quarta-feira, 9 de abril de 2014

Viagens e novos amores



Passar férias em família nunca foi meu forte. Sempre odiava aquelas viagens para o litoral onde se reuniam alguns parentes insuportáveis e a comida sempre era churrasco e maionese na maioria dos casos. Retornando ao Brasil resolvi driblar essa situação que era uma tradição infernal. Peguei meus pequenos Quim e Mazinha e mamãe e fomos para outra praia, outro lugar, bem longe das tias chatas e primos que de certa forma viviam aquela vidinha comum de empreguinho meia sola e todo dinheiro que tinham gastavam no carro do ano e baladas com patricinhas entediantes, exceto pelos dotes de alguma ou outra na cama. Mesmo assim aquela vidinha deles me dava enjôo. Quase todos estavam casados, suando para comprar uma casa mais ou menos, num bairro supostamente legal. Os poucos lugares que conheciam dava para contar nos dedos duma mão. Gente assim, convencional e previsível demais, que pensa e age sempre igual, sempre me entediava. 

Vai ver que é por isso que vilão de novela faz tanto sucesso no Brasil. O cara foge dos padrões da sociedade castrada e vai atrás daquilo que ele quer custe o que custar. Acho que também sou assim, mas não sou vilão, sou apenas mais um que vive fora dos limites impostos em determinados momentos.

Se o conceito de férias era relaxar, ficar na companhia desse pessoal maçante me deixaria puto da vida. Ser obrigado a ouvir sobre o carro novo deles, sobre a vida profissional da esposa mal comida, ou qualquer coisa dessas era pedir para o tédio me nocautear. Não tinha graça aquela vidinha da casa para o emprego, do emprego para a casa, comer sempre arroz, feijão e bife e finalizar a noite com boa noite querida fantasiando com gostosa da secretária. Definitivamente a minha vida era outra e falar dela para aquele bando de tapados seria só para causar inveja neles.  

Dessa vez eu queria estar próximo dos meus filhos. Queria conhecer melhor eles de certa forma. Inclusive junto de nós veio a irmã de Camila que havia se tornado a nova mãe do Felipe, que era um bebê ainda. O pai dele, aquele mineiro filhinho de papai egocêntrico, não estava nem aí para o filho, muito menos depois que Camila falecera, e ele mesmo havia proposto para que a irmã ficasse como responsável pelo filho deles. A irmã de Camila praticamente havia herdado não apenas o filho dela, mas os negócios de Camila e tudo mais que havia deixado. Vivia sempre falando do passado, sobre a irmã e mãe, não virava o disco, mas apesar disso a companhia dela não era das piores. Afinal, ela sabia cozinhar muito bem e isso numa casa de praia repleta de crianças esfomeadas o tempo todo era uma mão na roda. 

Pegamos a pick-up e nos mandamos para duas semanas de playground com as crianças. Eu dava graças aos céus por não ter uma esposa chata como a dos meus primos que bancava a dondoca de fachada. Naquele momento eu estava bem melhor sozinho. Mulher nenhuma me fazia a cabeça, e até hoje, parece que as poucas que fazem ainda criam problemas. Desde a secretária que faz as vezes de amante e quer se tornar a número um, até qualquer outra que comece a impor compromissos. No fundo não tem como escapar desse cerco. Às vezes penso que ficar fiel a uma vida de cafajestagens, rodeado de mulheres superficiais pode ser uma saída para isso tudo. Todavia, ao longo do tempo percebe-se que nem uma coisa nem outra realmente fazem sentido e sempre o que procuramos nas mulheres são as mesmas coisas. Pensando bem, somente as mulheres que possuem algo que muito prezamos e desejamos ou que conseguem dominar algo solto dentro de nós são aquelas que se tornam especiais por unir as duas coisas.  Mesmo assim queria férias duma categoria ou outra dessas mulheres, ao menos por enquanto queria férias de tudo isso.

Passei as férias me divertindo com a criançada e numa espécie de retiro da vida de boêmio e mulherengo habitual. Passei os dias levando eles para conheceram algo fora daquela realidade urbana e de escolinhas babacas que viviam cotidianamente. Levei-os para longe da família toda certinha e seus rituais encenados que muitas vezes escondem insatisfação deles com a vida. Tinha tempo de sobra para conversar com eles dentro daquilo que fosse possível conversar na idade deles e saber como eles viviam e estavam. Isso era um modo de ficar mais próximo deles devido a ter passado tanto tempo ausente. Prezava naquele momento mais a qualidade do que quantidade dos momentos com eles.

Não entendia certas coisas que eles me diziam no alto dos oito anos de um e seis ou sete da outra. Como eu tinha sido criado no interior e sempre frequentado fazendas e era adepto de fazer trilhas de bicicleta e acampamentos – muitas vezes com os irmãos Berg e Nelson – isso me dava uma certa nostalgia ao ver aqueles pequenos criados em apartamentos sem o menor contato com a natureza.  Quim estava gordo de tanto comer uma alimentação balanceada por Elma Chips e produtos enlatados. Apesar disso era um gênio dos joguinhos de computador e matérias escolares. Mazinha por ser filha de modelo tinha por hábito tomar iogurte e comer frutas no café da manhã, odiava café, e até hoje é assim. No entanto, ela era descolada e com uma tendência a ser mandona, tal como a mãe sabia fazer valer seus pontos de vista e jeito de ser.  Já o Felipe era uma bolinha fofa naquela época. Era uma criança que estava bem na medida do possível, já que estava sendo criado por uma mulher gorda, solitária, e hiper protetora, a qual vivia sem dúvida para aquele garoto. A única coisa que posso falar dele é que olhando para ele eu lembrava da mãe dele com muita saudade.    


Passei duas semanas com eles, de manhãzinha e ao final da tarde, praia e castelos de areia, e outras brincadeiras que deixavam a criançada com a corda toda. À noite minha mãe se encarregava de contar histórias para eles até eles dormirem. Isso me lembrava da época que eu viajava com minha mãe para fazenda nas férias do meio de ano. Muitas vezes éramos apenas nós dois, ou alguma outra tia com algum primo que aparecia. Eu passava o dia inteiro na companhia dos peões da fazenda andando a cavalo e aprendendo como eles lidavam com gado ou plantação. O mais divertido era participar das bóias deles, que sempre tinham comida típica pantaneira e muitos causos engraçados para serem ouvidos repetidas vezes.

Desempacar mula do brejo, ver bois sendo marcados a ferro e fogo, e pescar no bote eram as brincadeiras que apareciam naquela época na fazenda. Não tinha nada de vídeo-game, ou grude com os celulares como é hoje em dia. Tudo ali era viver o momento numa ligação direta com a natureza e aprender muita coisa diretamente da realidade do cotidiano daquela gente. Creio que se hoje em dia soltarem um guri da cidade no meio do mato sem sinal de celular ele se ajoelha e reza para o Harry Potter salvá-lo das onças ou até mesmo dos sapos, grilos e mosquitos.  Naquele tempo não era assim, os peões até nos ensinavam a caçar e dar tiros de espingarda em latas, identificar cobras venenosas e a laçar novilhos. Era tudo muito mais saudável e aprazível. Pena que as crianças crescem e logo ficam dominadas pela tecnologia e babaquice de filmes e se recusam a ir para fazenda já faz algum tempo. Nunca tiveram oportunidade de aprender essas coisas e se divertir com isso. Preferem praia no máximo ou alguma viagem para Disney.

