lidar com os
tios dela, que eram velhos carcamanos que só pensavam em dinheiro e ficar com a
parte dela nos negócios que seu pai tinha deixado alegando que ela não saberia
como cuidar de fazendas e negócios relacionados a safras, essas coisas. Ela
apesar de estar meio fora de sintonia com aquelas questões dizia que não
abriria mão da parte dela, e como era única herdeira do velho churrasqueiro
isso facilitou em alguma coisa.
Entretanto,
depois da morte do pai, o qual ela tinha uma muito ligação forte, e por ter
perdido a mãe quando era adolescente e um irmão na infância, ela parecia ter
ficado numa espécie solidão que somente ela compreendia. As primas que eram
amigas se afastaram devido aos problemas com os tios e cada dia mais, apesar da
gravidez, ela ficava mais e mais deprimida e trancada em casa deixando muitos
afazeres de lado. No oitavo mês de gestação ela estava com aquela barriguinha
linda de gestante, mas o seu ânimo e espírito parecia em certas horas distante
da alegria de ter um filho. O humor dela oscilava entre euforia e momentos de
melancolia cada vez mais repetidos. Nessa fase resolvi passar a trabalhar em
casa, numa espécie de home office, para ficar sempre perto de Bia e acompanhar
o final da gestação com mais proximidade.
Logo depois
de ter dado a luz a um garoto fofinho, o estado depressivo dela parecia piorar
e dia a dia, apesar do filho, ela ficava mais reclusa em casa, dessa vez em
especial no quarto, sem vontade de atender sequer algumas visitas de praxe para
a nova mamãe e o bebê. O estado dela me fez estender cada vez mais a minha
permanência trabalhando em casa para cuidar dela e estar ao mesmo tempo perto
do bebê. Muitas vezes eu tinha que deixar o que estava fazendo para ir até ao
quarto acordá-la para coisas simples, desde uma refeição até hora amamentar.
Com o passar das semanas a minha preocupação aumentava com o estado dela, e convencer
ela a procurar um médico era uma tarefa difícil, visto que ela sempre dizia
insistentemente que iria melhorar e que tudo iria voltar ao normal sem que isso
fosse necessário.
Depois de
tanto insistir com ela para fazer alguma terapia com algum psicólogo, ela
relutantemente aceitou. Aos poucos ela teve alguma melhora e passou até mesmo
mencionar a voltar ao seu trabalho no próximo ano e cuidar dos negócios que pai
lhe havia deixado. A melhora dela durou pouco tempo. Com o passar do tempo ao
invés de melhorar seu humor e ânimo ela passou a ficar agressiva e sempre
arrumando motivos para uma discussão ou outra. Aquela moça leve e de jeito doce
não era mais a mesma desde então. Nesse período eu comecei a ficar alarmado e
preocupado com a saúde do bebê, mesmo que aparentemente estivesse tudo bem com
ele, eu temia que estado emocional dela afetasse em algo nosso filho. Sem
dúvida isso foi motivo para que depois de conversar seriamente com ela sobre
isso, ela tivesse mais motivos para discutir e arrumar briga. Foram meses e
meses assim, nessas oscilações de estado de humor de Bianca e discussões, até
que por fim tudo aquilo começasse a me afetar também.
Depois duma
semana estressante no trabalho eu voltava pra casa e Bia mais uma vez estava
reclusa em seu quarto dormindo como sempre. Já o bebê cada vez mais estava
apenas aos cuidados da nossa babá. Tentei acordar ela e chamar ela para jantar
como sempre fazia e as vezes ela topava jantar e conversar ao invés de se dopar
de calmantes e anti-depressivos e dormir. Nesse dia ela acordou irritada e
lançou uma série de reclamações e acusações típicas de pessoas nesse estado.
Naquele dia a minha paciência se esgotou. Brigamos muito por alguns minutos e
quando ela ficou histérica e com aquela choradeira resolvi sair de casa para
evitar mais encrenca. Peguei o carro e quando dei conta esta na estrada indo
para casa da minha mãe.
Chegando na
casa de mamãe, no meio da noite, eu ainda estava estressado, ao invés de
telefonar para ela abrir a porta resolvi poupar o incômodo e dormir na rua
dentro do carro e esperar o dia nascer. De manhã minha mãe surpresa com a minha
visita repentina já via no meu rosto o motivo da visita. Desabafei e conversei
muito sobre a situação de Bia com ela. Apesar de inúmeros consolos e conselhos
a única coisa a fazer era voltar pra casa e suportar tudo aquilo tentando achar
alguma solução.
Voltando pra
casa, Bia continuava na mesma. Não tinha como conversar com ela ou persuadir
ela tomar alguma atitude em benefício dela própria e do bebê que cada vez mais
tinha uma mãe que o deixava nas mãos da babá. Telefonei para minha mãe, e pedi
para ela passar aquela semana ali, pois eu tinha viagens de negócios a fazer e
queria alguém que confiasse ali por perto para qualquer eventualidade. Na
segunda-feira, fiz as malas e segui para o Rio de Janeiro a trabalho. Tinha
esperança que a presença de mamãe e o jeito de mãe para lidar essas situações
trouxesse algum benefício. Ledo engano. Quando voltei a coisa estava do mesmo
jeito.
Naquela
semana no Rio eu acabei conhecendo Giuliana, uma bela advogada gaúcha, meio
ruiva meio loira, de olhos verdes grandes, uma boca carnuda, nem gorda nem
magra, mas muito atraente apesar daqueles óculos fundo de garrafa. Só me dei
conta que tinha uma mulher na sala de reuniões por causa do perfume forte que
ela usava e sua voz estridente e sotaque sulista carregado. Não tinha motivos
para simpatizar com ela, mesmo ela sendo tão atraente. Afinal, passamos a maior
parte do tempo daquela reunião discordando e trocando acusações sobre itens de
contrato.