Por falar em viagem para Disney quando eu tinha uns doze anos, meu pai levou eu, e as filhas da nova esposa dele para a Disney. Aquilo lá era um porre para mim. As garotas se achavam as próprias Cinderelas. A única coisa de legal que ocorria era ficar com uma delas no final do dia no hotel brincando de casinha. Uma delas tinha a minha idade, a outra era uma tampinha chorona. Confesso que passar a mão boba naqueles peitinhos recém nascidos da Estela, que era uma gorduchinha bochechuda, era única coisa digna de contos de fadas ali para mim. O Mickey e o Pateta que me perdoem, mas férias numa fazenda é muito mais divertido.  

Logo que passaram essas duas semanas de férias, fui obrigado a ir para Sampa, e nomear Dado como meu substituto e novo sócio na empresa. Não tinha mais como acompanhar aquilo ficando tanto tempo fora. Mesmo distante conseguia comandar alguma coisa, mas administrar tudo nos mínimos detalhes era impossível. Dinheiro não era mais problema, mas viver em função dele estava se tornando um. Além do mais, queria conhecer coisas novas e o mundo.  

Peguei apenas a grana suficiente para manter-me numa boa e voltei para Europa para mais uma temporada em Portugal. Não tinha muito no que gastar além de gastos essenciais, farras e viagens uma vez ou outra para a alguma outra cidade.  Em Coimbra passei a ter mais companhias femininas e fazer novos amigos. A ausência de Layla dava saudade certas vezes, mas nada que uma rapariga portuguesa não fosse capaz de saciar em noitadas recheadas de luxúria em bacanais regados a vinho.

Dessa vez, eu tinha decidido apenas estudar e festejar. Não tinha arrumando nenhum emprego para manter-me ocupado no resto do dia. Acordava tarde, na maioria das vezes de ressaca e com algum bilhete na cama de alguma portuguesinha fogosa que prometia retornar na próxima noite. Às vezes, duas retornavam na mesma noite e havia barraco no meu lar doce lar que era um sobrado pequeno e antigo num recanto da cidade. Nessa época eu me recordo de ter levado muitos tapas na cara, ou ser alvo de garrafas de vinho sendo lançadas contra mim, e até um prato de bacalhau fora lançado na minha cara. Eu tinha me tornado numa espécie da Casanova às avessas ou Don Juan universitário da pior reputação.

Não me vangloriava disso, mas até que gostava de ter uma reputação dessa espécie. Muitos colegas da universidade me incumbiam como mestre de cerimônias de festanças com garotas que queriam de alguma forma ou outra levar pra cama. O meu pequeno sobrado tinha se tornado num ponto reconhecidamente famoso às sextas feiras para jantares e encontros de amigos e amigas dispostos deixar de lado seus pudores e cair na farra. Isso deu ao sobrado alcunha de “Quinta da Sexta”.  Era um jocoso e carinhoso apelido para aquele recanto onde os mais destemidos boêmios universitários daquela época ousavam a frequentar desde que contribuíssem com bebida e uma taxa de adesão de levar uma bela rapariga para apresentar ao anfitrião. Nessa época eu estava vivendo aos moldes dum bon vivant fazendo um estilo barbudo,  descarado e extravagante. Usava sempre uma camisa e óculos de sol e vivia com um charuto na boca. Aos poucos aquele estilo fora do comum que parecia ser uma típica figura de canalha brega sem pudores gerava nas portuguesas uma espécie de curiosidade e elas se sentiam atraídas pela figura inusitada que havia me tornando.

Nesse meio tempo nenhuma mulher em especial tinha mexido com meu coração vagabundo.  Isso não me incomodava nenhum um pouco, pois mesmo levando algumas bofetadas e sendo alvo de garrafas e travessas de bacalhau, sempre havia uma outra donzela que tinha o dom do perdão numa noite de saudades e solidão. Recorriam ao leito daquele quartinho de sobrado para reparar uma bofetada dada num momento de fúria. Elas chegavam ali ávidas por paixão e noites de prazer.

Uma dessas noites merece ser contada. Chovia e já era quase meia noite, e lá estava eu sozinho arrotando vinho pela casa e lavando algumas roupas, quando bate a porta Manuelita. Essa era a que havia me atirado a travessa de bacalhau na cara por um acesso incontrolável de ciúmes sem motivos. Ao atender a porta lá estava aquela moça de cabelos molhados, olhos grandes e castanhos claros e lábios grossos com alguma desculpa qualquer para estar ali. Ela entrou, e fui preparar uma bebida quente, arrumei uma toalha para ela se secar, e logo que dei a toalha nas mãos dela, ela tirou toda a roupa e se enrolou na toalha. Fiquei olhando surpreso por ela fazer isso ali mesmo na cozinha e em resposta ela disse: Pareces que nunca me viu nua! Servi um chá ou café com lágrimas de contreau – pouco importa a bebida nessas horas - e ficamos conversando até que ela resolveu pedir para dormir em casa. Eu estava ainda meio surpreso e disse que dormiria no sofá enquanto ela poderia ficar com meu quarto aí ela arrematou: Criou bons modos ou está com medo de dormir comigo? – Pergunta a qual respondi dando um beijo nela e carregando aquela portuguesinha abusada para o quarto, envolta numa tolha que logo foi tirada dando lugar ao meu peito cabeludo sobre ela para fazê-la suar e enxugá-la; e fazê-la suar novamente. Foi uma noite de chuva onde os raios estavam caindo na minha cama com certeza. De manhã, como sempre, um bilhete no travesseiro informava o paradeiro da rapariga; e esse foi o mais memorável de todos: “Querido, agradeço-te pela noite maravilhosa, foi minha despedida de solteira, me caso mês que vem. Adeus”. Foi assim, direito e sem maiores rapapés que tudo se resolveu depois que ela havia jogado em mim uma travessa de bacalhau e passado semanas me evitando nos corredores da universidade.


Semanas depois, resolvi ir para Madri, tinha marcado encontro com um amigo brasileiro que estaria por lá e foi em Madri que conheci a uma mulher que iria reascender em mim a brasa do amor. Numa noite quente madrilhena eu e meu comparsa fomos beber num desses barzinhos típicos espanhóis onde se toca flamenco. A clientela com ares de pessoas intelectuais e cheio de jornalistas locais fazia daquele bar um point badalado e ótimo para flertar com alguma espanhola desavisada.

No entanto, foi a garçonete Elena quem me deixou seduzido naquela noite com seus cabelos cacheados negros, pela alva e olhos azuis. Era uma gata borralheira no meio daquela espanholada de nariz empinado. Fiquei horas flertando com ela e ela correspondia fazendo questão de vir sempre à mesa que estávamos. A cada vinda escrevia um bilhete para ela no guardanapo e ela a cada nova “cerveza” que nos servia trazia também a resposta do bilhete anterior. Acabei despachando o meu camarada e fiquei esperando ela encerrar seu expediente. Já estava quase amanhecendo e fomos caminhando até a casa dela conversando e nos conhecendo melhor. Ela disse que estava cansada e se poderia aparecer no bar naquele final de semana para repetirmos o trajeto. O combinado foi seguido à risca. Passamos o final de semana naquele ritual de caminho para casa dela, mas foi somente na segunda-feira, folga dela, que passamos mais tempo juntos com direito a não apenas um beijo de despedida. Ela abriu as portas de sua casa e seus braços para mim. Fiquei em Madri durante aquela semana toda conhecendo cada pedacinho do corpinho dela e deixando o Museu do Prado e outros pontos turísticos para outra oportunidade. Meu colega se deu bem também. Caiu nas graças duma aeromoça espanhola e apareceu só para se despedir de mim. Depois disso segui para Barcelona, e embora tenha convidado Elena para fugir comigo não foi dessa vez que ela topou. Mesmo assim mantivemos contato.

Chegando em Barcelona me encantei com a cidade e sua arquitetura e paisagens, fiquei mais uma semana por ali a ponto de ver aquela equipe que havia sido campeã européia desfilar aquele futebol de que desaprenderam a jogar no Brasil. Sentia falta da madrilhena de olhos azuis, porém, queria conhecer o resto da Europa aproveitando a grana no bolso. Rumei de barco para o sul da França, passei alguns dias em Marselha, depois Sardenha e depois Roma ver o Papa e toda aquela coisa típica de turista que aparece por lá. Passei essas semanas comendo pratos maravilhosos e tomando vinhos que faziam o meu paladar ter orgasmos múltiplos. Já fazia mais de um mês que estava viajando sem parar e conhecendo lugares que através dum guia turístico não teriam o mesmo sabor de liberdade e aventura.

Gostava de conhecer o dia a dia das cidades, em restaurantes ou cafeterias comuns que  apresentavam o sabor local de cada lugar, desde uma “fromage” com “vin” até aquela “pasta suta” com molhos que raramente se encontra em outro lugar do mundo. Como já tinha comido muito na França e rezado com o Papa num domingo qualquer e amado em Madri o meu “Comer, Rezar e Amar” estava cumprido em grande estilo. Decidi pegar o frio suíço e lá depois de ter amado aquela linda espanhola não resisti aos encantos duma loirinha de Genebra que conheci numa dessas chocolaterias que naquela época do ano era o ponto predileto de qualquer suíço ou turista. Canecas e canecas de chocolate quente depois percebi que Agnes, uma suíça não tão bonita, mas mui simpática, magra e alta que era professora de inglês me daria mais  que o prazer da companhia dela numa mesa. Estava cada mais empolgado com o jeito das mulheres européias que quando queriam algo não faziam jogos e nem demoravam muito em decidir em partir logo para os lençóis.

Na casa de Agnes, numa tarde de nevasca fazer amor na frente duma lareira parecia clichê de filme do James Bond, mas por lá segundo ela era algo que os casais fazem a cada inverno. Conheci assim os costumes suíços tanto da mesa como da cama, e sem dúvida isso me deixava empolgado e extasiado. Estava vivendo uma aventura após a outra e como disse o velho aventureiro japonês mais uma vez: Melhor uma vida curta e cheia de aventuras do que uma longa e entediante. Logo, minha estadia na Suíça seria interrompida para aceitar um convite dum amigo da faculdade que estava indo para Colônia na Alemanha tentar uma vaga de professor por lá. Resolvemos nos encontrar num final de semana em Paris planejando uma grande farra parisiense regada a vinho, queijo e mulheres. No final das contas, os planos foram por água abaixo, ou melhor, neve abaixo. Nevava muito naquela ocasião e os trens estavam com dificuldade de se locomover. Isso me fez rumar da Suíça direto para a Alemanha indo direto para Colônia na companhia de Agnes que também tinha certo ímpeto aventureiro e economias para gastar. Na verdade ela estava “me usando” para esquecer do ex-noivo, que tinha largado ela sem o menor pretexto.

Colônia era fabulosa mesmo coberta de neve. A cidade com seu estilo gótico misturado com construções modernas fez com que eu Agnes passássemos o Natal por lá mesmo tomando muita cerveja de trigo e comendo os quitutes da culinária alemã que até então eram novidade para mim. Se a neve não dava trégua nada melhor que passar horas debaixo do cobertor queimando calorias dos strudels de maçã que haviam fisgado o meu paladar. Enquanto, isso o meu colega tinha seu leito de hotel aquecido por uma imigrante turca. Toda manhã se dizia arrependido de trair a namorada, mas toda noite se esquecia disso. Quando a neve deu uma trégua, logo após no Natal, nossos planos eram passar o ano novo em Copenhagen com direito a uma passagem por Berlim. Dessa vez Agnes não veio conosco devido problemas de saúde do pai. Assim ela retornou para casa e eu e Michel, que era franco-português, seguimos nosso destino para Berlim que não tinha muito o que fazer por lá nesses dias. Passamos uma tarde e uma noite, e seguimos para Copenhagen terra da namorada corna dele.

De lá eu pretendia ir para Londres e depois finalmente voltar para casa, ou talvez quem sabe, retornar para Madri se sentisse que Elena queria me rever. Apesar da companhia de Agnes, era Elena que tinha mexido com a minha cabeça. Só que devido alguns cálculos errados e muitos gastos fora do previsto como noitadas de bebedeiras iriam me fazer tomar um rumo totalmente diferente.   

Em Copenhaguen entre uma aquavit e outra descobri que faltaria grana para voltar embora. Fiquei temeroso com isso, mas não por muito tempo. Depois do réveillon descobri que um navio cargueiro britânico precisava de tripulantes, dentre as vagas oferecidas estava a de ajudante de cozinha. Como já tinha trabalhado em restaurante na época de faculdade na mesma função, aquele anúncio caia como uma luva tendo em vista necessidade presente naquele momento. Não pensei duas vezes e fui contrato logo que disse tinha certa experiência naquilo. A única pergunta adicional mais relevante sem ser sobre nacionalidade e documentos era se sabia nadar. Bom, eu sempre nadei muito bem modéstia a parte, mas não estava nem um pouco disposto a ter que nadar no Mar Báltico em pleno inverno caso houvesse um naufrágio.

Ao chegar no meu quarto no navio, descobri que dividiria o lugar com um italiano falastrão chamado Paolo Vincenzo. Era um sujeito que cultivava um bigode naquela ocasião digno de Nietzsche, e tinha sempre um cigarrinho na boca e um sorriso de gaiato na cara o tempo todo. Raramente ele ficava sem aquele cigarro na boca, creio que até dormindo o cigarro estava sendo tragado. Outros hábitos peculiares se destacavam em sua figura loira e calva e de costeletas longas. Ele tinha o hábito de no almoço e jantar tomar um cálice de vinho, religiosamente, e fazia o sinal da cruz, uma breve oração e depois disso passava a falar mal de usa ex-esposa para todos no refeitório. Ficava falando que a mulher era uma “impiastra” que tinha traído ele com um padre ordinário que não honrava a batina. Apesar de ser católico e devoto de San Genaro todos os dias rezava para que ambos ardessem no inferno após o juízo final. Fora isso, a única coisa que o irritava era se alguém escondesse a garrafa de vinho dele.