Aquela
primeira reunião tinha deixado tanto para um como para o outro uma má impressão
de um para com o outro. Nas reuniões que se seguiram a tônica das discussões
foi a mesma. De um lado eu estava carregado de estresse, por conta de problemas
pessoais e de trabalho, do outro aquela bela doutora não cedia um milímetro nas
negociações. Quando resolvi desistir do negócio duma vez por conta da
intransigência dela que a coisa começou a mudar de rumo.
Aquele jeito
meio arrogante dela transparecia que ela sentia que de alguma forma havia me
vencido nos debates sobre clausulas contratuais. Depois disso, ela
lamentou não fechar o negócio nos meus termos, estendeu a mão e perguntou se
apesar dos pesares eu toparia um almoço com ela para fazer as pazes. Eu fiquei
sem reação, e naquele momento percebi que apesar de tanto bate boca negocial
ela tinha ido com a minha cara. Topei almoçar com ela e logo ficamos
amiguinhos. Passamos algumas horas juntos conversando. Na ocasião não
toquei em assuntos sobre a minha vida pessoal em profundidade, apenas disse que
eu era casado, e ela ficou decepcionada em saber disso.
Giuliana me
deu carona para o aeroporto e deixou seu cartão pessoal comigo sob o pretexto
ligar para ela para fazermos novos negócios futuramente. Duas semanas depois
liguei para ela. As coisas em casa não estavam bem e não tinham perspectiva de
melhorar, e entre um copo de whiskey e outro a gaúcha não me saia da
cabeça. Além disso, a minha mãe dizia que eu deveria cogitar a hipótese
de me separar de Bianca. Minha mãe no alto de sua experiência de vida parecia
antever que aquela situação não tinha mais solução e que Bianca precisava
decidir-se por si mesma se ajudar e fazer algo por ela mesma. Já tínhamos feito
de tudo para que ela melhorasse e os resultados eram escassos.
Passei a
ligar mais vezes para a Giuliana e aos poucos fui abrindo o jogo com ela. Ela
sempre se mostrou bastante compreensiva e dizia que apesar de eu ser um
paulista arrogante e tudo mais, que ela nutria muita simpatia pela minha
pessoa. Fiquei uns três meses nessa lenga-lenga de telefonemas quase diários,
enquanto por outro lado tentava trazer Bia ao o que ela era antes. Quando eu
percebi que não tinha mais jeito tive que colocar as cartas na mesa com Bianca.
Disse que estava cansado de tudo aquilo e que era melhor nos separarmos. Ela
não reagiu bem, chegou a me estapear e dizer que tinha arrumado uma amante e
que eu bebia demais ao invés de cuidar dela. No fundo ela tinha razão.
Na época eu
bebia todos os dias quase que uma garrafa inteira de Jack Daniels para esquecer
dos problemas. Chegava em casa, jantava, passava algum tempo com Ivan
brincando, depois ficava trancado no meu escritório telefonando para Giuliana e
enchendo a cara de whisky. Não tinha chegado a trair Bia nem uma vez com
Giuliana, mas a ideia de viver naquela rotina infernal já me fazia cogitar ter
algo com a Giuliana que disse que só sairia comigo se algum dia eu realmente me
separasse. Não foi exatamente o que ocorreu. No final do casamento além de
ligar para ela, eu já estava tendo um caso com a minha secretária Aline, a qual
eu tinha conhecido em outra viagem de negócios.
Quando me
deparei com Aline a sintonia com ela foi de imediato. Aquela garota de vinte
aninhos, pernambucana de largo sorriso e jeito amistoso logo me fez convidá-la
para ir trabalhar comigo. Conheci ela quando fui resolver alguns assuntos no
escritório de advocacia que ela estagiava em Recife. No mesmo dia consegui
convidar ela para um jantar depois do expediente e como sempre a sobremesa
foram beijinhos. Seis meses depois ela tinha topado vir estudar em São Paulo e
se tornar minha assistente pessoal. Com o passar do tempo ela se tornou meu
braço direito e mantemos uma relação bem próxima tanto no trabalho quanto
afetiva.
No segundo
semestre daquele ano fiquei de certa forma envolvido com Bia, Aline e Giuliana
correndo por fora até certo ponto. Logo que deixei Bia, investi na doutora
gaúcha, sem deixar de lado o affair com a secretária. Mudei para o meu velho
apartamento e enquanto isso Bia parecia sair lentamente daquele marasmo
depressivo tomando alguma atitude por si mesma. Ela resolveu mudar-se para o
interior e retomar a vida dela com nosso filho e cuidar dos negócios do pai
falecido. Continuei em São Paulo até o final do ano. Durante a semana passava
os dias e noites com a fogosa secretária que com aquele par de coxas grossas, e
seios fartos e pele macia, olhinhos puxadinhos e lábios fininhos que me faziam
companhia no escritório e no meu suntuoso apartamento de solteiro repleto de
cuecas e calcinhas espalhadas pelo chão que davam à arrumadeira a nítida
impressão daquilo ser um motel privê.
Aos finais
de semana, sob o pretexto de ver as crianças, seguia para o Rio me encontrar
com Giuliana. Mesmo assim ainda amava Bia. Ao mesmo tempo que adorava a
companhia das outras duas pensava nela. Por outro lado, o medo de voltar com
ela e reviver aquela situação falava mais alto e me mantinha naquela nova
rotina de duas namoradas aqui e acolá.
Aos poucos
entre um drink e outro e entre uma gaúcha e uma pernambucana a vida foi ficando
mais alegre novamente.
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