Num dia de forte chuva o navio partiu para Klaipeda, um porto na Lituânia, com uma breve parada na Polônia que deu tempo para um jantar apenas e testemunhar uma briga numa quermesse local. A rota da embarcação era basicamente ancorar e despachar cargas inglesas na Escandinávia e carregar produtos escandinavos e russos para a Grã Bretanha. Em Klaipeda o carregamento era nada mais nada menos que caviar, vodca e casacos de inverno. Ao ancorar naquele porto logo tivemos oportunidade de experimentar numa breve folga em terra não só o caviar e vodca, mas também desfrutamos da companhia das belas as prostitutas lituanas e polonesas do porto.  Na verdade, eu fui abordado por uma jovem puta ucraniana que se chamava Cristina Oryenko, até mandei uns postais de Estocolmo e Liverpool para ela depois agradecendo a gentileza de não ter cobrado pelo serviço. Em Estocolmo, depois de atravessar a costa finlandesa fria e repleta de causos de marinheiros sobre fantasmas do mar e sereias assassinas o sol voltou a dar o ar da graça. Em terra mais uma vez o passeio foi bem longe dos bares, restaurantes e prostíbulos portuários. Conheci Solna uma espécie subúrbio requintando de Estocolmo. Passamos algumas horas bebendo, comendo, e dormindo dignamente num hotel que já era conhecido de toda tripulação e famoso por receber os velhos lobos marítimos.

De volta ao mar, seguimos para Oslo e Bergen na Noruega carregar bacalhau enlatado e outras iguarias norueguesas. Lá mais uma vez era hora de gastar um pouco do salário semanal com alguma deusa nórdica da vida. Dessa vez a conta foi cara, e a garota de programa era uma striper daquelas de fazer um homem bem casado largar a família.  Aquela loira de 1.80, e olhos verdes e lingirie e batom vermelhos parecia uma diaba no palco, fiquei colocando notas na calcinha dela até o momento que ela me convidou para pagar uma bebida para ela. Ela tentava me deixar embriagado logicamente, mas é aí que entra a velha malandragem brasileira.. Foi ela que ficou num porre e fomos para o quarto. Creio que fiz muito turismo na Noruega logo que ela se despiu e aquele baita bumbum branco, que parecia uma montanha em cima da cama pedia para ser escalado. Os seios dela era enormes também, as coxas eram roliças, a boca e língua dela era bem grandes também e ela adorava usar aquela boca e língua nas preliminares. Serviço completo à moda norueguesa. Fiz todos os tipos de sacanagem com aquela norueguesa bêbada e posso afirmar “o que é que a norueguesa tem”.  A julgar pelo calor vulcânico daquela mulher a Noruega pode ser considerado um país tropical sem a menor dúvida.   

Dali pra frente seria só água e vento gelado e dias a fio dentro da cozinha daquele navio que apesar de britânico tinha grego, italiano, indiano, africano, e até um mexicano que era o chef de cozinha. A rotina da cozinha era basicamente a mesma o tempo todo: Tomar tequila do nosso companheiro “lacucaracha” para espantar o frio e fazer muito macarrão com ovos e peixes grelhados. A comida não era a melhor do mundo, mas tratando-se de navio inglês era sem melhor que a comida nativa britânica.

Navegando pelo Mar do Norte os dias eram mais tranquilos, passávamos as horas depois do expediente jogando baralho e conversando sobre planos e contando coisas sobre de onde viemos. Paolo que já era macaco velho naquela vida de marinheiro tinha percorrido o mundo a bordo de navios daquele tipo. Tinha mil e um histórias para contar e dizia que gostaria de se mudar para a Austrália e comprar um navio pesqueiro. Só que o destino dele no final das contas foi se casar com uma argentina e morar metade do ano em Nápoles e a outra metade em Buenos Aires logo se aposentou.  Fiquei muito amigo dele a ponto dele ter nos arrumado vaga em outro navio assim que chegamos a Liverpool enquanto “Lady Madona” ficava em manutenção no cais.

Antes disso ainda passamos pela costa escocesa com direito a passar uma tarde num típico bar escocês tomando o melhor dos whiskeys do mundo direito no balcão. Dizia o dono do bar que o segredo daquele whisky seria nada mais que as águas abençoadas das montanhas escocesas e os barris que eram guardados em velhas destilarias de pequeno porte ao redor daquela cidade. Depois daquele breve parada fomos para a Irlanda continuar a rota de entregas dessa vez. Em Dublin passamos um final de semana devido ao mau tempo típico da região. Dois dias ali a base de muita cerveja e paquerando aquelas ruivas sardentas que pareciam brotar em cada canteiro de jardim ao longo da cidade. Paolo ficou entusiasmado com uma senhora que conheceu na paróquia local, passou a missa toda flertando com “bella donna” no final do culto quase se atreveu a ir conversar com a mulher, mas não arriscou-se tanto ao ponto de concretizar isso.  Quando a capitania dos portos liberou a navegação seguimos para o destino final: A terra dos Beatles.

Em Liverpool depois de termos recebido o pagamento e dormido longas horas estávamos prontos para mais uma noitada. Ficamos à toa de bar em bar pela cidade conhecendo o lugar e jogando conversa fora sem novas conquistas que pudessem nos trazer prazer e algum calor humano. Como a grana ainda não era totalmente segura para chegar até Londres e pegar um vôo para o Brasil o jeito foi se arriscar em mais uma empreitada marítima. Alguns dias depois Paolo já havia arrumado vagas num navio croata que estava de retorno para sua terra. Dessa vez iríamos num navio maior e mais potente carregado de conteiners. A primeira parada seria Hamburgo e depois Roterdam, depois disso seguiria a todo vapor para a penúltima parada, que era no sul da Itália onde Paolo iria desembarcar e eu também a convite dele para conhecer a bela Campânia.

Nesse navio a história era diferente. A maioria da tripulação era de croatas e compreender o que eles diziam era uma tarefa indigesta. Apesar disso todos eram muito amistosos e falar de mulher e futebol quase sempre fazia com que todos se entendessem numa boa num inglês meia boca. Chegando em Hamburgo tivemos uma indigesta recepção das autoridades portuárias germânicas. O navio estava sob suspeita de tráfico de pessoas, mas o incidente era fundado tão somente na suspeita da polícia alemã a cada navio que ali atracava. Logo que passamos por uma vistoria tudo estava normal novamente. Em Roterdam a coisa foi mais simples, tivemos um tempo razoável em terra para conhecer um pouco da cidade que é magnífica. Viramos a noite numa cervejaria como era costume e ali ficamos até o sol raiar cantando com o receptivo povo holandês que fica amigo de qualquer um que beba tanta cerveja quanto eles. As poucas garotas que encontramos eram mais recatadas do que as de outros cantos e recantos. Mesmo passando em branco pelos leitos da Holanda a estadia foi boa e inesquecível.    

Ao chegar no navio tivemos a péssima noticia que um dos tripulantes tinha sofrido um ataque cardíaco. Não tínhamos tempo a perder para fazer uma visita ao sujeito e num piscar de olhos seguimos a viagem sempre lembrando desse ingrato assunto. Por fim, depois de dias conhecendo a costa da Bélgica e França apenas do convés do navio tivemos oportunidade de estacionar próximo à cidade do Porto numa pausa devido ao mal tempo. Até pensei em abandonar o navio nessa ocasião por me sentir de certa forma em casa estando em solo português. Mudei mais uma vez de idéia quando vi que o dinheiro não bastava para ficar ali e seguir até Madri para rever Elena que pelas notícias que recebia queria me reencontrar também. Em terra, fui encarregado de ser o tradutor oficial do grupo de marinheiros num jantar onde mais se ouvia trovões do que fado. Na manhã seguinte estávamos todos a bordo e só iríamos ter um pequeno adiamento no trajeto em Vigo mais uma vez devido ao tempo perigoso em alto mar. Naquela ocasião eu pensei em convidar Elena para ir até lá, mas sem tempo hábil para termos um encontro desisti logo da idéia.

Depois disso seguimos sem maiores problemas pelo Mediterrâneo de águas calmas e ventos mais amenos e temperatura mais branda. Chegando na costa italiana Paolo estava feliz em retornar para casa. Ao desembarcarmos pegamos um garrafa de champanhe e quebramos no casco do navio em sinal de agradecimento a chegar em casa sãos e salvos. Depois disso seguimos para casa do pai de Paolo que nos recebeu com uma bela mesa cheia de comida. Apesar de serem pessoas extremamente simples eram anfitriões maravilhoso com todo aquele jeito caloroso do sul da Itália. A irmã de Paolo era uma solteirona meio amarga embora não deixasse transparecer isso muito. Quando o irmão lhe deu alguns presentes trazidos foi uma das poucas vezes que a vi sorrir e falar sem um tom duro. Passei horas conversando com o pai de Paolo, o qual adorava política e queria saber como era a vida no Brasil e detalhes sobre escritores brasileiros como Érico Veríssimo e Clarisse Lispector. Ele tinha alguns livros como Capitão Rodrigo na sua estante cheia de enciclopédias e fotos de antepassados. Dizia que alguns deles foram ou eram membros da Camorra.

Como estávamos perto de Nápoles passamos um final de semana ao sabor de pizzas margheritas e instalados num bordel, diria que até luxuoso para os padrões dos prostíbulos que tínhamos frequentado antes. Tiramos o atraso em grande estilo e ao final da tarde o tomando sempre uma ou duas garrafas de Campari na beira da praia no capô dum Alfa Romeo daqueles antigos fazíamos de conta que éramos os donos de Nápoles. Mesmo ali na praia enchendo a cara estávamos acompanhados daquelas damas de companhia que estavam sendo bancadas por um outro cliente de longa data do estabelecimento: o pai de Paolo, que toda vez que o filho chegava de viagem fazia daquilo um ritual entre pai e filho. As belas ragazzas napolitanas nos presentearam com toda sorte de mimos dados apenas a clientes vips naquela ocasião, desde danças eróticas a strips privês. Infelizmente isso foi uma das últimas vezes que o velho pai de Paolo já no alto dos seus oitenta anos faria aquilo. Alguns anos depois falecera sem realizar um sonho que tinha me confidenciado. Conhecer o Rio Grande do Sul terra do seu livro brasileiro predileto: Um certo capitão Rodrigo.

Depois disso embarquei para Madri com grana suficiente para passar quase um mês de romance com a bela espanhola e voltar para casa sem um tostão no bolso. Fizemos planos para ela vir me visitar no Brasil assim que terminasse seu curso na faculdade de jornalismo.

Nas folgas de final de semana jogava um pouco de golfe para relaxar ou viajava com alguma sirigaita pistoleira interessada na maioria das vezes arrumar um marido rico. Apesar disso as golpistas faziam de tudo na cama na esperança de se tornarem uma dondoca rica.  A rotina de trabalho duro continuou mesmo com a vinda de Elena para o Brasil.

Assim que ela chegou noivamos e marcamos o casório para o ano seguinte. Deixei as sirigaitas de lado e passei a viver quase exclusivamente da casa para o trabalho e vice-versa.  Entretanto, por ela ser estrangeira num país com cultura muito diversa e por passar mais tempo solitária devido um noivo com a cabeça mergulhada nos negócios seis meses depois ela deu no pé e voltou para a Espanha rompendo tudo. Passamos bons momentos juntos, viajamos para Buenos Aires e Punta Del Este que são lugares que sempre gosto de visitar, tentamos manter aceso o amor apesar da rotina voltada para o trabalho, mas o temperamento leonino dela não ajudava muito, e quando as discussões começaram a ficar freqüentes não tinha outra saída; ou eu optava por ceder e dar o tempo que não tinha ou ela faria as malas. Paguei o preço de perder ela em troca de sucesso nos negócios. Tema que em muitos filmes é repetido com finais felizes quando o cara larga tudo pela mulher amada ou ela a família quatrocentona e os pombinhos vivem felizes para sempre o resto da vida. Isso acontece nos filmes, na vida real a história é bem diferente: ou você escolhe entre uma mulher que te apóia e te endente ou fica com uma mulher que transforma a sua vida num inferno. Resumindo foi o que aconteceu.

Fiquei infeliz com aquilo até porque estava apaixonado pela bela espanholinha de gênio forte, mas logo a rotina de trabalhar e viver cercado de sirigaitas interioranas que vendem até a alma por um marido rico voltou a agenda diária. Confesso que enchi muito a cara nas primeiras semanas depois que Elena partiu e até pensei em correr atrás da espanhola. Não fiz isso, engoli os sentimentos e enfiei a cara no trabalho. Transferi a sede da empresa do interior para São Paulo, ampliei os negócios, comecei a comprar tudo que aparecia pela frente e cada vez mais aproveitando a boa fase dos negócios e viajava apenas para fazer um pit stop no estresse e seguia aquela sanha por dinheiro aos últimos limites o resto da semana.

Às vezes os dias que passei com Elena tanto em Madri após aquela aventura marítima ou aqui mesmo no Brasil me apunhalavam o peito, sentia saudades dela, só que mesmo assim não dava o braço a torcer nem quando recebia alguma mensagem dela dizendo sentir o mesmo. Não estava disposto a pagar duas vezes o mesmo preço por um relacionamento que não daria certo devido ao temperamento forte de ambos e planos de vida completamente diferentes.

Em São Paulo, o nível das companhias femininas tinha melhorado, as sirigaitas golpistas deram lugar a advogadas, médicas, executivas que tinham suas vidas independentes de qualquer homem e queriam aproveitar a vida. Nenhuma delas me fazia apaixonar-me novamente como tinha caído de amores por Camila ou Elena.  Nessa fase, quando essas relações que eram teoricamente livres começavam a entrar num campo da zona de compromisso e exigências eu logo saia de cena e deixava uma a uma a ver navios. Só que um belo dia o cupido acerta em cheio quando menos esperamos e as coisas mudam totalmente de figura.

Com o passar do tempo passei a sair do escritório mais cedo e sempre que podia tomava um lanche numa cafeteria próxima do escritório e seguia para o clube de golfe, nadar, fazer musculação, sauna e bater uma bolinha no campo. Depois seguia para algum restaurante com alguma mulher bola da vez e depois dum sexo de boa noite finalizava o dia.

Num desses finais de tarde essa rotina religiosa de café, golfe e mulheres iria mudar. Aquela cafeteria iria unir o meu destino ao de Bianca - minha segunda esposa e mãe do meu terceiro filho – que passou a frequentar aquela cafeteria todos os dias no mesmo horário que eu aparecia por lá lanchar.

No primeiro dia que a vi, ela entrava pela porta da cafeteria enquanto eu pagava a conta. Aquele sol de quase cinco da tarde que brilhava logo depois duma chuva iluminava Bianca e a tornava um ser angelical que ao que tudo indicava tinha despencado dos céus para me seduzir. Aquela garota alta, magra, esguia, cabelos negros e longos que emolduravam aquele rosto com um par de olhos verdes que pareciam artigos de joalheria e lábios macios me deixaram no balcão estático sem tirar os olhos dela. Ela percebeu isso e tímida disfarçou, eu saí dali sem tirar os olhos dela, como se tivesse sido atingido por um raio. Fui até o outro lado da rua, saquei o isqueiro puxei o cigarro na boca, mas não acendi.  Fiquei de lá fazendo pose que falava ao celular só para ficar fitando aquela garota dentro do café que tinha aparecido repentinamente do nada. Assim que ela saiu de lá ela me viu ali e deu um sorriso tímido, abaixou a cabeça e entrou numa porta logo ao lado que era um prédio comercial duma exportadora.

No dia seguinte, na mesma hora no mesmo local, eu fiquei de plantão na cafeteria até ela chegar e conseguir por intermédio da proprietária do café uma apresentação e um dedo de prosa com a bela Bianca. Aqueles cabelos longos cor de chocolate amargo e aquele par de sobrancelhas que expressavam o estado de humor dela me deixavam encantado. Cada gesto dela era como um osso para um cão vira lata. Sempre faceira apesar do jeans e camiseta ela não se importava em carregar no sotaque caipira do interior paulista. Dia a pós dia, ficávamos ali conversando e cada dia descobria um pouquinho mais sobre Bia. Quase um mês depois tivemos nosso primeiro encontro fora do café. Fomos ao cinema, depois para um restaurante e numa balada cubana que estava rolando na cidade na época. Depois de horas junto com ela eu estava cada vez mais gamado. Ela tinha um jeito fácil de cativar qualquer pessoa. Era brincalhona e sabia conversar sobre diversos assuntos, gostava tanto quanto eu de viajar para Buenos Aires e adorava conhecer novos restaurantes e vinho. Coisa tão banais, mas cheias de sentido num momento desses.

Depois do cinema, dum jantar romântico e uma noite de dança, ela colocou seus longos braços cheios de pulseiras envolta do meu pescoço olhou fundo nos meus olhos e me beijou sem dizer nada. Ela sabia seduzir qualquer um. Depois do beijo ela saiu, bateu a porta do carro, e se agachou na janela dizendo pausadamente: “Amanhã, eu e você, almoço mocinho”. No dia seguinte, um domingo, ela já estava a me esperar linda num vestido de alcinhas, e com uma bela macarronada da nona posta à mesa. Passamos o dia típico de namorados em começo de paixão, almoço juntos, bitocas depois de sobremesa, passeio de mãos dadas pelo parque e entre uma guloseima e outra, mais beijos apaixonados. Ao final do dia ao deixar ela na porta do seu prédio ela disse mais uma vez pausadamente: “Me ligue quando chegar em casa! Nada de ficar na rua!”. Depois disso horas e horas no telefone até o boa noite final.

Os dias que seguiram foram sempre iguais, nos encontrávamos no café, contávamos para a dona da cafeteria sobre o nosso namoro e ela ficava maravilhada de ambos termos nos conhecido no café dela. Colocou uma foto nossa no mural fazendo tim-tim com xícaras de capuccino. Aos finais de semana passeávamos e jantávamos e dançávamos e almoçávamos como no primeiro encontro. Até que resolvemos partir para uma semana de folga a dois em Mendoza na Argentina e lá fizemos amor pela primeira vez num hotel fazenda depois de muitas taças de malbec. Ao voltar pra casa, estávamos cada dia mais apaixonados, e vivendo felizes naquela rotina da cafeteria para jantares a dois todas as noites. 

Com o passar do tempo seguiu-se o habitual de qualquer casal de namorados, fomos conhecer um a família do outro e daí descobri que ela tinha sido realmente criada numa fazenda de café e por isso frequentava aquela cafeteria tanto quanto eu. Quando ela contava que tinha sido criada na roça não pensava que ela seria filha do dono da roça, pois ela omitia o detalhe. Aquela mesma fazenda cheia de pés de café, reduto do pai dela, um fazendeiro viúvo que ao ver a sua única filha com um cara como eu logo me chamou para uma conversa de homens, perguntando o que eu fazia ou deixava de fazer e quais eram as minhas intenções com a sua bela filha. Aproveitei a oportunidade para pedir a mão dela sem pensar duas vezes.

Confesso que fui em parte movido pelo impulso da ocasião, mas que já pensava naquilo com seriedade, aproveitei o momento e dali corri numa joalheria da cidade comprar um par de alianças enquanto o velhote providenciava um churrasco comemorativo que pegou de surpresa Bia por sua vez. O velho barrigudo com seu par de botas cano longo fez as honras da casa e anunciou que ganhava um filho ao invés de perder uma filha. Quando ele disse isso Bia tremia de emoção e trêmula coloquei a aliança naquelas mãos delicadas e suaves, e ainda trêmula brindamos com champanhe até ela derrubar tudo no vestido e sair correndo trocar de roupa. Foi uma cena engraçada. O velho estava feliz, e apesar de ser um pai zeloso e cheio de escrúpulos, entendeu que a filha estava realmente apaixonada, tanto quanto o futuro genro, o qual ninguém sabia do seu passado repleto de cafajestadas e que ali tinha se tornado um bom moço de família mais uma vez.

Meses depois aquela fazenda bonita e cheia de pés de cafés seria o palco do nosso casamento selando tudo que havia começado por coincidência do destino numa cafeteria

Lua de mel em Cancun é sem dúvida algo sublime. Passear de lancha por águas límpidas com uma bela mulher de biquíni e óculos de sol gigantes com aquele chapéu de sol ao seu lado até parece clichê de propaganda de turismo, mas no fundo não é o luxo do lugar que importa e sim a companhia da amada. 

Foi assim que os dias felizes do meu casamento com Bianca começaram, com uma bela festa na fazenda, uma lua de mel inesquecível e depois uma bela casa ampla e espaçosa com tudo aquilo que as mulheres querem na decoração. Tudo isso parece ser um tanto pedante e arrogante e na verdade não é o luxo da casa ou das viagens que importavam para um casal de recém casados, mas sim celebrar o amor a cada dia na companhia um do outro.

Creio que com o passar do tempo ou dos anos muitos casais percam isso por inúmeros fatores e o clima cheio de encanto e sorrisos fáceis de alegria e trocas de olhares insinuantes se tornem menos freqüentes, com isso toda aquela paixão inicial ao passar do tempo esfria ou se congela na monotonia da rotina a dois. Rotina e falta de romance muitas vezes tornam a vida a dois numa espécie de relacionamento burocrático que é chamado de casamento. Quando a coisa chega nesse nível o melhor é repensar na vida ou arrumar uma amante. Mas existem coisas que ocorrem que tornam a vida a dois infernal e que fazem todos os sonhos se perderem e por fim fazem naufragar de vez o amor que parecia inabalável.

O primeiro ano de casado com Bia foi uma grande extensão da lua de mel e da rotina dos tempos de namoro. A rotina era comum, ela trabalhava nos negócios dela e eu nos meus. Depois dum café da manhã aturando algumas travessuras do nosso yorkshire –  chamado Toy  - só nos reencontrávamos na cafeteria que tínhamos nos conhecido, e depois, já no lar doce lar, depois dum jantar a dois ficávamos conversando naquele grande jardim de casa tomando uma taça de vinho e namorando. Era perfeito.

Aos finais de semana uma viagem curta ao campo era sempre em vinda para relaxar, pois alguma visita a ser recepcionada em casa sempre nos trazia motivos para preferir ficar fora de casa aos finais de semana a sós. Frequentar alguns eventos culturais era praxe. Gostávamos de irmos juntos aos shows de rock, peças de teatro, e sempre um cineminha para nos comportarmos como dois adolescentes aos amassos.

Algumas visitas inevitáveis, como dos pais e parentes próximos. Uma das mais freqüentes era do meu pai que quando aparecia em casa sempre nos arrastava para o Jockey Club para acompanhar seus cavalos em corridas. O velho libanês tinha haras e sempre que estava em Sampa passava em casa e trazia presentes para Bia e uma caixa de vinhos para estocar na adega caseira. Já o pai dela era vezeiro em passar alguns dias em casa numa espécie de retiro urbano. Ele ficava em casa, mal saia de lá, gostava de ficar assistindo TV e roncando boa parte do dia. Quando resolvia aceitar um convite para sair ele sempre pedia para ser levado numa churrascaria ou restaurante italiano. Quando a visita era da minha mãe a coisa mudava de figura. Ela gostava de cuidar do jardim da casa e sempre trazia uma flor nova para enfeitar o jardim e seu programa predileto era sair para fazer compras assessorada por Bianca.

No inverno passávamos as noites sempre as voltas com alguma “gordice”. Um dia era chocolate quente, no outro fondue de morangos, na outra crepe suíço, mas quase sempre era queijo e vinho que dava o toque para as noites frias paulistanas. Para finalizar o inverno em grande estilo sempre íamos para alguma cidade do sul pegar aquele frio que na cama era pretexto para algo mais caliente. No final de ano Bia resolveu convidar todos os parentes e amigos para passarem a ceia de Natal em casa. Ela fez questão de organizar desde da árvore de natal até os comes e bebes e presentes. No ano novo pediu para passar na fazenda do pai dela para descansar. 

Depois de um ano repleto de coisas boas o ano seguinte aparentava que iria ser o mais feliz de nossas vidas. Numa manhã de domingo Bia acordou e disse que estava grávida e passamos o dia comemorando, telefonando para amigos e parentes contar a novidade. Tudo corria bem até que no sexto mês de gestação o pai dela veio a falecer e isso deixou Bianca muito abalada e depressiva. Nas semanas seguintes ao funeral do pai dela ela passou ficar menos falante, visto que adorava falar o tempo todo. Bia passava os dias reclusa em casa e deixou todo o processo de inventário do pai dela por minha conta. Recordo-me que tive que lidar com os tios dela, que eram velhos carcamanos que só pensavam em dinheiro e ficar com a parte dela nos negócios que seu pai tinha deixado alegando que ela não saberia como cuidar de fazendas e negócios relacionados a safras, essas coisas. Ela apesar de estar meio fora de sintonia com aquelas questões dizia que não abriria mão da parte dela, e como era única herdeira do velho churrasqueiro isso facilitou em alguma coisa.

Entretanto, depois da morte do pai, o qual ela tinha uma muito ligação forte, e por ter perdido a mãe quando era adolescente e um irmão na infância, ela parecia ter ficado numa espécie solidão que somente ela compreendia. As primas que eram amigas se afastaram devido aos problemas com os tios e cada dia mais, apesar da gravidez, ela ficava mais e mais deprimida e trancada em casa deixando muitos afazeres de lado. No oitavo mês de gestação ela estava com aquela barriguinha linda de gestante, mas o seu ânimo e espírito parecia em certas horas distante da alegria de ter um filho. O humor dela oscilava entre euforia e momentos de melancolia cada vez mais repetidos. Nessa fase resolvi passar a trabalhar em casa, numa espécie de home office, para ficar sempre perto de Bia e acompanhar o final da gestação com mais proximidade. 

Logo depois de ter dado a luz a um garoto fofinho, o estado depressivo dela parecia piorar e dia a dia, apesar do filho, ela ficava mais reclusa em casa, dessa vez em especial no quarto, sem vontade de atender sequer algumas visitas de praxe para a nova mamãe e o bebê. O estado dela me fez estender cada vez mais a minha permanência trabalhando em casa para cuidar dela e estar ao mesmo tempo perto do bebê. Muitas vezes eu tinha que deixar o que estava fazendo para ir até ao quarto acordá-la para coisas simples, desde uma refeição até hora amamentar. Com o passar das semanas a minha preocupação aumentava com o estado dela, e convencer ela a procurar um médico era uma tarefa difícil, visto que ela sempre dizia insistentemente que iria melhorar e que tudo iria voltar ao normal sem que isso fosse necessário.

Depois de tanto insistir com ela para fazer alguma terapia com algum psicólogo, ela relutantemente aceitou. Aos poucos ela teve alguma melhora e passou até mesmo mencionar a voltar ao seu trabalho no próximo ano e cuidar dos negócios que pai lhe havia deixado. A melhora dela durou pouco tempo. Com o passar do tempo ao invés de melhorar seu humor e ânimo ela passou a ficar agressiva e sempre arrumando motivos para uma discussão ou outra. Aquela moça leve e de jeito doce não era mais a mesma desde então. Nesse período eu comecei a ficar alarmado e preocupado com a saúde do bebê, mesmo que aparentemente estivesse tudo bem com ele, eu temia que estado emocional dela afetasse em algo nosso filho. Sem dúvida isso foi motivo para que depois de conversar seriamente com ela sobre isso, ela tivesse mais motivos para discutir e arrumar briga. Foram meses e meses assim, nessas oscilações de estado de humor de Bianca e discussões, até que por fim tudo aquilo começasse a me afetar também.

Depois duma semana estressante no trabalho eu voltava pra casa e Bia mais uma vez estava reclusa em seu quarto dormindo como sempre. Já o bebê cada vez mais estava apenas aos cuidados da nossa babá. Tentei acordar ela e chamar ela para jantar como sempre fazia e as vezes ela topava jantar e conversar ao invés de se dopar de calmantes e anti-depressivos e dormir. Nesse dia ela acordou irritada e lançou uma série de reclamações e acusações típicas de pessoas nesse estado. Naquele dia a minha paciência se esgotou. Brigamos muito por alguns minutos e quando ela ficou histérica e com aquela choradeira resolvi sair de casa para evitar mais encrenca. Peguei o carro e quando dei conta esta na estrada indo para casa da minha mãe.

Chegando na casa de mamãe, no meio da noite, eu ainda estava estressado, ao invés de telefonar para ela abrir a porta resolvi poupar o incômodo e dormir na rua dentro do carro e esperar o dia nascer. De manhã minha mãe surpresa com a minha visita repentina já via no meu rosto o motivo da visita. Desabafei e conversei muito sobre a situação de Bia com ela. Apesar de inúmeros consolos e conselhos a única coisa a fazer era voltar pra casa e suportar tudo aquilo tentando achar alguma solução.

Voltando pra casa, Bia continuava na mesma. Não tinha como conversar com ela ou persuadir ela tomar alguma atitude em benefício dela própria e do bebê que cada vez mais tinha uma mãe que o deixava nas mãos da babá. Telefonei para minha mãe, e pedi para ela passar aquela semana ali, pois eu tinha viagens de negócios a fazer e queria alguém que confiasse ali por perto para qualquer eventualidade. Na segunda-feira, fiz as malas e segui para o Rio de Janeiro a trabalho. Tinha esperança que a presença de mamãe e o jeito de mãe para lidar essas situações trouxesse algum benefício. Ledo engano. Quando voltei a coisa estava do mesmo jeito.

Naquela semana no Rio eu acabei conhecendo Giuliana, uma bela advogada gaúcha, meio ruiva meio loira, de olhos verdes grandes, uma boca carnuda, nem gorda nem magra, mas muito atraente apesar daqueles óculos fundo de garrafa. Só me dei conta que tinha uma mulher na sala de reuniões por causa do perfume forte que ela usava e sua voz estridente e sotaque sulista carregado. Não tinha motivos para simpatizar com ela, mesmo ela sendo tão atraente. Afinal, passamos a maior parte do tempo daquela reunião discordando e trocando acusações sobre itens de contrato. 

Aquela primeira reunião tinha deixado tanto para um como para o outro uma má impressão de um para com o outro. Nas reuniões que se seguiram a tônica das discussões foi a mesma. De um lado eu estava carregado de estresse, por conta de problemas pessoais e de trabalho, do outro aquela bela doutora não cedia um milímetro nas negociações. Quando resolvi desistir do negócio duma vez por conta da intransigência dela que a coisa começou a mudar de rumo.

Aquele jeito meio arrogante dela transparecia que ela sentia que de alguma forma havia me vencido nos debates sobre clausulas contratuais.  Depois disso, ela lamentou não fechar o negócio nos meus termos, estendeu a mão e perguntou se apesar dos pesares eu toparia um almoço com ela para fazer as pazes. Eu fiquei sem reação, e naquele momento percebi que apesar de tanto bate boca negocial ela tinha ido com a minha cara. Topei almoçar com ela e logo ficamos amiguinhos. Passamos algumas horas juntos conversando. Na ocasião não toquei em assuntos sobre a minha vida pessoal em profundidade, apenas disse que eu era casado, e ela ficou decepcionada em saber disso. 

Giuliana me deu carona para o aeroporto e deixou seu cartão pessoal comigo sob o pretexto ligar para ela para fazermos novos negócios futuramente. Duas semanas depois liguei para ela. As coisas em casa não estavam bem e não tinham perspectiva de melhorar, e entre um copo de whiskey e outro a gaúcha não me saia da cabeça.  Além disso, a minha mãe dizia que eu deveria cogitar a hipótese de me separar de Bianca. Minha mãe no alto de sua experiência de vida parecia antever que aquela situação não tinha mais solução e que Bianca precisava decidir-se por si mesma se ajudar e fazer algo por ela mesma. Já tínhamos feito de tudo para que ela melhorasse e os resultados eram escassos.

Passei a ligar mais vezes para a Giuliana e aos poucos fui abrindo o jogo com ela. Ela sempre se mostrou bastante compreensiva e dizia que apesar de eu ser um paulista arrogante e tudo mais, que ela nutria muita simpatia pela minha pessoa. Fiquei uns três meses nessa lenga-lenga de telefonemas quase diários, enquanto por outro lado tentava trazer Bia ao o que ela era antes. Quando eu percebi que não tinha mais jeito tive que colocar as cartas na mesa com Bianca. Disse que estava cansado de tudo aquilo e que era melhor nos separarmos. Ela não reagiu bem, chegou a me estapear e dizer que tinha arrumado uma amante e que eu bebia demais ao invés de cuidar dela. No fundo ela tinha razão.

Na época eu bebia todos os dias quase que uma garrafa inteira de Jack Daniels para esquecer dos problemas. Chegava em casa, jantava, passava algum tempo com Ivan brincando, depois ficava trancado no meu escritório telefonando para Giuliana e enchendo a cara de whisky. Não tinha chegado a trair Bia nem uma vez com Giuliana, mas a ideia de viver naquela rotina infernal já me fazia cogitar ter algo com a Giuliana que disse que só sairia comigo se algum dia eu realmente me separasse. Não foi exatamente o que ocorreu. No final do casamento além de ligar para ela, eu já estava tendo um caso com a minha secretária Aline, a qual eu tinha conhecido em outra viagem de negócios.

Quando me deparei com Aline a sintonia com ela foi de imediato. Aquela garota de vinte aninhos, pernambucana de largo sorriso e jeito amistoso logo me fez convidá-la para ir trabalhar comigo. Conheci ela quando fui resolver alguns assuntos no escritório de advocacia que ela estagiava em Recife. No mesmo dia consegui convidar ela para um jantar depois do expediente e como sempre a sobremesa foram beijinhos. Seis meses depois ela tinha topado vir estudar em São Paulo e se tornar minha assistente pessoal. Com o passar do tempo ela se tornou meu braço direito e mantemos uma relação bem próxima tanto no trabalho quanto afetiva.

No segundo semestre daquele ano fiquei de certa forma envolvido com Bia, Aline e Giuliana correndo por fora até certo ponto. Logo que deixei Bia, investi na doutora gaúcha, sem deixar de lado o affair com a secretária. Mudei para o meu velho apartamento e enquanto isso Bia parecia sair lentamente daquele marasmo depressivo tomando alguma atitude por si mesma. Ela resolveu mudar-se para o interior e retomar a vida dela com nosso filho e cuidar dos negócios do pai falecido. Continuei em São Paulo até o final do ano. Durante a semana passava os dias e noites com a fogosa secretária que com aquele par de coxas grossas, e seios fartos e pele macia, olhinhos puxadinhos e lábios fininhos que me faziam companhia no escritório e no meu suntuoso apartamento de solteiro repleto de cuecas e calcinhas espalhadas pelo chão que davam à arrumadeira a nítida impressão daquilo ser um motel privê. 

Aos finais de semana, sob o pretexto de ver as crianças, seguia para o Rio me encontrar com Giuliana. Mesmo assim ainda amava Bia. Ao mesmo tempo que adorava a companhia das outras duas pensava nela. Por outro lado, o medo de voltar com ela e reviver aquela situação falava mais alto e me mantinha naquela nova rotina de duas namoradas aqui e acolá.

Aos poucos entre um drink e outro e entre uma gaúcha e uma pernambucana a vida foi ficando mais alegre novamente. 



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